18º Congresso de Iniciação Científica USOS E FUNÇÕES DA IMAGEM: AS AQUARELAS BRASILEIRAS DE PAUL HARRO-HARRING



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Transcrição:

18º Congresso de Iniciação Científica USOS E FUNÇÕES DA IMAGEM: AS AQUARELAS BRASILEIRAS DE PAUL HARRO-HARRING Autor(es) RAFAEL GONZAGA DE MACEDO Orientador(es) VALERIA LIMA ESTEVES ALVES 1. Introdução O presente projeto de pesquisa, sob orientação da Profª. Drª. Valéria Lima Esteves e financiado pela Fapesp, iniciado no mês de Abril de 2010 e com duração prevista de nove meses a partir desse mês. Tem como objeto de pesquisa campo de estudos dos viajantes e suas representações do Brasil no século XIX. Com um enfoque, no caso, sobre a produção do artista dinamarquês Paul Harro-Harring, relativamente desconhecido. Paul Harro-Harring, um autor engajado nas revoluções européias do século XIX, apresentava-se como defensor extremado da causa da liberdade. Sua produção deu-se no campo da pintura, da poesia e da literatura. No entanto, observamos que como pintor, Harro-Harring é praticamente esquecido. Nascido em 1798, na cidade dinamarquesa de Ibensdorf, hoje uma cidade alemã, estudou pintura na Academia de Arte de Dresden, retornando à Dinamarca em meados de 1820. Desde 1830 registramos as viagens pelo mundo de Harro-Harring envolvendo-se em movimentos revolucionários e em situações, que para ele, envolviam a defesa da liberdade e a autonomia dos povos. No século XIX, financiados pelas cortes e casas reais européias, inúmeros artistas e cientistas percorrem o território brasileiro em busca do exótico e do novo, ou empenhados em realizar descobertas cientificas. Como exemplo, podemos citar os bávaros Spix e Martius, o francês Jean-Baptiste Debret e o alemão Johann Moritz Rugendas, que produziram, a partir de suas longas estadas no país, extensos registros e obras a respeito da vida social e do território brasileiro em seus mais variados aspectos. Observamos nesses registros que esse olhar europeu foi fortemente marcado por um dado estranhamento. São representações que retrataram um território selvagem, exótico e às vezes pitoresco, com sua flora, fauna e diversidade étnica. Em paralelo, visualizavam um futuro de profundas e positivas transformações, capazes de conduzir o Brasil a um estágio de civilização comparável à Europa. No entanto, ao contrário da maioria dos viajantes artistas que visitam o Brasil no século XIX, Harro-Harring chega ao Rio de Janeiro em 1840 sem patronos ou financiadores. Nesse período, o autor ganhava a vida com reportagens ilustradas para o periódico abolicionista inglês The African Colonizer, que o incumbe de estudar a escravidão no país, ao que parece nas fontes estudadas, sem financiamento. No período que permaneceu no Rio de Janeiro e arredores, o autor produziu as 24 aquarelas da série Tropical Sketches from Brasil. Essas 24 aquarelas da viagem de Harro-Harring ao Brasil são tudo o que restou, ao que parece, do trabalho pictórico desse viajante. Observamos que essa produção é exemplar do conjunto imagético, que permaneceu menos conhecido, entre a chamada iconografia de viajantes ; mas que, no entanto, aponta, justamente, para a emergência de particularizar cada uma dessas produções, que compõem esse conjunto de imagens, como portadores de intenções e trajetórias absolutamente particulares. Em 1965, depois de 125 anos de anonimato, os originais voltaram ao país por meio do Embaixador Walter Moreira Salles, que os adquiriu na França.

Acreditamos, assim, que o estudo dirigido às aquarelas de Harro-Harring permitirá uma melhor compreensão de seu conteúdo específico e, ao mesmo tempo, acabará por constituir uma contribuição relevante para o estudo das representações de Brasil, elaboradas continuamente ao longo de todo o século XIX. 2. Objetivos Com essa perspectiva a análise da produção artística de Paul Harro-Harring em sua viagem ao Brasil, a serviço do jornal britânico The African Colonizer, tem por principal objetivo o estudo das imagens como representação de uma determinada realidade social e a compreensão dos mecanismos de uso e apropriação destas imagens. Assim consideradas, como representações, importará perceber de que forma estas imagens são atravessadas por outros inúmeros discursos do período, principalmente, as influências advindas do romantismo. Interessará, sobretudo, pensar como essa representação foi construída do ponto de vista histórico e formal e a recepção da mesma no período. Para isso, buscaremos marcar as delimitações que organizam a apreensão do mundo social do autor, a partir das categorias fundamentais de percepção e de apreciação do real em que o mesmo estava inserido, focando, entre outros aspectos, os elementos que constituíram a sua formação como pintor. Portanto, com objetivos gerais, foi necessário desenvolver uma reflexão sobre a relação História e Imagem; explorar o tema da representação do Brasil em imagens do século XIX e refletir sobre a questão dos usos e funções da chamada iconografia de viajantes. No que se refere aos objetivos específicos foi dado destaque a um conjunto iconográfico pouco estudado. Para tanto foi necessário organizar um banco de imagens de modo a viabilizar a análise comparativa entre as aquarelas de Paul Harro-Harring e imagens com as quais se possam estabelecer uma identidade temática e/ou estilística. Para atingir esse objetivo a reflexão sobre os usos e funções das imagens de Harro-Harring, no contexto específico de sua produção foi fundamental para apontar os recursos estilísticos e plásticos da narrativa construída pelo artista, que permitiram ampliar a função referencial dessas imagens. 3. Desenvolvimento Nessa etapa da pesquisa, relativa ao período de 01 de abril a 10 de agosto, nossos estudos voltaram-se principalmente às etapas necessárias para a compreensão das interlocuções e referências contemporâneas a Harro-Harring, de modo que também pudéssemos auscultar e qualificar a sua associação com o termo revolucionário, comumente presente nas referências a esse artista. As primeiras etapas desenvolvidas, ora apresentadas aqui, referem-se principalmente à análise da formação intelectual e artística de Harro-Harring. Essa etapa da pesquisa estabeleceu a compreensão de que a tradição artística em que o pintor estava inserido no início do século XIX foi um importante definidor da identidade temática que permeará a sua obra, definindo sobremaneira os recursos estilísticos e plásticos da narrativa construída por esse artista e que permitem ampliar o entendimento e a análise da representação que Harro-Harring fez do Brasil. Nesse período inicial da pesquisa, o levantamento de fontes bibliográficas colocou-se como a tarefa essencial para atingirmos os objetivos do projeto. Esse levantamento acerca de referências bibliográficas sobre Paul Harro-Harring revelou-se instigante do ponto de vista do pesquisador. Há um número reduzido de referências sobre esse viajante, no entanto as pistas advindas dessas referências bibliográficas foram essenciais para análises e reflexões que nos aproximaram de uma compreensão, que acreditamos consistente, das imagens de Harro-Harring. 4. Resultado e Discussão As referências bibliográficas levantadas e analisadas até o momento nos permitiram traçar uma trama de conexões entre as atividades

e ideias revolucionárias na Europa e as experiências do artista no interior das academias de arte em que Harro-Harring estudou bem como as interlocuções com o chamado Romantismo alemão. Iniciamos, assim, uma investigação acerca do momento de sua formação, com ênfase para as reflexões artísticas nas academias de arte de Dresden e Copenhague. Para tanto, a obra de Nicolau Pevsner, intitulada Academias de Arte foi fundamental. Observamos que, no interior das Academias de Arte, notadamente na Alemanha, registraram-se movimentos que inaugurariam uma nova postura do artista em relação ao mundo. Esse autor identifica a existência de homens profundamente engajados nas discussões acerca do papel das Academias de Arte e também do artista na sociedade. Entre eles, destaca Caspar David Friedrich, que, em nossa compreensão das fontes analisadas, tornar-se-ia fundamental para a compreensão dos recursos estilísticos e plásticos das imagens de Harro-Harring. 5. Considerações Finais A partir dos resultados obtidos até o momento, concluímos que é plausível pensar que as imagens de Harro-Harring se distinguem da produção de outros viajantes, no ponto em que ele vem ao Brasil, não para reproduzir cenas e praticas culturais consideradas exóticas pelo olhar europeu, mas com um projetado engajado de combate contra o sistema escravista. Harro-Harring foca o seu olhar sobre o regime escravista instalado na sociedade carioca do século XIX para denunciá-lo, além disso, o negro para ele não aparenta ser, como no olhar de grande parte dos viajantes, um ser próximo dos animais selvagens, mergulhado na obscuridade e na barbárie o que, na visão de alguns viajantes, justificaria a escravidão como um processo civilizatório dos mesmos. Sua representação acerca dos negros parece perceber neles as características e potencialidades que permitiriam não só a resistência frente ao sistema escravista, mas também a existência de um sentimento de fraternidade e união entre os negros, libertos e escravos e certa autonomia cultural dos frente aos senhores brancos. Neste aspecto, e pensando nas discussões acaloradas sobre os conceitos de nação e povo, que atravessavam aquele momento histórico no qual Harro-Harring estava inserido, é possível pensar que talvez ele pensasse o negro como o protótipo de um povo, que deveria ser liberto da dominação estrangeira representada pelos brancos e pela monarquia -, e, ao modo dos haitianos, fundar uma república e extinguir o sistema escravista. Referências Bibliográficas ARAÚJO, E. (org.). Negro de Corpo e Alma. Catálogo da Mostra do Redescobrimento. São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. ARGAN, G. C. Arte Moderna. Do Iluminismo aos Movimentos Contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. AZEVEDO, C. M. M. de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites, s. XIX. São Paulo: Paz e Terra, 1987. BECKER, H. S. Falando da Sociedade. Ensaios sobre as diferentes maneiras de representar o social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. BERLIN, I. Vico e Herder. Brasilia: Editora Universidade de Brasília, 1982. BERLIN, I. Limites da Utopia. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. BOIME, A. The Art of Exclusion: Representing Blacks in the Nineteenth Century. Washington: Smithsonian Institution Press, 1990. BURKE, P. Testemunha Ocular. História e Imagem. Bauru, SP: EDUSC, 2004. CHARTIER, R. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990. COLI, J. Como estudar a arte brasileira do século XIX? in: O Brasil Redescoberto. Catálogo da exposição no Paço Imperial do Rio de Janeiro, set. - nov. 1999. CONDURU, R. O Cativeiro na Arte. Representações oitocentistas do comércio de escravos no Brasil. In: ACERVO, Revista do Arquivo Nacional, volume 21. numero 01, jan/jun 2008 pp. 81-95. ELIAS, M. L. G. Granado Rodrigues. Republicanismo: história e atualidade. In: Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC. Vol. 4,n.1 agosto-dezembro/2007. disponível em http://www.emtese.ufsc.br/vol4_art3.pdf. Acessado em 14 de Julho de 2010. FREITAS, A. História e imagem artística: por uma abordagem tríplice. In: Estudos Históricos, nº 34, jul.-dez. de 2004. Rio de

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