Aula 01. Para trabalhar esse tema é imprescindível que se conheçam os elementos do negócio jurídico:

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1 Página1 Curso/Disciplina: Empurrão para Tribunais/Direito Civil Aula: Defeitos dos Negócios Jurídicos Professor (a): Rafael da Motta Monitor (a): Gabriel Desterro e Silva Pereira Aula 01 Defeitos dos Negócios Jurídicos Para trabalhar esse tema é imprescindível que se conheçam os elementos do negócio jurídico: Elementos essenciais: Devem estar presentes em todo e qualquer negócio jurídico: partes, objeto, consentimento e forma. Elementos acidentais: Vão estar presentes nos negócios jurídicos quando as partes assim convencionarem: condição, termo e encargo. Planos do Negócio Jurídico (Escada Ponteana 1 ) Existência Validade Eficácia O negócio jurídico existe quando estão presentes os elementos essenciais independentemente de estarem ou não cumprindo as exigências legais. Basta, portanto, a presença de partes, objeto, consentimento e forma para que se afirme que um dado negócio jurídico existe. 1 Referente a Pontes de Miranda, civilista clássico.

2 Página2 A validade do negócio jurídico ocorre quando estão presentes os elementos essenciais e todos eles estão de acordo com a exigência da lei (nenhum deles está viciado). Na validade é preciso observar o que dispõe o art. 104, Código Civil, que exige: Partes: Legítimas Capazes Objeto Lícito Possível Determinado (ou determinável) Consentimento Livre Forma Prescrita ou não defesa em lei Quando o negócio jurídico existe e é valido, naturalmente, ele produz efeitos, salvo se as partes tiverem convencionado a presença de elementos acidentais. Note, portanto, que os elementos acidentais (condição, termo e encargo) estão no plano da eficácia do negócio jurídico. No que tange aos defeitos do negócio jurídico, interessa especificamente o plano da validade do negócio jurídico, pois é nesse momento que se verifica a adequação dos elementos à lei (se estão ou não viciados). Existe uma gradação de vícios: os de maior gravidade, que estão violando normas de ordem pública, e de menor gravidade, que violam apenas interesses particulares. Por isso, não basta dizer que o negócio jurídico é inválido, pois precisamos saber o nível de gravidade desse vício. O termômetro que o legislador deu para apurarmos a gravidade do vício é a Teoria das Nulidades. Teoria das Nulidades 1) Nulo é o negócio jurídico que possui uma nulidade absoluta. As hipóteses de negócio nulo estão nos arts. 166 e 167, CC. 2) Anulável é o negócio jurídico que possui uma nulidade relativa. As hipóteses de negócio anulável estão no art. 171, CC.

3 Página3 Diferenças entre nulidade absoluta e relativa: Absoluta Relativa Legitimados Qualquer interessado Apenas as partes envolvidas no negócio jurídico Prazos Pode ser requerida a qualquer tempo Há prazo decadencial de 2 ou 4 anos (art. 178 e 179) 2. Sanabilidade do vício Insanável Sanável Possibilidade de reconhecimento de ofício pelo magistrado É possível. Não é possível, pois depende de alegação das partes. Natureza jurídica da sentença Declaratória (a situação jurídica do vício já se consolidou, já que o vício é insanável) Constitutiva (já que aqui o vício pode ser sanado, a sentença é que anula o negócio, constituindo aquela situação jurídica) Observação: Os efeitos da sentença nas nulidades absolutas e relativas são iguais: Efeitos da sentença Ex tunc (retroagem à data de celebração do negócio) Ex tunc (retroagem à data da celebração do negócio, por força de lei). Note que os efeitos da sentença, no caso da nulidade relativa, serem ex tunc não desnatura a natureza constitutiva da sentença, pois o vício não deixa de ser sanável. Se, por exemplo, as partes nada disserem e houver o transcurso do prazo decadencial, haverá a convalidação tácita do vício. 2 Em regra, o prazo é de 4 anos (art. 178), residualmente, aplica-se o prazo de 2 anos (art. 179).

4 Página4 Os estudos dos defeitos dos negócios jurídicos envolvem a análise das hipóteses de nulidades relativas, porque estamos falando de defeitos que podem ser sanados. Vejamos o que dispõe o art. 171, CC: Art Além dos casos expressamente declarados na lei [rol exemplificativo no artigo], é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; [remeter ao art. 4º] II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Nossa atenção nessa aula deve estar no inciso II desse artigo. O dispositivo traz alguns vícios no elemento essencial consentimento que tornam o negócio anulável: estado de perigo, lesão, erro, dolo e coação. Outro defeito é dito vício social que é a fraude contra credores. Estado de Perigo art. 156 Lesão art. 157 Erro art.138 Dolo art. 145 Coação art. 151 Fraude contra credores art. 158 e 160 Estado de Perigo São requisitos do estado de perigo: (I) perigo de vida real e imediato do próprio contratante, de um familiar ou de amigo íntimo; (II) dolo de aproveitamento (perigo deve ser conhecido pela outra parte, é a intenção de se aproveitar da situação); (III) obrigação excessivamente onerosa. Exemplo: Cheque caução de 50 mil reais deixado pelo familiar em um hospital para internar parente que está em perigo de vida.

5 Página5 Lesão 3 São requisitos da lesão: (I) extrema necessidade de celebrar um contrato ou fazê-lo por inexperiência; (II) aproveitamento (não há necessidade da intenção de aproveitamento, a outra parte não precisa conhecer a necessidade ou inexperiência, basta obter proveito da situação) 4 ; (III) desproporção entre as prestações. O examinador pode tentar confundir o candidato entre os institutos da lesão e estado de perigo. Já foi cobrado em prova, por exemplo, a situação de que um indivíduo com saúde debilitado vendeu o apartamento por menos que a metade do valor do imóvel para poder pagar um tratamento de saúde de 6 meses no exterior, sendo que o adquirente sabia dessa circunstância. Entendeu a Banca que se tratava de LESÃO, pois não havia a iminência do perigo de vida (a pessoa poderia ou não falecer durante o tratamento nos próximos meses). Erro É um falso conhecimento da realidade. Pode ser um erro essencial ou acidental. O art. 140 do Código diz que apenas o erro essencial torna o negócio jurídico anulável, sendo assim entendido o erro que é causa do negócio jurídico (a pessoa celebrou aquele contrato porque estava em erro, caso contrário, não o faria). A característica mais marcante do erro é que o beneficiário não concorre para formação da vontade da vítima. Remeter ao art. 139, CC, que nos dá um rol exemplificativo de erros essenciais: Art O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. Dolo É um ardil, artifício, praticado por alguém para obter proveito de outrem. O dolo, assim como o erro, pode ser essencial ou acidental. Na modalidade acidental, entretanto, por força do art. 146, o dolo enseja perdas e danos (apesar do negócio jurídico permanecer válido). O beneficiário no dolo concorre para a formação de vontade da vítima. 3 As questões que mais caem em prova sobre defeitos do negócio jurídico tentam confundir o candidato entre lesão e estado de perigo. 4 Apesar de desnecessária para configurar a lesão, a intenção de aproveitar-se da situação não desnatura a lesão.

6 Página6 O dolo pode ser cometido na modalidade omissiva ou comissiva. O silêncio intencional do beneficiário também pode configurar o defeito dolo no negócio jurídico. Coação Há coação pela via absoluta e a via relativa. A primeira é a coação física, o perigo imposto à vítima é imediato, aqui o elemento essencial consentimento é inexistente, razão pela qual o negócio jurídico também é inexistente. Por outro lado, na coação pela via relativa, também chamada de coação moral, temos como requisitos: (I) perigo iminente; (II) mal certo e determinado; (III) mal injusto (remeter ao art. 153, CC). Art Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. Portanto, o mal deve ser injusto porque o exercício regular de um direito não pode configurar coação. Fraude contra credores Em regra, decorre da transferência de bens realizada pelo devedor com o objetivo de dificultar o adimplemento da obrigação. Geralmente, o devedor promove a alienação de bens com vistas a frustrar o adimplemento da obrigação. Quando que a transmissão será fraudulenta? Uma transmissão gratuita de bens gera fraude nos termos do art. 158: Art Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. O único requisito, na transferência gratuita, é a insolvência do devedor. A transmissão onerosa será fraudulenta nos termos do art. 159: Art Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.

7 Página7 Os requisitos, aqui, são dois: insolvência e notoriedade dessa insolvência. Os adquirentes devem conhecer o estado de insolvência do devedor. Por outro lado, os compradores poderão adquirir os bens se observarem os requisitos do art. 160: Art Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Ou seja: pagar o preço de mercado, depositar em juízo e citar os credores. Os credores quirografários (aqueles que não possuem garantias) poderão lançar mão da chamada ação pauliana contra todos os envolvidos (adquirentes e devedor) para fazer com que os bens voltem ao patrimônio do devedor.