CARACTERIZAÇÃO DOS DIFERENTES REGIMES DE ESCOAMENTO PRESENTES EM UM TAMBOR ROTATÓRIO

Documentos relacionados
ESTUDO DOS DIFERENTES REGIMES DE ESCOAMENTO PRESENTES EM UM TAMBOR ROTATÓRIO

TAMBOR ROTATÓRIO OPERANDO NO REGIME DE ROLAMENTO: UM ESTUDO EXPERIMENTAL E NUMÉRICO

EFEITO DOS PARÂMETROS DO MODELO DE HERTZ-MINDLIN DE FORÇAS DE CONTATO ENTRE PARTÍCULAS SOBRE O ÂNGULO DE REPOUSO ESTÁTICO DA SOJA

CARACTERIZAÇÃO DOS REGIMES DE ESCOAMENTO NO INTERIOR DE UM TAMBOR ROTATÓRIO POR MEIO DE EXPERIMENTOS E TÉCNICAS DE CFD

SIMULAÇÃO DEM DO EMPACOTAMENTO DE SEMENTES DE ACEROLA

ESTUDO EXPERIMENTAL E NUMÉRICO DA DINÂMICA DE CORPOS MOEDORES EM MOINHOS DE BOLA

ANÁLISE DA SEDIMENTAÇÃO DE MICROESFERAS DE VIDRO EM SUSPENSÕES PSEUDOPLÁSTICAS DE CARBOXIMETILCELULOSE

FIS-26 Prova 01 Março/2011

ESTUDO DO EFEITO DE PARÂMETROS DE UMA MODELAGEM DEM PARA ESTIMATIVA DE ÂNGULO DE REPOUSO DE UMA MISTURA CONSTITUÍDA POR SOJA E SEMENTES DE ACEROLA

PARTÍCULAS SÓLIDAS PARA AS OPERAÇÕES ABAIXO, O CONHECIMENTO DAS PROPRIEDADES DAS PARTÍCULAS SÓLIDAS É FUNDAMENTAL:

Instituto Politécnico de Tomar Escola Superior de Tecnologia de Tomar ÁREA INTERDEPARTAMENTAL DE FÍSICA

Lista 12: Rotação de corpos rígidos

UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS DE FILMAGEM PARA OBTENÇÃO DO DIÂMETRO DE BOLHAS EM COLUNA DE FLOTAÇÃO

LEIA ATENTAMENTE AS INSTRUÇÕES ABAIXO:

2 Metodologia. Simulação de defeitos pontuais em um sólido de Lennard-Jones

Escoamento completamente desenvolvido

TÍTULO: DESENVOLVIMENTO DE UM KIT DIDÁTICO DE PERDA DE CARGA CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: ENGENHARIAS E ARQUITETURA SUBÁREA: ENGENHARIAS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Física Gleb Wataghin F o semestre Fernando Sato Prova 3 (Gabarito) - Diurno - 23/06/2008

ESTUDO DO DESEMPENHO DE CORRELAÇÕES DE ARRASTO SÓLIDO-GÁS NA SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE UM LEITO FLUIDIZADO BORBULHANTE

Lista 9 : Dinâmica Rotacional

6 Análise Dinâmica. 6.1 Modelagem computacional

Considerando a variação temporal do momento angular de um corpo rígido que gira ao redor de um eixo fixo, temos:

Dinâmica de uma Bola: a outra Crise do Futebol

F A. Existe um grande número de equipamentos para a medida de viscosidade de fluidos e que podem ser subdivididos em grupos conforme descrito abaixo:

Curso de Engenharia de Petróleo Disciplina: Nota: Rubrica

ESCOAMENTOS UNIFORMES EM CANAIS

"UM MÉTODO DE MEDIDA DA EXPANSÃO TÉRMICA VOLUMÉTRICA DIFERENCIAL PARA AMOSTRAS CRISTALINAS DE DIMENSÕES REDUZIDAS*"

PREVISÃO DE COEFICIENTES DE WIEBE PARA UM MOTOR SI BASEADO EM

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL CURSOS DE ENGENHARIA DE ENERGIA E MECÂNICA MEDIÇÕES TÉRMICAS Prof. Paulo Smith Schneider

Mecânica I (FIS-14) Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Pelá Sala 2602A-1 Ramal 5785

CURSO de FÍSICA - Gabarito

Como os antigos egípcios levantaram os gigantescos blocos de pedra para construir a grande Pirâmide?

ANALISE E PROJETO DE HIDROCICLONES PARA O PROCESSAMENTO DE LODO PROVIDO DA INDÚSTRIA TÊXTIL

PROCESSAMENTO DE SEMENTES DE URUCUM EM LEITO DE JORRO

Exame Mecânica e Ondas Curso: MIEET data: 02/05/12. Nome:... Número:... Grupo I (10 valores)

Transferência de calor por convecção

A viscosidade 35 Grandeza física transporta e sentido da transferência 35 Experiência 03: o modelo do baralho 35 Modelo de escoamento em regime

Theory Portuguese (Portugal) Antes de iniciar este problema, leia cuidadosamente as Instruções Gerais que pode encontrar noutro envelope.

Avaliação Prática Seleção Final 2016 Olimpíadas Internacionais de Física 11 de Abril 2016

Fisica 1 A B. k = 1/4πε 0 = 9, N.m 2 /C Um automóvel faz o percurso Recife-Gravatá a uma velocidade média de 50 km/h.

Lista: Energia e Impulso (Explosões, Choques)

a unidade de θ em revoluções e do tempo t em segundos (θ(rev.) t(s)). Também construa o gráfico da velocidade angular ω em função do tempo (ω( rev.

USO DE SIMULAÇÃO NUMÉRICA PARA CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO AERODINÂMICO DE VEÍCULOS TERRESTRES

d) [1,0 pt.] Determine a velocidade v(t) do segundo corpo, depois do choque, em relação à origem O do sistema de coordenadas mostrado na figura.

Frequentemente é necessário separar os componentes de uma mistura em frações individuais.

LEIS DE NEWTON DINÂMICA 3ª LEI TIPOS DE FORÇAS

LEIA ATENTAMENTE AS INSTRUÇÕES ABAIXO:

MODELAGEM E SIMULAÇÃO DE HIDROCICLONES INDUSTRIAIS PARA A SEPARAÇÃO DE ALUMINA/LICOR

ENG1200 Mecânica Geral Semestre Lista de Exercícios 6 Corpos Submersos

Enquanto o sólido deforma limitadamente, os fluidos (líquidos e gases) se deformam continuamente.

FÍSICA. Questões de 01 a Um motorista dentro de um carro, inicialmente em repouso, encontra-se a uma distância x

Tubo de Pitot. Usado para medir a vazão; Vantagem: Menor interferência no fluxo; Empregados sem a necessidade de parada;

Física 1. 2 a prova 02/07/2016. Atenção: Leia as recomendações antes de fazer a prova.

Importante: i. Nas cinco páginas seguintes contém problemas para se resolver e entregar. ii. Ler os enunciados com atenção.

Conceitos matemáticos:

AVALIAÇÃO DA RAZÃO DE LÍQUIDO E DO DIÂMETRO DE CORTE DE UM HIDROCICLONE CONCENTRADOR DE BAIXO GASTO ENERGÉTICO

Prof. Juan Avila

1 a experiência Escoamento ao redor de um cilindro

QUESTÃO 16 QUESTÃO 17 PROVA DE FÍSICA II

A força resultante sobre um corpo é igual ao produto da massa do corpo pela aceleração do corpo. Em termo de equação temos

A Aerodinâmica da Bola de Futebol

PG0054 Transferência de Calor B

Data: Metodologia utilizada/descrição das atividades (anexar modelos): Em anexo.

3 Métodos Numéricos Análise das Equações de Movimento

Lista 10: Dinâmica das Rotações NOME:

Máquinas de Fluxo Prof. Dr. Emílio Carlos Nelli Silva Escola Politécnica da USP Departamento de Engenharia Mecatrônica e Sistemas Mecânicos

Física I Reposição 2 3/12/2014

Conceitos de Engenharia de Reservatório

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ENGENHARIA QUÍMICA LOQ4085 OPERAÇÕES UNITÁRIAS I

Mecânica dos Fluidos I

Curso de Engenharia de Produção Disciplina: Nota: Rubrica

ANÁLISE ESTRUTURAL DOS ESFORÇOS SOFRIDOS DURANTE O VOO DE UM AVIÃO BOEING USANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

ESTUDO E ANÁLISE DA MISTURA DE ÁGUA E ETANOL ATRAVÉS DE EQUAÇÕES DE ESTADO.

Notas de Aula de Física

REVISÃO 1º ANO PP 2 ETP. Prof. Eng. João Lucas Torres

2. Determine as intensidades das forças nos cabos para os seguintes casos: 60 o

Análise com Fluidodinâmica Computacional do Efeito do Movimento Angular Jogo na Eficiência de Separadores Gravitacionais

Estrutura física da matéria Difração de elétrons

defi departamento de física

Estudo da densidade de fluidos incompressíveis através de um tubo em U

Professor: José Junio Lopes

Física 1. Prof. Marim. Prof. Marim

FORÇA e INTERAÇÕES. Forças de contacto Quando uma força envolve o contacto direto entre dois corpos

incidência igual a 0. Após incidir sobre essa superfície, sua velocidade é reduzida a 5 6 sen θ θ

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE FACULDADE DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE MECÂNICA Instalações Térmicas 2º Teste 120 minutos 11 de Outubro de 2013

1 - Motivações Produção de petróleo em poços brasileiros: ocorrência de escoamento trifásico; Possibilidade de elevação do petróleo assistida por água

Série IV - Momento Angular (Resoluções Sucintas)

Professor: Eng Civil Diego Medeiros Weber.

Questão 11. Questão 13. Questão 12. Resposta. Resposta. b) a intensidade da força de atrito entre os dois blocos.

EVOLUÇÃO MORFOLÓGICA DE FILMES FINOS DE ZnO CRESCIDOS POR RF MAGNETRONS SPUTTERING

3 a Questão (teórica) Considerando o dimensionamento clássico da área de armadura, podem existir casos que necessitem de uma linha neutra β x?

Mecânica I (FIS-14) Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Pelá Sala 2602A-1 Ramal 5785

Problemas e exercícios do capítulo 5

Aula 25 Radiação. UFJF/Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica. Prof. Dr. Washington Orlando Irrazabal Bohorquez

Disponível em: < [Adaptado] Acesso em: 17 ago

Prova P1 Física para Engenharia II, turma set. 2014

FÍSICA - 2 o ANO MÓDULO 01 HIDROSTÁTICA: INTRODUÇÃO

Mecânica dos Fluidos. Análise Dimensional AULA 18. Prof.: Anastácio Pinto Gonçalves Filho

Laboratório de Física

Aplicando as condições iniciais: 0 0, h0. temos:

Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO DOS DIFERENTES REGIMES DE ESCOAMENTO PRESENTES EM UM TAMBOR ROTATÓRIO R. SCATENA 1, L.C. FERREIRA 1, D.A. SANTOS 1, C.R. DUARTE 1, M.A.S. BARROZO 1 1 Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Química E-mail para contato: rafascatena@gmail.com RESUMO Foi realizada uma investigação experimental acerca das principais características do fenômeno de transição entre os diferentes regimes de escoamento presentes em tambores rotatórios. Observou-se, pela primeira vez na literatura, o fenômeno de histerese presente quando da transição entre os regimes de catarateamentocentrifugação. Foi proposta uma equação de velocidade crítica para a transição entre os regimes de catarateamento-centrifugação, a qual se mostrou função da fração de preenchimento e das propriedades físicas dos materiais. 1. INTRODUÇÃO Dependendo de algumas características geométricas e operacionais, tais como, velocidade de rotação, fração de preenchimento, diâmetro do tambor e propriedades do material particulado, tambores rotatórios podem apresentar diferentes regimes de escoamento em seu interior: escorregamento, caimento, rolamento, cascateamento, catarateamento e centrifugação. Os regimes de caimento, rolamento e cascateamento, são os regimes de escoamento mais utilizados em processos industriais, como por exemplo, granulação, mistura, secagem e recobrimento, enquanto que o regime de catarateamento é, principalmente, empregado nos processos de moagem. Por outro lado, os regimes de escorregamento e centrifugação não são utilizados em nenhum processo industrial e devem ser evitados (Mellmann, 2001). A maioria destes regimes tem sido investigados por diversos pesquisadores, principalmente o regime de rolamento (Boateng e Barr, 1997; Ding et al., 2001; Santomaso et al., 2003; Chou et al., 2010; Demagh et al., 2012; Santos et al., 2013), embora a literatura apresente um restrito número de trabalhos dedicados ao fenômeno de transição entre os regimes (Watanabe, 1999; Mellmann, 2001; Juarez et al., 2011). Baixas velocidades de rotação combinadas com uma parede lisa do tambor induzem a ocorrência dos regimes de deslizamento e caimento. O regime de deslizamento é caracterizado por um leito de material estático deslizando sobre a parede do tambor sem nenhum grau de mistura entre as partículas. No regime de caimento, um certo grau de mistura é alcançado em virtude das constantes avalanches que ocorrem no leito de material após atingir um ângulo de repouso crítico. À medida que a velocidade de rotação do tambor aumenta, ocorre a transição para o regime de Área temática: Fenômenos de Transporte e Sistemas Particulados 1

rolamento. Este regime apresenta uma superfície de leito plana com uma inclinação constante, caracterizando o ângulo de repouso dinâmico do material. A superfície do leito começa a arquear, apresentando formato de feijão, com um maior aumento da velocidade de rotação, correspondendo ao regime de cascateamento. Em altas velocidades de rotação, o regime de catarateamento é observado, onde as partículas começam a serem lançadas do leito de material para o espaço vazio do tambor (Mellmann, 2001; Juarez et al., 2013). De acordo com Watanabe (1999), a velocidade crítica necessária para atingir o regime de centrifugação pode ser definida de duas maneiras: a velocidade crítica é alcançada quando todas as partículas são lançadas de encontro à parede do tambor formando um único anel (Figure 1a); por outro lado, quando apenas a camada mais externa do leito de material forma um anel, a velocidade crítica é alcançada (Figura 1b). Figura 1 Definições de transição para o regime de centrifugação: (a) quando todas as partículas formam um anel; (b) quando somente a camada mais externa do leito forma um anel. Desta forma, existem diferentes expressões na literatura para a velocidade crítica em função da geometria do tambor e das propriedades do material particulado dependendo das definições mostradas anteriormente. O número de Froude, Fr=ω 2 R/g, é definido como sendo a razão entre as forças centrifuga e gravitacional, sendo ω, R e g a velocidade de rotação do tambor, o raio do tambor e a aceleração gravitacional, respectivamente. Desta forma, na mecânica clássica, o equilíbrio de forças é alcançado quando o número de Froude e igual a 1 e a velocidade de rotação correspondente é dita velocidade crítica para centrifugação (ω C ): C g R (1) A Equação 1 é função apenas da geometria do tambor e não leva em consideração nem as propriedades físicas das partículas nem outras condições operacionais, como por exemplo, a fração de preenchimento do tambor. Walton e Braun (1993) propuseram uma modificação da Equação 1 através da introdução do ângulo de repouso do material (θ S ): Área temática: Fenômenos de Transporte e Sistemas Particulados 2

C g Rsin (2) S Como constatado por alguns autores (Watanabe, 1999; Mellmann, 2001), a velocidade crítica para a centrifugação depende significativamente da fração de preenchimento do tambor. A Equação 2 é estritamente válida somente quando a fração de preenchimento do tambor se aproxima de 1. Para o caso em que todas as partículas formam um anel (Figura 1a), a velocidade crítica como uma função da fração de preenchimento (f), pode ser expressa como a seguir (Watanabe, 1999): C g Rsin 1 S f (3) Juarez et al. (2011) estudaram os efeitos do diâmetro de partículas, fração de preenchimento e fluido intersticial sobre a velocidade crítica para centrifugação em um tambor rotatório quasebidimensional por meio de experimentos e simulações numéricas. Baseando-se em experimentos utilizando sistemas granulares em meio líquido, os autores propuseram a seguinte expressão para a velocidade crítica, sendo ρ f e ρ S as densidades das fases sólida e líquida, respectivamente: C g 1 / Rsin 1 f S f S (4) Embora algumas expressões para a velocidade crítica tenham sido propostas, o fenômeno de transição entre os diferentes regimes ainda necessita ser investigado de forma sistemática. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo realizar um estudo experimental no intuito de um melhor entendimento acerca do fenômeno de transição entre os diferentes regimes presentes em um tambor rotatório, relacionando a velocidade crítica com as diferentes propriedades dos materiais, tais como, esfericidade, densidade, diâmetro e coeficiente de atrito. 2. MATERIAIS E METODOLOGIA O tambor rotatório utilizado no presente trabalho foi construído em aço inox contendo 50 cm de comprimento e 21,5 cm de diâmetro interno. A parede frontal foi confeccionada em vidro transparente para possibilitar a visualização do escoamento granular em seu interior. Os seguintes regimes de escoamento granular foram investigados: rolamento, cascateamento, catarateamento e centrifugação (Figura 1). Logo, para se evitar o deslizamento do material sobre a parede do tambor, o interior do mesmo foi revestido com uma lixa (P80). Área temática: Fenômenos de Transporte e Sistemas Particulados 3

Figura 2 Regimes de escoamento investigados no presente trabalho: (a) rolamento; (b) cascateamento; (c) catarateamento; (d) centrifugação. Vale ressaltar que, no presente trabalho, a velocidade crítica para centrifugação foi considerada como aquela na qual apenas a camada mais externa do leito de material forma um anel (Figura 2d). No intuito de se investigar a dinâmica de partículas presentes no tambor rotatório, sete diferentes materiais particulados foram utilizados: arroz, soja, esfera de vidro, comprimido e milho. Para a medida da densidade (ρ s ) dos diferentes materiais utilizou-se um picnometro a gás hélio (Micromeritics AccuPyc 1331). A caraterização do tamanho das partículas foi feita utilizando-se o diâmetro característico ou volumétrico (D V ) o qual corresponde ao diâmetro de uma esfera de igual volume que a partícula. Uma análise dinâmica de imagens foi realizada com o objetivo de se medir a esfericidade das partículas. Para tanto, o sistema dinâmico de analise de imagens CAMSIZER foi empregado. Este equipamento permite o armazenamento e processamento de um grande número de imagens projetadas de partículas individuais. A partir da análise das imagens foi possível medir a esfericidade (ϕ) das diferentes partículas utilizando a seguinte equação (Peçanha e Massarani, 1980), sendo d CI e d CC, os diâmetros de um círculo inscrito e circunscrito à partícula, respectivamente: d d CI CC (5) O coeficiente de atrito partícula-parede foi determinado através da elevação de um plano inclinado revestido com a mesma lixa com a qual foi revestido o interior do tambor. Quando a camada de partículas, sobre o plano inclinado, tendia ao deslizamento, o ângulo de inclinação (β) correspondente era utilizado no cálculo do coeficiente de atrito partícula-parede (µ p-w ) (Equação 6): pw tang( ) (6) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As principais propriedades físicas, no que se refere à dinâmica das partículas, dos diferentes materiais investigados no presente trabalho foram medidas e estão dispostas na Tabela 1, sendo ρ S, D V, ϕ e µ p-w a densidade, o diâmetro volumétrico, a esfericidade e o coeficiente de atrito partículaparede, respectivamente. Área temática: Fenômenos de Transporte e Sistemas Particulados 4

Tabela 1 Propriedades físicas dos diferentes materiais. Materiais ρ S [kg/m 3 ] D V [m] ϕ [-] µ p-w [-] comprimido 1517 0,00662 0,50 0,90 milho 1288 0,00788 0,66 0,76 arroz 1465 0,00277 0,35 0,73 soja 1164 0,00639 0,84 0,31 esfera de vidro A 2460 0,00113 0,91 0,48 esfera de vidro B 2460 0,00422 0,86 0,35 A Figura 3 a seguir mostra as curvas de transição entre os diferentes regimes de escoamento presentes em um tambor rotatório para os diferentes materiais. Figura 3 Curvas de transição entre os diferentes regimes de escoamento: (a) comprimido; (b) milho; (c) arroz; (d) soja; (e) esfera de vidro A; (f) esfera de vidro B. Todas as curvas foram obtidas a partir da observação da ocorrência da transição entre os regimes tanto por meio do aumento da velocidade de rotação (dita curva de ida) como através da Área temática: Fenômenos de Transporte e Sistemas Particulados 5

diminuição da velocidade de rotação do tambor (dita curva de volta). Apenas a transição entre os regimes de catarateamento-centrifugação mostrou diferença entre as curvas de ida e de volta, logo, as curvas de volta para a transição entre os outros regimes foram omitidas da Figura 4. Desta forma, pôde-se observar, pela primeira vez na literatura, o fenômeno de histerese quando da transição entre os regimes de catarateamento-centrifugação. Nota-se que, para a transição entre todos os regimes de escoamento, houve a necessidade de um aumento na velocidade de rotação quando da diminuição da fração de preenchimento, sendo este aumento mais pronunciado na transição entre os regimes de catarateamento-centrifugação. É interessante notar também que, para a transição catarateamento-centrifugação, à medida que a fração de preenchimento aumenta, F r 1 para todos os diferentes materiais, ou seja, a Equação 1 torna-se válida. Visto que a condição para a transição entre os regimes de catarateamento-centrifugação dada pela Equação 1 (F r =1) é valida somente quando a fração de preenchimento (f) tende a 1, os autores do presente trabalho propõe a seguinte equação para o número de Froude crítico (F rc ) (Equação 7): Frc 1 exp( f) (7) Substituindo F rc =ω c 2 R/g na Equação 7, tem-se a seguinte equação para a velocidade de rotação crítica do tambor (Equação 8): g1 exp f c (8) R O termo λexp(-τf) presente na Equação 8, anula-se quando a fração de preenchimento (f) tende a um valor alto, condizendo, desta forma, com a Equação 1 (F rc =1). Nota-se que, quando f 0, a velocidade crítica ou o número de Froude crítico, tende a um valor máximo (F rc >1). Logo, o parâmetro λ corresponde ao acréscimo dado à velocidade de rotação ou ao número de Froude necessário para se atingir o regime de centrifugação quando a fração de preenchimento tende a um valor nulo. Por outro lado, o parâmetro τ corresponde á taxa de decaimento da velocidade crítica em função do aumento da fração de preenchimento. Os valores dos parâmetros λ e τ, tanto para a curva de centrifugação de ida (λ I, τ I) quanto para a curva de volta (λ V, τ V), para os diferentes materiais, foram determinados por meio de regressões não lineares e são dispostos na Tabela 2. Os coeficientes de determinação, R 2, relativo aos ajustes estatísticos das curvas mostradas na Figura 4 foram maiores do que 0,98 para todas as condições. Observa-se, a partir da Tabela 2 que, os maiores valores do parâmetro λ foram observados para as partículas contendo os maiores valores de esfericidade (ϕ) e os menores valores de coeficiente de atrito partícula-parede (µ p-w ). Desta forma, altos valores de esfericidade levam a uma menor área de contato partícula-parede e, consequentemente, à baixos valores de coeficientes de atrito partículaparede, necessitando, desta forma, de uma maior velocidade de rotação para atingirem o regime de Área temática: Fenômenos de Transporte e Sistemas Particulados 6

centrifugação, principalmente para baixos valores de fração de preenchimento, o que se mostra fisicamente coerente. Tabela 2 Parâmetros λ e τ ajustados através da Equação 8. Curva de Ida Curva de Volta Materiais λ I τ I λ V τ V comprimido 0,88 2,34 0,66 2,37 milho 1,25 3,33 0,96 3,30 arroz 0,97 2,89 0,8 2,88 soja 4,4 6,66 1,49 6,18 Esfera de vidro A 3,24 6,00 1,15 3,64 Esfera de vidro B 8,38 8,35 1,23 6,44 Nota-se também que, o fenômeno da histerese foi mais acentuado para partículas com maiores valores de esfericidades (ϕ) e menores valores de coeficientes de atrito (µ p-w ) (Figura 4d, e e f), pelos mesmos motivos destacados anteriormente, o que pode ser comprovado quando subtraímos λ V de λ I para todos os materiais contidos na Tabela2. Dentro do grupo das partículas que possuem baixos valores de esfericidade (comprimido, milho e arroz), os valores de λ I e λ V, τ I e τ V se mostraram próximos, independentemente dos valores de densidade e diâmetro das partículas. As esferas de vidro A e B possuem mesma densidade, porém diferentes diâmetros. O maior diâmetro da esfera de vidro B pode ter levado a uma acentuada histerese (λ I - λ V ) e a uma alta taxa de decaimento quando comparada com a esfera de vidro A. Desta forma, pôde-se comprovar uma influência significativa das propriedades das partículas, além da fração de preenchimento, sobre o fenômeno de transição entre os diferentes regimes de escoamento. Estudos experimentais adicionais, englobando outros materiais particulados, devem ser realizados a fim de se validar a Equação 8 proposta no presente trabalho. 4. CONCLUSÃO Com base no exposto nos capítulos precedentes, pode-se concluir que: Foi possível, através de um estudo experimental, investigar as principais características presentes no fenômeno de transição entre os diferentes regimes de escoamento em tambores rotatórios utilizando-se diferentes materiais particulados; Observou-se, pela primeira vez na literatura, o fenômeno de histerese presente quando da transição entre os regimes de catarateamento-centrifugação; Foi proposta uma equação de velocidade crítica para a transição entre os regimes de catarateamento-centrifugação que é função da fração de preenchimento e das propriedades físicas dos materiais. Área temática: Fenômenos de Transporte e Sistemas Particulados 7

5. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelos recursos concedidos no Projeto de Participação Coletiva em Eventos Técnico-Científicos (PCE- 00082-14). Os autores agradecem, também, à CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro concedido por meio de bolsas de pesquisa. 6. REFERÊNCIAS BOATENG, A.A.; BARR, P.V. Granular flow behaviour in the transverse plane of a partially filled rotating cylinder. J. Fluid Mech., v. 330, p. 233-249, 1997. CARDOSO, C.R.; OLIVEIRA, T.J.P.; SANTANA JUNIOR, J.A.; ATAÍDE, C.H. Physical characterization of sweet sorghum bagasse, tobacco residue, soy hull and fiber sorghum bagasse particles: Density, particle size and shape distributions. Powder Technol., v. 245, p. 105-114, 2013. CHOU, S.H.; LIAO, C.C.; HSIAU, S.S. An experimental study on the effect of liquid content and viscosity on particle segregation in a rotating drum. Powder Technol., v. 201, p. 266-272, 2010. DEMAGH, Y.; MOUSSA, H.B.; LACHI, M.; NOUI, S.; BORDJA, L. Surface particle motions in rotating cylinders: Validation and similarity for an industrial scale kiln. Powder Technol., v. 224, p. 260-272, 2012. DING, Y.L.; SEVILLE, J.P.K.; FORSTER, R.; PARKER, D.J. Solids motion in rolling mode rotating drums operated at low to medium rotational speeds. Chem. Eng. Sci., v. 56, p. 1769-1780, 2001. JUAREZ, G.; CHEN, P.; LUEPTOW, R. M. Transition to centrifuging granular flow in rotating tumblers: a modified Froude number, New Journal of Physics, v. 13, p. 1-12, 2011. MELLMANN, J. The transverse motion of solids in rotating cylinders forms of motion and transition behavior. Powder Technol., v. 118, p. 251-270, 2001. PEÇANHA, R.P.; MASSARANI, G. Avaliação do desempenho de hidrociclones. Revista Brasileira de Tecnologia, Rio de Janeiro, v. 11, n.4, p. 289-299, 1980. RAJCHENBACH, J. Flow in Powders: From Discrete Avalanches to Continuous Regime. Phys. Rev. Lett., v. 65, p. 2221-2224, 1990. SANTOMASO, A. C.; DING, Y. L.; LICKISS, J. R.; YORK, D. W. Investigation of the granular behaviour in a rotating drum operated over a wide range of rotational speed. IChemE, v. 81, p. 936-945, 2003. SANTOS, D.A.; PETRI, I.J.; DUARTE, C.R.; BARROZO, M.A.S. Experimental and CFD study of the hydrodynamic behavior in a rotating drum. Powder Technol., v. 250, p. 52-62, 2013. WALTON, O.R.; BRAUN R.L. Simulation of rotary-drum and repose tests for frictional spheres and rigid sphere clusters Proc. Joint DOE/NFS Workshop on Flow of Particulates and Fluids, p. 1-18, 1993. WATANABE, H. Critical rotation speed for ball-milling. Powder Technol., v. 104, p. 95-99, 1999. Área temática: Fenômenos de Transporte e Sistemas Particulados 8