Dos defeitos do negócio jurídico Da simulação e da fraude contra credores
DA SIMULAÇÃO Na simulação há um desacordo entre a vontade declarada ou manifestada e a vontade interna (uma discrepância entre a vontade e a declaração; entre a essência e a aparência). Na simulação, as duas partes contratantes estão combinadas e objetivam iludir terceiros ou fraudar a lei. Há um vício de repercussão social, que gera a nulidade do negócio celebrado (Vide CC art. 167).
Da simulação A simulação pode estar presente todas as vezes em que houver uma disparidade entre a vontade manifestada e a vontade oculta. Não necessariamente se exige a clara intenção de prejudicar terceiros para a simulação ser considerada defeito do negócio, para o nulificar. Ex.: um proprietário cede um imóvel a outrem celebrando, na aparência, um contrato de comodato. Por detrás dos panos é cobrado aluguel, havendo uma locação.
Classificação da simulação Simulação absoluta Simulação relativa Na aparência se tem um determinado negócio, mas na essência não se deseja negócio algum as partes fingem, para criar uma aparência, uma ilusão externa, sem que na verdade desejem a realização do ato. Os negociantes celebram um negócio na aparência, mas na essência almejam outro negócio jurídico. Ex: pai que doa sua casa ao filho, mas segue usufruindo do bem, mantendo ali sua residência. Ex: contrato de comodato na aparência, e na essência há cobrança de aluguel.
Da simulação relativa Na simulação relativa, nota-se a presença de dois negócios: - um deles é o simulado, aparente, destinado a enganar; - o outro é o dissimulado, oculto, mas verdadeiramente desejado. (O negócio aparente, simulado, serve apenas para ocultar a efetiva intenção dos contratantes, ou seja, o negócio real).
Classificação da simulação relativa Simulação relativa subjetiva diz-se que a simulação é ad personam ou por interposição de pessoa quando o negócio é real, mas a parte é aparente, denominada testa de ferro, homem de palha ou presta-nome. Simulação relativa objetiva as partes pretendem realizar determinado negócio, prejudicial a terceiro ou em fraude à lei. Para escondê-lo ou dar-lhe aparência diversa, realizam outro negócio (negotium colorem habet, substantiam vero alteram).
Simulação - efeitos A simulação, seja a relativa, seja a absoluta, acarreta a nulidade do negócio simulado. Se relativa, subsistirá o negócio dissimulado, se este último for válido na substância e na forma.
DA SIMULAÇÃO A SIMULAÇÃO RELATIVA (na aparência, há um negócio; e na essência, outro). Vide art. 167, caput: - No exemplo em que se celebra contrato de empréstimo quando na verdade se cobra aluguel: o comodato é inválido, mas a locação é válida, desde que não ofenda a lei ou os direitos de terceiros e tenha todos os requisitos de validade (art. 104 do CC) (princípio da conservação dos negócios jurídicos). o art. 167 do CC reconhece a nulidade absoluta do negócio jurídico simulado, mas prevê que subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
Simulação - 1º do art. 167 Inc. I - por interposição de pessoa: aparece a figura do testa de ferro, não integrando a relação jurídica o real beneficiário da negociação (terceiro que adquire bem do homem casado e o transfere à concubina deste) Inc. II - por ocultação da verdade: declaração de valor inferior, na escritura, ao real; Inc. III - por falsidade de data (antedatados ou pós-datados os negócios).
DA FRAUDE CONTRA CREDORES Vício social do negócio jurídico
FRAUDE CONTRA CREDORES A fraude contra credores é uma atuação maliciosa do devedor em estado de insolvência ou na iminência de assim tornar-se. Ele dispõe de maneira gratuita ou onerosa de seu patrimônio, para afastar a possibilidade de responderem os seus bens por obrigações assumidas em momento anterior à transmissão.
FRAUDE CONTRA CREDORES Conceito A fraude contra credores diz respeito a todo o ato de disposição e oneração de bens, créditos e direitos, a título gratuito ou oneroso, praticado por devedor insolvente, ou por ele tornado insolvente, que acarrete redução de seu patrimônio, em prejuízo de credor preexistente. (Marcos Bernardes de Mello).
FRAUDE CONTRA CREDORES - princípio da responsabilidade patrimonial: art. 957 do CC Tendo em conta que o patrimônio do devedor responde por suas dívidas, pode-se concluir que, desfalcando-o a ponto de ser suplantado por seu passivo, o devedor insolvente, de certo modo, está dispondo de valores que não mais lhe pertencem, pois tais valores se encontram vinculados ao resgate de seus débitos.
Elementos da fraude contra credores Elemento objetivo Elemento subjetivo Envolve a própria insolvência do devedor, que constitui o ato prejudicial ao credor. (eventus damni) É a má-fé do devedor, a consciência de prejudicar terceiros. (consilium fraudis)
Da fraude contra credores A ação fraudulenta do devedor, ao se desfazer de seus bens objetivando prejudicar seus credores, conduz à anulabilidade do negócio jurídico (vide 171, II, CC). O credor somente logrará invalidar a alienação se provar a má-fé do terceiro adquirente, isto é, a ciência deste da situação de insolvência do alienante.
Da fraude contra credores É preciso a presença do elemento subjetivo: o consilium fraudis, ou conluio fraudulento entre o devedor insolvente e o terceiro que adquire o bem + o eventus damni (prejuízo decorrente da insolvência) para possibilitar ao credor anular o negócio celebrado entre o devedor insolvente e o terceiro. Não se exige, no entanto, que o adquirente esteja mancomunado ou conluiado com o alienante para lesar os credores deste. Basta a prova de que tinha ciência da situação de insolvência do devedor.
Presunção de má-fé do terceiro art. 159 CC Insolvência notória Motivos para conhecer a insolvência a notoriedade da insolvência pode se revelar por diversos atos, como pela existência de títulos de crédito protestados, de protestos judiciais contra alienação de bens e de várias execuções ou demandas de grande porte movidas contra o devedor. Se a insolvência não for notória, pode o adquirente ter motivos para conhecê-la. - Presume o conhecimento do terceiro, da situação de insolvência do devedor, quando a aquisição do bem se dá por preço vil, ou existe parentesco próximo entre as partes.
Fraude contra credores Hipóteses legais espécies de negócios passíveis de fraude contra credores Atos de transmissão onerosas de bens Atos de transmissão gratuita de bens Remissão de dívida Pagamento antecipado de dívida Concessão fraudulenta de garantias
Fraude contra credores Atos de transmissão gratuita de bens Atos de transmissão gratuita de bens são de diversas espécies: doações; renúncia de herança; atribuições gratuitas de direitos reais e de retenção; renúncia de usufruto. Vide art. 158 CC.
Fraude contra credores Remissão de dívida Os créditos ou dívidas ativas que o devedor tem a receber de terceiros constituem parte de seu patrimônio. Se o devedor os perdoa, esse patrimônio, que é garantia dos credores, reduz-se proporcionalmente. Vide art. 158 CC.
Fraude contra credores Pagamento antecipado de dívida Vide art. 162 CC. Credor quirografário é o que tem seu crédito decorrente de um título ou documento escrito. É aquele que tem como única garantia o patrimônio geral do devedor. (o credor privilegiado possui garantia especial). Os credores quirografários estão em garantia de igualdade - logo, um deles não pode ser pago antes dos demais.
Fraude contra credores Concessão fraudulenta de garantias Vide art. 163 CC. A paridade que deve reinar entre os credores ficará irremediavelmente comprometida se houver outorga, a um deles, de penhor, anticrese ou hipoteca. A constituição da garantia vem situar o credor favorecido numa posição privilegiada, ao mesmo tempo que agrava a dos demais, tornando problemática a solução do passivo pelo devedor.
Fraude contra credores Atos de transmissão onerosas de bens Vide art. 159 CC. Ocorrerá a anulabilidade dos contratos onerosos, mesmo havendo contraprestação, tanto no caso de conhecimento real da insolvência pelo outro contratante como no caso de conhecimento presumível, em face da notoriedade ou da existência de motivos para esse fato.
Fraude contra credores Somente na fraude cometida nas alienações onerosas exige-se o requisito do consilium fraudis ou má-fé do terceiro adquirente, sendo este requisito presumido ex vi legis nos demais casos, ou seja, nos de alienação a título gratuito e remissão de dívidas, de pagamento antecipado de dívida e de concessão fraudulenta de garantia.
Ação pauliana ou revocatória É a ação pela qual os credores impugnam os atos fraudulentos de seu devedor.