Ilustração André da Loba Concerto para Piano e Orquestra em Sol Maior 1. Allegramente 2. Adagio Assai 3. Presto Orquestra Gulbenkian Lawrence Foster Maestro Jean-Efflam Bavouzet Piano David Lefèvre Violino Pedro Moreira Comentador Fernando Galrito e alunos da ESAD.CR IP Leiria Animação O FASCÍNIO DA DANÇA A Valsa foi uma obra que amadureceu lentamente no espírito de Maurice Ravel. Já em 1909 começou a conceber o projeto de uma obra sinfónica baseada no ritmo da valsa vienense, e em 1911 compôs uma série de Valsas Nobres e Sentimentais. Mas a relação de Ravel com a valsa era ambivalente: por um lado entusiasmavam-no a força rítmica desta dança, a alegria de viver a que ela dava corpo, a energia física contínua e irresistível do seu movimento; por outro lado, via-a como o símbolo de uma sociedade europeia que parecia mergulhar num frenesim de entretenimento fútil quando estava já manifestamente à beira da catástrofe que se viria a concretizar na Primeira Guerra Mundial.
A obra acabou por ser composta já entre 1919 e 1920, e foi pensada como um bailado para a célebre companhia de dança dos Ballets Russes, mas o diretor desta, Sergei Diaghilev, achou que a partitura era mais uma reflexão musical sobre a ideia do bailado do que um bailado, propriamente dito, e recusou-a, o que levou a um corte de relações pessoais entre o compositor e o empresário. Seria assim estreada como peça de concerto pela Orquestra Lamoureux, em dezembro de 1920, embora viesse mais tarde, em 1926, a ser coreografada pelo Ballet da Ópera Real da Flandres, em Bruxelas, e fosse posteriormente objeto de novas coreografias por dois criadores que tinham estado associados aos Ballets Russes, Bronislava Nijinska e por George Balanchine. Segundo o próprio guião fornecido pelo autor, A Valsa começa numa atmosfera enevoada, no seio da qual se vão descortinando pouco a pouco pares que dançam a valsa, e pouco a pouco as trevas vão-se dissipando e revela-se ao público um salão de baile da Viena imperial, em 1855. O ritmo da dança vai-se intensificando até que a valsa se transforma numa espécie de dança macabra que termina numa verdadeira explosão final, como se o universo palaciano idealizado do início desse lugar à representação simbólica do caos da Guerra, destruidor da harmonia porventura artificial da boa sociedade aristocrática herdada do século XIX. O gosto de Ravel pela Dança atraiu-o desde sempre para muitos outros ritmos de baile, em particular pelo Jazz, que tinha chegado em grande força à Europa e particularmente à França através das bandas de música militares que tinham acompanhado o Exército americano na sua intervenção militar na Primeira Grande Guerra. O Concerto em Sol, composto entre 1929 e 1931, depois de uma digressão pelos Estados Unidos em 1928, que acentuou ainda mais o seu contacto com a música norte-americana, é um dos mais claros exemplos desse seu interesse, e incorpora não só os ritmos jazzísticos característicos dessas bandas como as próprias escalas melódicas típicas dos Blues. Ravel pensava inicialmente estrear ele próprio como solista esta sua obra, mas a sua técnica pianística revelou-se insuficiente para fazer face às tremendas dificuldades da partitura, e teve de se limitar a dirigir a orquestra na estreia, tendo como solista a pianista Marguerite Long, sua habitual colaboradora. Refira-se, como curiosidade, que uma das grandes interpretações gravadas desta peça foi a do maestro português Pedro de Freitas Branco, com sua mulher, a pianista francesa Marie-Antoinette Levêque, como solista. MAURICE RAVEL (1875-1937) Maurice Ravel nasceu em Ciboure (França) a 7 de março de 1875. A sua família mudou-se para Paris e ele ingressou no Conservatório dessa cidade o qual abandonaria em 1905. Sendo um reconhecido pianista, um dos mais importantes eixos da sua produção é a música para piano (como Sonatine ou Gaspard de la nuit). Algumas das suas obras para esse instrumento foram posteriormente orquestradas, como a Pavane pour une infante défunte. A sua obra reflete um interesse no repertório francês para teclado dos séculos XVII e XVIII (como o caso da suite Le Tombeau de Couperin) ou em elementos exóticos à música francesa (como Schéhérazade ou a Rapsodie espagnole). Ravel cultivou formas como o quarteto para cordas, o trio para cordas ou o concerto para piano (um dos quais destinado exclusivamente à mão esquerda). A sua obra abrange também a ópera (L'heure espagnole ou L'enfant et les sortilèges) e o bailado. Algumas das composições mais conhecidas de Ravel foram utilizadas ou destinadas à dança: Bolero, Ma Mère l'oye (inicialmente concebida para piano), Daphnis et Chloé, ou La Valse. Paralelamente à composição, Ravel foi reconhecido também como orquestrador. 2
Além da orquestração das suas próprias obras, como é o caso da que vamos ouvir, Ravel preparou uma célebre versão orquestral da suite para piano de Mussorgsky intitulada Quadros de uma exposição, em 1922, na qual revela a sua mestria nesse campo. Em 1932, Ravel sofreu um acidente de viação, que afetou a sua saúde até à morte, a 28 de dezembro de 1937. A VALSA DE RAVEL EM GESTOS E MOVIMENTOS Quando o desafio foi lançado pela Fundação Gulbenkian à turma de Animação de Personagens da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha do Instituto Politécnico de Leiria (ESAD.CR IPLeiria) para ilustrar através de um filme de animação A Valsa de Maurice Ravel, ficou um pequeno nervoso, quer pela importância do desafio, quer pelo pouco tempo para o concretizar. Mas um desafio é sempre bem vindo. Pegámos na obra de imediato e começamos a trabalhar. Partimos de dois pressupostos: - Encontrar na obra musical um fio condutor que permitisse experiências visuais e estéticas diferenciadas mas, ao mesmo tempo, unidas por uma base visual que, sem ser redundante, ilustrasse a obra musical. - Não ser ilustrativo, tanto em imagens como em movimentos, deixando aos espectadores espaço para, em cima das nossas propostas, encontrarem lugar para adicionar as suas. O resultado é um pontuado de imagens e movimentos que, tal como a peça de Ravel, vai crescendo dramática e esteticamente, numa diversidade de técnicas suportadas, no entanto, por um padrão comum. Ainda que recorrendo a outros elementos plásticos o filme recupera, no final, a frase visual utilizada no início, inspirada na partitura da obra musical. Fernando Galrito, coordenador do projeto, professor e realizador de Cinema de Animação Alunos Participantes Alexandra Santos David Mendes Diana Amado Filipe Diogo Gabriela Pereira Inês Rocha João Ferreira João Vaz Luciana Teixeira Luís Bernardino Luís Filipe Mara Alves Paula Martins Paulo Rodrigues Sara Marreiros Simone Leite Yelyzaveta Panchenko 3
ORQUESTRA GULBENKIAN Fundada em 1962 com apenas doze músicos, a Orquestra Gulbenkian conta hoje com sessenta e seis instrumentistas, número que pode ser aumentado de acordo com os programas executados. Esta constituição permite-lhe tocar um amplo repertório que abrange os principais períodos da História da Música, desde o Classicismo à Música Contemporânea. Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza no Grande Auditório uma série regular de concertos, colaborando com alguns dos mais reputados maestros e intérpretes de todo o mundo. Sendo uma referência musical no nosso País, distinguiu-se também nas principais salas de concertos da Europa, da Ásia, da África e das Américas. A Orquestra Gulbenkian gravou já diversos discos, tendo recebido importantes prémios internacionais. Lawrence Foster é o Diretor Artístico e Maestro Titular desde a temporada de 2002/3. Lawrence Foster Maestro Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian e Diretor Musical da Orquestra e Ópera Nacional de Montpellier, Lawrence Foster desempenhou funções semelhantes em orquestras de renome, como a Sinfónica de Barcelona, Filarmónica de Monte Carlo, Sinfónica de Jerusalém, Sinfónica de Houston e Orquestra de Câmara de Lausanne. Foi também Diretor Musical do Festival de Aspen e Diretor Artístico do Festival Georges Enesco. À frente da Orquestra Gulbenkian, realizou várias digressões internacionais, gravações para a editora Pentatone Classics e tem dirigido pelo menos uma ópera em cada temporada. Filho de pais romenos, nasceu em Los Angeles em 1941 e iniciou a sua vida profissional aos 18 anos. Em 2003 foi condecorado pelo Presidente da Roménia pelos serviços prestados à música romena. Jean-Efflam Bavouzet Piano O pianista francês Jean-Efflam Bavouzet foi primeiro classificado no Concurso Internacional Beethoven de Colónia, bem como nas Young Concert Artists Auditions, em Nova Iorque, em 1986. Aluno de Pierre Sancan no Conservatório de Paris, foi convidado a estrear-se com a Orquestra de Paris em 1995, sob a direção do maestro Sir George Solti. Desde então, têm-se apresentado em colaboração com muitas das principais orquestras mundiais, sob a direção de maestros de renome como Daniele Gatti, Vladimir Jurowski, Christoph von Dohnányi, Gilbert Varga, Ingo Metzmacher ou Vladimir Ashkenazy. O ecletismo e curiosidade artística de Jean-Efflam Bavouzet levaram-no a explorar um variado repertório de concerto que se estende dos períodos clássico e romântico às obras de compositores do século XX e contemporâneos, incluindo Jörg Widmann e Bruno Mantovani, cujo Concerto para Piano (dedicado a Bavouzet) o pianista interpretou em maio de 2010 com a Orquestra Nacional de Lille. Jean-Efflam Bavouzet apresenta-se também com regularidade em recital, tendo atuado nas International Piano Series do Southbank Centre, em Londres, no Wigmore Hall, nos festivais de La Roque d Antheron e Piano aux Jacobins, em França, no Concertgebouw e no Muziekgebouw de Amesterdão. Atuou também por diversas nos E.U.A. e no Auditório da Cidade Proibida, em Pequim. Recentemente, Jean-Efflam Bavouzet completou também uma transcrição para dois pianos da obra Jeux, de Debussy, publicada pela Durand com um prefácio de Pierre Boulez. 4
David Lefèvre Violino Depois de receber um 1º Prémio no Conservatório de Música de Montreal, David Lefévre foi bolseiro do Conselho das Artes do Canadá, prosseguindo o seu aperfeiçoamento artístico no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris. Foi laureado pela Associação Yehudi Menuhin e pela Fundação Georges Cziffra e 1º classificado no Concurso Internacional de Violino de Douai. Ao longo da sua carreira como solista, colaborou com importantes orquestras internacionais, sob a direção de maestros de renome como Michel Plasson, Jonathan Darlington, Marek Janowski, Peter Oudjian, Theodor Guschlbauer ou Simone Young. A música de câmara ocupa também um lugar importante na sua atividade, participando em alguns dos mais prestigiados festivais de música. Desde 1996, é o Diretor Artístico do festival de música de câmara MusicaVal, em Val d Isère, em França. Desde 2008, forma um duo com o seu irmão, o pianista Alain Lefèvre, com o qual se apresenta regularmente em recital. David Lefèvre foi primeiro violino solista da Orquestra Nacional do Capitólio de Toulouse, desempenhando idênticas funções na Orquestra Filarmónica de Monte Carlo desde 2000. É igualmente convidado com frequência a ocupar o lugar de concertino convidado da Orquestra Gulbenkian. David Lefèvre toca um violino Dalla Costa de 1745. Pedro Moreira Comentador Saxofonista, compositor, maestro e pedagogo, tem uma Licenciatura em Jazz e um Mestrado em Composição pelo Mannes College of Music, de Nova Iorque. Tem-se apresentado com o seu grupo em vários países, na Europa, América e África. É atualmente diretor da Escola Superior de Música de Lisboa, onde coordenou desde 2008 a variante de Jazz da Licenciatura em Música. Foi diretor da Escola Luis Villas-Boas e maestro da Big Band do Hot Clube de Portugal. Trabalhou com várias orquestras e conta com peças suas interpretadas por vários grupos de Jazz e de música erudita. 5