UNITERMOS: Leitura. Pré-escolar. Linguagem. KEY WORDS: Reading. Child, preschool. Language.

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Transcrição:

Machado ARTIGO AC ESPECIAL & Bello SF A prática em evidência Andréa Carla Machado; Suzelei Faria Bello UNITERMOS: Leitura. Pré-escolar. Linguagem. KEY WORDS: Reading. Child, preschool. Language. INTRODUÇÃO Considerando a linguagem como componente basal que canaliza grande parte do desenvolvimento humano, é um grande desafio refletir sobre práticas educacionais que favoreçam o desenvolvimento da linguagem. Assim, esse texto tem como objetivo apresentar algumas práticas que podem ser desenvolvidas tanto em sala de aula pelo professor, bem como pelo profissional fonoaudiólogo ou psicopedagogo, cuja função das mesmas é de associar a prática ao complexo campo teórico que permeia os conceitos sobre a linguagem. Sabe-se que a realidade do contexto escolar tem revelado números crescentes de crianças com transtorno de aprendizagem e muitas outras dificuldades, no entanto, percebe-se que existem lacunas em associar a teoria à prática, para então monitorar as atividades e por elas ter a possibilidade de maximizar as potencialidades de cada aluno. Sendo assim, o processo de compreensão das atividades perpassa pela importância da atenção, memória, resolução de problemas, interações comunicativas, consciência fonológica, percepção e construção da leitura e escrita, eventos fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento de conteúdos na sala de aula. Cada sugestão de atividade apresentada no presente texto foi planejada para que ocorra a interação entre o professor-aluno em ambiente construtivo, a fim de enfatizar o processo de ensino-aprendizagem. Espera-se que as estratégias, referentes às atividades descritas, possam auxiliar como campo norteador, pois ao utili zálas em sala de aula, por certo, o professor poderá encontrar caminhos facilitadores e, muitas vezes, adaptar as atividades em função das suas necessidades destacadas nos seus alunos, bem como poderá também auxiliar na reflexão e na construção do planejamento de aula. Andréa Carla Machado Pedagoga, Psicopedagoga, Mestre e Doutoranda em Educação Especial pela Uni - versidade Federal de São Carlos (UFSCar); membro do Grupo de Pesquisa Linguagem, Aprendizagem, Escolaridade da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (FFC-UNESP Marília-SP); Bolsista FAPESP, São Carlos, SP, Brasil. Suzelei Faria Bello Fonoaudióloga, Mestre e Dou - toranda em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Bolsista CNPq, São Carlos, SP, Brasil. Correspondência Andréa Carla Machado Rua Rui Barbosa, 416 Centro Neves Paulista, SP, Brasil CEP 15120-000 E-mail: decamachado@gmail.com 10

A prática em evidência O CAMINHO TEÓRICO A SEGUIR Sabe-se que a disfunção envolvida nas crianças com transtorno de aprendizagem intervém nos níveis de processamento da informação, envolvendo processos fundamentais como cognitivo, auditivo, visual, linguístico e integrativo 1. A linguagem consiste em uma função superior do cérebro, cujo desenvolvimento ampara desde a estrutura anatomo-funcional, geneticamente, determinada, até o estímulo verbal que o meio oferece. O processo de aquisição da linguagem oral, assim como da aquisição da leitura e da escrita submerge de uma complexa rede neural e diversas áreas cerebrais, envolvendo uma interação entre as áreas. Re sumidamente, na região occipital, o córtex vi sual processa o estímulo visual gráfico e as áreas do lobo parietal processam a noção viso-espacial da grafia. Assim, essas informações são direcionadas à área de Werneck, responsável por compreender a linguagem oral e escrita, que ativa a área de Broca. Já na região frontal do cé rebro ocorre o planejamento, organização e execução do movimento, além do envolvimento de outras áreas para uma resposta motora 2,3. Com relação ao envolvimento dos estímulos auditivos, esses são processados e analisados no lobo temporal, também na área de Werneck. Já os componentes sintáticos que remetem a compreensão do tema, de modo geral, são processados no lobo frontal, assim atinge o nível léxico-semântico e a resposta obtida remete a entrada do estímulo sonoro 4. Partindo desse pressuposto, e na tentativa de caminhar para uma interação entre saúde e educação, destaca-se o complexo fenômeno biológico e ambiental, além da importância da integridade motora, sensorial e socioemocional no favorecimento do processo da aprendizagem da leitura e da escrita 5. Visto isso, é notório que a linguagem compreende cinco sistemas lingüísticos, sendo eles a pragmática (utilização adequada da linguagem em determinado contexto), a semântica (o significado), o sintático (como os termos são organizados), a morfologia (estrutura dos vocábulos) e o fonológico (estrutura sonora). Para aprender a decodificar a leitura, o sujeito precisa encontrar no subsistema fonológico o entendimento de que a percepção das palavras faladas pode ser fracionada em unidades menores da fala: fonema, ensinando como as letras escritas são formadas por sons 6. Desse modo, Zorzi 7 também ressalta que pensar as palavras, não só do ponto de vista de sua estrutura acústica, mas também a partir de um referencial visual, considerando a forma gráfica que as palavras têm, ou seja, a convenção, é um dispositivo complexo e amplo, que precisa estar envolvido no decorrer do dia-a-dia educacional por meio de atividades facilitadoras. Portanto, observa-se a importância das vias sensoriais para o processo de desenvolvimento e aquisição da leitura e da escrita, pois em consonância diversas pesquisas relatam que a consciência fonológica está relacionada ao êxito na aquisição da leitura e da escrita 8,9. Compreen der os aspectos fonológicos vai além da acuidade auditiva, no entanto, sem essa atividade de percepção, compreensão e reflexão sobre os aspectos fonológicos da língua e a consciência do som, o caminho acaba sendo dificultado para aprendizagem da leitura e da escrita, consequentemente. Autores como Share 10, Capovilla & Capovilla 11 e Adams et al. 12 definem a consciência fonológi ca como uma habilidade de manipular a fala, substituindo ou segmentando em unidades menores (palavras, sílabas e fonemas), pois envolvem todos os tipos de consciência dos sons que compõem uma língua. Essa habilidade metalinguística pode ser estimulada por meio de diversas formas lúdicas, tais como as músicas e os jogos. Pesquisas apontam para formas de estimular a consciência fonológica, essas investigaram as relações entre habilidades de processamento auditivo e de consciência fonológica em crianças de cinco anos de idade com e sem expe riência musical 13. Para tanto, utilizaram diversos instrumentos, entre eles: memória sequencial verbal, 11

Machado AC & Bello SF memória sequencial não-verbal, identificação de rimas, sintaxe e exclusão de fonemas, percebeu-se que a experiência musical propicia o aprimoramento de habilidades auditivas e metalinguagem. Santos & Maluf 14 realizaram uma pesquisa objetivando verificar a eficácia de um programa de intervenção baseado no desenvolvimento das habilidades metalinguísticas, envolvendo músicas, brincadeiras e jogos. Observaram que trabalhar as habilidades metalinguísticas favorece o processo de aquisição da leitura e da escrita. Pimenta & Ghedin 15 caracterizaram o desempenho de escolares com transtorno fonológico em tarefas que favoreçam a metalinguagem, identificação, produção e segmentação de rimas, observando que os sujeitos com transtornos fonológicos apresentam dificuldades, principalmente, em tarefas de identificação e de produção dos sons. A CONSTRUÇÃO DA PRÁTICA O processo de ensino e aprendizagem apre - senta-se como um trabalho conjunto entre professor e aluno, perante o qual o professor precisa relacionar e refletir sobre a dicotomia entre a teoria e a prática de maneira frequente e intensa, para potencializar de forma significativa, e atender às diversas habilidades do aluno e às várias demandas do conteúdo curricular. A prática docente se constitui por múltiplas linguagens determinadas pelas circunstâncias históricas, sociais e culturais. Assim, de acordo com Demo 16, a teoria não se materializa sem a prática, em contrapartida, a prática sem o em basamento teórico também não responde às transformações necessárias do processo de ensino-aprendizagem, portanto, a teoria e a prática são indissociáveis. De acordo com Demo 16, é necessário saber pensar para saber intervir, e pensar não é uma lógica linear, é um exercício constante de (re) construir e (re)formular ações que atendam a uma necessidade. Pensar, para esse autor, é atividade eminentemente mental e intervir é atividade eminentemente prática, mas ambas se interrelacionam e fazem com que a prática se potencialize em beneficio a um aprendizado construtivo. Nessa direção, para trabalhar as atividades, principalmente as de consciência fonológica 17, é importante que os profissionais conheçam a estrutura da nossa língua, principalmente os aspectos fonéticos fonológicos, por considerar que existe uma progressão de trabalho desde os pré-requisitos atencionais até as propos tas mais elaboradas de leitura e escrita. Dessa forma, compreender como os fonemas são ar ti culados e esses sons representados no sistema de escrita alfabética irá contribuir para melhor aproveitamento e desdobramento das estratégias 12,17. As atividades foram baseadas em Adams et al. 12 e Almeida & Duarte 18, por considerar que ocorre uma interlocução entre a teoria e o processo de atuação no cotidiano educacional relacionado com a prática. Assim, as atividades enfocadas nesse texto seguem a importância de se trabalhar a consciência fonológica no contexto escolar para a aquisição do processo de leitura e escrita. Entendendo que a consciência fonológica inclui diversas habilidades, as atividades se desenvolvem desde os aspectos atencionais até as habilidades de reconhecimento de palavra, incluindo a utilização de rimas e aliterações. SUGESTÕES DE ATIVIDADES Atividade de audibilização Objetivo: possibilitar o trabalho com a atenção e a memória auditiva, praticando a escuta de sons específicos. Atividade: oferecer sons por categorias semânticas (sons de animais, meios de transporte, sons do corpo humano, sons de instrumentos musicais). 1. Oferecer o som isolado e solicitar a nomeação do som; 12

A prática em evidência 2. Oferecer o som associado figura e fundo, solicitar que descubra o maior número de sons, podendo iniciar com dois sons e aumentar a complexidade. Atividade de visualização Objetivo: discriminação de palavras e ou figuras Material: utilizar figuras ou figuras e palavras Material: diga ou aponte figuras e a criança bate palmas para contar a quantidade de sílabas, podem ser utilizados nomes de pessoas da sala, da família, de animais, brinquedos e o que for de mais significativo para o contexto. Do fonema Objetivo: reconhecer os fonemas. Material: ofereça várias figuras à criança e solicite: Linguagem oral descrições Objetivo: evocar fatos e acontecimentos do cotidiano. Material: solicitar a descrição verbal de ações que são realizadas ao acordar, ou a rotina do dia, ou como se realiza uma compra no supermercado. Consciência fonológica Da palavra Objetivo: observar que as palavras rimam. Material: oferecer uma palavra ou figura e solicitar que as crianças digam com que outras palavras ou figuras rima. 1. Que conte os fonemas 2. Poderá fazer uma lista de palavras que as crianças gostem e então solicitar que descubram quais os fonemas das palavras. Ex: pé, piano, boneca, mo - rango. 3. O adulto fala um fonema e a criança desco bre e fala uma palavra que começa ou termina com o fonema. Ex: /s/... sino; /l/...mula 4. Adição ou subtração de fonemas oferecer tampa de garrafa ou outro material e solicitar que ela coloque na mesa a quantidade de fonemas para a palavra solicitada, depois retira-se um fonema e solicita-se novamente a quantidade. Ex: 5. Foca - Retira-se o fonema /f/ oca Da sílaba Objetivo: reconhecer a quantidade de sílabas que há numa palavra. Rima Pode-se utilizar textos do folclore brasileiro, músicas e delas extrair as atividades. 13

Machado AC & Bello SF Objetivo: discriminar a terminação de palavras semelhantes. Material: utilizar figuras e espalhá-las pela sala ou mesa, confeccionar cartões com diversos nomes e que serão retirados de uma caixa e a criança deverá associar as palavras que rimam à figura, relembrando que a rima é a semelhança nos finais das palavras. REFERÊNCIAS 1. Capellini SA. Aspectos cognitivo-linguístico e sua relação com os transtornos de aprendizagem. In: Valle LELR, org. Aprendizagem na atualidade: neuropsicologia e desenvolvimento na inclusão. Ribeirão Preto: Editora Novo conceito;2007. 2. Castaño J. Bases neurobiológicas del lenguaje y sus alteraciones. Neurologia. 2003; 36(781):785. 3. Schirmer CR, Fontoura DR, Nunes ML. Dis - túrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem. J Pediatr. 2004;80(suppl 2):S95-103. 4. Mendonça LIZ. Contribuições da neurologia no estudo da linguagem. In: Ortiz KZ, org. Distúrbios neurológicos adquiridos: linguagem e cognição. Barueri:Manole;2005. 5. Capelini SA, Gonçalves BAG. Desempenho de escolares de 1ª série na bateria de iden - tificação de erros de reversão e inversão na escrita: estu do preliminar. Rev CEFAC. 2010; 12(6):998-1008. 6. Pinheiro FH, Germano G, Capellini SA. Caracterização do desempenho em habilidades auditivas e fonológicas em escolares com dislexia do desenvolvimento Rev Tecer. 2011;4(6):1-13. 7. Zorzi JL. Aprender a escrever: a apropriação do sistema ortográfico. Porto Alegre:Artes Médicas;1998. 8. Mota HB. Fonologia: intervenção. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO, orgs. Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca;2004. p.772-86. 9. Capellini SA, Silva C, Gonzaga J, Galhardo MT, Cruvinel P, Smythe I. Desempenho cognitivo linguístico de escolares de 1ª a 4ª séries do ensino público municipal. Rev Psicopedagogia. 2007;24(73):30-44. 10. Share DL. Phonological recoding and selfteaching: sine qua non of reading acquisition. Cognition. 1995;55(2):151-218. 11. Capovilla AGS, Capovilla FC. Prova de consciência fonológica: desenvolvimento de dez habilidades da pré-escola à segunda série. Temas sobre Desenvolv. 1998;7(37):14-35. 12. Adams MJ, Foorman BR, Lundberg I, Beeler T. Consciência fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre:Arte Médicas;2006. 13. Escalda J, Lemos SMA, França CC. Habilidades de processamento auditivo e consciên cia fonológica em crianças de cinco anos com e sem experiência musical. J Soc Bras Fo - noaudiol. 2011;23(3):258-63. 14. Santos MJ, Maluf MR. Consciência fonológica e linguagem escrita: efeitos de um programa de intervenção. Educar em Revista. 2010:(38):57-71. 15. Pimenta SG, Ghedin E. Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 3ª ed. São Paulo:Cortez;2005. 16. Demo P. Saber pensar. São Paulo:Cortez;2000. 17. Costa RCC, Souza TNU, Ávila CRB. Sensibilidade fonológica para rima e aliteração em pré-escolares com transtorno fonológico. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(2):129-34. 18. Almeida CE, Duarte PM. Consciência fo no - lógica: atividades práticas. Rio de Janeiro: Revinter;2003. Trabalho realizado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil. Artigo recebido: 23/11/2011 Aprovado: 5/3/2012 14