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Destaque Depec - Bradesco Ano XI - Número 50-05 de fevereiro de 2013 Próxima fase da urbanização na China favorecerá principalmente o consumo das famílias, em detrimento do setor de construção Fabiana D Atri Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Na esteira das transformações em curso na China, chamamos atenção para as diversas mudanças demográficas acumuladas nos últimos anos, com a redução da população em idade ativa, associada às quedas nas taxas de natalidade e de fecundidade 1. Ao mesmo tempo, a urbanização do país vem acelerando, notando que desde 2011 a população urbana já superava a rural. Diversas implicações deste movimento são visíveis, com aumento da desigualdade social entre o campo e a cidade (e na própria cidade) e da pressão no mercado de trabalho, com salários crescentes. Neste contexto, os atuais líderes do país, que assumiram seus postos no Partido Comunista em novembro do ano passado, têm apontado que a urbanização será um dos pilares da agenda de reformas e do crescimento para os próximos anos. E isso se dará principalmente através da melhora na qualidade de vida nas cidades o que, não necessariamente levará a uma ampliação expressiva das construções residenciais. O impacto dessa nova agenda, assim, se dirige para: (i) as mudanças sociais, que têm sido exigidas por conta da urbanização crescente; (ii) os avanços no setor de construção, tanto residencial quanto de infraestrutura, e (iii) o consumo doméstico, de bens e serviços. No entanto, entendemos que as atenções, em um primeiro momento, estarão voltadas às reformas necessárias para que a urbanização avance em bases sólidas, como a definição da propriedade rural, a revisão da política do filho único e a flexibilização do registro das pessoas, que hoje limita a mobilidade dos chineses pelo país. Ainda que essas discussões não sejam novas, a divulgação dos dados de trouxe à tona os importantes desafios para a economia chinesa daqui para frente. No ano passado, a população total da China continental somou 1,354 bilhão 2, um aumento de mais de 6,690 milhões de pessoas em relação a 2011. Deste total, a população urbana totalizou 711,82 milhões, o que representa 52,57% 3, lembrando que há dez anos esta estatística estava em 39%. Ao mesmo tempo, a população em idade ativa, entre 15 e 59 anos 4, mostrou a primeira queda absoluta da história, de 3,45 milhões de pessoas entre 2011 e, chegando a 937,27 milhões e respondendo por 69,2% da população. Este movimento confirma que a abundância de trabalhadores chineses vem se reduzindo, o que impõe pressões expressivas sobre os custos produtivos do país, que foram por muito tempo uma vantagem competitiva no mercado global. Esta questão, contudo, dificilmente será revertida rapidamente, diante das baixas taxas de natalidade e fecundidade, relacionadas à política do filho único imposta em 1973, sendo que as Nações Unidas estimam que a força de trabalho na China, considerando a população entre 15 e 24 anos, cairá em quase 62 milhões de pessoas até 2015. 1 Outros avanços são notados também no aumento da expectativa de vida, que passou de 71,4 anos em para 74,8 anos em 2010. 2 Incluindo a população de 31 províncias, municípios e regiões autônomas, e militares na China continental, excluindo Hong Kong, Macau, e Taiwan. Do total, a população masculina chegou a 693,95 milhões e a população feminina somou 660,09 milhões. 3 Avanço de 1,3 pp ante 2011. 4 A população com 60 anos ou mais somou 193,9 milhões, que responde por 14,3% da população total, ou 0,59 ponto percentual maior do que no final do ano anterior; a população com 65 anos ou mais totalizou 127,14 milhões, que representa 9,4% da população total, ou 0,27 ponto percentual superior a 2011. 1

92% 89,4% 80% 80,3% 82,7% 82,9% 79,8% urbana rural China: população rural e urbana (% do total) 68% 71,0% 56% 44% 58,2% 52,6% 47,4% 32% 20% 10,6% 8% 1949 1952 1955 1958 19,7% 1961 1964 1967 17,1% 1970 1973 1976 1979 1982 1985 24,5% 1988 1991 28,5% 36,2% Em relação a este ponto, ainda vale mencionar que a população de migrantes chineses que deixam suas atividades no campo para tentar melhores condições de vidas nas cidades segue em expansão, chegando a 262,61 milhões de pessoas em mais de 35% da população urbana. Estima-se que quase 70% do aumento da urbanização, verificado nos últimos 5 anos, seja explicado pela incorporação de migrantes sem permissão e o restante seria decorrente de nascimentos de famílias urbanas ou de migrantes que conseguiram permissão para viver nas cidades. Ainda vale mencionar que as regiões mais do interior da China respondem pela grande oferta de mão de obra de trabalhadores, já que deste total de migrantes, 99,25 milhões migram dentro das suas próprias províncias 5 e 163,36 milhões vieram de outras províncias, para trabalhar principalmente nas indústrias e na construção civil. Este quadro de redução da população em idade ativa, aumento da urbanização e expansão da população de migrantes tem gerado grandes desequilíbrios sociais, resultando na diferença, ainda expressiva, da renda do campo e das cidades e a falta de moradia e acesso a serviços sociais nas cidades. De fato, a renda rural responde por cerca de 1/3 da renda urbana e esta distância vem se ajustando muito lentamente, à medida que o governo tem promovido transferências de renda para o campo, os preços de alimentos têm subido e ganhos de produtividade são observados com a mecanização do campo; mas, enquanto isso, dada a pressão no mercado de trabalho, os salários nas cidades têm crescido também em velocidade considerável. Em, a renda per capita disponível anual das famílias urbanas somou 24.565 yuan 6, com crescimento nominal de 12,6%, ou 9,6% em termos reais 7, em relação a 2011. A renda líquida per capita das famílias rurais somou 7.917 yuan 8 em, o que representa ganho nominal de 13,5% 9 e real de 10,7% na comparação com 2011. Ao todo, dos mais de 1,3 bilhão de chineses, 767,04 milhões estavam empregados: 371,02 milhões nas cidades e 396,02 milhões no campo, o que revela certo equilíbrio no estoque de emprego, mas não na remuneração, até porque a produtividade e especialização dos empregos são diferentes, já que o trabalho no campo se concentra na agricultura e nas cidades, atividades industriais e de serviço se destacam 10. 3,4 3,2 3,11 3,23 3,21 3,22 3,28 3,33 3,31 3,33 3,23 3,13 3,10 China: razão entre renda urbana e rural Destaque - Bradesco 3,0 2,8 2,6 2,4 2,2 2,0 2,58 1992 2,80 1993 2,86 2,71 1995 2,51 1996 2,47 2,51 1998 2,65 1999 2,79 2,90 2001 2002 2004 2005 2007 5 Ou seja, saíram do campo e foram morar na cidade, dentro da mesma província. 6 Equivalente a US$ 3.962, considerando a cotação de RMB/US$, em dezembro de. 7 Da renda per capita total de domicílios urbanos, o crescimento interanual nominal do rendimento salarial foi de 12,5%, o lucro líquido da operação comercial de 15,3%; rendimentos de propriedade de 8,9% e 11,6% de renda transferida. 8 Equivalente a US$ 1.276, considerando a cotação de RMB/US$, em dezembro de. 9 O crescimento nominal da renda salarial foi de 16,3%, a renda dos negócios familiares de 9,7%, os rendimentos de propriedade de 9% e 21,9% de renda transferida. 10 Das 767,0 mil pessoas empregadas em 2011, 265,9 mil estavam na agricultura, 225,4 mil na indústria e 272,8 mil no setor de serviços. Esta estatística não está disponível para. 2008 2010 2011 2

China: renda anual urbana e rural, em mil USD 4.000 3.200 renda urbana renda rural 2.885 3.461 3.908 2.400 2.309 2.515 1.887 1.600 1.138 1.300 1.506 1.107 1.260 800 355 403 459 567 697 755 894 0 2004 2005 2007 2008 2010 2011 530 430 400,7 480,3 486,7 434,6 396,0 371,0 China: emprego rural e urbano (em milhões de pessoas) 330 321,0 292,6 310,3 262,3 230 170,4 urbano rural 130 142,7 73,9 100,0 30 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 Destaque - Bradesco Além disso, na China existe um mecanismo de controle da mobilidade das pessoas, já que os chineses tem um documento de registro, chamado hukou, que define sua região de nascimento, na qual seu acesso a serviços sociais é permitido. O que acontece é que a grande maioria da população migrante que trabalha nas cidades não tem acesso a serviços e direitos na cidade em que vive (mesmo que temporariamente). Com isso, desequilíbrios urbanos são significativos, que resultam no subemprego, na renda mais baixa 11 e nas moradias inadequadas, além de questões complicadas relacionadas aos filhos desses trabalhadores que ou são deixados no campo aos cuidados dos avós ou vivem nas cidades sem acesso a serviços básicos, como educação e saúde. Diante disso, cabe considerar os sinais dados recentemente pelo governo chinês. Li Keqiang, futuro primeiro ministro da China, publicou um artigo no jornal People s Daily no final de novembro do ano passado, afirmando que a urbanização não é simplesmente o aumento do número de residentes urbanos ou a expansão das áreas das cidades. Segundo ele, mais importante é a completa mudança do estilo rural para urbano, em termos de estrutura industrial, emprego, bem estar e seguridade social. Além disso, defendeu a combinação entre crescimento industrial e urbanização e a integração dos trabalhadores migrantes nas cidades, ao invés de construir cidades artificialmente. Também chamou atenção para a criação de condições para a modernização da agricultura, tendo como pano de fundo seu objetivo de implementar quatro grandes modernizações, a saber: industrialização, informatização, urbanização e agricultura. Assim, devemos ajustar as expectativas com a urbanização, especialmente as relacionadas à ampliação do número de pessoas nas cidades, porque quando o governo ressalta este tema, está se referindo também à integração da população migrante que ainda não tem acesso ao padrão de vida das cidades. Neste sentido, pode ser que esta nova fase de urbanização impacte principalmente a oferta de serviços e o ganho de renda; por outro lado, o efeito sobre o setor de construção residencial deverá ser menor, ainda que ambos movimentos sejam correlacionados. No limite, devemos considerar que o impacto sobre a demanda de commodities metálicas não será tão forte como no passado. De todo modo, entendemos que existem diversos limitadores para a expansão da urbanização, da 11 A renda mensal dos trabalhadores migrantes no final de era de 2.290 yuans. 3

Destaque - Bradesco forma como o governo tem defendido. Um dos principais entraves refere-se à propriedade da terra rural. Diferentemente da propriedade urbana que foi transferida para as famílias há cerca de 10 anos os camponeses não têm propriedade da terra. Quando uma pessoa sai do campo, seu direito de propriedade segue restrito ao campo e sua propriedade não pode ser comercializada, exceto quando o governo manifeste interesse e as converta em terras urbanas para construção de novos imóveis. Somente novos imóveis construídos em áreas urbanas podem ser vendidos no mercado. Este sistema faz diferença, à medida que os camponeses chegam à cidade sem uma dotação de recursos e não terão direito a comprar propriedades nas cidades. Vale dizer que algumas cidades atualmente têm flexibilizado aos poucos essas regras, dando o registro das cidades aos chineses com muitos anos de moradia e trabalho na cidade. Somado a isso, como já comentado, o controle de mobilidade das pessoas, dado pelo hukou, restringe sobremaneira o acesso a serviços nas cidades e, da mesma forma como se tem flexibilizado a aquisição de imóveis nas áreas urbanas por migrantes, algumas delas começam gradualmente a dar permissões aos não nascidos naquele local. Ao mesmo tempo, deve-se considerar que a oferta de camponeses para migrarem vem caindo, seja porque a taxa de natalidade no campo também tem se reduzido seja porque a nova geração está menos disposta a tentar a vida nas cidades que não oferecem muitas vezes condições dignas; esse processo vem sendo alimentado pelas melhores condições oferecidas pelo campo recentemente já que (i) muitas indústrias têm migrado para o interior em busca de mão de obra barata, (ii) a renda no campo tem crescido por conta do aumento das transferências e dos preços de alimentos; (iii) e os governos locais tem promovido importantes avanços, especialmente em infraestrutura, o que acaba empregando largas massas de trabalhadores. O contrapondo a isso é que o espaço para mecanização na China ainda é significativo, o que poderia liberar camponeses para as cidades. Finalmente, a política econômica atual tem sido marcada pelo maior controle da oferta de crédito para os governos locais, após expansão não sustentável na saída da crise de 2008/9, quando essas esferas públicas tomaram muitos recursos para projetos de infraestrutura, nem sempre com retornos garantidos. Esta preocupação com o endividamento dos governos locais fez com que o governo central passasse a controlar de perto o acesso a financiamentos, principalmente de fontes bancárias. De fato, os investimentos em infraestrutura conduzidos na sua maioria pelos governos locais mostraram importante desaceleração entre 2010 e 2011, recuperando ao longo do ano passado, mas em ritmo mais moderado. Como acreditamos que esta política mais austera seguirá nos próximos anos, isso limitará inversões em casas populares e em infraestrutura nas cidades, como oferta de saneamento básico, educação e saúde. Cabe, contudo, dizer que o governo tem dado sinais que liberará recursos para projetos voltados especificamente à urbanização. Com base na meta do governo de aumento da renda per capita e sua relação com crescimento da população nas cidades, acreditamos que a urbanização chegará a quase 60% em 2020, e esta marca superará os 70% em 2035, segundo estimativas do Banco Mundial. Importantes cidades, como Pequim e Shanghai, contudo, já exibem elevadas taxas de urbanização. Entendemos que daqui para frente, alguns passos deveriam ser seguidos para a melhora da qualidade da urbanização: com a elevação da mecanização, pessoas seriam liberadas para as cidades, que teriam a renda de suas terras rurais como dotação inicial para se estabelecer nas cidades. Combinado a isso, permissões permanentes seriam concedidas para que esta população tivesse direitos e deveres iguais aos nascidos nas cidades. Dito isto, devemos entender a urbanização como um importante alívio para a oferta de mão-de-obra nas cidades, que deverá ficar menos apertada com a chegada de novas pessoas, o que limitará parcialmente a pressão por elevação dos salários. Com melhor acesso a serviços públicos e renda mais elevada, o impacto deverá ser maior sobre a demanda de bens e serviços, considerando que a cesta de consumo da população urbana é mais concentrada em gastos com vestuário, transporte, educação e recreação; interessante ainda notar que, a despeito da renda mais elevada, a população urbana gasta porcentual semelhante em alimentação quando comparada com a rural. Finalmente, este movimento será favorável para o setor imobiliário, mas de forma mais contida que o passado recente, dadas as restrições para aquisição de imóveis e dado que a urbanização nesta nova fase, como mencionado, não implicará somente mais pessoas nas cidades em busca de residência o que rompe a relação direta entre urbanização e demanda por imóveis. Ainda assim, os investimentos em infraestrutura urbana, como transporte e saneamento, deverão ser fortes. 4

92,0% 72,0% 52,0% 35,0% 37,2% 40,6% 41,8% 44,8% 45,6% 46,2% 61,9% 55,0% 56,5% 58,1% 49,7% 50,5% 51,8% 64,1% 66,5% 80,5% 89,3% 86,2% China: nível de urbanização em 2011, por província 32,0% 22,7% 12,0% Tibet Guizhou Yunnan Gansu Henan Guangxi Sichuan Xinjiang Anhui Hunan Hebei Jiangxi Qinghai Shaanxi Shanxi Ningxia Hainan Shandong Hubei Jilin Chongqing Heilongjiang Inner Mongolia Fujian Jiangsu Zhejiang Liaoning Guangdong Tianjin Beijing Shanghai China: investimento no setor imobilário e urbanização 15,0% 13,0% 11,0% 9,0% investimento no setor imobiliário/pib urbanização 37,7% 7,5% 8,2% 8,6% 9,0% 44,3% 9,5% 9,9% 10,6% 49,9% 12,0% 52,6% 13,1% 13,8% 55,0% 50,0% 45,0% 40,0% 7,0% 5,0% 5,2% 29,0% 4,5% 4,0% 4,3% 4,6% 5,0% 5,8% 6,5% 35,0% 30,0% 3,0% China: relação entre urbanização (eixo vertical) e renda per capita, em RMB (eixo horizontal).. Elaboração e projeção: Bradesco 1,0% 1995 1996 1998 1999 2001 2002 2004 2005 2007 2008 2010 2011 25,0% 20,0% 70% 60% 50% 40% 2002 2015 2020 China: relação entre urbanização (eixo vertical) e renda per capita, em RMB (eixo horizontal) 30% 20% Destaque - Bradesco 10% 0% 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 Comparação da composição dos gastos com consumo das famílias Elaboração e Projeções: BRADESCO Urbano Rural Alimentação 36,5% 35,2% Habitação 14,9% 24,6% Vestuário 10,4% 7,3% Transporte 15,0% 12,2% Saúde 6,4% 10,1% Recreação e educação 12,8% 7,9% Outros 3,9% 2,8% 5

Destaque - Bradesco Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Leandro de Oliveira Almeida / Felipe Wajskop França / Andrea Marcos Angelo / Igor Velecico Economia Doméstica: Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Bast / Priscila Pereira Deliberalli Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Rita de Cassia Milani Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Ana Maria Bonomi Barufi / Leandro Câmara Negrão Estagiários: Ana Beatriz Ract Pousada / Thiago Chaves-Scarelli / Andre Kengi Alves Hirata / Henrique Araújo da Silva / Elias Celestino Cavalcante / Alex Panoni Furtado/ Laura Marsiaj Ribeiro / Klaus Heinz Troetschel O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 6