FILOSOFIA, TÉCNICA E EDUCAÇÃO

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FILOSOFIA, TÉCNICA E EDUCAÇÃO ISBN 978-85-7846-455-4 Guilherme Devequi Quintilhano Universidade Estadual de Londrina guidevequi@hotmail.com.br Eixo 3:Educação e Tecnologia Resumo: O presente trabalho tem o intuito de pensar a nossa condição atual no mundo, isto é, vivemos numa época planetária com a observação do domínio da era técnica, por conseguinte, um dos maiores problemas do nosso tempo é a reorganização da educação, no que diz respeito ao conhecimento. Para um embasamento teórico sobre a era da técnica, utilizamos o filósofo alemão Martin Heidegger, que discorre sobre o mundo e a questão da técnica. A questão da técnica é possível interpretar por dois caminhos: 1) o fim do pensamento, com a introdução do pensar tecnicista; 2) ou encontrar um modo de aceitação e sobrevivência na era da técnica, a partir da serenidade (Gelassenheit). Pensando no segundo modo, deixando de lado a serenidade, é possível aceitar a questão da técnica e pensar como ela pode nos ajudar no dia a dia, por exemplo, o ensino à distância faz parte de um desenvolvimento da era da técnica que possibilita difundir o ensino acadêmico para todas as partes do Brasil. Parafraseando Edgar Morin, para pensar o mundo atualmente é necessária uma reforma, por conseguinte, afirmamos que, o ensino à distância é um modo de sobrevivência, aceitação e adaptação da educação na era da técnica. Palavras-chave: Educação, Técnica, Heidegger. Introdução Este texto nasceu da necessidade de pensar a educação e a questão do conhecimento, como base de argumentação filosófica, no que diz respeito ao fenômeno do mundo e a era da técnica no filósofo Martin Heidegger. O pensar a educação surgiu a partir da leitura de Edgar Morin, que se aproxima muito com a do filósofo. Por conseguinte, um aspecto do mundo na era da técnica juntamente com os anúncios de Morin, permeiam todo o texto. Objetivo O objetivo desse artigo é apresentar nossa aceitação na era da técnica e demonstrar que estamos conseguindo lidar com ela no campo da educação através do Ensino à Distância. 1. Mundo e técnica! 1229

Bem-vindo a era da técnica! Isso é algo novo? Para nós, um país de terceiro mundo, até meados de 1990 era novo, no quesito de tecnologias, carros importados em massa, celulares, os primeiros sistemas de computadores, internet. Pronto, estamos na era técnica. Porém, este tema é estudado por alguns pensadores do século XX, mais precisamente, anterior aos anos de 1950. Vamos utilizar um desses pensadores, a saber, o filósofo alemão, Martin Heidegger. Heidegger, um dos mais importantes filósofos do século XX, discorre sobre vários temas como a questão do tempo, da metafísica, do mundo, do ser, da morte e uma de suas últimas temáticas é a questão da técnica. De modo geral, seus escritos são bem complexos, mas não deixam de tratar de questões de suma importância para os sobreviventes do planeta terra. Para o presente texto, a questão do mundo é de grande importância, pois, ele discorre como podemos conhecer mundo, a partir da nossa lida cotidiana dos objetos que estão aí disponíveis em nosso campo de visão, por conseguinte, ele quebra com o modo lógico de enunciar mundo que é feita pela proposição S é P. 1.1.Mundo Primeiramente, precisamos retornar ao ano de 1927 e percorrer até meados de 1931, período este, em que o filósofo discorre sobre várias temáticas, mas a questão do mundo pode ser destacada 1, como fio condutor para pensar vários problemas, tanto de sua filosofia, como dos problemas do pensamento, da questão do ser e da morte. Mas o que nos chama a atenção é o modo como ele identifica a questão do fenômeno do mundo, na qual, segundo ele, a tradição filosófica se incorporou de alguns conceitos e o traduziu erroneamente, por exemplo, λóγος 2, a pergunta pela essência do mundo é uma pergunta metafísica. O problema do mundo enquanto problema fundamental da metafísica é trazido para o interior da lógica. A 1 Cito minha dissertação, nela alguns desdobramentos sobre o fenômeno do mundo são abordados: Quintilhano, Guilherme Devequi Quintilhano. O fenômeno do mundo como fio condutor para uma compreensão heideggeriana de Aristóteles / Guilherme Devequi Quintilhano - Londrina, 2017. 2 Os gregos utilizavam o termo λóγος para o discurso, aquele que tem o dom da fala, posteriormente, esse termo foi latinizado e traduzido como ratio, surgindo assim, a famosa frase o homem é um animal rationale, um ser vivo racional.! 1230

lógica é, consequentemente, a própria base da metafísica (HEIDEGGER, 2006, p. 370). Por conseguinte, a lógica tomou conta do modo de conhecer o mundo, principalmente após a Revolução Francesa 3, a elevação do homem racional e o seu modo lógico de pensar, principalmente o mundo, pois ele está inserido nele, dominam os conhecimentos e o modo de enunciar logicamente o mundo. Outro ponto de destaque no desenvolvimento do fenômeno do mundo é que, Heidegger não pensa mundo separado daquele que o habita e o questiona, distanciando-se assim, do modo de pensar da modernidade que pregava a separação do sujeito do objeto. 4 Este que habita e questiona mundo, o faz a partir de sua cotidianidade, coisas corriqueiras do dia-a-dia, por exemplo, o uso do trinco da porta, pegar um ônibus, apertar a campainha do ônibus para descer, observar a seta do carro antes de atravessar a rua. Para o filósofo, conhecemos mundo a partir do momento em que lidamos com ele, isto é, conhecemos mundo quando lidamos com os entes que estão aí disponíveis e abertos para serem manuseados e conhecidos a partir de tal ato. Podemos afirmar que, não temos nada fixado no mundo, pelo contrário, temos a estrutura de um momento constitutivo. Como se viu, o modo mais imediato de lidar não é o conhecer meramente perceptivo e sim a ocupação no manuseio e uso, a qual possui um conhecimento próprio (HEIDEGGER, 2011, p. 115). O ente que vem ao encontro é pré-tematizado 5 por um conhecimento, não o teórico, o seu conhecimento é a partir de seu uso, de seu manuseio cotidiano. Não obstante, Heidegger pretende percorrer um caminho diferente da tradição, isto é, fugir do modo lógico de conhecer mundo. 3 Vide a obra: HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções: Europa (1789 1848). Tradução Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. 4ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. 4 Heidegger não utiliza o termo homem, mas sim Dasein (ser-aí), que é denominado como um ente privilegiado, pois ele é possível de questionar sua essência enquanto um ser-no-mundo, por conseguinte, este que habita o mundo e o questiona, não é separado, eles são apenas um. Temos um comentador que, apresenta uma tese contrária, a separação do Dasein e do mundo. JARAN, François. Toward a metaphysical freedom: Heidegger s project of a metaphysics of Dasein. International Journal of Philosophical Studies. Vol. 18(2), 205-227. 2010. 5 O ente fenomenologicamente pré-temático, ou seja, o usado, o que se acha em produção, torna-se acessível ao transferirmo-nos para tais ocupações (HEIDEGGER, 2011, p. 115).! 1231

Se os objetos que utilizamos em nosso cotidiano são prétematizados o discurso e o enunciado, como ficam? Se seguirmos toda tradição filosófica, vamos sempre enunciar mundo a partir de uma proposição enunciativa logicamente válida. Esta forma proposicional determinou decisivamente a doutrina do discurso em geral (HEIDEGGER, 2006, p. 387). E está forma proposicional é a formadora do mundo, pois dizemos: isto é uma árvore; isto é uma cadeira. Enfim, seguindo a tradição, conhecemos mundo a partir de um discurso lógico que possui total certeza naquilo que diz. Seguindo os escritos de Heidegger e identificando sua retomada na tradição filosófica, encontramos o pilar desse discurso lógico no Livro IV da Metafísica de Aristóteles, que é o princípio da não contradição: é impossível que a mesma coisa, ao mesmo tempo, pertença e não pertença a uma mesma coisa, segundo o mesmo aspecto (ARISTÓTELES, 2005c, 1005b, 18-20). Alegando ser este um princípio seguro. Mas a proposição decisiva para a incorporação da tradição em enunciar logicamente e conhecer o mundo de tal forma, encontra-se no enunciado sobre o motor imóvel: De fato, existe algo que sempre move o que está em movimento, e o primeiro movente é, por si, imóvel (ARISTÓTELES, 2005c, 1012b, 29-30). De uma mesma coisa, não é possível dizer que ela é e não é ao mesmo tempo, de fato, não se pode pensar nada se não se pensa em algo determinado (ARISTÓTELES, 2005c). Juntamente com o seu princípio seguro, o da não contradição, Aristóteles crava como devemos enunciar as coisas no mundo e, por consequência, conhece-las de um único modo pautado no silogismo lógico, pois só se pode dizer a verdade das coisas de um único modo, sendo os seus contrários, falsos. Alguns comentadores, como Angioni, diz que, o princípio de não contradição é de suma importância para descrever o mundo, pois, sem ela, não teríamos uma comunicação consistente (ANGIONI, 2006, p. 46). Isso se torna uma necessidade lógica, a conclusão é decorrência necessária das premissas (ANGIONI, 2006, p. 63). A predicação lógica é o enunciado que possui a forma S é P ou alguma forma que seja redutível a ela, onde se tem a pretensão de registrar esses fatos como verdade (ANGIONI, 2006, p. 17).! 1232

A saída encontrada por Heidegger é, primeiro entender o conceito de λóγος, assim, os gregos caracterizam o homem como [...] o ser vivo que tem enquanto posse essencial a possibilidade do discurso (HEIDEGGER, 2006, p. 391). E interpreta λóγος como: Um perceber formador de unidades (uma formação perceptiva de unidades) é o fundamento essencial para a possibilidade da retirada do velamento (HEIDEGGER, 2006, p. 402, grifos do autor) 6. Aquele que enuncia algo deve se preocupar em desvelar, manifestar algo sobre algo. Enunciamos mundo a partir de uma pré-condição de abertura da totalidade, juntamente com o manuseio dos objetos que estão aí disponíveis no mundo O decisivo desta interpretação do enunciado é o fato de não formarmos juízos em relação a um objeto isolado, mas de falarmos neste juízo a partir da totalidade já experimentada e conhecida (HEIDEGGER, 2006, p. 444, grifo nosso). Portanto, partimos daquilo que é anterior a lógica, dentro de uma perspectiva preliminar do conhecimento. Por exemplo, dentro de um espaço, o posicionamento de um quadro pode passar despercebido, porém, com o conhecimento prévio de que, esse espaço é um auditório e lá será ministrada uma aula, o posicionamento deste quadro será manifesto pela possibilidade da manifestação do todo, isto é, não se pensa o posicionamento do quadro por ele mesmo, mas pelo ambiente em que está inserido. 1.2. Técnica Essa temática encontra-se no pensamento heideggeriano a partir dos anos de 1950, posterior ao desenvolvimento do fenômeno do mundo, por conseguinte, não deixa de lado totalmente as questões já apresentadas, pois, o fenômeno do mundo pode ser introduzido como fio condutor para essa problemática, pois para o filósofo da Floresta Negra, a era da técnica suprime mundo, tornando-o simplesmente mais um dispositivo disponível para técnica agir. Neste pensar a essência da técnica, Heidegger não está preocupado com os aparelhos existentes, com as máquinas ou com os meios 6 O princípio da não contradição é interpretado a partir da mostração, que é o desvelamento daquilo que está sendo dito, trago à tona aquilo que enuncio, não de um modo lógico, determinado, é um deixar ver sua manifestação na totalidade.! 1233

tecnológicos, pois a determinação instrumental da técnica não é essência da técnica, pois os problemas do pensamento e da reflexão estão encobertos, a era da técnica é a era da lógica que oprime a diferença, a diversidade, tornando o pensamento unilateral em todas as questões do nosso planeta. O homem é desafiado pela técnica e este é o perigo, pois o domínio da essência da técnica determina, calcula, taxa as coisas e diz como elas são. Não obstante, são nestes sistemas operativos calculáveis que ocorre o desencobrimento da técnica a partir dos enunciados lógicos. O fenômeno do mundo desaparece na vigência da essência da técnica, pois a composição irrestrita não permite uma posição alternativa, ela se torna a única explicação e destrói o pensamento; provocando também um descobrimento que ameaça acabar com os outros modos de desencobrimento, ou seja, ela é absoluta, fixa, por conseguinte, ela é um desdobramento da lógica, pois quer se instalar no modo de pensar, como sendo única e destruindo toda e qualquer diferença. 2. Educação, técnica e mundo A educação no século XXI é um dos grandes problemas da humanidade, pois o planeta encontra-se globalizado, as fronteiras praticamente não existem mais, o que se consome na Europa, se consome também na África, Austrália, México e Canadá. O modo de pensar globalizado, a partir da técnica, isto é, o modo de pensar unilateral e fragmentado, é um dos grandes problemas da educação, pois desde a formação dentro das academias (universidades), o pensamento encontra-se limitado e segmentado por departamentos, isso afeta a formação dos educadores e, principalmente, a formação dos alunos, que já estão inseridos nesse contexto caótico do pensamento e da falta de diferença. O limite da compreensão e do conhecimento é a grande crise desencadeada pela técnica em nossos dias e Martin Heidegger entende que, a técnica é algo inevitável, um processo que não possui uma luz no fim do túnel com uma placa de retorno. E para nós, educadores, professores e estudantes, como podemos pensar em viver e atuar neste mundo técnico, onde a diferença não é suportada?! 1234

Como vamos enfrentar a diversidade dentro de uma sala de aula com 20, 25, 30, 40 alunos, que já nasceram na era tecnológica dos anos 2000 e estão inseridos neste contexto de fragmentação do pensamento que limita nosso conhecimento do mundo, tornando-o simples, porém, o conhecimento é desunido, fragmentado, gerando um isolamento mundano na era da técnica. E isso está diretamente ligado ao modo do qual pensamos, isto é, metafísico, pautado na lógica com uma grande influência atual da técnica. Será o fim da sala de aula? Essa era planetária será tão radical a chegar nesse ponto de destruição do sistema educacional? Para o filósofo, como já estamos inseridos nesse contexto é somente pela técnica que o homem pode se libertar, abrindo assim, algumas possibilidades para o seu futuro e encontrar um caminho de saída, mesmo que não seja absoluto, mas um caminho que a compreensão e o conhecimento possam ser acessíveis para todos em qualquer lugar do planeta. Partindo de uma citação do pensador Edgar Morin, para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária a reforma do pensamento (MORIN, 2000, p. 35). Se nossa era é a técnica e o modo de conhecer não é mais o mesmo, uma reforma no modo de pensar é de extrema urgência, por conseguinte, o modo de educar, transmitir conhecimento, deve seguir o mesmo caminho. É neste cenário que a Educação à Distância (EaD) entra em ação, ou seja, é a partir da própria técnica que podemos encontrar uma saída para questão do pensamento, o EaD é a ferramenta da educação para o futuro, um modo de atingir o maior público possível e a sua grande diversidade, principalmente tratando-se do Brasil, um país multicultural. Outro ponto de grande destaque do ensino EaD é o alinhamento da multidisciplinaridade, alunos de diversos cursos estão matriculados nas mesmas disciplinas, por exemplo, aluno de Odontologia e o de Estética e Cosmético cursam a Disciplina Interativa Homem, Cultura e Sociedade, mas qual a importância disso? Alguns saberes que constituem o mundo são em comum para todos e este é o desafio do ensino à distância, articular alguns problemas do mundo para o aluno! 1235

em formação compreender que ele não está sozinho no mundo, pois tudo encontrase conectado. A esse problema universal confronta-se a educação do futuro, pois existe inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários (MORIN, 2000, p. 36). O EaD executa para os diversos campos dos saberes, alguns problemas que são de grande importância para sociedade como um todo, propiciando assim, uma formação acadêmica voltada para o cotidiano do futuro profissional, destacando a diversidade e o pensar diferente, saindo do tradicional ensino de gavetas 7 e atingindo os mais variados públicos, respeitando sempre a diferença no desenvolvimento de cada atividade realizada no Ambiente Virtual do Aluno (AVA). Conclusão Posso concluir que, o mundo e a sociedade que o habita já não é mais o mesmo dos anos de 1990, por conseguinte, os cidadãos que estão habitando esse planeta, também estão diferentes e com grandes dificuldades de alinhar os problemas existentes, alguns globais outros regionais, com a educação. A era da técnica é o nosso presente e futuro, e o desenvolvimento de meios para sobreviver nessa era é de suma importância, pois o pensar unilateral instalado, não suporta tanta diversidade e a educação tem um papel fundamental para mudança dos cidadãos que estão em formação. O EaD trilha um caminho novo e por isso, é visto com grande desconfiança pensando a multidisciplinaridade dos saberes, conectando povos de norte a sul do Brasil e ao mesmo tempo, orientando a todos pensar o mesmo problema em suas disciplinas. Um polo, agora planetário, é o da compreensão entre humanos, os encontros e relações que se multiplicam entre pessoas, culturas, povos de diferentes origens culturais (MORIN, 2000, p. 94). 7 Uso esse termo, pois, o ensino e o conhecimento encontram-se separado um do outro, que se assemelha a um guarda-roupa, numa gaveta temos as cuecas, na outra, as meias, em outra, as camisas. Na educação, temos um guarda-roupa das ciências humanas, o guarda-roupa das ciências exatas e dentro de cada guarda-roupa, cada gaveta tem o seu conhecimento guardado bem separado, gaveta da ética, a gaveta da moral, a gaveta da política, a gaveta sobre economia e assim por diante.! 1236

A educação é o futuro, mas é preciso repensá-la para o futuro. O primeiro passo foi dado, o EaD é o futuro que se instalou em nosso presente e tem grande potencial de se tornar um modelo, principalmente pela sua multidisciplinaridade. Referências ANGIONI, Lucas. Prioridade e substância na metafísica de Aristóteles. Dois Pontos, [S.l.], v. 7, n. 3, jul. 2010. ISSN 2179-7412. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/ index.php/doispontos/article/view/14818>. Acesso em: 14 Mai. 2015. doi:10.5380/ dp.v7i3.14818.. Introdução à teoria da predicação em Aristóteles. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006. ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução Marcelo Perine. 2ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2005. HEIDEGGER, Martin. Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo, finitude, solidão. Tradução Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.. Ser e Tempo. Tradução Marcia Sá Cavalcante Schuback, 5ª edição. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2011. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 2. ed. São Paulo: Cortez ; Brasília, DF : UNESCO, 2000.! 1237