INSERÇÃO PRODUTIVA E SOCIAL DE FAMÍLIAS CARENTES ATENDIDAS PELO CRAS NO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA-PB RESUMO



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ANTONIO CARLOS NARDI

Transcrição:

INSERÇÃO PRODUTIVA E SOCIAL DE FAMÍLIAS CARENTES ATENDIDAS PELO CRAS NO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA-PB Iáskara Rosandra Lopes de Almeida Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB Rejane Gomes Carvalho Professora do Departamento de Economia - UFPB RESUMO Este trabalho tem por finalidade avaliar a importância dos cursos de inclusão produtiva oferecidos às famílias usuárias do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) do município de Itaporanga-PB, com o intuito de melhorar as condições de vida dessa parcela da população. Os cursos de inclusão produtiva representam um dos serviços sócio-assistenciais oferecidos no CRAS que tem como objetivo a inserção social dos seus usuários no mercado de trabalho e na sociedade, bem como no resgate de sua autoestima e dignidade. O CRAS é uma unidade física localizada em bairros onde há maior concentração de famílias necessitadas. Nesse centro é realizado o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), visando atender as famílias na sua integralidade e contribuir para sua inserção social, bem como para reduzir as desigualdades sociais. Neste trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica e uma pesquisa documental, que proporcionou aprofundamento e ampliação dos conhecimentos acerca do tema estudado. Também se realizou pesquisa de campo, em que foi aplicado um questionário com questões objetivas direcionadas ao público alvo do programa. Percebeu-se que alguns dos usuários do CRAS não conhecem ou mesmo nunca utilizaram os serviços sócioassistenciais oferecidos pelo programa e os que utilizaram alguns desses serviços estão diretamente ligados aos cursos de inclusão produtiva. É necessário também destacar as dificuldades e desafios no programa para desenvolver com eficácia os cursos de inclusão produtiva. Palavras-chave: 1. CRAS 2. Assistência 3. Inclusão Produtiva.

1. INTRODUÇÃO O presente trabalho apresenta um estudo sobre o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) do município de Itaporanga-PB, bem como sobre os serviços sócio-assistenciais oferecidos pelo programa, dando ênfase a implantação de cursos que visam a inclusão produtiva, considerado um mecanismo de enfrentamento da pobreza e possibilitando oferecer melhores condições de vida aos usuários do programa através da capacitação técnica. Tendo os cursos de inclusão produtiva como ferramenta necessária para a inserção social e produtiva dos usuários do CRAS, podemos questionar se o CRAS tem funcionado de maneira eficiente como mecanismo de inclusão social e produtiva das famílias carentes no município, bem como se os cursos oferecidos pelo programa são de qualidade e se seus monitores são capacitados. Busca-se, ainda, observar se os recursos destinados para a realização dos cursos são suficientes para que os mesmos sejam eficazes e realmente possam inserir os usuários do programa no mercado de trabalho ou mesmo oferecer a eles uma oportunidade digna de aumentar sua renda. Dessa maneira o objetivo do artigo é avaliar a importância dos cursos de inclusão produtiva oferecidos às famílias usuárias do CRAS do município de Itaporanga-PB, com o intuito de melhorar as condições de vida dessa parcela da população. Visa-se, também, identificar os cursos que podem proporcionar inserção no mercado de trabalho, verificar possíveis falhas nos cursos oferecidos para a qualificação dos usuários do CRAS, averiguar a contrapartida de recursos para financiamento dos cursos por parte da prefeitura municipal e confirmar se o CRAS pode ser considerado um instrumento no enfrentamento da exclusão social. O CRAS é um programa do Governo Federal em parceria com os municípios, que tem por finalidade garantir a atenção integral às famílias em determinado território, através da execução de serviços de proteção social básica desenvolvidos pelo Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). Esse serviço atende as famílias em situação de vulnerabilidade social, levando em consideração algumas informações como: dados pessoais, trabalho, renda, acesso a benefícios (Programa Bolsa-Família, Benefício de Prestação Continuada - BPC, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI, entre outros), educação, habitação, saúde e relação familiar.

O CRAS tem a finalidade de minimizar as mazelas sociais e propiciar condições de vida digna aos seus usuários, através de ações e serviços sócio-assistenciais. Contudo para que se tenha um melhor desempenho nos serviços e ações ofertados, é necessário que haja melhorias na capacidade estrutural e material do programa, objetivando desenvolver com eficiência os projetos de capacitação profissional das famílias. Atualmente, a equipe de técnicos do CRAS no município de Itaporanga PB tem se deparado com grandes desafios e dificuldades que vem impondo limites e barreiras para o desempenho profissional. Podemos ressaltar a inadequação da aplicabilidade dos recursos para o andamento das ações do programa como um dos graves problemas, tendo em vista que a contratação de recursos humanos (monitores, educadores sociais) ainda apresenta sinais de clientelismo político, o que provoca a desestruturação do programa, uma vez que se contrata pessoas despreparadas e sem habilidades para desenvolverem tais funções, principalmente quando falamos em cursos de inclusão produtiva. A inclusão produtiva, também denominada de geração de trabalho e renda, é executada no CRAS através do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), que tem suas ações voltadas para criar alternativas para o atendimento das necessidades e ampliação das potencialidades das famílias pobres e em situação de vulnerabilidade social. Vale ressaltar que, com a inclusão produtiva, as pessoas se sentem profissionais e descobrem que podem fazer, produzir e comercializar. Várias são as ações que podem ser desenvolvidas nesse processo de inclusão produtiva, mas o CRAS de Itaporanga-PB tem como um dos focos a realização de cursos que possam viabilizar a inserção social do usuário, tanto no mercado de trabalho como na sociedade, buscando sempre resgatar sua auto-estima e dignidade. Mas, o que muito se tem questionado é a qualidade desses cursos oferecidos, pois o CRAS do município não tem uma estrutura física adequada, os recursos muitas vezes são insuficientes e os monitores em sua maioria não são qualificados, ou seja, o programa se depara com muitos entraves para desenvolver com eficiência seus serviços.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL No contexto atual da sociedade brasileira, conceituar o termo família é bem complexo, tendo em vista que hoje temos vários modelos, desde as famílias mais tradicionais, como as nucleares, bem como as monoparentais, matrifocal, etc. De acordo com Mioto (1997, p. 115) a família é como um núcleo de pessoas que convivem em determinado lugar, durante certo tempo e que se acham unidas (ou não) por laços consanguíneos. Ele tem como tarefa primordial o cuidado e a proteção de seus membros e se encontra dialeticamente articulado com a estrutura social na qual está inserida. Como sabemos as famílias desempenham um papel central na vida de qualquer pessoa. Dessa maneira, a família é considerada eixo prioritário da proteção do Estado, ou seja, elas são as motivadoras dos projetos sociais desenvolvidos no país. A implantação de programas complementares procura criar alternativas para o atendimento das necessidades e ampliação das potencialidades das famílias pobres e em situação de vulnerabilidade social. Diante deste contexto, se viu a necessidade de estudar a política de assistência social, que tem como objetivo promover uma parcela da sociedade que vive em situação de vulnerabilidade social ou mesmo de extrema pobreza. Sabemos que a Constituição Federal de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, colocou a assistência social ao lado da saúde e da previdência social, como política integrante do sistema brasileiro de seguridade social, tendo em vista a desigualdade social presente no Brasil, com o objetivo maior de ratificar os direitos sociais previstos no Artigo 6º da CF/88. De acordo com a Constituição Federal, este artigo estabelece que: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados (MEDAUAR, 2006, p. 29). A Assistência Social vem passando por profundas transformações no decorrer do tempo, dentre elas podemos destacar a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social nº 8.742 LOAS, em 1993, que surgiu para regulamentar o que já estava escrito na CF/88 nos seus Artigos 203 e 204. A LOAS estabelece, em seu Art. 1º: A Assistência Social como direito do cidadão e dever do Estado. É Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 1993, p. 01).

Foi a LOAS que instituiu benefícios, serviços, programas e projetos destinados ao enfrentamento da exclusão dos segmentos mais vulnerabilizados da sociedade. A LOAS preza pela distribuição de renda, pela oportunidade de trabalho, pelo salário digno e pelo respeito á criação de novos valores para os cidadãos. De acordo com Abreu: Política Nacional de Assistência Social é um documento normatizador das ações de assistência social concebidas na LOAS. A Política, ao definir diretrizes, princípios, estratégias e formas de gestão da assistência social, constitui um instrumento de gestão que transforma em ações diretas os pressupostos legais, estabelece as competências e os fluxos entre as três esferas de governo (ABREU, 2008, p. 35). Elaborada em parceria com organizações governamentais e não-governamentais, e proposta pelo gestor federal, a Política Nacional de Assistência Social foi aprovada, em dezembro de 1998, pelo Conselho Nacional de Assistência Social, que é formado por igual número de representantes da sociedade civil e das esferas governamentais (BONI, 2008, p. 390). De acordo com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), os seus objetivos, ou seja, aquilo que se quer atingir com as ações e serviços de assistência social, são os seguintes: Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem. Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços sócio-assistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural. Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2004, p. 33). O Sistema Único da Assistência Social o SUAS foi implantado a partir de 2005 em todo território nacional, atuando na prática efetiva a assistência social como política pública de Estado, fazendo a necessária ruptura com o clientelismo e as políticas de favor e ocasião. O SUAS propõe-se alterar radicalmente o modelo de gestão e a forma de financiamento da assistência social, estabelecendo um pacto federativo

entre União, Estados e Municípios, levando a todo o território nacional, numa só linguagem, a nova política de assistência social (BONI, 2008, p. 400). Compreendemos que a missão do SUAS é materializar os direitos assegurados pela LOAS, com vistas a garantia da cidadania e de inclusão social dos usuários da Assistência Social. De acordo com Boni, o SUAS estabelece dois níveis de proteção social: básica, de caráter preventivo; e, especial, quando ocorre violação de direitos (BONI, 2008, p. 404). A proteção social básica atende preferivelmente a população que se encontra em vulnerabilidade social, especificamente nos casos de ausência de renda. Neste trabalho será exposto um conjunto de informações que visam esclarecer a política de proteção social básica, que tem no CRAS, um programa do Governo Federal em parceria com os municípios, que se torna equipamento social público, capaz de garantir a atenção integral às famílias em determinado território. É conhecido assim, pois desenvolve o PAIF, que visa atender as famílias, garantindo seus direitos básicos. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o CRAS é uma unidade pública da política de assistência social, de base municipal, integrante do SUAS, localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada a prestação de serviços e programas sócio-assistenciais de proteção social básica às famílias e indivíduos. Além disso, visa a articulação desses serviços no seu território de abrangência e uma atuação intersetorial, com a perspectiva de potencializar a proteção social. Algumas ações da proteção social básica devem ser desenvolvidas necessariamente no CRAS, como o PAIF (BRASIL, 2009, p. 09). O PAIF expressa um conjunto de ações relativas à acolhida, informação e orientação, inserção em serviços da assistência social, tais como atividades sócioeducativas e de convivência, encaminhamentos a outras políticas, promoção de acesso à renda e, especialmente, acompanhamento sócio-familiar (BRASIL, 2009). O público do PAIF/CRAS é composto basicamente pela população em situação de vulnerabilidade social, decorrente da pobreza, privação ou ausência de renda, acesso precário ou nulo aos serviços públicos, com vínculos familiares, comunitários e de pertencimento fragilizados. O CRAS é constituído por uma equipe de técnicos formados por assistentes sociais, psicólogos e pedagogos, responsáveis pelo bom funcionamento dos serviços e projetos de proteção social básica, oferecidos nesses equipamentos através do PAIF (BONI, 2008, p. 415).

A partir da Constituição Federal de 1988, regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), novos conceitos e novos modelos de assistência social passaram a vigorar no Brasil, sendo colocada como direito de cidadania, com vistas a garantir o atendimento às necessidades básicas dos segmentos populacionais vulnerabilizados pela pobreza e pela exclusão social (ABREU, 2007, p. 65). De acordo com Araújo: Hoje, assistência social é dever do Estado e direito do cidadão. É política pública e, como tal, faz parte da Seguridade Social. Esta compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos da população relativos à saúde, à previdência e à assistência social. A assistência social é parte integrante das ações que visam garantir direito de cidadania e igualdade de condições de vida a todos os brasileiros (ARAÚJO, 2008, p. 56). Tratar a assistência social como política pública e como direito, constitui um novo paradigma que veio nortear o modelo da assistência social no Brasil, onde se busca distanciamento das práticas tradicionais de troca de favores ou de atuação paternalista, que historicamente caracterizaram as ações assistenciais no país. Nesse contexto de política pública como direito, o poder público, seja ele federal, estadual ou municipal, se apresenta com o dever de formular políticas e realizar ações e atividades que protejam e promovam aquela parcela da população que se encontra em situação de vulnerabilidade, criando meios para que este segmento vulnerável possa alcançar uma situação de cidadania mais ativa. Basicamente, uma política de assistência social representa uma política de promoção do ser humano mais fragilizado, mais despossuído, mais vulnerabilizado no seu processo de desenvolvimento humano e social. Segundo Boni (2008), a Assistência Social constituise uma forma de enfrentamento e alteração das desigualdades sociais, a partir do caráter redistributivo que pode assumir. Conforme estabelecido na Lei Orgânica da Assistência Social LOAS (BRASIL, 1993), o núcleo principal dos serviços assistenciais é constituído pelas famílias vulnerabilizadas pela pobreza e exclusão social. Focaliza-se o grupo familiar e a comunidade por serem espaços sociais naturais de proteção e inclusão social. Como princípio normativo, valoriza-se a implementação de ações e serviços intersetoriais, ou seja, entre setores como saúde, educação, trabalho etc, voltados para o atendimento à família. Estas ações e serviços intersetoriais devem objetivar e desenvolver processos

mais ambiciosos de proteção e alteração da qualidade de vida do grupo familiar e não apenas de um ou outro de seus membros (ABREU, 2007, p. 66). A LOAS significou uma evolução para o campo assistencial, com a divisão de responsabilidade entre as três esferas federativas, com a definição de programas, projetos e serviços que tem a proposta de romper com ações pulverizadas e fragmentadas. Esses avanços tiveram continuidade com a Política Nacional de Assistência Social PNAS/2004, aprovada na IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em dezembro de 2003, em Brasília, que teve como deliberação a construção e implementação do Sistema Único de Assistência Social SUAS (BONI, 2008). De acordo com Boni (2008, p. 371), a Assistência Social é de responsabilidade do Estado, que deve financiar, planejar e executar, além de prever e prover recursos para sua efetivação no orçamento dos gastos públicos. O cidadão, por sua vez, pode reivindicar seu direito à assistência social quando dela necessitar. O SUAS consiste na organização, em todo território nacional, das ações sócioassistenciais. Os serviços estão hierarquizados por níveis de complexidade e porte dos municípios. De acordo com Abreu (2007, p. 70), este programa tem como eixos estruturantes: matricialidade sócio-familiar; descentralização político-administrativa e territorialização. O SUAS ainda prevê a organização da assistência em dois níveis de proteção, divididos em proteção social básica e proteção social especial de média e alta complexidade. A proteção social básica intenciona prevenir a violação dos direitos, enquanto que a proteção especial atua quando os direitos já foram violados. Ambos os níveis de proteção tem, nas suas ações, centralidade na família. O nosso objeto de estudo, o Centro de Referência de Assistência Social CRAS, considerando, em especial, as ações realizadas no município de Itaporanga-PB, está inserido na proteção social básica, sendo considerado a porta de entrada para o SUAS. 2.2. CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL - CRAS Os CRAS foram implantados a partir do ano de 2003, através do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome para atenção integral pela assistência social

há milhões de famílias em todo o país. Constitui uma nova estrutura dentro da gestão da política de Assistência Social e, também, é um recente espaço de intervenção do assistente social. O CRAS é um órgão público estatal, considerado o principal instrumento da proteção social básica. Neste espaço são oferecidos serviços, programas, projetos e benefícios relativos à segurança de rendimento ou autonomia; acolhida; convívio ou vivência familiar e comunitária. A ênfase desses serviços é o atendimento à família. Mesmo que esses programas e benefícios sócio-assistenciais não sejam prestados diretamente no CRAS, este mantém a referência para os devidos encaminhamentos. Sendo assim, a implantação do CRAS significa um avanço para a política de Assistência Social (BRASIL, 2004, p. 6). O CRAS é uma unidade pública estatal localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada ao atendimento sócio-assistencial de famílias. É o principal equipamento de desenvolvimento dos serviços sócio-assistenciais da proteção social Básica. O CRAS é o lugar que possibilita, em geral, o primeiro acesso das famílias aos direitos sócio-assistenciais e, portanto, à proteção social. É importante ressaltar que a existência do CRAS está estritamente vinculada à implementação e ao funcionamento do Programa de Atenção Integral à Família PAIF, co-financiado ou não pelo Governo Federal. Assim, o PAIF constitui condição essencial e indispensável para a atuação do CRAS (BRASIL, 2004). 2.3. O PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À FAMÍLIA PAIF O PAIF é uma atribuição exclusiva do poder público e é desenvolvido necessariamente no CRAS. O PAIF teve como antecedentes o Programa Núcleo de Apoio à Família (NAF - 2001) e o Plano Nacional de Atendimento Integrado à Família (PNAIF - 2003). Em 2004, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), aprimorou essa proposta com a criação do PAIF. Em 2009, com a aprovação da Tipificação Nacional dos Serviços Sócio-assistenciais, o Programa de Atenção Integral à Família passou a ser denominado Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família, mas preservou a sigla PAIF (BONI, 2008, p. 414). O PAIF oferta ações e serviços sócioassistenciais de prestação continuada, por meio do trabalho social com famílias em situação de vulnerabilidade social, tais como:

Recepção às famílias, seus membros e indivíduos em situação de vulnerabilidade social; Oferta de procedimentos profissionais; Vigilância social; Acompanhamento familiar; Encaminhamentos; Produção e divulgação de informações de modo a oferecer referenciais para as famílias e indivíduos sobre os projetos, programas e serviços sócio-assistenciais do SUAS (BRASIL, 2005, p. 15). 3. O CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) NO MUNICÍPIO DE ITAPORANGA-PB Situada na mesorregião do sertão paraibano, mais precisamente na micro região denominada de Vale do Piancó, está encravada a cidade de Itaporanga, com uma população de 23.192 habitantes (IBGE, 2010), dos quais mais de 16.000 residem na cidade. O município de Itaporanga faz parte de um quadro de estatísticas que o insere dentro dos critérios estabelecidos pelo governo federal, que possibilita sua devida inserção ao programa CRAS/PAIF, com o intuito de atender várias famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social. O programa CRAS/PAIF foi implantado no município de Itaporanga no mês de setembro de 2005 (BRASIL, 2006, p. 322). Inicialmente, ele foi implantando no bairro Conjunto Chagas Soares, onde atendia, em média, a 100 famílias que viviam em situação de pobreza e necessitavam de orientação. Após uma avaliação realizada pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado da Paraíba, verificou-se que o CRAS não estava bem localizado, não conseguindo atingir a meta necessária no atendimento às famílias que se apresentavam num estágio de vulnerabilidade social no município. Sendo assim, em 16 de agosto de 2010, o Centro de Referencia da Assistência Social passou a funcionar em um novo endereço, mais precisamente no bairro Alto do Madeiro, de maneira estrategicamente definida pela equipe de técnicos que fazem o CRAS. Este programa é responsável pela oferta de serviços continuados de proteção social básica de assistência social. Atualmente está atendendo 537 famílias regularmente cadastradas no programa, ou seja, aquelas que se encontram em situação

de vulnerabilidade social e estão inseridas no Programa Bolsa Família (PBF) e no Benefício de Prestação Continuada (BPC) do município de Itaporanga-PB. De acordo com documentos do CRAS local, o governo federal repassa mensalmente ao programa recursos no valor de R$ 6.500,00, que devem ser utilizados para desenvolver os serviços sócio-assistenciais, como os cursos de capacitação, pagamento de monitores, compra de materiais necessários para os cursos, etc. A Prefeitura Municipal de Itaporanga participa do programa através de uma contrapartida no valor de R$ 1.000,00, que serve como aluguel do prédio onde funciona o programa, bem como a locação de veículos para que os técnicos realizem suas atividades quando necessário. Considerando a clara situação de vulnerabilidade social em que várias famílias itaporanguenses se encontravam e, ponderando que a nova política governamental tem construído ações de enfrentamento da vulnerabilidade social a nível nacional, tornou-se pertinente investigar a atuação do CRAS/PAIF naquele município. A política social vem preparando uma base para que os recursos - que não são poucos - aplicados na assistência social no Brasil há várias décadas, não escoem pelo ralo da ineficiência, adotando, assim, uma linha de ação baseada em dois pilares: a democratização do acesso aos programas e o foco na estrutura familiar, onde os dois pilares juntam-se no PAIF e no SUAS. Acreditamos que o PAIF, ao tornar a família como núcleo de ação, vai garantir, na localidade mencionada, que os esforços dos anos de investimentos em crianças, adolescentes e outros necessitados, não sejam perdidos por falta de estrutura familiar, uma vez que se entende que a família é a base sobre a qual se deve trabalhar para que o investimento em assistência não fique comprometido. Como a estratégia do PAIF é ajudar a família a identificar e combater seus problemas com mais eficiência, considerase essencialmente necessário a aplicação e o desenvolvimento desta política social no referido município. O programa CRAS/PAIF funciona como referência para a estruturação ou potencialização da rede local de serviços que, integrando projetos, serviços, benefícios e equipamentos - inclusive de outras políticas públicas poderá oferecer um atendimento especializado, podendo proporcionar um espaço de crescimento e desenvolvimento social.

3.2. CURSOS PROFISSIONALIZANTES E DE INCLUSÃO No cenário atual do país, torna-se visível que cada vez mais famílias brasileiras que vivem em situação de pobreza, necessitam de condições e meios que possibilitem manter suas necessidades básicas. Dessa maneira, torna-se relevante perceber como os projetos de inclusão produtiva estão sendo colocados para a superação das vulnerabilidades sociais, bem como na inserção de indivíduos no mercado de trabalho. Os projetos de inclusão viabilizam oportunidades de geração de trabalho e renda para àqueles que se encontram excluídos socialmente e dos processos produtivos, com a finalidade de oferecer possibilidades de emancipação às famílias beneficiárias dos programas sociais do governo federal, tais como o Programa Bolsa Família (PBF) e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Podemos indicar como um dos projetos de inclusão produtiva que tem destaque nacional, os cursos profissionalizantes oferecidos pelo CRAS aos seus usuários. Os cursos de inclusão produtiva exercem uma função social muito importante, tendo em vista que eles podem propiciar a geração de renda e até mesmo inserção no mercado de trabalho de uma parcela da sociedade que se encontra à margem, ou seja, excluída socialmente pelo estado de vulnerabilidade social. O CRAS é uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento desses cursos, pois este programa social desenvolve em suas unidades uma diversidade de cursos profissionalizantes para a população de baixa renda, objetivando sempre resgatar a cidadania e inserção social dos mesmos. No município de Itaporanga-PB, o CRAS oferece várias modalidades desses cursos, a maioria com recursos do próprio CRAS e outros poucos em parceria com ONG s e outros órgãos dos governos federal ou estadual. Podemos destacar os cursos de corte e costura, manicure, crochê, artesanato em biscuit, pintura em tecido, dentre outros. Cursos como mecânica em automóveis e motocicletas, eletricista, manutenção em refrigeração, são oferecidos pelo SENAI, em parceria com a prefeitura local, ou seja, o governo municipal contrata o curso junto à instituição prestadora do serviço. A prefeitura oferece toda a estrutura e o pagamento é feito com recursos da Secretaria da Assistência Social ou do CRAS. Neste caso particular, uma estrutura é montada na unidade do CRAS pelo SENAI para o desenvolvimento das aulas teóricas e práticas, que são aplicadas por profissionais do próprio SENAI aos usuários.

Anualmente o CRAS de Itaporanga oferece em média 10 cursos profissionalizantes aos seus usuários. Cada curso disponibiliza 40 vagas, distribuídas em duas turmas de 20 alunos nos dois turnos (manhã e tarde). Os técnicos do CRAS que conhecem a realidade das famílias não participam da escolha dos cursos que deverão ser desenvolvidos. A seleção dos cursos é feita pela Secretaria da Assistência Social ou mesmo pelo Prefeito municipal. Além disso, a maioria dos monitores não são escolhidos por sua capacidade profissional, mas sim pelo grau de aproximação que tem com o gestor ou mesmo pelo que tem a oferecer ao mesmo, ficando bem evidente que esta indicação está pautada em relações clientelistas. 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Baseado no tema escolhido para desenvolver o trabalho foi necessário, primeiramente, realizar uma revisão bibliográfica, que proporcionou aprofundamento e ampliação dos conhecimentos acerca do tema estudado. Também foi realizada uma pesquisa documental a fim de perceber como se apresenta o CRAS dentro da política da assistência social nacional e no âmbito local. O recurso da observação foi uma das ferramentas utilizadas no processo de coleta das informações. Como instrumento de pesquisa, foi aplicado um questionário com questões objetivas ao público alvo do programa, que são as famílias beneficiárias dos programas de transferência de renda, como o Programa Bolsa Família (PBF), e de benefícios assistenciais, como os do Beneficio de Prestação Continuada (BPC). A pesquisa foi realizada com uma amostra de 30 usuários escolhidos aleatoriamente, dentre o conjunto de 537 indivíduos cadastrados na área de abrangência de atendimento do programa. Os questionários foram aplicados no período de 20/01/2012 à 30/01/2012. O objetivo da pesquisa de campo foi investigar a importância dos serviços sócio-assistenciais oferecidos pelo CRAS, dando ênfase aos cursos de inclusão produtiva.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS De acordo com os dados do quadro 1, percebeu-se que a maioria dos usuários são do sexo feminino e tem idade predominante de 30 anos. Quadro 1 Quanto ao sexo MASCULINO FEMININO 25 05 Fonte: Dados obtidos pela pesquisa de campo. 2012. No tocante a idade, os usuários entrevistados estão na faixa etária de 20 a 35 anos, sendo que a idade mais frequente foi a de 30 anos. A maioria dos usuários do CRAS, em torno de 67%, não conhecia ou mesmo nunca utilizou os serviços sócio-assistencias oferecidos pelo programa, conforme o quadro 2. Para os que utilizaram algum serviço, estes estão diretamente ligados aos cursos de inclusão social produtiva, mais conhecidos como cursos profissionalizantes. O curso de Corte e Costura foi o mais procurado pelos usuários tendo em vista que, em Itaporanga-PB, existe um número de tecelagens que necessitam dessa mão-de-obra. O segundo curso mais procurado foi o de corte e escova, objetivando a formação para cabeleireiros. Quadro 2 - Você conhece os serviços sócio-assistenciais oferecidos pelo CRAS SIM NÃO 10 20 Fonte: Dados obtidos pela pesquisa de campo. 2012. Com relação ao quadro 3, pudemos concluir que o serviço sócio-assistencial mais utilizado pelos usuários do programa foram aqueles diretamente ligados a inserção social no trabalho, ou seja, 86% das pessoas que procuraram o CRAS já se beneficiou com esse serviço, pois consideram o mesmo como instrumento de resgate a cidadania e inserção no mercado de trabalho.

Quadro 3 - Como usuário do CRAS, quais serviços já utilizou? Convivência e fortalecimento de vínculos familiares 10% Serviço social no domicílio para pessoas com 20% deficiência e idosas Assistência social à crianças e adolescentes 60% Inserção social no trabalho 86% Outros 15% Fonte: Dados obtidos pela pesquisa de campo. 2012. Quadro 4 - Sabia que o CRAS oferece cursos de inclusão produtiva aos seus usuários SIM NÃO 20 10 Fonte: Dados obtidos pela pesquisa de campo. 2012. Alguns usuários que realizaram cursos como Corte e Costura, Corte e Escova, entre outros, conseguiram trabalhar no ramo, ou seja, em parceria com as tecelagens ou na atividade de fundo de quintal. Alguns usuários receberam uma máquina de costura em consignação e hoje costuram panos de pratos por produção, em suas próprias residências. Outros, compraram um secador e uma prancha e deram início aos serviços de cabeleireiros apreendidos no curso. Contudo, dos 30 entrevistados, 18 responderam que o curso profissionalizante não foi suficiente para melhorar a sua condição de vida. De acordo com as informações presentes no quadro 5, verificou-se que 60% dos usuários do CRAS confirmaram que a realização de cursos oferecidos pelo programa não influenciou em nenhum aspecto sua vida, ou seja, eles não conseguiram inserção no mercado de trabalho nem formal nem informal e, principalmente, não resgataram sua dignidade e autoestima perdida pela situação de extrema pobreza em que vivem. Quadro 5 A realização desse curso melhorou sua vida? SIM NÃO 12 18 Fonte: Dados obtidos pela pesquisa de campo. 2012.

Com relação aos dados do quadro 6, observamos que os cursos atendem as necessidades dos usuários, mas não de forma satisfatória, ou seja, eles oferecem o curso de acordo com a exigência do mercado de trabalho local, mas os mesmos não são tão eficientes como deveriam. Quadro 6 - Os cursos atendem adequadamente as necessidades dos usuários? SIM NÃO INDIFERENTE 12 10 08 Fonte: Dados obtidos pela pesquisa de campo. 2012. A maioria dos usuários destacaram que os cursos não têm muita qualidade (quadro 7), pois os recursos materiais não são suficientes e os monitores, em sua maioria desqualificados. Dessa maneira, sua inserção no mercado de trabalho fica mais difícil, pois os empresários querem indivíduos realmente qualificados. Quadro 7 - Os cursos oferecidos são de qualidade? SIM NÃO 10 20 Fonte: Dados obtidos pela pesquisa de campo. 2012. Alguns usuários destacaram que tem muito interesse em realizar outros cursos, principalmente o de pintura em tecidos, pois as tecelagens também necessitam desse tipo de mão de obra (quadro 8). Quadro 8 - Você tem interesse em realizar algum outro curso oferecido pelo CRAS? SIM NÃO 25 05 Fonte: Dados obtidos pela pesquisa de campo. 2012. A maioria dos usuários gostaria de participar do processo de escolha dos cursos, conforme manifestado pelos dados do quadro 9, que deveriam ser oferecidos pelo CRAS, levando sempre em consideração os aspectos locais do mercado de trabalho.

Quadro 9 - Você acha que o usuário deveria participar da escolha dos cursos a serem ministrados? SIM NÃO 26 04 Fonte: Dados obtidos pela pesquisa de campo. 2012. A partir dos dados obtidos com a pesquisa de campo, foram poucas as famílias que conseguiram se inserir no mercado de trabalho após realizarem algum curso no CRAS. A qualidade e eficácia dos cursos deixam muito a desejar, pois o espaço físico do CRAS não é adequado e os materiais para o desenvolvimento dos cursos não são suficientes.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS No Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), por meio do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), muitas famílias deveriam ter a oportunidade de mudar a sua realidade através dos cursos de inclusão produtiva oferecidos pelo equipamento, mas o que se verificou após a realização da pesquisa foi que a maioria não consegue sequer resgatar sua auto-estima e dignidade. É mínima a parcela de usuários que passam a se sentir profissionais e descobrem que podem fazer, produzir e comercializar com o intuito de mudarem de vida e sentirem-se incluídos socialmente. Seria necessário melhorar a capacidade estrutural e material do programa para melhor atender os usuários, ou seja, a Prefeitura Municipal deveria repassar recursos (contrapartida) para que os serviços fossem mais eficientes; e mesmo fazer uma avaliação preliminar antes de escolher o curso que será oferecido. O CRAS é realmente um valioso instrumento no combate a exclusão social, mas infelizmente os seus técnicos não conseguem desenvolver seus projetos com eficiência por dificuldades dos recursos financeiros do programa. Além disso, ainda nos deparamos com gestores municipais que não conseguiram romper definitivamente com o paradigma do assistencialismo (caridade) e da política de favor, para minimizar as mazelas sociais e propiciar condições de cidadania aos seus usuários.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, Jonas Modesto de. Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS). Caderno de Conteúdo e Atividades 5º período de Serviço Social. Palmas: Editora Educon. 2008. Apostila. ACOSTA, Ana Rojas, VITALE, Maria Amalia Faller. Família: Redes, Laços e Políticas Públicas. 5ª Ed. São Paulo: Cortez Editora, 2010. ARAUJO, Roseana Maria Alencar de. Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS). Caderno de Conteúdo e Atividades 3º período de Serviço Social. Palmas: Editora Educon. 2008. Apostila. BONI, Valdete. Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS). Caderno de Conteúdo e Atividades 4º período de Serviço Social. Palmas: Editora Educon. 7. Apostila, 2008. BRASIL. Política Nacional de Assistência Social. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome/Secretaria Nacional de assistência social. Brasília, 2004. BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social. Brasília: Senado Federal, 1993. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações para o acompanhamento das famílias beneficiárias do programa bolsa família no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Versão preliminar. Brasília 2006. BRASIL. Orientações Técnicas: Centro de Referencia da Assistência Social CRAS. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 1 ed. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009. BRASIL. Guia de Orientação Técnica do SUAS nº 01 Proteção Social Básica de Assistência Social. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 1 ed. Brasilia: Secretaria Nacional de Assistência Social, 2005. BRASIL. MDS. CRAS, um lugar de (re)fazer histórias. Ano 1, n. 1, 2007. Brasília: MDS, 2007. BRASIL. MDS. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza. Assistência Social. Disponível em: http://www.mds.gov.br/assistenciasocial /protecaobasica. Acesso em 20 de agosto de 2010. MEDAUAR, Odete. Coletânea de Legislação Administrativa: Constituição Federal. 6ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. MIOTO. R. C. T. Família brasileira: a base de tudo. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2005. SOARES, Ana. Mais Estrutura e Melhor Atendimento. Jornal MDS. Brasília, junho de 2010. Caderno 25, p. 4 e 14.

7. APÊNDICE A 1. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2. Idade: QUESTIONÁRIO 3. Você conhece os serviços sócio-assistenciais oferecidos pelo CRAS? ( ) sim ( ) não 4. Como usuário do CRAS, quais serviços já utilizou? ( ) Convivência e fortalecimento de vínculos familiares ( ) Serviço social no domicílio para pessoas com deficiência e idosas ( ) Assistência social à crianças e adolescentes ( ) Inserção social no trabalho ( ) Outros 5. Sabia que o CRAS oferece cursos de inclusão produtiva aos seus usuários? ( ) sim ( ) não 6. Se sim, qual curso já realizou? 7. A realização desse curso melhorou a sua vida? ( ) sim ( ) não ( ) indiferente 8. Se sim, como? 9. Os cursos atendem adequadamente as necessidades dos usuários? ( ) sim ( ) não ( ) indiferente 10. Os cursos oferecidos são de qualidade? ( ) sim ( ) não 11. Você tem interesse em realizar algum outro curso oferecido pelo CRAS? ( ) sim ( ) não 12. Se sim, qual? 13. Você acha que o usuário deveria participar da escolha dos cursos a serem ministrados? ( ) sim ( ) não