1ª CONFERÊNCIA ANUAL SOBRE O CONTROLO PELA CRIMIGRAÇÃO PROPOSTA DE ARTIGO Linha Temática: Justiça e Controlo Social Formato de Comunicação: Escrita Autora: Gabrielle Louise Soares Timóteo. Qualificação: Advogada, Mestre e Doutoranda em Direito pela Universidade de São Paulo. Contato: gabilouise@gmail.com. Rua Souza Ramos, n. 320, ap. 102, São Paulo SP. Brasil. CEP: 04120-080. Telefone: +55 11 8468-4433 / +55 11 4994-0384. RESUMO Trabalhadores bolivianos em São Paulo: uma leitura jurídica Palavras-chave: Imigrantes; Bolivianos; Trabalho em Condições Análogas à Escravidão; Tráfico de Pessoas; São Paulo. Atualmente existe um fluxo imigratório significativo de trabalhadores bolivianos que se dirige para o Brasil, em especial para a cidade de São Paulo o maior centro urbano do país. Esta imigração é principalmente composta por indivíduos que buscam exercer atividades em oficinas de costura na cidade. Muitas oficinas que empregam trabalhadores bolivianos apresentam casos de trabalho em condição análoga à escravidão, tráfico de pessoas, tráfico de migrantes e uma gama variada de irregularidades trabalhistas. Este artigo busca apresentar resultados de pesquisa empírica de viés qualitativo realizada com trabalhadores bolivianos submetidos ao trabalho nestas oficinas de costura, bem como refletir sobre as práticas que o Estado brasileiro vem adotando em relação ao tratamento desses imigrantes. Partindo de uma posição teórica de afirmação e proteção dos direitos humanos dos trabalhadores imigrantes foi realizada pesquisa com o intuito de verificar qual é o
entendimento que o próprio trabalhador que vivencia o trabalho nas oficinas de costura possui deste processo. Desta forma, primeiramente foi feita análise da legislação imigratória brasileira e das legislações brasileira e internacional sobre trabalho em condições análogas à escravidão e tráfico de pessoas, bem como levantamento das condições enfrentadas pelos trabalhadores nas oficinas e mapeamento das iniciativas e práticas que o Estado brasileiro vem adotando para lidar com esta situação. Assim, além de estudo legislativo, jurisprudencial e doutrinário, a autora acompanhou diligências a oficinas de costura com representantes do Ministério Público do Trabalho, compareceu a reuniões com a comunidade boliviana no Centro de Apoio ao Migrante, avaliou quais eram as principais demandas jurídicas lá apresentadas e realizou entrevistas individuais com imigrantes que frequentavam este Centro. Para a realização das entrevistas foi utilizado roteiro estruturado a guiá-las, porém sempre tendo abertura para a inclusão de outros pontos que ali não eram apresentados e que iam surgindo ao longo da conversa desenvolvida em tom informal. A pesquisa demonstrou que, via de regra, os trabalhadores não relacionam nem jornada exaustiva nem trabalho degradante a trabalho em condições análogas à escravidão, como faz o artigo 149 do Código Penal brasileiro. Os trabalhadores apenas acreditam que existe trabalho escravo em situações extremas, nas quais ocorre cerceamento de liberdade. Esta constatação é especialmente relevante já que muitas vezes, apesar do árduo trabalho em más condições e até de servidão por dívida, trabalhadores recebem folga aos domingos. Assim, na comunidade de trabalhadores imigrantes ainda está arraigada a percepção de que o trabalho escravo ocorre apenas quando existe restrição à liberdade de locomoção. Isto é um dado importante porque sinaliza no sentido de que é essencial que seja promovida atividade de diálogo com a comunidade com vistas a informar, conscientizar e promover o trabalho decente dentro dela. O Estado brasileiro reconhece o problema da exploração de bolivianos em oficinas de costura e tem buscado implementar iniciativas de inclusão desses imigrantes à sociedade brasileira, distanciando-se de um tratamento que poderia ser classificado como de crimigração. Entretanto, ainda existe muito a avançar e a pesquisa empírica apresentada no artigo fornece alguns elementos necessários a serem trabalhados para que se progrida no tratamento de inclusão e combate à exploração desses imigrantes.
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