O ARGUMENTO COSMOLÓGICO KALAM EM WILLIAM LANE CRAIG: UMA CONCEPÇÃO SOBRE A EXISTÊNCIA DO UNIVERSO

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Transcrição:

O ARGUMENTO COSMOLÓGICO KALAM EM WILLIAM LANE CRAIG: UMA CONCEPÇÃO SOBRE A EXISTÊNCIA DO UNIVERSO Beatriz Teixeira Back bya.back@gmail.com Larissa de Oliveira l_ary_2011@live.com Resumo: Mediante os estudos do filósofo William Lane Craig, o presente artigo possui como objetivo geral compreender a causa do universo a partir do argumento cosmológico kalam, uma possível resposta para questionamentos acerca da existência do universo, que é baseado no princípio da causalidade. Além disso, objetivou-se relatar sobre alguns conceitos antecessores que auxiliam na compreensão desse argumento, de filósofos como Aristóteles e Tomás de Aquino. Analisando as premissas, concluiu-se nesta pesquisa que o argumento é válido e verdadeiro em sua conclusão de que o universo possui uma causa, sendo que essa Causa Primeira coincide com o que definimos como Deus. Palavras-chave: Existência; Universo; Argumento Cosmológico; Causalidade. Introdução Eis uma pergunta pertinente para todos aqueles que encontram em seu íntimo um grande filósofo: Por que existe algo ao invés do nada?. Jim Holt (2013, p.9) coloca que essa é uma pergunta [...] tão profunda que só ocorreria a um metafísico, mas também é tão simples que só ocorreria a uma criança. Ela equivale a indagação de o porquê o universo existir ao invés do nada, e talvez ela seja assim tão comum, justamente porque, diante de um universo tão extenso, - e inclusive, finamente ajustado para a nossa própria existência -, seja natural ficar espantado. E desse espanto é natural surgir o questionamento de o porquê afinal ser desta, e não de outra maneira. Se mergulhássemos ainda mais perante à isto, surgiria uma outra questão: Se o universo não existisse, então, nada existiria?. Talvez, Aristóteles tenha respondido de uma forma um tanto quanto poética, e também bastante simples, quando disse que Nada é aquilo que as rochas sonham. (GEISLER; TUREK, 2006, p.58)

Doravante à essa problemática, do porquê o universo existir ao invés do nada, o presente artigo, que é norteado pela pergunta: O universo possui uma causa?, pretende responder a essa questão por meio de uma concepção e argumento, intitulado pelo filósofo William Lane Craig de o argumento cosmológico kalam. Para melhor compreender o argumento, buscou-se desenvolver brevemente alguns conceitos e teorias antecessores a ele, como o Motor Imóvel de Aristóteles, e a 3 via de Tomás de Aquino. Fundamentado no princípio da causalidade, investigouse a validade das premissas, com base na lógica aristotélica e em evidências científicas, para determinar se afinal, a conclusão é válida ou não. A opção por essa temática justifica-se na real pertinência da questão norteadora, que é fundamental no campo da existência e ontologia. A escolha desse argumento específico para tratar como uma possível explicação sobre a criação do universo, se dá devido à importância singular que teve ao longo da história, e que tem no campo não só da filosofia, como também das outras ciências. Essa escolha devese também, por se tratar de uma opção que é de extrema importância para a comunidade acadêmica, por contrastar com outras concepções e visões sobre a mesma questão. Resultados e Discussão Argumento "cosmológico" vem da palavra grega cosmos e significa "mundo" ou "Universo". Ou seja, o argumento cosmológico é o argumento do início do Universo (LIMA, 2016, p.10). Ele é fundamentado no Princípio da Causalidade, que diz que a todo efeito é atribuído uma causa. Equivalente a dizer que tudo o que venha a existir possui uma causa. Este princípio, também chamado de Lei da Causalidade, encontrase em todo evento real. Além disso, encontra-se no próprio processo de pensamento racional, pois, quando formulamos um pensamento argumentativo, estamos reunindo nossos pensamentos (as causas) para que cheguemos às conclusões, que são os efeitos. Dessa forma, a própria negação desse princípio já pressupõe a sua validade.

A Causalidade aparece claramente em Aristóteles, pois ele dizia que [...] para tratar da substância móvel, é necessário, porém, referir -se então a fala da substância imóvel, já que, para se chegar à substância móvel tem de haver a imóvel, eterna e incorruptível. Essa substância imóvel é o Primeiro Motor (RAFAEL, 2005, p.3). Esse Motor Imóvel é o que move sem ser movido, é essência pura e ato puro. É necessário, eterno e incorruptível. Influenciado pelas ideias de Aristóteles, Aquino formulou as Cinco Vias para a existência de Deus, e a terceira é a que corresponde ao princípio da causalidade e ao argumento cosmológico. Em Suma Teológica I (2003, p.167), Aquino coloca: Encontramos, entre as coisas, as que podem ser e não ser, uma vez que algumas que se encontram nascem e perecem. Consequentemente, podem ser e não ser. Mas é impossível ser para sempre o que é de tal natureza, pois o que pode não ser não é em algum momento. Se tudo pode não ser, houve um momento em que nada havia. Ora, se isso é verdadeiro, ainda agora nada existiria; pois o que não é só passa a ser por intermédio de algo que já é. Por conseguinte, se não houve ente algum, foi impossível que algo começasse a ser; logo, hoje, nada existiria: o que é falso. Assim, nem todos os entes são possíveis, mas é preciso que algo seja necessário entre as coisas. Ora, tudo o que é necessário tem, ou não, a causa de sua necessidade em um outro. Aqui também não é possível continuar até o infinito na série das coisas necessárias que tem uma causa da própria necessidade, assim como as causas eficientes, como se provou. Portanto, é necessário afirmar a existência de algo necessário por si mesmo, que não encontra alhures a causa de sua necessidade, mas que é a causa da necessidade para os outros. O filósofo faz uma distinção entre seres contingentes e seres necessários. Contingentes são aqueles seres enquanto potência, ou seja, que podem ser ou deixar de ser. Eles não existem necessariamente, pois não possuem em si mesmos a razão de sua existência. Já os seres necessários estão sempre em ato (ato puro), existem desde sempre e não podem deixar de ser. Para Aquino, qualquer substância finita (contingente) é mantida em existência imediatamente pelo Fundamento do Ser (Ser Necessário). Atualmente, o Argumento Cosmológico foi reformulado pelo filósofo William Lane Craig, que devido suas raízes históricas na teologia islâmica medieval, batizou

o argumento de argumento cosmológico kalam. Al-gazali, teólogo mulçumano da Pérsia, dizia que O universo deve ter um começo e, uma vez que nada começa a existir sem uma causa, deve haver um criador transcendente do universo (CRAIG, 2015). O argumento de Gazali é colocado de forma muito simples: Todo ser que começa tem uma causa para seu começo; ora, o mundo é um ser que começa; logo, ele possui uma causa para seu começo (GAZALI, 1947, apud CRAIG, 2015), que pode ser colocado na forma de duas premissas e uma conclusão: P1: Tudo o que teve um começo teve uma causa. P2: O Universo teve um começo. C: Portanto, o Universo teve uma causa. Para que um argumento seja verdadeiro, ele precisa ser logicamente válido, e suas premissas precisam ser verdadeiras. Se as premissas são válidas, a conclusão também é válida. Por isso, é essencial analisar as premissas. A primeira premissa diz que Tudo o que teve um começo teve uma causa, o que é uma expressão do Princípio ou Lei da causalidade já exposto anteriormente. Como foi dito, a própria negação desse princípio é uma confirmação de sua validade. Então, tudo o que venha a existir possui uma causa, já que algo não pode vir do nada; pois, toda potência depende de algo em ato para existir, e como só existe potência em algo que existe, não há potência no nada, porque o nada é o não-ser. Partindo para a segunda premissa, que coloca que O universo teve um começo, se faz necessário o apoio de evidências científicas e matemáticas para mostrar sua veracidade. Primeiramente, recorrendo a lógica, se o universo é eterno isso significa que o número de eventos passados na história do universo também é eterno. Mas os matemáticos reconhecem que a existência de um número infinito de coisas leva a autocontradições. David Hilbert, um grande matemático do século XX diz que O infinito está longe de ser encontrado na realidade. Portanto, o infinito expressa apenas uma ideia e constitui base para um pensamento irracional. E como

eventos passados são reais, logo o número de eventos deve ser finito, como é expresso nas premissas abaixo: 1. Um infinito real não pode existir. 2. Um regresso temporal infinito de eventos é um infinito real. 3. Logo, um regresso temporal infinito de eventos não pode existir. (CRAIG, 2015) Diversas descobertas científicas têm apontado para a mesma questão: o universo não é eterno; o universo teve um início. Os cálculos da teoria da relatividade de Einstein, o Efeito Doppler (expansão), a segunda lei da termodinâmica, e principalmente o Big Bang, apontam para um início do universo. É confirmado cientificamente que o universo tem 13,8 bilhões de anos, e se ele tem uma data de vida, então ele logicamente não pode ser eterno, pois, teve um início e terá um fim. O universo pode ser definido como uma realidade temporal, material e espacial (incluindo até mesmo o vácuo quântico), e o Big Bang nada mais é que a criação de toda matéria, de toda energia e do próprio espaço tempo, ou seja, é a criação do universo. O que mostra que o universo não é ontologicamente autossuficiente, mas sim contingente, dependente de uma causa externa para existir. Por fim, chegando a conclusão temos que, Portanto, o universo teve uma causa. Com base em indícios tanto filosóficos quanto científicos, tem-se como conclusão de premissas válidas, que o universo começou a existir. Logo, o universo tem uma causa para seu começo. Não obstante, o que seria essa causa? Dado as circunstâncias anteriores ao Big Bang, se faz necessário uma Causa Primeira, uma causa não-causada, para que pudesse causar o Big Bang e dar surgimento ao universo. Logicamente, essa causa deve ser: necessária, atemporal, não-espacial, imaterial, eterna e imutável. Pois, causou o tempo, o espaço, a matéria e a natureza em geral. Somente algo que transcende esses elementos poderia os

causar, pois, a matéria por exemplo, não poderia dar surgimento a si mesma. Além disso, essa Causa Primeira teria que ser maximamente poderosa e pessoal, porque o universo começou a existir, ou seja, o efeito não é tão permanente quanto sua causa como deveria ser pela lógica; conclui-se disso então que, essa Causa Primeira teve de tomar a decisão de causar o universo, por isso, trata-se de um Ser pessoal dotado de livre-arbítrio. Assim, somos conduzidos não simplesmente a uma causa transcendente do universo, mas a seu criador pessoal (CRAIG, 2015). Afinal, essa Causa Primeira é o que se chama por Deus. Essa é definição própria de Deus, que é imutável, pois se mudasse não seria mais o que conhecemos e chamamos de Deus. Porém, quanto à essa conclusão é comum surgir a seguinte objeção: Se todo efeito é atribuído uma causa, qual é a causa de Deus?. Só que por definição, Deus é eterno, pois não está sujeito ao tempo, o que significa dizer que Deus não é um efeito, mas que Ele simplesmente É ou seja, uma causa não causada. Ademais, se porventura, se fosse retroceder infinitamente em busca de uma Causa, nunca se chegaria ao estado atual de coisas criadas, logo, é necessário parar em uma Causa Primeira, que deu origem à todas as coisas. Em uma linguagem aristotélica é, um Ser que move todos os seres moventes. Considerações Finais A partir de tudo o que foi exposto, conclui-se que, referente à pergunta O universo teve uma causa?, tem-se uma boa e válida resposta, do ponto de vista filosófico e científico, no Argumento Cosmológico kalam, que afirma que o universo teve uma causa e que essa Causa Primeira é o que se define por Deus. Como explicado ao longo deste trabalho, as premissas apresentadas pelo argumento são válidas, logo, a conclusão também pode ser considerada válida. Assim sendo, esta possível explicação é plausivelmente verdadeira; pelo menos mais do que sua negação, pois, contestar a validade do argumento é negar o próprio princípio da causalidade, e a própria negação desse princípio já pressupõe sua validade.

Por fim, é interessante observar que, de uma pergunta tão ampla e abrangente como Porque algo existe ao invés do nada?, é possível encontrar uma resposta, que é racionalmente válida, e que pode parecer fechada demais à primeira vista, mas que afinal, abre a possibilidade de se fazer tantas outras perguntas tão abrangentes quanto a inicial que inspirou esta pesquisa, o que acaba por estimular o próprio pensamento filosófico e revelar a essência da filosofia. Referências AQUINO, Tomás de. Suma Teológica I. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003. 693 p. CRAIG, William Lane. O argumento cosmológico kalam. 2015. Disponível em: <http://www.reasonablefaith.org/portuguese/o-argumento-cosmologicokalam#_edn1>. Acesso em: 02 ago. 2017. GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. 2. ed. São Paulo: Vida Acadêmica, 2006. 424 p. HOLT, Jim. Por que o mundo existe: um mistério existencial. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013. 320 p. LIMA, Thiago Clemente de. O argumento cosmológico para criação do universo: uma apresentação baseada na proposta de William Lane Craig. 2016. 35 f. TCC (Graduação) - Curso de Licenciatura em Física, Centro de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2016. Disponível em: <http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/123456789/10756>. Acesso em: 02 ago. 2017. RAFAEL, Auro José da Silva. O primeiro motor no livro XII da metafísica de Aristóteles. Revista Grupo PET- Ciências Humanas, Estética e Artes, Universidade Federal de São João Del-rei, v. 1, p.1-4, 2005. Disponível em: <https://ufsj.edu.br/portal-repositorio/file/existenciaearte/edicoes/1_edicao/o primeiro motor no livro XII da metafisica de Aristoteles Auro Jose da Silva Rafael.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2017.