A noção agostiniana de Tempo. Colégio Cenecista Dr. José Ferreira Filosofia Professor Uilson Fernandes
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- Sílvia Bentes Ferreira
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1 A noção agostiniana de Tempo. Colégio Cenecista Dr. José Ferreira Filosofia Professor Uilson Fernandes
2 Tempo como sucessão... A ideia de tempo surge a partir da distinção entre passado presente e futuro. Concebemos o tempo como sucessão, fluxo que pode ser fragmentado nestas três diferentes instâncias... Agostinho de Hipona ( ) apresenta uma interessante reflexão sobre a temporalidade que influenciará inclusive filósofos contemporâneos como Heidegger e Merleau-Ponty.
3 O Tempo como problema filosófico. A reflexão filosófica agostiniana sobre o tempo encontra-se no Livro XI da obra Confissões, texto belíssimo, autobiográfico, redigido entre os anos de 397 e 398, em que Agostinho revela-se admirável analista de problemas psicológicos íntimos, tanto quanto de questões puramente filosóficas..
4 Tempo e existência... A reflexão filosófica de Agostinho sobre o tempo é uma de suas mais brilhantes análises filosóficas, a qual o torna, embora sendo um pensador medieval, muito mais contemporâneo do que muitos outros da atualidade. O modo como Agostinho expõe suas interrogações com relação ao tempo marca a reflexão ocidental até os dias de hoje.
5 Tempo como vivência... Questiona Agostinho: Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.
6 O tempo percebido... A nossa percepção do tempo permite dividi-lo em três partes: passado, presente e futuro. A partir de nossa experiência, sabemos que esses três tempos são bastante distintos entre si. O passado é o tempo que se afasta de nós, de nossa consciência, de nossa percepção; é tudo que já não é mais palpável, simplesmente porque já se foi. Mas será que esta distinção é válida?
7 Da impossibilidade de medir o tempo... É possível medir o tempo? E, contudo, Senhor, percebemos os intervalos dos tempos, comparamo-los entre si e dizemos uns são mais longos e outros mais breves. Medimos também quando esse tempo é mais comprido ou mais curto do que o outro, e respondemos também que um é duplo ou triplo, ou que a relação entre eles é simples, ou que este é tão grande como aqueles. as não medimos os tempos que passam, quando os medimos pela sensibilidade. Quem pode medir os tempos passados que já não existem ou os futuros que ainda não chegaram? Só se alguém se atrever a dizer que pode medir o que não existe! Quando está decorrendo o tempo, pode percebê-lo e medi-lo. Quando, porém, já tiver decorrido, não o pode perceber nem medir, porque esse tempo já não existe
8 Da impossibilidade de medir o tempo... Não conseguimos medir o tempo. O presente porque não tem nenhum espaço; o futuro porque ainda não veio e o passado porque já não existe mais. Podemos perceber e medi-lo apenas no momento em que está decorrendo.
9 Tempo e memória... A reflexão sobre a memória é um elemento importantíssimo na filosofia agostiniana, principalmente para falar do tempo. Ao falar da memória, Agostinho sempre usa as metáforas do lugar e do espaço como, por exemplo, campos e vastos palácios, santuários infinitamente amplos. Usa um vocabulário de beleza esplêndida, porém, não é o suficiente para dizer o que é a memória (a análise sobre a memória encontra-se no Livro X das Confissões).
10 Tempo e memória... Em Agostinho, a alma é a sede das capacidades humanas de compreensão, percepção, raciocínio, sentimento, em suma, de todas as potencialidades do espírito. Da mesma forma, o filósofo afirmou que a sede do tempo está na alma. Para entender isso é preciso ter em mente a ideia de que o tempo faz parte da criação: o tempo é do plano da criatura.
11 Tempo e memória... Fora da criação existe somente a eternidade de Deus, que consiste na imutabilidade, na ausência de tempo. A eternidade, assim, não é tempo infinitamente prolongado, mas uma existência sem nenhum limite, ao contrário de, por exemplo, a existência humana que é uma distensão, cujas fronteiras são o nascimento e a morte. PROBLEMA DA FINITUDE
12 Tempo e memória... É impróprio afirmar que os tempos são três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três: presente das coisas passadas, presente das presentes, presente das futuras. Existem, pois, estes três tempos na minha mente que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras.
13 Tempo, memória e finitude... Neste sentido, percebe-se que memória e linguagem são de suma importância para Agostinho em sua tentativa de dizer o tempo, que ele pensa não só em termos cosmológicos, como medida de movimento, mas também como interioridade psíquica, abrindo um novo campo de reflexão: o da temporalidade, da nossa condição específica de seres que não só nascem e morrem no tempo, mas, sobretudo, que sabem, que têm consciência dessa sua condição temporal e mortal
14 O Tempo na alma... Os tempos, como afirma Santo Agostinho, existem na mente o que em sua reflexão equivale a dizer na alma. O passado não existe mais, só é possível na alma do ser humano, por meio da memória.
15 O hino da temporalidade... Vou recitar um hino que aprendi de cor. Antes de principiar, a minha expectação estende-se a todo ele. Porém, logo que começar a minha memória dilata-se, colhendo tudo que passa de expectação para o pretérito. A vida deste meu ato divide-se em memória, por causa do que já recitei, e em expectação, por causa do que hei de recitar. A minha atenção está presente e por ela passa o que era futuro para se tornar pretérito. Quanto mais o hino se aproxima do fim tanto mais a memória se alonga e a expectação se abrevia, esta que fica totalmente consumida, quando a ação, já toda acabada, passa inteiramente para o domínio da memória.
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