Chapter 2. 2.1 Noções Preliminares



Documentos relacionados
1 Propriedades das Funções Contínuas 2

Sociedade Brasileira de Matemática Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional. n=1

9. Derivadas de ordem superior

X.0 Sucessões de números reais 1

Seqüências, Limite e Continuidade

Exp e Log. Roberto Imbuzeiro Oliveira. 21 de Fevereiro de O que vamos ver 1. 2 Fatos preliminares sobre espaços métricos 2

Só Matemática O seu portal matemático FUNÇÕES

Material Teórico - Módulo de Divisibilidade. MDC e MMC - Parte 1. Sexto Ano. Prof. Angelo Papa Neto

Exercícios Teóricos Resolvidos

x0 = 1 x n = 3x n 1 x k x k 1 Quantas são as sequências com n letras, cada uma igual a a, b ou c, de modo que não há duas letras a seguidas?

Bases Matemáticas. Aula 2 Métodos de Demonstração. Rodrigo Hausen. v /15

APLICAÇÕES DA DERIVADA

Somatórias e produtórias

Por que o quadrado de terminados em 5 e ta o fa cil? Ex.: 15²=225, 75²=5625,...

Aplicações de Combinatória e Geometria na Teoria dos Números

Cálculo Numérico Aula 1: Computação numérica. Tipos de Erros. Aritmética de ponto flutuante

Estruturas Discretas INF 1631

Todos os exercícios sugeridos nesta apostila se referem ao volume 1. MATEMÁTICA I 1 FUNÇÃO DO 1º GRAU

PARTE 2 FUNÇÕES VETORIAIS DE UMA VARIÁVEL REAL

Polos Olímpicos de Treinamento. Aula 2. Curso de Teoria dos Números - Nível 2. Divisibilidade II. Prof. Samuel Feitosa

5 Equacionando os problemas

AS LEIS DE NEWTON PROFESSOR ANDERSON VIEIRA

Análise de Arredondamento em Ponto Flutuante

CAPÍTULO 3 - TIPOS DE DADOS E IDENTIFICADORES

Dicas para a 6 a Lista de Álgebra 1 (Conteúdo: Homomorfismos de Grupos e Teorema do Isomorfismo para grupos) Professor: Igor Lima.

Resolução dos Exercícios sobre Derivadas

UM TEOREMA QUE PODE SER USADO NA

por séries de potências

Erros. Número Aproximado. Erros Absolutos erelativos. Erro Absoluto

Objetivos. Apresentar as superfícies regradas e superfícies de revolução. Analisar as propriedades que caracterizam as superfícies regradas e

Unidade II - Sistemas de Equações Lineares

a 1 x a n x n = b,

Åaxwell Mariano de Barros

LIMITES e CONTINUIDADE de FUNÇÕES. : R R + o x x

Qual é Mesmo a Definição de Polígono Convexo?

(a 1 + a 100 ) + (a 2 + a 99 ) + (a 3 + a 98 ) (a 50 + a 51 ).

Notas de aula número 1: Otimização *

FUNÇÃO COMO CONJUNTO R 1. (*)= ou, seja, * possui duas imagens. b) não é uma função de A em B, pois não satisfaz a segunda condição da

2 A Derivada. 2.1 Velocidade Média e Velocidade Instantânea

Capítulo 5: Aplicações da Derivada

Teoria dos Números. A Teoria dos Números é a área da matemática que lida com os números inteiros, isto é, com o conjunto

Departamento de Matemática - UEL Ulysses Sodré. Arquivo: minimaxi.tex - Londrina-PR, 29 de Junho de 2010.

Soluções Nível 1 5 a e 6 a séries (6º e 7º anos) do Ensino Fundamental

Corpos. Um domínio de integridade finito é um corpo. Demonstração. Seja D um domínio de integridade com elemento identidade

E A D - S I S T E M A S L I N E A R E S INTRODUÇÃO

Dois eventos são disjuntos ou mutuamente exclusivos quando não tem elementos em comum. Isto é, A B = Φ

O B. Podemos decompor a pirâmide ABCDE em quatro tetraedros congruentes ao tetraedro BCEO. ABCDE tem volume igual a V = a2.oe

CÁLCULO DE ZEROS DE FUNÇÕES REAIS

Notas sobre a Fórmula de Taylor e o estudo de extremos

Capítulo 1. x > y ou x < y ou x = y

ficha 3 espaços lineares

Sistemas de Numerações.

REFLEXÃO DA LUZ: ESPELHOS 412EE TEORIA

Universidade Estadual de Santa Cruz. Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas. Especialização em Matemática. Disciplina: Estruturas Algébricas

Material Teórico - Aplicações das Técnicas Desenvolvidas. Exercícios e Tópicos Relacionados a Combinatória. Segundo Ano do Ensino Médio

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE MATEMÁTICA 5 0 Encontro da RPM TRANSFORMAÇÕES NO PLANO

Estrutura de Dados Básica

ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO RAUL PILLA COMPONENTE CURRICULAR: Matemática PROFESSORA: Maria Inês Castilho. Conjuntos

Estabilidade. Carlos Alexandre Mello. Carlos Alexandre Mello 1

Tópico 3. Limites e continuidade de uma função (Parte 2)

1. Extremos de uma função

RESUMO 2 - FÍSICA III

(b) (1,0 ponto) Reciprocamente, mostre que, se um número x R possui representação infinita em toda base β, então x é irracional.

¹CPTL/UFMS, Três Lagoas, MS,Brasil, ²CPTL/UFMS, Três Lagoas, MS, Brasil.

Construção de tabelas verdades

Um estudo sobre funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto

4.2 Produto Vetorial. Orientação sobre uma reta r

Conceitos Fundamentais

6 SINGULARIDADES E RESÍDUOS

Aula 17 Continuidade Uniforme

INSTITUTO TECNOLÓGICO

FUNÇÃO REAL DE UMA VARIÁVEL REAL

Matemática na Reta. 1 o Colóquio de Matemática da Região Nordeste. Claus I. Doering Instituto de Matemática Universidade Federal do Rio Grande do Sul

13 ÁLGEBRA Uma balança para introduzir os conceitos de Equação do 1ºgrau

AV1 - MA (b) Se o comprador preferir efetuar o pagamento à vista, qual deverá ser o valor desse pagamento único? 1 1, , , 980

Conceitos e fórmulas

36 a Olimpíada Brasileira de Matemática Nível Universitário Primeira Fase

AULA 6 LÓGICA DOS CONJUNTOS

Notas de Aula. Análise na Reta

Equações do segundo grau

Resolução de sistemas lineares

Computabilidade 2012/2013. Sabine Broda Departamento de Ciência de Computadores Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

1. Dê o domínio e esboce o grá co de cada uma das funções abaixo. (a) f (x) = 3x (b) g (x) = x (c) h (x) = x + 1 (d) f (x) = 1 3 x

Lista de Exercícios 4: Soluções Sequências e Indução Matemática

Notas de Cálculo Numérico

Análise e Resolução da prova de Auditor Fiscal da Fazenda Estadual do Piauí Disciplina: Matemática Financeira Professor: Custódio Nascimento

8 8 (mod 17) e 3 34 = (3 17 ) 2 9 (mod 17). Daí que (mod 17), o que significa que é múltiplo de 17.

Potenciação no Conjunto dos Números Inteiros - Z

IBM1018 Física Básica II FFCLRP USP Prof. Antônio Roque Aula 6. O trabalho feito pela força para deslocar o corpo de a para b é dado por: = =

Dadas a base e a altura de um triangulo, determinar sua área.

Exercícios Resolvidos sobre Parâmetros e tabelas de frequência

x As VpULHVGHSRWrQFLDV são um caso particularmente importante das séries de funções, com inúmeras aplicações tanto teóricas como práticas.

MÓDULO 6 INTRODUÇÃO À PROBABILIDADE

SOCIEDADE BRASILEIRA DE MATEMÁTICA MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NACIONAL PROFMAT

Disciplina: Introdução à Álgebra Linear

OTIMIZAÇÃO VETORIAL. Formulação do Problema

QUANTIFICADORES. Existem frases declarativas que não há como decidir se são verdadeiras ou falsas. Por exemplo: (a) Ele é um campeão da Fórmula 1.

6.3 Equivalência entre Autômatos com Pilha Não-Determinísticos e Gramáticas Livre do Contexto

Função. Definição formal: Considere dois conjuntos: o conjunto X com elementos x e o conjunto Y com elementos y. Isto é:

MD Sequências e Indução Matemática 1

Transcrição:

Chapter 2 Seqüências de Números Reais Na Análise os conceitos e resultados mais importantes se referem a limites, direto ou indiretamente. Daí, num primeiro momento, estudaremos os limites de seqüências de números reais, os quais são mais simples, mais adiante, estudaremos os limites de derivadas, seqüências de funções e outros. Intuitivamente, podemos pensar numa seqüência (a, a 2,..., a n,...) de números reais como sendo uma seqüência de pontos da reta e o seu limite como sendo um ponto do qual os pontos a n tornam e permanecem arbitrariamente próximos, desde que se tome o índice n suficientemente grande. 2. Noções Preliminares Uma seqüência de números reais é uma função f : IN IR, definida no conjunto IN = {, 2, 3, 4,...} dos números naturais e tomando valores no conjunto IR dos números reais. O valor f(n) será representado por a n, para todo n IN, e chamado o termo 42

2. Noções Preliminares 43 geral, ou n-ésimo termo da seqüência. É comum usarmos as notações (a n ), (a n ) n IN, (a, a 2, a 3,...) ou simplesmente a n para reprensentar uma seqüência. Usaremos ainda a notação {a n } para indicar o conjunto de valores da seqüência. Essa distinção é importante, pois uma seqüência pode possuir infinitos elementos, mesmo que seu conjunto de valores seja finito. Exemplo 2. A seqüência é infinita, com,,,,,,... a n = ( ) n = ( ) n. Mas observe que seu conjunto de valores possui somente dois valores, + e -, ou seja, {a n } = {+, }. De acordo com a definição que demos anteriormente, o índice de uma seqüência (a n ) começa em n =, ou seja a é seu primeiro termo. Observe, o leitor, que a seqüência de termo geral a n = n 3 só faz sentido para n = 4, 5, 6,... de modo que seu primeiro termo é a 4. Não pense, o leitor, que isto seja um obstáculo, pois podemos, e faremos, uma translação de índices de forma que o primeiro termo da seqüência tenha índice n =. De fato, definindo a seqüência b n = a n+4 = a seqüência fica definida a partir de n =. n +

2. Noções Preliminares 44 Seja (a n ) uma seqüência. Dizemos que (a n ) é crescente se a < a 2 < a 3 <... < a n..., isto é, se a n < a n+ Agora se a > a 2 > a 3 >... > a n..., isto é, se a n > a n+ dizemos que a seqüência é decrescente. A seqüência (a n ) é não-crescente se a a 2 a 3... a n... e não-decrescente se a a 2 a 3... a n... Se uma seqüência satisfaz qualquer uma dessas propriedades ela é dita monótona. Uma seqüência a n é dita ser limitada superiormente se existir um número real β tal que, para todo número natural n, temos a n β. De maneira análoga dizemos que uma seqüência a n é limitada inferiormente se existir um número real α tal que, para todo número natural n, temos a n α. Se existirem reais α e β tais que, para todo número natural n, temos α a n β, dizemos que a n é uma seqüência limitada. Note que uma seqüência é limitada se, e somente se, ela é limitada superiormente e inferiormente. Em outra palavras, uma seqüência é limitada se todos os seus termos pertencem ao intervalo [α, β].

2. Noções Preliminares 45 Lema 2. A seqüência (a n ) de números reais é limitada se, e somente se, ( a n ) é limitada. Observe que todo intervalo [α, β] está contido num intervalo maior da forma [ c, c] com c > 0, basta o leitor fazer c = max{ α, β }. Uma vez que a n [ c, c] é o mesmo que a n c, a seqüência (a n ) é limitada se, e somente se, existe um número real c > 0 tal que a n c para todo n IN, e portanto (a n ) é limitada se, e somente se, ( a n ) é limitada. Dada uma seqüência f = (a n ) n IN de números reais, uma subseqüência de f é a restrição de f a um subconjunto infinito IN = {n < n 2 < n 3 <... < n i,...} de IN. Escrevemos f = (a n ) n IN ou (a n, a n2, a n3,..., a ni,...) ou (a ni ) i IN para representar uma subseqüência. Lema 2.2 Uma seqüência (a n ) n IN monótona é limitada se, e somente se, possui uma subseqüência limitada. Se a seqüência (a n ) n IN monótona é limitada, é fácil ver que toda subseqüência é limitada. Seja a n a n2 a n3... a nk... b uma subseqüência limitada da seqüência não-decrescente (a n ). Note que para qualquer n IN, existe um n k > n e, portanto, a n a nk b. Logo a n b para todo n. Conseqüentemente, (a n ) n IN é limitada.

2. Noções Preliminares 46 Exemplo 2.2 Sendo (a n ) = para todo n IN, temos a seqüência constante (,,,,...), obviamente ela é limitada, não-decrescente e não-crescente. Exemplo 2.3 Sendo (a n ) = n para todo n IN, temos a seqüência (, 2, 3, 4,..., n,...), que é limitada inferiormente, ilimitada superiormente, monótona crescente. Exemplo 2.4 Se para n par temos a n = 0 e n ímpar temos a n =, obtemos uma seqüência limitada e não monótona que é (, 0,, 0,,...). Exemplo 2.5 Seja a n = n para todo n IN. Esta é a seqüência (, 2, 3, 4, 5,...) que é monótona decrescente e limitada. Exemplo 2.6 Consideremos a seqüência (a, a 2, a 3, a 4,..., a n,...) das potências de a, com a IR e n IN. (i) Se a = 0 ou a =, temos obviamente uma seqüência constante.

2. Noções Preliminares 47 (ii) Se 0 < a <, a seqüência é decrescente e limitada. Com efeito, multiplicando ambos os membros da desigualdade a < por a n obtemos a n+ < a n, e assim a seqüência é decrescente. Observe, o leitor, que todos os termos dessa seqüência são positivos e portanto 0 < a n < para todo n IN, em outra palavras esta seqüência é limitada. (iii) Se < a < 0, a seqüência (a n ) não é monótona, pois seus termos são alternadamente positivos e negativos, respectivamentnte se n é par ou ímpar, contudo, a seqüência é limitada. De fato, como a n = a n e 0 < a <, pelo item (ii) e Lema 2. conclui-se a afirmação. (iv) (v) Se a = temos a seqüência (,,,,...) cuja análise é trivial. Se a > obtemos uma seqüência crescente ilimitada. Com efeito, multiplicando ambos os membros da desigualdade a > por a n obtemos a n+ > a n, logo a seqüência é crescente. Quanto a ser ilimitada, observe que a = + h com h > 0 IR e fazendo uso da desigualdade de Bernoulli concluimos que a n > + nh. Note também que dado qualquer número real b, podemos achar n tal que a n > b, para isto, basta tomar Donde obtemos n > b h. + nh > b que por sua vez nos leva a a n > b. Portanto, a seqüência (a n ) e crescente ilimitada.

2.2 Limite de uma Seqüência 48 (vi) Se a < a seqüência (a n ) não é monótona, pois seus termos são alternadamente positivos e negativos, e é ilimitada superior e inferiormente. Com efeito, seus termos de ordem par, a 2n = (a 2 ) n, constituem, pelo item v, uma subseqüência crescente, ilimitada superiormente, de números positivos. Enquanto isso, seus termos de ordem ímpar, a 2n+ = a(a 2n ), constituem uma subseqüência decrescente, ilimitada inferiormente, pelo item v. 2.2 Limite de uma Seqüência Intuitivamente, dizer que o número real L é limite da seqüência (a n ) significa afirmar que, à medida que o índice n cresce, os termos a n tornam-se e se mantém tão próximo de L quanto se deseje. Dizer que a n vai-se tornando tão próximo de L quanto se deseje significa dizer que a n L torna-se inferior a qualquer número positivo ε, por menor que seja, desde que façamos o índice n suficentemente grande. Dizemos que o número real L é o limite da seqüência (a n ) de números reais, e escrevemos lim a n = L, lim a n = L ou a n L. n Quando lim a n = L, diz-se que a seqüência (a n ) converge para L, ou tende para L. Uma seqüência que possui limite chama-se convergente, caso contrário, divergente. Isto nos leva à seguinte definição: Definição 2. Diz-se que uma seqüência (a n ) converge para o número L, ou tem limite L se, dado qualquer número ε > 0, é sempre possível encontrar um número n o tal que n > n o a n L < ε.

2.2 Limite de uma Seqüência 49 Em linguagem simbólica lim a n = L ε > 0 n o IN : n > n o a n L < ε. Observe que se lim a n = L então qualquer intervalo (L ε, L+ε), de centro L e raio ε > 0, contém os termos a n da seqüência, com exceção no máximo de um número finito de índices n. Com efeito, dado o intervalo (L ε, L + ε), com lim a n = L, obtemos n o IN : n > n o a n L < ε. Ou seja, n > n o a n (L ε, L + ε). Assim, fora do intervalo (L ε, L + ε) só poderão estar, no máximo, os termos a, a 2, a 3,..., a no. Reciprocamente, se qualquer intervalo de centro L contém todos os a n, salvo talvez para um número finito de índices n, então lim a n = L. Com efeito, dado qualquer ε > 0, o intervalo (L ε, L + ε) conterá todos os a n exceto para um número finito de índices n. Seja n o o maior índice n tal que a n (L ε, L + ε). Então n > n o a n (L ε, L + ε), ou seja a n L < ε. Isto prova que lim a n = L. Exemplo 2.7 Prove, segundo a definição, que a seqüência n (a n ) = ( n + ) = ( 2, 2 3, 3 4,... n n +,...) converge para o número.

2.2 Limite de uma Seqüência 50 Solução: Note que, dado qualquer ε > 0, n a n = n + = n + < ε n > ε Logo, dado qualquer ε > 0 existe n o = tal que ε n n > n o n + < ε, o que vem de encontro com a definição 2., como queriamos. Exemplo 2.8 Calcule o ponto de convergencia da seqüência, abaixo Solução: a n = 3n n + sen(2n). Antes de calcularmos o pedido, observemos que: (i) Dividindo o numerador e denominador por n e lembrando que [sen(2n)]/n 0, vemos que o ponto procurado é 3; (ii) Assim, é fácl, também, ver que n + sen(2n) n sen(2n) n. a n 3 = 3 sen(2n) n + sen(2n) 3 n + sen(2n) 3 n sen(2n) 3 n. Portanto, dado qualquer ε > 0, temos que a n 3 3 n < ε n > + ε.

2.2 Limite de uma Seqüência 5 Consequentemente o ponto de convergencia da seqüência é 3, pois ε > 0 n o = + ε : n > n o a n 3 < ε. Demonstraremos, agora, que uma seqüência não pode possuir dois limites distintos, ou seja, se o limite existe ele é único. Teorema 2. Se lim a n = L e lim a n = L então L = L. Suponhamos que L L e tomemos ε < L L. 2 Se lim a n = L, então, para um certo n temos n > n a n L < ε. Da mesma forma se, lim a n = L, então, para um certo n 2 temos n > n 2 a n L < ε. Seja n o = max{n, n 2 }, de forma que n > n o nos leva simultaneamente a n > n e n > n 2. Assim, n > n o implica que L L = (L a n ) + (a n L ) L a n + L a n < 2ε < L L, o que é aburdo. Logo, L = L.

2.2 Limite de uma Seqüência 52 Este teorema nos dá a Unicidade do limite. Se insistirmos em calcular limites pela definição, isto pode tornar-se um trabalho muito complicado. Porém com esta definição podemos estabelecer propriedades que torna este trabalho um pouco menos complicado, como veremos daqui por diante. Teorema 2.2 Se lim a n = L então toda subseqüência de (a n ) converge para o limite L. Seja (a n, a n2, a n3,..., a ni,..) uma subseqüência de (a n ). Dado ε > 0, existe n o IN tal que n > n o a n L < ε. Como os índices da subseqüência formam um subconjunto infinito, existe entre eles um n io > n o. Então n i > n io n i > n o a ni L < ε. Logo lim a ni = L. Corolário 2. Se lim n a n = L então, para todo k IN, lim n a n+k = L. Com efeito, (a +k, a 2+k, a 3+k, a 4+k,..., a n+k,...) é uma subseqüência de (a n ) e pelo teorema anterior seu limite é L.

2.2 Limite de uma Seqüência 53 NOTA 2. Este último corolário nos diz que o limite de uma seqüência não se altera quando dela retiramos um número finito de termos. Mas geral, é o teorema anterior a este corolário, que diz que podemos retirar um número infinito de termos de uma seqüência, desde que se conserve uma infinidade de índices, de modo a restar uma subseqüência, que o limite, ainda, se mantém. Teorema 2.3 Toda seqüência convergente é limitada. Seja (a n ) uma seqüência que converge par L. Então dado qualquer ε > 0, exite n o IN tal que n > n o L ε < a n < L + ε. Isto quer dizer que a partir do índice n = n o +, a seqüência é certamente limitada: à direta por L + ε e à esquerda por L ε. Falta, então, acrescentarmos os termos restantes da seqüência, para isto, basta considerarmos, dentre todos os números a, a 2,..., a n, L ε, L + ε, aquele que é o menor de todos, digamos A, e aquele que é o maior de todos, digamos B e então será verdade, para todo n, que A a n B, como queriamos demonstrar.

2.2 Limite de uma Seqüência 54 Quando uma seqüência não é limitada, seus elementos podem se espalhar por toda a reta, distanciando-se uns dos outros, como acontece com a n = n, a n = n ou a n = ( ) n (2n + ). Se a seqüência for limitada, estando seus elementos confinados a um intervalo [A, B], eles são forçados a se acumularem em um ou mais lugares desse intervalo. Isto é o que nos diz o Teorema de Bolzano-Weierstrass, enuciado a seguir, cuja demonstração está baseada na propriedade do supremo. Para mais detalhes, vinde [], pg. 36. Teorema 2.4 de Bolzano-Weierstrass Toda seqüência limitada (a n ) possui uma subseqüência convergente. Como a seqüência é limitada, existe um número positivo M tal que, para todos os índices n, M < a n < M. Seja X o conjunto dos números x tais que existe uma infinidade de elementos da seqüência à direita de x, isto é, x < a n para uma infinidade de índices n. É claro que M X e M é uma cota superior de X. Tratando-se, pois, de um conjunto não vazio e limitado superiormente, X possui supremo, que designamos por A. Vamos provar que existe uma subseqüência convergindo para A. Começamos provando que, qualquer que seja ε > 0, existem infinitos índices n tais que A ε < a n e somente um número finito satisfazendo A + ε < a n. De fato, sendo A o supremo de X, existe x X à direita de A ε e infinitos a n à direita desse x, portanto à direita de A ε; ao mesmo tempo, só pode existir um número finito de elementos a n > A + ε; do contrário, qualquer número entre A e A + ε estaria em X. Seja ε = e a n um elemento da seqüência no intervalo (A, A + ). Em seguida, seja a n2, com n 2 > n, um elemento da seqüência no intervalo (A, A + ). Em 2 2

2.2 Limite de uma Seqüência 55 seguida, seja a n3, com n 3 > n 2, um elemento da seqüência no intervalo (A 3, A + 3 ). Continuando com esse raciocinio, construimos uma subseqüência (x j ) = (a nj ), que certamente converge para A, pois x j A <. E assim a demonstração esta completa. j Além de sua importância, tanto teórico como prática, o teorema abaixo teve papel histórico relevante. Foi tentando prová-lo de maneira puramente aritmética que Dedekind(858) verificou a imposibilidade de fazê-lo sem antes possuir uma teoria matemática satisfatória dos números reais. Teorema 2.5 Toda seqüência monótona limitada é convergente. Consideremos, para fixar as idéias, a seqüência (a a 2... a n...) nãodecrescente limitada. A hipótese de ser limitada significa que ela é limitada superiormente, ou seja, seu conjunto de valores possui supremo S. Afirmamos que lim a n = S. Com efeito, dado qualquer ε > 0, como S ε < S, o número S ε não é cota superior do conjunto dos a n. Logo existe algum n o IN tal que S ε < a no. Como a seqüência é monótona, n > n o a no a n e, portanto, S ε < a n. Como a n S para todo n, vemos que n > n o S ε < a n < S + ε.

2.3 Operações com limites 56 Assim completamos nossa demonstração. Corolário 2.2 Se uma seqüência monótona (a n ) possui uma subseqüência convergente, então (a n ) é convergente. Com efeito, pelo Lema 2.2, a seqüência monótona (a n ) é limitada e consequentemente pelo teorema anterior esta demonstrado o corolário. 2.3 Operações com limites Mostraremos agora algumas operações, soma, multiplicação e divisão, dos limites de seqüências. Teorema 2.6 Se lim a n = 0 e (b n ) é uma seqüência limitada, lim a n.b n = 0. Iste resultado é válido, ainda, que lim b n não exista.

2.3 Operações com limites 57 Sendo (b n ) limitada, existe c > 0 tal que b n < c prar todo n IN. Dado ε > 0, como lim a n = 0, podemos encontrar n o IN tal que Logo, Isto nos montra que a n.b n 0. n > n o a n < ε c. n > n o a n.b n = a n. b n < ε.c = ε. c Exemplo 2.9 Qualquer que seja x IR, temos Solução: sen(nx) lim n n = 0. Como De fato, sen(nx) n = sen(nx). n. em outras palavras, é limitado e sen(nx), n 0, pelo teorema anterior, temos o resultado desejado. Lema 2.3 Sendo lim b n = y, com y 0, então, salvo um númro finito de índices n, tem-se b n 0.

2.3 Operações com limites 58 Com efeito, sendo y 0, podemos tomar um intervalo (y ε, y + ε) de centro y, tal que 0 (y ε, y + ε). Para isto, tome ε = y. Então existe n o IN tal que n > n o b n (y ε, y + ε) isto é n > n o b n 0. Teorema 2.7 Seja lim a n = x e lim b n = y, então: (a) lim(a n + b n ) = x + y e lim(a n b n ) = x y; (b) (c) lim(a n.b n ) = x.y; lim( an b n ) = x y se y 0. (a) Sendo lim a n = x e lim b n = y temos, respectivamente que, existem n e n 2 em IN tais que: n > n a n x < ε 2 e n > n 2 b n y < ε 2.

2.3 Operações com limites 59 Seja n o = max{n, n 2 }. Então n > n o, nos leva a n > n e n > n 2. Logo n > n o implica: (a n + b n ) (x + y) = (a n x) + (b n y) a n x + b n y < ε 2 + ε 2 < ε. Com isto provamos que lim(a n + b n ) = x + y. De maneira análoga se prova a diferença. (b) Observe que a n b n xy = a n b n a n y + a n y xy = a n (b n y) + (a n x)y. Pelo teorema 2.3, (a n ) é uma seqüência limitada e pelo item (a) lim(b n y) = 0. Logo pelo teorema 2.5, lim[a n (b n y)] = 0. De maneira análoga temos, lim[(a n x)b] = 0. Dessa forma temos, pelo item (a) lim(a n b n xy) = lim[a n (b n y)] + lim[(a n x)b] = 0, donde obtemos Para que a seqüência an b n lim(a n.b n ) = x.y. tenha sentido, ou seja, para que ela seja formada, limitamonos aos índices n suficientemente grandes de modo que b n 0. (c) Note, pelo item anterior, que b n y y 2, ou seja, existe n o IN tal que n > n o b n y > y2 2.

2.3 Operações com limites 60 Para ver isto, basta tomar ε = y2 2 e achar o n o correspondente. Daí, para todo n > n o, b ny Como 2 é um número positivo inferior a. Logo, a seqüência ( y 2 b ny ) é limitada. Veja bem, a n x b n y = ya n xb n b n y = (ya n xb n ) b n y. lim (ya n xb n ) = xy xy = 0, n segue do teorema 2.5 que e portanto lim( a n b n x y ) = 0, lim( a n b n ) = x y. Exemplo 2.0 Calcule o limite da seqüência de números reais a n = n x = x n, onde x > 0. Solução: Note que esta seqüência é decrescente se x >, crescente se x < e limitada em qualquer um dos casos. Portanto, existe lim x n n = L. Sem sombra de dúvida temos L > 0. De fato,

2.3 Operações com limites 6 (i) Se 0 < x <, então L = sup{x n ; n IN} x. (ii) Se x > então x n >, para todo n, logo L = inf{x n ; n IN} Podemos afirmar com toda certeza que lim n x n =. Com efeito, consideremos a subseqüência (x n(n+) ) = (x 2, x 6, x 2,...). Pelo teorema 2.2 e pelo item (c) do teorema 2.6 obtemos L = lim x n(n+) = lim x n n+ = lim x n x n+ = lim x n lim x n+ = L L =. Exemplo 2. Calcule lim n n n = lim n n. Solução: Primeiramente, vamos verificar se este limite existe. Para tanto, basta provar que a seqüência é monótona. A seqüência em questão é uma seqüência de números reais positivos, portanto limitada inferiormente. Vejamos se é monótona: Para que seja n n > n+ n + é necessário e suficiente que n n+ > (n + ) n,

2.4 Critério de Convergência de Cauchy 62 isto é, que n > ( + n )n. Isto de fato ocorre para todo n 3, pois sabemos que ( + n )n < 3 (verifique!!!) seja qual for n. Assim concluímos que a seqüência dada por n n é decrescente a partir do seu terceiro termo. Note que < 2 < 3 3, logo ela cresce em seus três primeiros passos, só então começando a decrescer. Assim ( n n) é limitada e monótona decrescente a partir do seu terceiro termo. Portanto seu limite existe. Seja lim n n = L. Como a seqüência é monótona decrescente temos que L = inf{n n ; n IN}. Uma vez que n n particular, L > 0. Considerando a subseqüência (2n) 2n, temos > para todo n IN, temos L. Em L 2 = lim[(2n) 2n ] 2 = lim[(2n) n ] = lim[2 n.n n ] = lim 2 n. lim n n = L. Como L 0, de L 2 = L obtemos L =. Portanto, lim n n n =. 2.4 Critério de Convergência de Cauchy Um critério de convergência já foi dado antes, Teorema 2.4 ( Toda seqüência monótona limitada é convergente ), ou seja, um teorema que nos permite saber, em certos casos, se uma dada seqüência é convergente, mesmo sem conhecermos o valor desse limite. Mas é claro que muitas seqüências convergentes não são monótonas, de modo que aquele

2.4 Critério de Convergência de Cauchy 63 critério de convergência não é o mais geral possível. Em contraste, o teorema seguinte é de caráter geral, é um critério de convergência, que nos dará uma condição, não somente suficiente mas também necessária, para a convergência de qualquer seqüência de números reais. Este critério é conhecido como Critério de Convergência de Cauchy. Definição 2.2 Uma seqüência de números reais (a n ) é dita ser uma uma seqüência de Cauchy se ela satisfaz a seguinte condição: dado arbitrariamente um número real ε > 0, pode-se obter n o IN tal que m > n o e n > n o implicam a m a n < ε. Note, o leitor, que comparando esta definição com a definição de limite observamos que, na definição de limite, exige-se que os termos a n se aproximem arbitrariamente de um número real L, dado a priori. Enquanto que, para (a n ) ser uma seqüência de Cauchy, exige-se que seus termos a m e a n, para valores suficientemente grandes dos índices m e n, se aproximem arbitrariamente uns dos outros, ou seja, impõe-se, apenas, uma condição sobre os termos da própria seqüência. Lema 2.4 Toda seqüência de Cauchy é limitada. Seja (a n ) uma seqüência de Cauchy. Tomando ε =, obtemos n o IN tal que m, n > n o a m a n <. Em particular, n n o a no a n <,

2.4 Critério de Convergência de Cauchy 64 ou seja, n n o a n (a no, a no + ). Sejam α o menor e β o maior elemento do conjunto {a, a 2,..., a no, a no + }. Então a n [α, β] para cada n IN, logo (a n ) é limitada. Lema 2.5 Se uma seqüência de Cauchy (a n ) possui uma subseqüência convergindo para L IR então lim a n = L. Sendo (a n ) uma seqüência de Cauchy temos que dado ε > 0, existe n o IN tal que m, n > n o a m a n < ε 2. Seja (a ni ) uma subseqüência de (a n ) convergindo para L. Então existe n > n o tal que a n L < ε 2. Portanto, n > n o a n L a n a n + a n L < ε 2 + ε 2 = ε. Com isso mostramos que lim a n = L.

2.5 Limites Infinitos 65 Teorema 2.8 Critério de Convergência de Cauchy Uma seqüência de números reais é convergente se, e somente se, é Cauchy. Seja (a n ) uma seqüência tal que lim a n = L. Dado arbitrariamente ε > 0, existe n o IN tal que m > n o a m L < ε 2 e Logo, n > n o a n L < ε 2. m, n > n o a m a n a m L + a n L < ε 2 + ε 2 = ε. Portanto (a n ) é uma seqüência de Cauchy. Reciprocamemte, seja (a n ) uma seqüência de Cauchy. Pelo Lema 2.4, ela é limitada. Consequentemente, pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass, ela possui uma subseqüência convergente. Finalmente do Lema 2.5 temos que (a n ) converge. Isto completa a demonstração do teorema. 2.5 Limites Infinitos Certas seqüências, embora não convergentes, apresentam um comportamento tanto quanto regular, a saber, aquelas cujos valores se tornam e se mantêm arbitrariamente grandes ou arbitrariamente pequenos com o crescer do índice. Seqüências com estas propriedades, dizemos que diverge para mais infinito ou para menos infinito respectivamente.