Modelo Técnico da Amora Orientações técnicas para a produção de amora, na região norte e centro de Portugal continental, para o mercado em fresco Tendo em conta a expansão do mercado em fresco da amora nos últimos anos a nível mundial e a procura crescente que se tem verificado por este fruto, são propostas algumas orientações técnicas gerais para esta cultura, tendo em conta os investimentos avultados que estão associados à sua instalação e à exigência dos mercados. Estas orientações não esgotam em si todas as possibilidades técnicas para a produção de amora, e pretendem apenas ser, dentro de uma opção técnica geral, as mais acertadas para a região. Assim e dado ainda não se ter atingido um nível de apuro técnico e varietal para as amoras do tipo remontante que nos permitam propor orientações consolidadas para este tipo a nível comercial, apenas são propostas orientações técnicas para plantações com cultivares não remontantes. IMPLANTAÇÃO 1. Avaliação da aptidão da parcela em função do declive, solo, água e clima: Avaliação da fertilidade do solo (análise completa, bases de troca e micronutrientes). Avaliação da textura do solo. Análise completa de água de rega. Determinação do número de horas de frio, temperatura inferior a 7⁰C nos meses de dezembro a fevereiro. Análise de outros dados meteorológicos como a data da primeira e da última geada na primavera, direção e intensidade dos ventos. Pesquisa do histórico da parcela, nomeadamente dos seus precedentes culturais, possível persistência de herbicidas residuais, pragas, doenças, zonas de encharcamento. Análise da presença de amoras silvestres nas proximidades da parcela e que devem ser eliminadas. 2. Escolha da cultivar a plantar é função: Da época de produção em função do mercado que se pretende satisfazer. Da qualidade organolética do fruto, principalmente da sua vida pós colheita. Das horas de frio disponíveis no local de plantação, de forma a garantir uma produção regular de flores e frutos. 3. Preparação do solo: Tendo em conta que o sistema radicular da amora se encontra na sua maioria nos primeiros centímetros de profundidade, não são necessárias mobilizações de solo com profundidade superior a 50 cm.
A gama de ph ideal do solo para a amora situa-se entre os 6,0 e 6,5. Caso seja necessário corrigir o ph do solo, esta operação deverá ser realizada pelo menos seis meses antes da plantação. Na eventualidade da necessidade de uma calagem utilizar de preferência calcário dolomítico. Não incorporar estrumes ou chorumes que possuam alta salinidade. A amora não tolera o encharcamento, pelo que, caso necessário, devem-se efetuar trabalhos de drenagem. 4. Controlo de infestantes O controlo das infestantes de ser realizado no ano anterior à plantação. Cobertura do solo com plástico preto apenas na linha e com abertura de buracos com 10 cm de diâmetro a intervalos regulares para a plantação. 5. Armação e cobertura do solo A amora não deve ser plantada em solos pesados. Os solos ideais para a plantação de amora são os franco-arenosos. A cultura dispensa a armação do terreno. No caso de possibilidade de encharcamento temporário pode ser armado um camalhão baixo e largo (60 cm de largura no topo e 1,2 m na base com 20 a 25 cm de altura) com cobertura de plástico. O camalhão deverá ser efetuado de acordo com a orientação do declive e o padrão de drenagem do terreno. As entrelinhas deverão estar limpas e permitir a melhor transitabilidade possível no decorrer das operações culturais, nomeadamente a colheita. Em algumas zonas do norte do país e na cultura ao ar livre aconselha-se o enrelvamento da entrelinha. 6. Densidade de plantação: É função do tipo de amora (prostrada, ereta ou semi-ereta). Aconselha-se contudo a plantação de uma planta por metro linear. A distância na entrelinha é função da necessidade de passagem de máquinas e pessoas para a realização das diversas operações culturais, normalmente 2,5 metros. 7. Sistema de suporte: A escolha do sistema de suporte depende principalmente do tipo de amora (prostrada, ereta, semi-ereta) existindo inúmeras opções. O sistema de suporte em espaldeira simples com três fiadas de arame apresenta-se como o mais utilizado, sendo relativamente bem adaptado a todos os tipos. Em cultura protegida pode haver a necessidade de colocar no sistema de suporte travessas para suporte dos laterais. Neste caso o número aconselhado é de cinco. No caso das amoras aculeadas e de forma a facilitar a gestão dos lançamentos e a realização das várias operações culturais, é aconselhável a instalação de um sistema em
espaldeira dupla, separando os lançamentos vegetativos dos frutíferos em duas sebes distintas. 8. Cultura ao ar livre A cultura da amora ao ar livre pode ser realizada, desde que sejam instaladas redes de sombra ao vingamento dos frutos até ao fim da colheita, de forma a minimizarem-se os problemas de escaldão. A sensibilidade ao escaldão é uma característica varietal, pelo que poderão existir casos em que a função da rede está relacionada com a qualidade visual dos frutos. 9. Cultura protegida A produção de amora em cultura protegida é possível e aconselhável, apesar dos seus custos, pois permite a proteção contra algumas condições climatéricas adversas e a colheita de maior quantidade de fruta com qualidade. É indispensável quando se pretende a antecipação ou o alargamento da época de produção. 10. Sistema de rega É obrigatória a utilização de um sistema de fertirrega. Os gotejadores do sistema de rega devem possuir um espaçamento que é função da textura do solo (0,3 a 0,5 m) com dotações de 2 a 4 litros por hora. O sistema de rega deve ser automático e estar dimensionado em sectores que garantam a mesma dotação para plantas da mesma cultivar e estado de desenvolvimento. Deve ser assegurada a existência de uma reserva de água para pelo menos 2 a 5 dias, em caso de falha do sistema de rega. 11. Fertilização de fundo De acordo com as análises de solo. Incorporação de 20 40 t/ha de matéria orgânica que deve estar completamente decomposta e deve ser incorporada no solo durante o verão ou outono anterior à plantação. 12. Infraestruturas de apoio É obrigatória a existência de uma câmara frigorífica para manutenção da fruta em frio logo após a colheita. A cadeia de frio nunca pode ser quebrada, uma vez refrigerada a fruta. Tudo o que seja necessário implantar para obter a certificação GlobalG.A.P. Armazém com dimensões adequadas para máquinas, equipamentos, fatores de produção, pesagem da fruta, etc.
EXPLORAÇÃO 1. Poda e condução (aspetos gerais) Com as operações de poda e condução pretende-se controlar o tamanho das plantas, a disposição dos lançamentos e consequentemente a sua produtividade. Estas operações promovem a intensidade luminosa na canópia, promovendo a penetração da luz no seu interior, facilitam a realização das operações culturais, estimulam o crescimento de lançamentos secundários e eliminam lançamentos finos ou pouco vigorosos. O controlo do número de lançamentos e o encurtamento de lançamentos secundários são fundamentais para a produtividade final. 2. Poda Quando os lançamentos do ano crescem 20 cm para lá do último arame do sistema de suporte devem ser despontados. Durante o repouso vegetativo devem ser selecionados os lançamentos secundários que se encontrarem bem inseridos, com uma orientação paralela à linha, devendo ser encurtados a 15 nós ou 30 a 45 cm de comprimento. Ainda no inverno devem ser selecionados os lançamentos mais fortes por planta. A diversidade de comportamento das amoras, segundo os diferentes tipos, apenas permite estas generalizações. Pode afirmar-se que a poda tem que se ajustar para cada cultivar. 3. Condução dos lançamentos Os lançamentos das amoras devem ser conduzidos verticalmente e atados aos arames do sistema de suporte. No caso de estar instalado um sistema de suporte em espaldeira dupla, os lançamentos do ano devem ser atados à primeira fiada de arame assim que a alcançam, no lado oposto àquele em que estão atados os lançamentos frutíferos. 4. Densidade de lançamentos No inverno seleção no máximo de 8 lançamentos primários por metro de linha de cultura. 5. Fertilização A fertilização deve ser feita através do sistema de rega, recorrendo a adubos solúveis, tendo em conta os resultados das análises de solo e/ou foliares. As adubações azotadas muito fortes devem ser evitadas durante o período de crescimento vegetativo dos lançamentos.
6. Controlo das infestantes Na linha: esta deve ser mantida limpa de qualquer tipo de vegetação, sendo que a cobertura plástica do solo deve ser mantida ao longo dos anos, devendo-se assegurar apenas que os buracos da plantação são alargados antes do começo da emergência de novos lançamentos. Na entre-linha: pode optar-se por um sistema de solo nu, ou a instalação de enrelvamento que deve ser gerido de forma mecânica. 7. Controlo da rega A rega deve ser efetuada todos os dias em função da ETP e Kc. A amora pode necessitar de 5 a 7,5 litros por metro quadrado por dia, nos períodos mais críticos (fase de colheita e períodos mais quentes ou ventosos), pelo que pode ser necessário fracionar a rega em duas vezes por dia. A monitorização das dotações de rega e do sistema de rega devem ocorrer de forma sistemática quase diária. 8. Controlo de pragas e doenças Quer ao ar-livre quer em cultura protegida é frequente surgirem problemas de pragas e doenças típicas destes sistemas de produção. Deve ser dada especial atenção ao controlo das doenças fúngicas nos sistemas de produção ao ar-livre. 9. Colheita As colheitas devem ser efetuadas pelo menos 2 vezes por semana, no período de menor calor. Os frutos devem ser colhidos com uma coloração uniforme, completamente preta e calibres uniformes. A colheita deve ser realizada diretamente para as embalagens definitivas. Os frutos devem ser imediatamente colocados à sombra e refrigerados até duas horas após a colheita. OUTRA INFORMAÇÃO 1. Legislação O "Plano de Ação Nacional para o Uso Sustentável dos Produtos Fitofarmacêuticos", foi aprovado pela Portaria n.º 304/2013, de 16 de outubro. A aprovação do Plano vem dar cumprimento ao disposto no artigo 51.º da Lei n.º 26/2013 de 11 de abril, que regula as atividades de distribuição, venda e aplicação de produtos fitofarmacêuticos para uso
profissional, e de adjuvantes de produtos fitofarmacêuticos, e define os procedimentos de monitorização à utilização dos produtos fitofarmacêuticos, transpondo a Diretiva n.º 2009/128/CE, do PE e do Conselho de 21 de outubro, que estabelece um quadro de ação a nível comunitário para uma utilização sustentável dos pesticidas. GlobalGAP: Toda a documentação com as fases relevantes do processo de certificação GLOBALGAP (regulamento geral e outros) está acessível em português, na página: http://www.globalgap.org/. Promotor Co-promotor Parceiro Co-financiamento