O TURISMO NO ESPAÇO RURAL NO MUNICÍPIO DE JAGUARI/RS: ANÁLISE DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO

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Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1. p. 024-028 O TURISMO NO ESPAÇO RURAL NO MUNICÍPIO DE JAGUARI/RS: ANÁLISE DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO FABIANE RAUBER IVO ELESBÃO Universidade Federal de Santa Maria - UFSM Campus de Silveira Martins Silveira Martins - RS fabirauber@yahoo.com.br; ivoelesbao@gmail.com RESUMO - O espaço rural passou por muitas transformações ao longo dos anos, sendo hoje visto não mais como lugar de atraso, mas com capacidade de oferecer melhor qualidade de vida para as pessoas. Objetivou-se neste trabalho analisar o processo de desenvolvimento do turismo no espaço rural na rota turística Nostra Colônia do município de Jaguari/RS. A pesquisa qualitativa teve como base um estudo no município pesquisado. Foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas com dez empreendimentos de duas comunidades que iniciaram a atividade. Verificou-se que há uma grande necessidade e deficiência em relação ao apoio e recursos provenientes do poder público, o que acarretou o abandono de uma comunidade da rota e uma grande desmotivação dos empreendedores que ainda continuam. Palavras chave: Turismo Rural, Empreendedores, Desenvolvimento, Agricultores. ABSTRACT - The rural area has gone through many transformations over the years and today is no longer seen as a place of late, but as a place capable of offering a better quality of life for people. The objective of this work to analyze the process of development of rural tourism in the tourist route "Nostra Colônia" in the city of Jaguari / RS. The qualitative research was based on a study the city studied. We applied semi-structured interviews with ten projects, divided into two communities, who started the tourist route. It was found that there is great need and disability in relation to support and resources from the government, which led over the abandonment of the activity of a community route and a major demotivation of entrepreneurs still. Key words: Rural Tourism, Entrepreneurs, Development, Farmers. 1 INTRODUÇÃO O meio rural passou por grandes transformações nas décadas recentes, sendo que os agricultores passaram a incorporar novas estratégias de reprodução econômica e social. O rural antes visto somente como espaço de produção de alimentos e sinônimo de atraso passa a ser olhado de outra forma. Nesse contexto se desenvolve o turismo no espaço rural, que no Brasil é uma atividade relativamente nova, comparativamente a outras modalidades de turismo. De acordo com Moletta e Goidanich (1999), o turismo rural está correlacionado às atividades agrárias do passado e do presente e é uma atividade que os citadinos buscam para resgatar suas origens culturais, suas identidades e ter contato com a natureza e hábitos locais. O turismo no espaço rural vem sendo objeto de estudos e reflexões como elemento potencial para integrar estratégias de desenvolvimento local, sendo uma das atividades não agrícolas que mais apresentam potencial de crescimento. Souza e Elesbão (2009) colocam que o turismo no espaço rural pode ser um elemento importante no sentido de provocar algumas melhorias para as famílias e comunidades que o adotam, como a geração de emprego e renda, contribuindo na elevação do nível de vida das famílias rurais. Uma das formas de organização que caracterizam o turismo no espaço rural é o roteiro turístico que agrega vários atrativos em um mesmo produto, havendo interação sinérgica entre empreendedores e possibilitando que os agricultores mantenham outras atividades concomitantes, o que os caracteriza como pluriativos.

De acordo com Elesbão (2001) os roteiros turísticos no espaço rural podem gerar maiores benefícios para as famílias rurais envolvidas, pois esses envolvem contato familiar diferenciado com o público visitante, gerando benefícios tanto para as famílias que se envolvem direta e indiretamente com a atividade turística, como para a comunidade como um todo. Para Bahl (2004) o roteiro turístico necessita de planejamento prévio e criativo para que se torne um produto diferenciado, motivador e que atenda o público alvo, necessita também que as localidades receptoras estejam preparadas para atender as reais necessidades dos turistas. Nesse contexto, é indispensável que se conheça o espaço rural para que assim se possam formar estratégias bem definidas e ter um maior entendimento das atividades realizadas neste meio. Nesse sentido, o presente trabalho objetiva analisar o processo de desenvolvimento do turismo no espaço rural no município de Jaguari, Rio Grande do Sul. Esta análise tem por base entrevistas realizadas com agricultores/empreendedores de duas comunidades onde a atividade turística foi desenvolvida. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa desenvolvida busca contribuir para o entendimento do processo de desenvolvimento do turismo no espaço rural do município de Jaguari-RS. Enquadra-se como uma pesquisa qualitativa, que de acordo com Dencker (1998, p. 107), é adequada para se obter um conhecimento mais profundo de casos específicos, porém não permite a generalização em termos de probabilidade de ocorrência. O município pesquisado pertence à microrregião de Santa Maria composta pelos seguintes municípios: Cacequi, Dilermando de Aguiar, Itaara, Jaguari, Mata, Nova Esperança do Sul, Santa Maria, São Martinho da Serra, São Pedro do Sul, São Sepé, São Vicente do Sul, Toropi, e Vila Nova do Sul. Como se pode observar na Figura 1, a microrregião está localizada no Centro-Oeste do Estado do Rio Grande do Sul. Jaguari tem sua base econômica na agropecuária e possui, segundo o Censo Demográfico do IBGE (2010), uma população total de 11.473 habitantes, sendo 6.531 (56,9 %) residentes na zona urbana e 4.942 (43,1 %) residentes na zona rural. Elaboração: Bruno Zacuni Prina Figura 1 Localização do município de Jaguari. Fonte: http://mapaturistico.jaguari.rs.gov.br De acordo com Pedron (2007) o desenvolvimento do turismo no município teve início através da participação de Jaguari na Rota Caminho das Origens, a qual foi idealizada pelo Programa de Desenvolvimento do Turismo Regional criado em 1996 e que abrangia 11 municípios. No ano de 1998 através de um diagnóstico socioeconômico a atividade turística foi identificada como elemento potencial de desenvolvimento no município. A partir de então foi feito uma parceria entre Prefeitura Municipal e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), sendo sensibilizada a comunidade em geral para despertar interesse em desenvolver a atividade. Como o município possuía várias propriedades que produziam uva e cachaça decidiram criar no ano 2000 o Roteiro da Cana e da Uva que, no início, abrangia apenas proprietários da comunidade de Fontana Freda, que mais tarde abrangeu também a comunidade do Chapadão por possuírem mais empreendedores interessados na atividade. Com objetivo de maior divulgação do produto ofertado viu-se a necessidade de criar um nome mais atrativo ao roteiro. Como na época existia uma novela que contava a história da imigração italiana no Rio Grande do Sul, decidiu-se colocar o nome da novela no roteiro passando então a se chamar Rota Turística Nostra Colônia. Os empreendedores receberam visitas e orientações do SEBRAE com a realização de cursos de capacitação em diversas modalidades de turismo oferecidos gratuitamente aos interessados. Na comunidade do Chapadão participam os seguintes empreendimentos: Pesqueiro Chapadão, Mirante Minuzzi, Chácara da Família Guerra, Sítio da Vó Úrsula, Granja Santa Tereza, Vinhos Dalla Valle e Vinhos Jaguari. Na comunidade da Fontana Freda participavam a Casa das Massas, Alambique da Família Bolzan e as Esculpedras. Com o propósito de alcançar os objetivos propostos a coleta dos dados foi realizada no mês de janeiro de 2012. Na comunidade do Chapadão foram entrevistados os responsáveis dos sete empreendimentos que recebem visitantes: Chácara da Família Guerra, Vinhos Dalla Vale, Granja Santa Tereza, Mirante Minuzzi, Reserva Pesqueiro Chapadão, Sítio da Vó Úrsula e Vinhos Jaguari. Importante mencionar que o empreendimento Vinhos Jaguari é uma cooperativa que faz parte da Rota mas está localizada no perímetro urbano. Já na comunidade de Fontana Freda foram entrevistados os responsáveis pelas três propriedades que não fazem mais parte da Rota, que são a Casa das Massas, o Alambique da Família Bolzan e a Esculpedras. As entrevistas foram gravadas, transcritas e estabelecidas categorias para a análise dos dados. Na análise, as falas dos entrevistados estão identificadas de acordo com o grupo estabelecido: ECC para os empreendedores da comunidade do Chapadão e CFF para os proprietários da comunidade de Fontana Freda.

3 ANÁLISE DOS DADOS 3.1 Comunidade do Chapadão O início da atividade turística na comunidade do Chapadão ocorreu entre os anos de 1999 e 2000. Dentre os motivos que influenciaram os empreendedores a iniciar na atividade, destacam-se a continuação das atividades herdadas de seus antepassados, complementação na renda familiar e o incentivo recebido por parte do SEBRAE. Seis dos sete empreendimentos turísticos que integram a Comunidade do Chapadão possuem menos de 30 ha de área total. Em relação a composição do núcleo familiar, o mesmo varia de uma a sete pessoas, sendo que em três empreendimentos é composto por quatro pessoas. A atividade turística pode proporcionar benefícios para a comunidade, dentre eles destaca-se a geração de empregos temporários e permanentes. De acordo com Barrera (2000, p. 197): todos os estabelecimentos que começam a operar no turismo rural incorporam mão-deobra, tanto de forma direta como indireta, e nesse sentido a atividade tem um importante efeito de enraizamento. Todos os sete empreendimentos contratam mão de obra temporária, totalizando 22 postos de trabalho nessa condição, variando de um a um máximo de 10. Entretanto, apenas um dos empreendimentos contrata mão de obra permanente. A atividade turística no espaço rural surge na maioria das vezes como atividade complementar as outras atividades. De acordo com Elesbão (2009, p. 307), entre os motivos do surgimento das atividades turísticas no espaço rural está à dificuldade enfrentada pelas famílias rurais em suas atividades primárias. Assim, muitos estabelecimentos mantém suas atividades paralelas. Quatro dos sete estabelecimentos pesquisados possuem alguma pessoa exercendo outra atividade fora do estabelecimento. Na maioria das propriedades tem-se como principal atividade econômica a produção de uva, seguida da atividade turística e do gado de corte. O turismo surge como complemento às atividades agropecuárias já existentes. Segundo Elesbão (2009, p. 307), a diversificação das atividades nas propriedades é um desafio que se apresenta às famílias rurais, aos extensionistas e a todos que desejam e trabalham pelo desenvolvimento das áreas rurais. Nos empreendimentos pesquisados destacam-se como atividades secundárias os derivados da uva e o turismo. Nos empreendimentos da comunidade do Chapadão são oferecidos como produtos turísticos os passeios de reboque, comercialização de produtos coloniais, camping, atividades culturais e educativas, visitação e observação de um mirante (paisagem com vista da cidade). Em relação aos investimentos realizados para receber os turistas foram destacadas melhorias em estruturas já existentes, sendo que em uma propriedade os investimentos foram considerados significativos, pois houve a necessidade de adequar a propriedade ao produto que se queria oferecer. No início da atividade os empreendedores relataram terem recebido apoio do SEBRAE e da prefeitura municipal através de cursos de capacitação na área turística e na formação pessoal. Em relação às dificuldades encontradas no início, grande parte dos entrevistados relataram o desconhecimento do turismo por parte da comunidade e região, a distância do município de grandes cidades, a falta de divulgação e problemas internos. Porém, alguns empreendedores relataram não terem sentido dificuldades pelo fato do bom embasamento teórico recebido, como identifica um dos empreendedores: [...] a gente teve sempre cursos, a gente tem umas 300, 400 horas de cursos, então a gente foi aprendendo né, eu não tive dificuldade nenhuma (ECC4). Na visão dos empreendedores a atividade turística na região varia entre precária e boa, possuindo potencial, mas que este não é bem aproveitado: Eu vejo que tem muito bom produto, tem muita coisa boa pra se mostrar, só eu não sei se falta divulgação se falta apoio de quem poderia apoiar (ECC6). Para os entrevistados a atividade turística contribui de forma significativa no desenvolvimento da comunidade através da melhoria do nível de vida, financeiramente e na organização dos grupos comunitários: [...] contribui na conscientização do pessoal e até mesmo no desenvolvimento, porque mesmo quem está fora, quem não faz parte, arrumou sua propriedade, estão usufruindo as... aproveitando das oportunidades (ECC6). De acordo com Schneider e Fialho (2000, p. 35) a relação entre empreendedores e a comunidade originada pelo consumo de produtos por parte dos visitantes é uma potencialidade do turismo no espaço rural, pois cria mercado de consumo local para os produtos de origem agrícola, oferecendo uma alternativa para complementar a renda das famílias rurais. Em relação ao apoio de órgãos público/privados os empreendedores relatam não receber nenhum tipo de apoio, principalmente da prefeitura, mas que também não se é cobrado este apoio: [...] tá meio parado agora, apoio até que se teria da prefeitura se fosse lá cobrar teria, mas não está sendo buscado nada (ECC2). O produto a ser comercializado necessita que sua imagem divulgada seja atrativa aos olhos de quem vê. Para Bignami (2002, p. 13) a imagem de determinado produto turístico pode ser associada a um conjunto de percepções a respeito de algo, à uma representação de um objeto, ou seja, à uma projeção futura, à uma lembrança ou recordação passada. Em relação à divulgação da rota, os empreendedores relataram ser feita por meio de jornais, folders, boca-a-boca, pela agência de turismo e individualmente através de redes sociais na internet. Quando confrontados com a questão referente às perspectivas de crescimento da rota, os entrevistados mostraram-se desanimados, pois a rota está numa fase

meio acomodada, mas acho que deve ter perspectivas de fluir (ECC1). Dentre os fatores que motivam os demais empreendedores a continuar na rota foram citados o fato da atividade ser mais comercial que turística, acreditar e gostar de trabalhar com o turismo: [...] eu digo assim que o turista ele vindo aqui querendo conhecer o nosso trabalho já é um motivo muito grande (ECC7). Os entrevistados afirmaram que a atividade turística propiciou aspectos positivos para a família através da melhoria da qualidade de vida, nas trocas de experiências e como mais uma fonte de renda. O fato do turismo na comunidade da Fontana Freda não ter dado certo foi apontado como sendo o desânimo dos empreendedores, por serem as duas comunidades muito distantes, a falta de interesse dos empreendedores, falta de incentivos do poder público e a falta de turistas, como pode ser percebido na fala do empreendedor: Acho que porque eles ficaram sozinhos né, ficou muito longe, distante, aí a agência oferecia os roteiros, aí tu escolhe qual que queria ir, aí o pessoal via a distância e preferiam ficar numa parte só né (ECC4). Com o abandono da comunidade da Fontana Freda a comunidade do Chapadão ficou desmotivada, embora ainda sejam realizadas reuniões periodicamente, poucos empreendedores participam. 3.2 Comunidade da Fontana Freda A comunidade da Fontana Freda encontra-se aproximadamente a 10 km da sede do município, seu acesso é por uma estrada não pavimentada em estado precário. Nesta comunidade encontram-se os três estabelecimentos que faziam parte da Rota Turística Nostra Colônia. Dentre esses estabelecimentos, os empreendedores que deram início as atividades turísticas nem todos se encontram ainda no local, um mudou para cidade, outros faleceram, permanecendo em apenas um empreendimento os mesmos empreendedores, nos demais permanecem familiares dos mesmos, que participavam de forma indireta na atividade. As propriedades rurais variam entre sete a quarenta e cinco hectares. Os estabelecimentos possuem seu núcleo familiar composto de quatro a seis pessoas. Para Abramovay (1992) a organização familiar está vinculada a estrutura da própria família, da capacidade de se adaptar e desenvolver um comportamento adequado perante a sociedade e ao meio econômico. Como atividade principal realizada nas propriedades a agricultura foi citada em dois dos três empreendimentos, sendo em um empreendimento citado o artesanato em pedra de areia. As atividades secundárias variam entre a criação de gado, criação de chinchila e a produção de cachaça. Os produtores da comunidade da Fontana Freda ofereciam produtos diferenciados. Na Casa das Massas era oferecido café colonial, nas Esculpedras havia visitação e comercialização de pequenas esculturas em pedra de areia e no Alambique da Família Bolzan eram oferecidos derivados da cachaça. A atividade turística começou por volta do ano de 1998 com reuniões promovidas pela prefeitura a estes agricultores mostrando-lhes a importância e os benefícios que a atividade turística poderia lhes oferecer, sendo este o principal motivo de iniciarem com a atividade: O que motivou foi o pessoal da prefeitura que veio aqui falar com a gente, participar né e a gente tinha casa que dava, que tinha estrutura pra isso e a gente começou a ir a reuniões e a gente começou a participar (CFF3). Os entrevistados afirmaram terem feito poucos investimentos para receber os turistas, tendo apenas reformado algumas estruturas já existentes. No início da atividade os entrevistados relataram terem recebido muito apoio e incentivo da prefeitura municipal e do SEBRAE, por meio de reuniões e cursos. As principais dificuldades no início da atividade foram a falta de recursos humanos e o acesso que era muito precário. Quando confrontados com a questão da visão do turismo na região os entrevistados relataram que a atividade é muito fraca quando comparada com outras regiões, como identificado: [...] eu acho que não é aqui o lugar do turismo não se tem muita coisa pra... até que tem a natureza, tem muita coisa, tem as grutas, tem essas coisas, mas hoje se tu pega as pessoas e ver elas tão indo tudo pra praia, para o litoral, ninguém fica aqui [...] (CFF1). Para os entrevistados a atividade turística contribuiu no desenvolvimento da comunidade através da troca de ideias e culturas, na divulgação enquanto a rota funcionava, mas para um entrevistado esta contribuição não se refere a melhorias financeiras. Quando confrontados com a questão se a atividade turística foi positiva ou negativa relataram ser positiva, no conhecimento adquirido, como pode ser observado na fala do entrevistado: sempre é boa, a experiência, sempre aprende alguma coisa né, da pra se dizer que foi boa, se conheceu muita gente, divulgou o trabalho naquele tempo né, embora fosse pouco, mas sempre é boa se aprende muito [...] (CFF1). Dentre os motivos que influenciaram os empreendedores a abandonar a Rota, foram citados a falta de incentivos da prefeitura e a falta de recursos humanos para gerir a atividade. Para os entrevistados a decisão de abandonar a rota foi uma decisão em conjunto com os demais empreendedores que faziam parte da comunidade, sendo decidida quando eram realizadas as reuniões do grupo: ah mais ou menos foi tudo meio em conjunto né, então começou a meio parar e o pessoal já não tinha mais aquele roteiro completo pra fazer, então um pouquinho de cada lado (CFF3). Para os entrevistados a experiência turística propiciou aspectos positivos em relação à família na troca de ideias e contato com mais pessoas. Em relação ao que motiva os empreendedores da comunidade do Chapadão a permanecer na rota os entrevistados apontaram o acesso asfaltado, proximidade da rodovia, por ser um grupo

maior e receberem maior apoio e assistência por parte do poder público. efeitos, seu sucesso ou fracasso depende da realidade de cada localidade e do fluxo de visitantes. 4 CONCLUSÕES As mudanças observadas no espaço rural necessitam de políticas estratégicas bem definidas. Entre as alternativas está o desenvolvimento da atividade turística que surge como uma estratégia na busca do desenvolvimento local. O turismo no espaço rural se constitui como uma das atividades para as famílias rurais, podendo contribuir na melhoria do nível de vida dessas famílias. No município de Jaguari a atividade turística surgiu como aporte ao desenvolvimento das comunidades rurais, sendo que os atores envolvidos apostavam em uma atividade que complementasse a renda e divulgasse as comunidades, porém ela é vista como deficiente em toda a região. A falta de apoio e incentivos por parte principalmente do poder público teve reflexos significativos na manutenção da atividade turística, o que acarretou o abandono de uma comunidade da Rota. Há necessidades de políticas municipais voltadas a atividade turística, para que as trocas de governos não afetem a atividade. Apesar disso, a atividade turística contribui no desenvolvimento da comunidade, na melhoria na qualidade de vida e na organização. Para que a atividade turística desencadeie todo seu efeito multiplicador é necessário haver fluxo de turistas, o que não estava mais acontecendo com as duas comunidades que se apresentam muito distantes uma da outra. Enquanto uma comunidade possibilitava o acesso pela via asfaltada, a outra possuía acesso não pavimentado em estado precário. Há motivos que levaram empreendedores a abandonar a atividade turística, dentre eles se destacam principalmente a falta de incentivos públicos, a dificuldade de acesso e a falta de visitantes. De outro lado, existem fatores que influenciam os empreendedores a continuar na atividade, como a geração de empregos temporários e permanentes, complemento na renda familiar e o gostar de trabalhar com a atividade turística. A organização de um produto turístico deve levar em conta todo o processo de planejamento inicial, para atingir determinado público. O que se pode concluir é que a Rota Nostra Colônia não teve foco em determinado público e não houve pesquisa de demanda. Assim, se formaram atrativos em duas comunidades muito distantes descaracterizando o produto em si e causando consequentemente a estagnação da atividade turística. A continuidade das atividades da Rota Nostra Colônia vai depender de esforços dos empreendedores envolvidos e de ações desenvolvidas pelo poder público para que a mesma organize seu produto estabelecendo o que se quer oferecer, de que forma e o público alvo. O turismo no espaço rural pode contribuir no desenvolvimento da comunidade envolvida, mas é indispensável ter cuidado com a magnitude de seus REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo: Hucitec, 1992. BAHL, M. Viagens e roteiros turísticos. Curitiba: Protexto, 2004. BARRERA, E. Situação do turismo rural na Argentina. In: ALMEIDA, J. A.; FROEHLICH, J. M.; RIEDL, M. (Org.). Turismo rural e desenvolvimento sustentável. Campinas: Papirus, 2000. p. 181-208. (Turismo). BIGNAMI, R. A imagem do Brasil no Turismo: construção, desafios e vantagens competitivas. São Paulo: Aleph, 2002. DENCKER, A. F. M. Método e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo: Futura, 1998. ELESBÃO, I. Os efeitos do turismo no espaço rural na geração de renda e emprego: o caso de São Martinho (SC). Organizações Rurais & Agroindustriais, Lavras, v.11, n.2, p. 305-318, 2009.. Turismo rural em São Martinho (SC): uma abordagem do desenvolvimento em nível municipal. 2001. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE PESQUISAS E ESTATÍSTICA, 2010. IBGE cidades@jaguari Censo Demográfico, 2010. MOLETTA, V. F., GOIDANICH, K. L. Turismo Rural. Porto Alegre: SEBRAE/RS, 1999. PEDRON, F. de A. Planejamento do Turismo em Áreas Rurais: Estudo do Roteiro Nostra Colônia - Jaguari-RS, 2007. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria. SCHNEIDER, S.; FIALHO, M. A. V. Atividades não agrícolas e turismo rural no Rio Grande do Sul. In: ALMEIDA, J. A.; RIEDL, M. (Org.). Turismo rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. Bauru: EDUSC, 2000. p. 15-50. SOUZA, M., ELESBÃO, I. A introdução de uma inovação social entre agricultores familiares: o turismo rural em dois roteiros do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. In: MORENO, L.; SANCHEZ, M. M.; SIMÕES, O. (Org.). Cultura, Inovação e Território: o Agroalimentar e o Rural. Lisboa: SPER Sociedade Portuguesa de Estudos Rurais, 2009. p. 197-204.