APELAÇÃO CÍVEL Nº 0008220-49.2010.4.03.6100/SP. EMENTA AÇÃO ORDINÁRIA. PIS/COFINS. RECOLHIMENTO NA FORMA DAS LEIS Nº 10.637/02 E 10.833/03. EXCEÇÃO ÀS PESSOAS JURÍDICAS REFERIDAS NA LEI Nº 7.102/83. SITUAÇÃO NÃO COMPROVADA PELA AUTORIA. 1. Trata-se de apelação em ação ordinária proposta em face da União, com vistas ao reconhecimento do direito da autora de recolher as contribuições devidas ao PIS/COFINS, nos termos do art. 8º, I, da Lei nº 10.637/2002 e art. 10, I, da Lei nº 10.833/2003, afastando-se a sistemática de recolhimento prevista no art. 30 desta última norma, porquanto é empresa prestadora de serviços dedicada ao ramo de segurança em transportes, de que trata a Lei nº 7.102/83, enquadrando-se na regra de exceção. 2. De fato, a providência requerida, recolhimento do PIS/COFINS nos termos da legislação anterior às Leis nº s 10.637/02 e 10.833/03, demanda a comprovação de que a autora se insere nos termos da Lei nº 7.102/83, aí compreendido o atendimento de todas as exigências legais. Não basta, para que se beneficie da regra de exceção, afirmar ser empresa dedicada ao ramo de segurança em transportes. Há que se enquadrar nos ditames da lei em causa, não somente naquilo que lhe interessa, ou seja, a subsunção genérica das atividades que elenca em seu contrato social a aquelas indicadas na norma, sem a observância dos requisitos próprios que esta última estabelece para o efetivo enquadramento legal. 3. Aliás, a discussão é praticamente inócua, na medida em que a Lei nº 7.102/83 destina-se a dispor sobre segurança para estabelecimentos financeiros, estabelecer normas para constituição e funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores, e dar outras providências, o que já restou demonstrado não serem as atividades prestadas pela autora. 4. Como visto, ainda que pretenda a autora se enquadrar no inciso II, in fine (garantir o transporte de qualquer outro tipo de carga), considerando que seu objeto social é o monitoramento, rastreamento via satélite, seguimento de cargas em geral para apoio mecânico (fls. 15 - cláusula terceira), não se vislumbra o serviço de garantia do transporte nos moldes da Lei nº 7.102/83, voltada à parte de segurança propriamente dita. Até porque, se assim fosse, deveria comprovar o cumprimento dos demais requisitos legais, ainda que não promova a segurança ostensiva, o que não ocorreu no caso concreto. 5. De reverso, a própria autora cuida de deixar bem claro, inclusive nas razões de apelação, que não presta serviços de segurança ostensiva, mas de verdadeiro apoio logístico, rastreando e monitorando via satélite os veículos das empresas que a contratam, para assegurar apoio mecânico, ou seja, socorro em casos de defeitos dos veículos, investigação de fraudes contra seguros, análise de riscos e constatações de roubos (fls. 81, segundo
parágrafo). É um tipo de garantia diferente daquele tratado no âmbito da Lei nº 7.102/83. 6. Tanto é assim, que o art. 30 da Lei nº 10.833/03 também se reporta à prestação de serviços de manutenção, segurança, vigilância, transporte de valores, assessoria em seleção e riscos, o que corrobora a necessidade de, para se beneficiar da exceção contidas nos art s. 8º, da Lei nº 10.637/02 e 10 da Lei nº 10.833/036, estarem totalmente subsumidas à Lei nº 7.102/83 aquelas pessoas jurídicas que prestam serviços da mesma natureza. 7. Não se trata, portanto, de qualquer tipo de serviço de transporte de valores nem de segurança e vigilância, mas apenas aqueles que efetivamente cumprem os requisitos específicos da Lei nº 7.102/83. 8. Apelação da autoria a que se nega provimento. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. São Paulo, 19 de dezembro de 2013. VOTO Senhores Desembargadores, cuida-se de apelação em ação ordinária proposta em face da União, com vistas ao reconhecimento do direito da autora de recolher as contribuições devidas ao PIS/COFINS, nos termos do art. 8º, I, da Lei nº 10.637/2002 e art. 10, I, da Lei nº 10.833/2003, afastando-se a sistemática de recolhimento prevista no art. 30 desta última norma, porquanto é empresa prestadora de serviços dedicada ao ramo de segurança em transportes, de que trata a Lei nº 7.102/83, enquadrando-se na regra de exceção. A r. sentença não merece reparos. De fato, a providência requerida, recolhimento do PIS/COFINS nos termos da legislação anterior às Leis nº s 10.637/02 e 10.833/03, demanda a comprovação de que a autora se insere nos termos da Lei nº 7.102/83, aí compreendido o atendimento de todas as exigências legais. Não basta, para que se beneficie da regra de exceção, afirmar ser empresa dedicada ao ramo de segurança em transportes. Há que se enquadrar nos ditames da lei em causa, não somente naquilo que lhe interessa, ou seja, a subsunção genérica das atividades que elenca em seu contrato social a aquelas indicadas na norma, sem a observância dos requisitos próprios que esta última estabelece para o efetivo enquadramento legal. Aliás, a discussão é praticamente inócua, na medida em que a Lei nº 7.102/83 destina-se a dispor sobre segurança para estabelecimentos financeiros, estabelecer normas para constituição e funcionamento das empresas
particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores, e dar outras providências, o que já restou demonstrado não serem as atividades prestadas pela autora. Tal entendimento decorre do disposto no art. 10 e verbis: Art. 10. São considerados como segurança privada as atividades desenvolvidas em prestação de serviços com a finalidade de: (Redação dada pela Lei nº 8.863, de 1994) I - proceder à vigilância patrimonial das instituições financeiras e de outros estabelecimentos, públicos ou privados, bem como a segurança de pessoas físicas; II - realizar o transporte de valores ou garantir o transporte de qualquer outro tipo de carga. 1º Os serviços de vigilância e de transporte de valores poderão ser executados por uma mesma empresa. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 8.863, de 1994) 2º As empresas especializadas em prestação de serviços de segurança, vigilância e transporte de valores, constituídas sob a forma de empresas privadas, além das hipóteses previstas nos incisos do caput deste artigo, poderão se prestar ao exercício das atividades de segurança privada a pessoas; a estabelecimentos comerciais, industriais, de prestação de serviços e residências; a entidades sem fins lucrativos; e órgãos e empresas públicas. (Incluído pela Lei nº 8.863, de 1994) 3º Serão regidas por esta lei, pelos regulamentos dela decorrentes e pelas disposições da legislação civil, comercial, trabalhista, previdenciária e penal, as empresas definidas no parágrafo anterior. (Incluído pela Lei nº 8.863, de 1994) 4º As empresas que tenham objeto econômico diverso da vigilância ostensiva e do transporte de valores, que utilizem pessoal de quadro funcional próprio, para execução dessas atividades, ficam obrigadas ao cumprimento do disposto nesta lei e demais legislações pertinentes. (Incluído pela Lei nº 8.863, de 1994) Como visto, ainda que pretenda a autora se enquadrar no inciso II, in fine (garantir o transporte de qualquer outro tipo de carga), considerando que seu objeto social é o monitoramento, rastreamento via satélite, seguimento de cargas em geral para apoio mecânico (fls. 15 - cláusula terceira), não se vislumbra o serviço de garantia do transporte nos moldes da Lei nº 7.102/83, voltada à parte de segurança propriamente dita. Até porque, se assim fosse, deveria comprovar o cumprimento dos demais requisitos legais, ainda que não promova a segurança ostensiva, o que não ocorreu no caso concreto. De reverso, a própria autora cuida de deixar bem claro, inclusive nas razões de apelação, que não presta serviços de segurança ostensiva, mas de verdadeiro apoio logístico, rastreando e monitorando via satélite os veículos das empresas que a contratam, para assegurar apoio mecânico, ou seja, socorro em casos de defeitos dos veículos, investigação de fraudes contra seguros, análise de riscos e constatações de roubos (fls. 81, segundo parágrafo). É um tipo de garantia diferente daquele tratado no âmbito da Lei nº 7.102/83. Tanto é assim, que o art. 30 da Lei nº 10.833/03 também se reporta à prestação de serviços de manutenção, segurança, vigilância, transporte de
valores, assessoria em seleção e riscos, o que corrobora a necessidade de, para se beneficiar da exceção contidas nos art s. 8º, da Lei nº 10.637/02 e 10 da Lei nº 10.833/036, estarem totalmente subsumidas à Lei nº 7.102/83 aquelas pessoas jurídicas que prestam serviços da mesma natureza. Não se trata, portanto, de qualquer tipo de serviço de transporte de valores nem de segurança e vigilância, mas apenas aqueles que efetivamente cumprem os requisitos específicos da Lei nº 7.102/83. Neste sentido: TRIBUTÁRIO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. LEI COMPLEMENTAR N. 118/05. PRESCRIÇÃO DECENAL. INOCORRÊNCIA. CONTRIBUIÇÃO AO PIS. MEDIDA PROVISÓRIA N. 1.212/95. PRESTADORA DE SERVIÇOS. EMPRESA DE VIGILÂNCIA. LEI N. 10.637/02. NÃO SUJEIÇÃO. COMPENSAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA. ART. 170- A CTN. I - Adoção do entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp n. 1.002.932/SP, representativo da controvérsia. II- Nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação ou auto-lançamento, o prazo prescricional flui do seguinte modo para os recolhimentos efetuados até a entrada em vigor da Lei Complementar n. 118/05, ocorrida aos 9 de junho de 2005: cinco anos, contados do fato gerador entendido como a data em que foi efetuado o recolhimento, para que a autoridade fiscal homologue o aludido pagamento; ao término desse prazo, sem manifestação da autoridade fiscal, dá-se a homologação tácita e, por conseguinte, inicia-se a fluência do prazo para o contribuinte pleitear judicialmente a restituição e/ou compensação, também de cinco anos. III- Observância ao princípio da anterioridade nonagesimal para as empresas prestadoras de serviços, tendo em vista que a Medida Provisória n.º 1.212/95 determinou, em seu art. 13, que, para as mesmas, a nova legislação apenas teria eficácia a partir de março/96. IV- O 1, do art. 3º, da Lei 9.718/98, reveste-se de inconstitucionalidade, reconhecida pelo Excelso Pretório, no julgamento do RE 346084/PR, ocorrido em 09.11.05, sob o fundamento de que o dispositivo em comento, ao ampliar o conceito de receita bruta para toda e qualquer receita, violou a noção de faturamento, prevista no art. 195, I, da Constituição da República, na sua redação original, que equivaleria ao de receita bruta das vendas de mercadorias, de mercadorias e serviços e de serviços de qualquer natureza. V- Tratando-se de empresa de vigilância submetida ao disposto na Lei n. 7.102/83, deve ser afastada a aplicação da Lei n. 10.637/02, mantida a exigibilidade da contribuição ao PIS nos termos da Lei Complementar n. 07/70 e Lei n. 9.715/98. VI- Adoção do entendimento firmado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que, tendo havido evolução legislativa em matéria de compensação de tributos, a lei aplicável é aquela vigente na data do ajuizamento da ação, e não aquela em vigor quando do pagamento indevido ou do encontro de contas. VII- A correção monetária das importâncias recolhidas indevidamente há de ser feita em consonância com a Resolução n. 134/2010, do Conselho da Justiça Federal. VIII- Os juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês (art. 161, CTN) são aplicáveis tão somente aos valores cuja decisão tenha transitado em julgado até dezembro de 1995 e, a partir de 1º de janeiro de 1996, incidem os
juros equivalentes à taxa SELIC. IX- A questão relativa aos efeitos do artigo 170-A, acrescentado pela Lei Complementar nº 104, de 10 de janeiro de 2001, ao Código Tributário Nacional, já se encontra pacificada pelo Superior Tribunal de Justiça por meio do regime dos recursos repetitivos, previsto no art. 543 -C do CPC. X- Remessa oficial parcialmente provida. Apelações improvidas. (AMS 00239486720094036100, DESEMBARGADORA FEDERAL REGINA COSTA, TRF3 - SEXTA TURMA, e-djf3 Judicial 1 DATA:15/09/2011 PÁGINA: 903..FONTE_REPUBLICACAO:.) Ante o exposto, nego provimento ao apelo da autoria, para manter a r. sentença É o voto. RELATÓRIO Trata-se de apelação em ação ordinária proposta em face da União, com vistas ao reconhecimento do direito da autora de recolher as contribuições devidas ao PIS/COFINS, nos termos do art. 8º, I, da Lei nº 10.637/2002 e art. 10, I, da Lei nº 10.833/2003, afastando-se a sistemática de recolhimento prevista no art. 30 desta última norma, porquanto é empresa prestadora de serviços dedicada ao ramo de segurança em transportes, de que trata a Lei nº 7.102/83, enquadrando-se na regra de exceção. A r. sentença julgou improcedente o pedido, ao argumento de que, embora as Leis nº s 10.637/02 e 10.833/03 estabeleçam previsão de afastamento da majoração das alíquotas das contribuições ao PIS, COFINS e CSL, quando se tratar de pessoas jurídicas que realizam atividades reguladas pela Lei nº 7.102/83, ou seja, exploração de serviços de vigilância e de transporte de valores, a autora não comprovou atender aos requisitos desta mesma lei, notadamente no que se refere à autorização anual para funcionamento. Neste contexto, não demonstrando estar autorizada a funcionar nos termos da norma específica, não pode se beneficiar de alíquotas menores. Apelou a parte autora, basicamente repisando os argumentos lançados na inicial, reforçando que, nos termos de seu contrato social, desenvolve atividade de monitoramento e rastreamento via satélite para seguimento de cargas em geral e apoio mecânico, serviço que garante o transporte de mercadorias e bens, exatamente como prevê a Lei nº 7.102/83, em seu art. 10, inciso II. Salienta que, como não exerce atividade repressiva e parapolicial, ou seja, de segurança ostensiva, não está obrigada a obter os certificados de segurança e revisões anuais realizados pela Polícia Federal, o que não descaracteriza a natureza dos serviços que presta, perfeitamente subsumidos à referida lei. Com contrarrazões subiram os autos a esta Corte. É o relatório. Sem revisão, na forma regimental.