118 Inclusão de deficientes físicos nos escritórios de contabilidade Caroline Belchior Acadêmica do curso de Administração do Centro Universitário Estácio Uniseb de Ribeirão Preto. E-mail carolbelchior21@gmail.com Daniela Christina Sabino de Freitas Silva - Acadêmica do curso de Administração do Centro Universitário Estácio Uniseb de Ribeirão Preto. E-mail dannielasabino@gmail.com Anna Carolina Schmidt Franco - Acadêmica do curso de Administração do Centro Universitário Estácio Uniseb de Ribeirão Preto. E-mail annacsfranco@live.com Alessandra Silva Santana Camargo - Mestre em Ciências Contábeis pela FECAP-SP. Docente do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto. E-mail alessandra.santana@estacio.com.br Resumo Este artigo aborda um estudo de caso realizado em escritórios de contabilidade de Ribeirão Preto - SP, o qual procura analisar o número de funcionários portadores de deficiência física, partindo da amostra de dados recolhida. Para viabilizar este estudo, foi utilizado um questionário como base para o estudo aplicado nos gestores de escritórios de contabilidade no período de 2017. Como resultado principal, foi possível constatar e quantificar o número de funcionários deficientes no mercado contabilista, suas dificuldades e a visão da empresa em relação aos funcionários portadores de necessidades especiais. Abstract This article is about a case study that was made in accounting offices in Ribeirão Preto - SP, which analyzes the number of employees with disabilities, based on the data collected. A questionnaire was used for the managers of the accounting offices in 2017, in order to reach this study. As a main result, it was possible to reveal and to quantify the number of disabled employees in the accounting offices, their difficulties and the company's vision for special needs employees. Introdução A deficiência é um tema que vem sendo abordado e divulgado com maior frequência, nos últimos 10 anos. Antigamente, as pessoas deficientes eram escondidas dentro de suas casas e sofriam constantes ataques de preconceito devido à falta de conhecimento sobre o assunto. Porém, com a globalização e as inovações tecnológicas, no dia a dia, e nos meios de
119 comunicação, o deficiente está sendo cada vez mais reconhecido, não só pela sociedade, como também pelo mercado de trabalho. Para conhecer melhor essa introdução no mercado de trabalho nos dias de hoje, foi aplicado um questionário exploratório, nos escritórios de Contabilidade de Ribeirão Preto, com o objetivo de mensurar a quantidade de funcionários portadores de necessidades especiais que cada um desses escritórios possui, quais as dificuldades na contratação do profissional com deficiência, para atuar como colaborador nos escritórios e, assim, poder entender e mostrar a fundo o cenário interno das contratações. Com o resultado da pesquisa, será possível conhecer os processos seletivos para cargos com PcD, mensurar a inclusão do deficiente para atuação como colaborador, em escritórios de contabilidade, apresentar a análise real da inclusão do deficiente, por meio da Lei de Cotas e avaliar as reais dificuldades existentes na inclusão do trabalhador com deficiência física. Será possível, assim, visualizar as vantagens e desvantagens da inclusão desses trabalhadores, pela visão dos gestores dos escritórios de contabilidade. 1 Referencial Teórico Passa-se agora a discutir o processo de inclusão. É preciso entender o que está sendo discutido para compreender melhor o tema abordado. Dependendo do lugar de onde se fala, lugar institucional, geográfico, político etc., podemos estar falando de coisas radicalmente distintas, inclusive excludentes. A preocupação com os direitos humanos estende-se a uma gama de reivindicações que imputam valores àqueles que por alguma razão se sentem prejudicados por não terem seus direitos satisfeitos e, por conseguinte, sofrerem uma série de discriminações e preconceitos por não se adequarem dentro dos padrões ditos e estabelecidos como convencionais. Ou seja, são os membros de um corpo social postos à margem de um sistema por não se enquadrarem em uma dita ordem perfeita. 2 Instalações Existem regras básicas de acessibilidade ao meio físico que são previstas pela lei n 8.213, bem como instalações adequadas para a contratação da pessoa com deficiência. As empresas devem possuir algumas adequações, tais como: as áreas de circulações devem ser sinalizadas com o símbolo internacional de acesso, os trajetos para as diversas áreas da empresa devem ficar livres de obstáculos (escadas e disposição do mobiliário), as portas e portões devem
120 ter uma largura mínima de 0,80m, os banheiros deve ser adaptados, o acesso à empresa deve ter rampas e corrimões, as mesas de trabalho e as máquinas de ponto devem ter altura de 0,8m e sinalizadores para deficientes visuais. Por questões de exclusão histórica, a maioria das pessoas com deficiência é pouco qualificada, mas essa baixa qualificação também incide na população em geral. Mas, isto não significa que não existam pessoas com deficiência qualificadas. (HABER, 2014). Conforme dados coletados na pesquisa, 61% dos escritórios de contabilidade dizem não possuir instalações adequadas para receber PcD. As instalações são de obrigatoriedade do empregador, para que a PcD possa ter fácil acesso aos demais cômodos e poder exercer suas atividades com maior facilidade e agilidade. Essas instalações estão previstas na lei de cotas e deve ser seguida. 3 Contratações A lei de cotas define que todas as empresas privadas, com mais 100 funcionários, devem preencher entre 2 e 5% de suas vagas com trabalhadores que tenham algum tipo de deficiência. A baixa escolaridade e a falta de qualificação profissional são apontadas como as principais causas da não contratação de pessoas com deficiência. O desafio da empregabilidade para quem possui alguma deficiência é fazer com que os empresários acreditem em sua capacidade produtiva. Causando essa diferença social existente. De acordo com o Ministério do Trabalho, nos últimos cinco anos, houve um aumento de 20% na participação de profissionais com deficiência no mercado de trabalho. Grandes empresas já estão abrindo as portas para quem costumava ser excluído, mas concluiu que a qualidade das vagas inclusivas ainda é baixa e, na maioria das vezes, a escolha do candidato é feita apenas como forma de cumprir a lei. Haber (2014) discute a importância das contratações de profissionais com deficiência para a economia do Brasil. Além da geração de emprego, a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho contribui para trazer dignidade a essas pessoas. Ao inclui-las, não estamos apenas ofertando um salário, mas também a oportunidade de se reabilitar socialmente e psicologicamente. De forma que o deficiente se sinta parte atuante na sociedade. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) Nacional, i.social e a Catho, realizada com 2.949 profissionais do setor, apontou que, 81% dos recrutadores contratam pessoas com deficiência para cumprir a lei. Apenas 4% declararam fazê-lo por "acreditar no potencial" e 12% o fazem "independente de cotas".
121 Segundo dados do IBGE de 2014, cerca de 232.531 pessoas estão trabalhando registradas em Ribeirão Preto. Parte dessas pessoas são deficientes físicos ou portadores de necessidades especiais e que trabalham em Escritórios de Contabilidade. Segundo a lista de telefone e informações GUIAMAIS, há mais de 360 escritórios de contabilidade em Ribeirão Preto. 4 Processo De Seleção Os processos de seleção nas empresas mostram conforme estudo que são padronizados e aplicados igual a de uma pessoa sem deficiência, a única diferença é que o deficiente deve apresentar um laudo médico comprovando sua deficiência. Porém, é claro que para uma vaga de PcD o processo é apenas para eles. Pode-se notar na pesquisa que grande parte dos gestores reclama da falta de profissionais e também de qualificação dos mesmos. Acredita-se que por uma questão sociocultural os deficientes não procuraram se profissionalizar anteriormente, por uma falta de contratação e inclusão no mercado de trabalho, por isso hoje, tantas pessoas não estão aptas para determinadas funções. 5 Empresas A função de um escritório de contabilidade é segundo Souza (2014) é um conjunto de técnicas para controlar o patrimônio das organizações mediante a aplicação do seu grupo de princípios, técnicas, normas e procedimentos próprios, medindo, interpretando e informando os fatos contábeis aos donos das empresas. Todas as movimentações existentes no patrimônio de uma entidade são registradas pela Contabilidade, que resume os fatos em forma de relatórios e entrega-os aos interessados em saber como está indo a situação da empresa. Através destes relatórios são analisados os resultados alcançados e a partir daí são tomadas decisões em relação aos acontecimentos futuros. Sendo assim, a Contabilidade é a responsável pela escrituração (registro em livros próprios) e apuração destes resultados e é só através dela que há condições para se apurar o lucro ou prejuízo em determinado período. Tendo grande importância e atuação dentro da empresa segundo (RABELLO, 2017). 6 Remuneração e Carga Horária A pesquisa mostra que a diferença de salário e carga-horária do deficiente comparado ao trabalhador considerado sem deficiência, a porcentagem de pessoas que possuem um salário diferente é relativamente baixa.
122 Segundo dados do IBGE coletados em 2010, cerca de 45,6 milhões de brasileiros tem algum tipo de deficiência e, somente 46,4% dessas pessoas ganham, no máximo, um salário mínimo. Já na população considerada sem deficiência, esse número é de 37,1%, o que indica uma diferença de mais de 9 (nove) pontos. Segundo o Artigo 1, da Finalidade e dos Princípios Básicos da Previdência Social (Lei de Cotas) a Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. (BRASIL, LEI Nº 12.711/1991). Conforme dados da pesquisa aplicada, os gestores garantem que não uma diferença salarial entre PcD e pessoas sem deficiência. Através dos dados coletados pelo IBGE, é possível verificar que o número de pessoas com diferença salarial é alto, chegando a quase 50% comparado aos demais. Essa diferença faz com que as PcD se sintam incapazes de exercer uma função qualquer e acreditarem que sua deficiência é um empecilho para exercer algumas atividades. 7 Metodologia O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva com caráter de análise qualitativa, detalhando o assunto discutido de forma à aprofundar os conhecimentos no caso. [...] é encarado como o delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos (YIN, 2005 APUD GIL, 2010, p.37). Por fim a pesquisa descritiva conforme GIL (2010) tem por objetivo descrever as características de determinada população estudada. Entre as pesquisas descritivas, salientam-se aquelas que tem por objetivo estudar as características de um grupo: Sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde física e mental (GIL 2010, p.19). Com base no referido estudo acima, foram utilizadas as seguintes palavras chaves: Inclusão, deficiente e mercado de trabalho. 8 Análise De Resultados De acordo com a pesquisa a maior parte dos escritórios de contabilidade de Ribeirão Preto não possui instalações adequadas para a contratação da pessoa com deficiência. As empresas encontram dificuldades para a adequação de suas instalações para receber essas
123 pessoas, muitas vezes, essas adaptações não ocorrem devido ao alto custo das reformas necessárias. 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 36,8% Sim 63,2% Não Sim Não GRÁFICO 1: O escritório possui estrutura física para funcionários deficientes. Fonte: dados da pesquisa Segundo Estudos, uma pequena parte dos entrevistados não acham dificuldade em contratar pessoas com deficiência que sejam qualificadas. A grande maioria acredita que os poucos qualificados que existem na cidade já estão atuando no mercado. 80% 60% 40% 20% 0% Fácil, pois há muitos profissionais qualificados; Difícil, pois na cidade os poucos que existem já estão contratados; Não sei dizer; GRÁFICO 2: Como são consideradas as contratações de deficientes. Fonte: Dados da Pesquisa A pesquisa mostra que: apenas 21,1% das empresas entrevistadas possuem deficientes atuando. Este índice mostra que ainda há uma dificuldade muito grande para a contratação de deficientes.
124 100,0% 80,0% 78,9% 60,0% 40,0% 20,0% 0,0% 21,1% Sim Não GRÁFICO 3: Empresas que possuem colaboradores com deficiência. Fonte: Dados Da pesquisa. Sim Não Porém, foi verificado ainda que o maior empecilho para inclusão dessas pessoas com deficiência ainda é cultural. Empresas alegam que não há obrigatoriedade de contratação por contarem com menos de 100 funcionários e não entrarem na lei de cotas. Verificou-se que os processos seletivos nos escritórios de contabilidade de Ribeirão Preto, não utilizam nenhum processo específico para os deficientes; utilizam o método comum de contratação. Alguns desses escritórios têm experiência de mais de 12 anos de mercado. Mostrando que, independentemente do tempo de atuação, as contratações continuam baixas e variáveis. Em relação a formação ou qualificação profissional dos deficientes, pode-se afirmar que segue basicamente o mesmo padrão da população geral brasileira sem deficiência. É equivocado falar que a falta de qualificação das pessoas com deficiência é maior quando comparado com a população geral, o nível de qualificação é equilibrado ou equivalente para ambos. Porém, por questões de exclusões históricas, julga-se que a maioria das pessoas deficientes é pouco qualificada, mas isso não significa que não existam PcD com qualificação e disponíveis no mercado de trabalho. A pesquisa mostra que a Lei de Cotas é pouco conhecida e divulgada. É imprescindível considerar também a informação que alguns dos escritórios pesquisados não possuem a quantidade mínima obrigatória de funcionários para contratação de PcD. E por isso possuem pouco ou nenhum interesse em aprofundar o conhecimento na Lei e em suas obrigações. As empresas que possuem a quantidade mínima desses funcionários e não fazem a inclusão dos Deficientes em seu quadro de funcionários, estão automaticamente infringindo a Lei nº 8.213, de julho de 1991. A Lei assegura que os deficientes gozem do direito de trabalhar como qualquer outro cidadão considerado Normal (ou sem deficiência). Trazem obrigatoriedade para as empresas
125 em contratação e proteção para os deficientes que antes eram exclusos de processos seletivos e assim também, do Mercado de Trabalho. Conclusão O deficiente tem como amparo a lei de cotas que prevê as responsabilidades das empresas em incluí-lo no quadro de funcionários. Porém, a fiscalização e a aplicação da lei no cotidiano das organizações não têm causado grandes mudanças no cenário de contratação de PcD conforme mostra pesquisa. Mesmo comprovando através da pesquisa que os gestores consideram que os deficientes físicos podem desenvolver as mesmas funções de um não deficiente, ainda há diferenças de salários, carga horária, quantidade de contratação e tratamento nas empresas. Importante destacar que esse tipo de descriminação gera desconforto, insegurança e sentimento de indiferença ao PcD. O espaço do deficiente no mercado de trabalho é importante para eles, mas também para o mercado e para todo mundo, pois através de sua atividade, no mercado e na sociedade, gera um aumento na economia e melhora a visão que a sociedade terá da empresa que possui esses funcionários. A não contratação desses funcionários decorre de um grande preconceito, falta de instalações adequadas, treinamento, equipamento, entre outras adequações necessárias para recebê-los como colaboradores. Dessa forma, podemos concluir que existe um conjunto de empecilhos na contratação dos portadores de necessidades especiais. O investimento em fiscalização, por parte do governo, e abertura de espaço para estes colaboradores, é imprescindível para que o Brasil melhore sua posição no mercado em relação a visão de inclusão de deficientes atuantes. Referências GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo:Atlas, 2010. BRASIL. LEI Nº 12.711/1991. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm-http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2012/07/lei-queregula-a-contratacao-de-pessoas-com-deficiencia-completa-21-anos HABER, Jacques. A Inclusão de Profissionais com Deficiência no Mercado de Trabalho. 2014. Disponível em http://blog.isocial.com.br/a-inclusao-de-profissionais-com-deficiencia-no-
126 mercado-de-trabalho-um-panorama-positivo-para-uma-mudanca-necessaria/ Acesso em 21/jun/2017 Sítios eletrônicos Camara.leg.br/camaranoticias/noticias/trabalho-e-previdencia/505255-pessoa-comdeficiencia-que-trabalhe-podera-receber-auxilio-inclusao.html http://blog.isocial.com.br/pessoa-com-deficiencia-mercado-de-trabalho/ https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/sp/ribeirao-preto/pesquisa/19/29764 http://infocos.org.br/publicacresol/upload/trabalhosfinal/64.pdf http://carlosrabello.org/economicas/contabilidade-2/