Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara Departamento de Didática Alfabetização e Letramento

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Transcrição:

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara Departamento de Didática Alfabetização e Letramento Prof. Dr. Francisco José Carvalho Mazzeu 2011

MAZZEU, Francisco J. C. Alfabetização e Letramento. Apostila elaborada para o Programa de Educação Complementar da SME/Araraquara, FCL/UNESP &SME: Araraquara, 2011, mimeo. Permitida a reprodução total ou parcial (sem fins comerciais) desde que citada a fonte. Contato com o autor: fmazzeu@gmail.com 2

Questões iniciais para refletir e debater: 1. Quais as principais diferenças entre alfabetização e letramento? 2. Como se poderia alfabetizar e promover o letramento ao mesmo tempo? Magda Soares (2004) explica que: é em meados dos anos de 1980 que se dá, simultaneamente, a invenção do letramento no Brasil, do illettrisme, na França, da literacia, em Portugal, para nomear fenômenos distintos daquele denominado alfabetização (...) (p.6) O pressuposto dessa discussão nos outros países foi a constatação de que embora a população estivesse toda sendo alfabetizada, crescia o iletrismo, ou seja, a falta de uso adequado da linguagem escrita em contextos sociais de trabalho, lazer, etc. No Brasil, onde parte da população não consegue sequer atingir com êxito a alfabetização, o conceito de letramento acaba se misturando com o de alfabetização, gerando confusões e problemas. Magda Soares chama esse processo de desinvenção da alfabetização. Como resultado desse processo, o ensino sistemático de letras, sílabas, fonemas, etc., passou a ser visto como algo desnecessário, como se o contato da criança com textos e palavras já fosse suficiente para assegurar o aprendizado da leitura e escrita. 3

Em anos mais recentes, a mesma Autora observa um fenômeno que ela chama de re-invenção da alfabetização. Esse processo tem acontecido de uma maneira contraditória: De um lado, tem produzido uma retomada da especificidade da alfabetização, o que é extremamente necessário e urgente. Essa retomada implica que as relações entre fonemas e letras sejam objeto de ensino direto, explícito, sistemático. De outro lado, essa re-invenção tem servido de justificativa para a volta aos métodos tradicionais de alfabetização, seja pela adoção de antigas cartilhas, seja pelo uso de versões atualizadas desses métodos, como é o caso do método fônico (vide, por exemplo: CAPOVILLA, 2004). O perigo dessa volta ao tradicional é que deixa de lado as contribuições do construtivismo, incorporadas por muitos alfabetizadores e, sobretudo, conduz a uma separação entre a alfabetização e o letramento. É importante identificar algumas diferenças significativas entre ALFABETIZAÇÃO e LETRAMENTO: ALFABETIZAÇÃO Linguagem é objeto de estudo sistemático Focada nas relações grafemafonema Domínio dos processos de codificação e decodificação É um processo finito LETRAMENTO Linguagem é um instrumento em contextos sociais Focado na leitura e produção de textos Uso social da escrita Ocorre ao longo da vida 4

Ser alfabetizado:» É saber ler e escrever palavras, frases e pequenos textos em determinado idioma. Ser letrado:» É saber usar a linguagem escrita como ferramenta cultural em diferentes contextos sociais (trabalho, família, lazer). Questões para refletir: É possível ser letrado sem ser alfabetizado? É possível ser alfabetizado sem ser letrado? Decodificar (transformar as letras em sons) é o mesmo que ler? Por exemplo, qualquer pessoa alfabetizada é capaz de decodificar a frase abaixo: O mosco estrafegou as poderes. 1 No entanto sem conhecer o significado das palavras, o conteúdo da frase é incompreensível. Uma pessoa letrada, se necessário, irá buscar esse significa em um dicionário. Buscar informações em dicionários e outros meios de consulta constitui uma das capacidades decorrentes do processo de letramento. 1 Ver explicação do significado da frase no site: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=306fds001 5

Conclusão Mas como fazer isso???? 6

Como alfabetizar e promover o letramento ao mesmo tempo Algumas propostas e sugestões: Introduzir na alfabetização textos reais e práticas de leitura e escrita, sem deixar de lado o trabalho com letras e fonemas Nas oficinas de música, inclusão digital,etc., por meio do incentivo à leitura de variados tipos de texto (começando por aqueles que as crianças mais gostam e são mais curtos e fáceis) Através das Oficinas de Texto, trabalhando as duas dimensões principais do texto: seu conteúdo e sua forma Por que trabalhar o conteúdo do texto e não apenas as letras, sílabas, fonemas? A tirinha abaixo fornece um ponto importante de reflexão. O estudo das letras e fonemas pode favorecer a alfabetização, mas não promove o letramento e a formação de cidadãos críticos. É sempre importante lembrar que aprender a decodificar palavras é parte fundamental da alfabetização e requer muitos exercícios, inclusive de repetição dos fonemas, letras, sílabas. No entanto é também imprescindível estar atento ao conteúdo das palavras, frases e textos usados para fazer esses exercícios. 7

Muitos foram (e ainda são) alfabetizados assim...... mas se tornam letrados por esforço próprio, apoio familiar, circunstâncias da vida, etc... O mérito não é das cartilhas ou dos métodos. Também não há nenhum pecado em usar uma cartilha, especialmente no caso de alfabetizadores iniciantes e pouco experientes. O problema é se acomodar somente com essa opção e acreditar que existe apenas um caminho para aprender a ler e escrever. 8

Uma crença comum na alfabetização tradicional é a de que o primeiro passo é ensinar ao aluno as letras do alfabeto. Quando se propõe uma Alfabetização através de Textos muitos professores dizem que é impossível uma criança ler um texto sem que ela saiba antes as letras e fonemas das palavras desse texto. Uma forma de problematizar essa crença é analisar uma palavra escrita em outro idioma, bastante diferente do nosso: É evidente que a maioria das pessoa letradas na língua portuguesa desconhece os caracteres que compõe esse idioma. Isso não impediria, por exemplo, que esses caracteres fossem copiados nos cadernos. A cópia é uma reprodução do desenho das letras, que não requer um domínio nem do seu valor sonoro, nem do seu significado. Por isso é possível encontrar (com certa frequência) crianças que copiam perfeitamente o que a professora escreve na lousa, porém não estão alfabetizadas (muito menos letradas). 9

O mesmo conjunto de caracteres que parecia indecifrável a um leitor brasileiro pode se tornar compreensível se estiver inserido em um texto, especialmente se for acompanhado de figuras conhecidas desse leitor. É o caso por exemplo do texto abaixo, em que se percebe os mesmos caracteres como nomes de personagens da Turma da Mônica. Um leitor atento concluirá que na parte superior está escrito turma da Mônica, ao passo que acima do personagem está escrito apenas Mônica. Dessa forma, foi possível ler a palavra sem conhecer cada um dos caracteres em questão e seu valor sonoro. Pode-se inclusive reconhecer a palavra em outros contextos e formatos gráficos como por exemplo: É claro que não faz sentido para um falante da língua portuguesa aprender a reconhecer cada palavra através desse processo, mas isso mostra que a leitura não é um processo linear que possa ser reduzido a uma só estratégia. 10

Como alfabetizar letrando (esboço de uma proposta) Observações importantes: As ideias e sugestões a seguir são resultados parciais do projeto Alfabetização: o trabalho e o texto como elementos fundamentais de uma abordagem emancipatória desenvolvido junto ao Departamento de Didática da Unesp. Por ser parte de um processo de pesquisa, vários aspectos podem (e devem) ser melhorados. Cada um desses passos precisaria ser explicado e justificado teoricamente, o que não cabe no espaço e na finalidade desta apostila. A apresentação na forma de passos tem uma finalidade de tornar mais didática a exposição. Também tem uma intenção provocativa, já que em educação se tornou um clichê dizer que não se pode dar receitas, o que embora sendo verdade, pode servir como pretexto para justificar a ausência de propostas concretas para o trabalho em sala de aula. Por uma questão de concepção pedagógica, prefiro confiar na inteligência e na capacidade dos professores para aproveitar dessas sugestões somente o que for adequado à sua realidade. Passos: 1. Levantar um conjunto de Temas significativos para o universo cultural das crianças. Exemplos: Brincadeiras Família Amizade Estudo/escola Viagens Informática/tecnologias Trabalho/dinheiro Namoro Briga Beleza Televisão 2. Selecionar um conjunto de Textos adequados à linguagem infantil, preferencialmente com imagens, relacionados aos Temas. Diversificar os gêneros: Histórias em quadrinhos/ Charges Narrativas (fábulas, contos de fadas) Textos publicitários Notícias e reportagens Textos informativos E-mails, cartas Manuais e Receitas, etc. 11

O trabalho com um texto. Exemplo: Tirinha disponível no site: www.monica.com.br 12

Passos: 3. Identificar o gênero textual e a função social do texto 4. Localizar o título (se houver) 5. Utilizar os elementos visuais como suporte para uma compreensão inicial (sincrética) do texto: ler as figuras 6. Ler o texto em voz alta com os alunos acompanhando 7. Levar os alunos a perceberem o sentido subjacente ao texto: o subtexto, através de questões problematizadoras. Por exemplo: Por que a Mônica fez aquela pergunta? Por que o espelho não falou nada? O que poderia acontecer se ele respondesse? As repostas que os alunos derem a essas perguntas fornecem elementos para captar o SENTIDO do texto. Fazem parte desse sentido: O motivo pelo qual a Mônica fez a pergunta ao espelho (referência à história da Branca de Neve) O motivo pelo qual o espelho não falou com a Mônica (o medo de apanhar, de ser quebrado) Os motivos que o leitor teria para se identificar com algum dos personagens ou com o enredo: vaidade, conceito de beleza, bater/apanhar, medo, violência Depois de trabalhar o conteúdo, seria possível explorar a forma do texto. Isso pode ser feito através da Identificação de uma ou mais palavras-chaves e trabalho com essa(s) palavra(s), de acordo com o nível e as dificuldades ortográficas das crianças. Nesse texto, por exemplo, poderiam ser trabalhadas as palavras BELA, ESPELHO ou outras. 13

Exemplo: Trabalho com a palavra-chave BELA Passos: 1. Identificação da palavra no texto 2. Apresentação da palavra destacada 3. Leitura pausada 4. Decomposição da palavra em sílabas e letras BELA BE LA B E L A 5. Apresentação e cópia da palavra em letra cursiva 6. Formação das famílias silábicas B L A E I O U ÃO 14

7. Cópia das famílias silábicas em letra cursiva 8. Formação de novas palavras com as sílabas estudadas 9. Classificação das palavras formadas (nomes ações outros) 10. Formação de frases a partir dos verbos encontrados 11. Exercícios de fixação (incluir jogos como caça-palavras, palavras cruzadas, etc.) 15

Elaboração de um novo texto com base no texto original Após o trabalho com as letras, silabas e fonemas da palavra-chave, é importante desafiar os alunos a produzirem um novo texto, modificando o texto original. Para isso é possível, por exemplo, fazer modificações na história em quadrinhos original, criando uma nova situação: 16

O material pode ser explorado oralmente, com o propósito de identificar o que poderia ocorrer na sequência: Haveria uma discussão? A Mônica quebraria o espelho? Nesse caso, o que aconteceria com ela? Depois de trabalhar oralmente, as crianças podem desenhar e escrever o restante da história, individualmente ou em grupos. No final da atividade é importante socializar os textos produzidos para que todos possam ler e dar retorno aos autores. Oportunidades para trabalhar com esse tipo de texto na Educação Complementar Informática: Ler outras histórias ou produzi-las pelo site: www.monica.com.br Cuidados pessoais: Como ficar mais bonito(a)? Quando eu olho no espelho, o que eu vejo? Valores: Avaliar o comportamento da Mônica (agressividade, impaciência) e do espelho (mentir, disfarçar, ter medo). Quais outras oportunidades e formas de trabalho se pode encontrar para desenvolver a alfabetização e o letramento na Educação Complementar? 17

Para refletir: Um texto não serve apenas para ser lido, mas pode ser vivido. E pode mudar uma vida! Por isso é importante promover a alfabetização e o letramento de todos os alunos. Referências citadas: CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F. C. Alfabetização: método fônico. São Paulo: Memnon, 2004. SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, n. 25, Abr. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1413-24782004000100002&lng=en&nrm=iso. Acesso em 22/02/2011. 18