ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS ÁREAS DE MATA CILIAR DO RIO CACHOEIRA, BAHIA, BRASIL

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Transcrição:

ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS ÁREAS DE MATA CILIAR DO RIO CACHOEIRA, BAHIA, BRASIL Gabriel Paternostro Lisboa 1, Antônio Fontes de Faria Filho 2, Gabriela Nunes Wicke 3 1 Engenheiro Ambiental, Mestrando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, UESC, Ilhéus BA, gabrielpaternostro@hotmail.com 2 Geógrafo, Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Pesquisador, Ceplac, Ilhéus BA, fontes@ceplac.gov.br 3 Graduanda em Engenharia Ambiental (FTC), Bolsista IC/Fapesb/Ceplac, gabrielawicke@gmail.com RESUMO: Com o passar dos anos podem-se notar as constantes transformações no meio ambiente. Como exemplo, podemos citar as áreas de mata ciliar do Rio Cachoeira, situada na Região Sul da Bahia, que são uma síntese das sucessivas modificações que se fizeram acompanhando as alterações na base econômica e social da região que ela abrange. O conhecimento da ocupação do solo quanto à sua natureza, localização, forma de ocorrência, mudanças ocorridas em determinados períodos, são de grande valia para a programação de atividades que visem ao desenvolvimento agrícola, econômico e social da região. Diante disso, a análise do uso do solo pretende fornecer um diagnóstico sobre a dinâmica e as características da ocupação das áreas de mata ciliar do Rio Cachoeira a fim de permitir um suporte às pesquisas que envolvem a Bacia Hidrográfica. Para isso, adotou-se a metodologia aplicada em estudos que utilizam o SIG, aliado a sensoriamento remoto para a realização do trabalho. Com os métodos utilizados foi possível identificar, analisar e comparar os diferentes tipos de uso e cobertura do solo nos anos de 1964 e 2014. Por meio dos trabalhos efetuados, ficou constatado que neste período houve um aumento na área urbana e vegetação secundária e uma diminuição na área de cacau, pasto e mangue, assim como, a inexistência de mata nativa. PALAVRAS-CHAVE: vegetação ripária, bacia hidrográfica, geoprocessamento INTRODUÇÃO: Até o final da década de 1980, a Região Sul da Bahia tinha a sua economia voltada a lavoura cacaueira. Nesse tipo de cultura predominava o sistema cabruca, que é considerada uma técnica sustentável de produção na qual os cacaueiros são cultivados sob a mata nativa raleada. Conforme Lobão e Valeri (2009), além de gerar recursos financeiros e fixar o homem no campo, o plantio do cacaueiro por meio do sistema cabruca, contribuiu também para a conservação de fragmentos da Floresta Tropical Atlântica, além de compatibilizar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico. Essa forma de cultivo tornou-se um modelo agrícola que o tempo mostrou ser eficiente. Com a disseminação da vassoura de bruxa (Crinipellis perniciosa), as oscilações climáticas e os baixos preços recebidos pelos produtores, no final da mesma década, a região entrou em colapso. As consequências desse cenário resultaram em um intenso êxodo rural, degradação dos recursos naturais renováveis, desvalorização patrimonial, endividamento dos produtores e empobrecimento da população regional (ROCHA, 2008). Com o tempo, pôde-se observar que o modelo de desenvolvimento econômico adotado passou a seguir práticas menos sustentáveis, não considerando a fragilidade e a importância do meio ambiente. Dentre muitos ambientes naturais afetados, podem-se citar as áreas de mata ciliar presentes no leito do Rio Cachoeira. Este tipo de formação florestal é responsável não só pela qualidade dos cursos d água como também na manutenção do ciclo hidrológico das Bacias Hidrográficas, além de servirem como corredor ecológico para a fauna e flora. Diante disso, o presente estudo buscou analisar o uso e ocupação do solo nas áreas de mata ciliar do Rio Cachoeira, antes e depois da crise (1964 e 2012), desta forma, fornecendo suporte às pesquisas desenvolvidas na região. MATERIAL E MÉTODOS: A Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira está situada na parte Leste da Região Sudeste da Bahia. Faz divisa com as bacias do rio Almada, Contas, Una e Pardo, estando limitado pelas coordenadas 14º42 a 15º20 de latitude sul e 39º01 a 40º09 WGr (Figura 01). Sua rede de drenagem possui uma superfície de 4.380 km², banhando áreas dos municípios de Itororó, Firmino Alves, Floresta Azul, Santa Cruz da Vitória, Itajú do Colônia, Ibicaraí, Buerarema, Itapé, Itabuna e Ilhéus. O Rio Cachoeira nasce a aproximadamente 500 metros a montante da cidade de Itapé, a partir da confluência dos Rios Colônia e Salgado, perfazendo um caminho de 50 km. Passa 79

pelos municípios de Itapé, Itabuna e Ilhéus, onde, após haver confundido suas águas com as dos rios Santana e Fundão, lança-se no Oceano Atlântico (ROCHA FILHO e ARMANDO, 1976). Figura 01 Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira. A metodologia utilizada para compor os resultados deste trabalho utilizou o SIG (Sistema de Informações Geográficas) aliado ao sensoriamento remoto, por se tratar de ferramentas bastante eficazes nos estudos ambientais. Para o mapeamento de 1964 e 2012, respectivamente, foram utilizados fotografias aéreas, escala 1:25.000, executadas pela empresa Geofoto S. A., cedidas pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira e o banco de imagens de alta resolução espacial do Google Earth, em virtude de sua boa qualidade e disponibilidade gratuita. Por meio do software ArcGis 10.2, foi possível georreferenciar ambas as imagens, em seguida, fazer o mosaico, o buffer do limite das APP s e posteriormente a digitalização dos diferentes tipos de uso. Vale ressaltar que para a execução do trabalho foi tomado como base o estudo da Lei Federal nº 12.651 de 25 de maio de 2012, que institui o Novo Código Florestal Brasileiro, e estabelecem quais são as áreas de preservação permanente e seus respectivos limites. Além disso, para o mapeamento da cobertura vegetal, o artigo utilizou parâmetros básicos pré-estabelecidos no Manual Técnico de Uso da Terra (IBGE, 2013), além de visitas em campo para conferência dos dados. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O reflexo das crises que se abateram na lavoura cacaueira pôde ser observado nas constantes mudanças de uso e ocupação do solo. A partir dos levantamentos iniciais que consistiram tanto em atividades laboratoriais, bem como trabalhos de campo, foi possível observar que as margens do Rio Cachoeira apresentam um elevado grau de alteração ambiental. O uso da terra ao longo do leito do Rio Cachoeira apresenta-se bastante diversificado, com pequenos cultivos tradicionais de subsistência, monocultura do cacau, pecuária extensiva e especiarias, que substituiu no decorrer do último século a floresta conhecida como Mata Atlântica. Através das imagens fotoaéreas do ano de 1964, verificou-se que no trecho entre as cidades de Itabuna Ilhéus há uma acentuação maior de vegetações nativas que foram utilizadas para o sobreamento do cacaueiro, conforme mostra a fotografia aérea da figura 02. 80

Figura 02 Fotografia aérea do trecho Itabuna Ilhéus, 1964. Porém, no decorrer dos anos, estas culturas foram substituídas por pastagens ou ficaram abandonadas virando vegetação secundária, assim como espaços que eram pastos viraram capoeira (Figura 03). Tendo como base a lei 12.651/2012 que institui o Novo Código Florestal Brasileiro, pode-se observar que houve uma redução nas áreas de mata ciliar, já que o código estabelece uma APP de 30 metros para zonas urbanas. Figura 03 Imagem de satélite do trecho Itabuna - Ilhéus, 2012. 81

Assim como as áreas de mata nativa e de cacau, houve perdas significativas de espaços nos mangues. O crescimento populacional e urbano em convergência com a crise na lavoura cacaueira acarretou graves conflitos sociais, ambientais e econômicos. A ocupação do solo urbano não veio acompanhada da urbanização necessária a uma boa qualidade de vida. A conjuntura posta implicou em construções sobre os manguezais, ocasionando o uso inadequado do solo (MARTINS, 2007). Devido às ações antrópicas sobre estas Áreas de Preservação Permanente, muitos destes espaços viraram pastagens, vegetações secundárias e inícios de área urbana (Figura 04). Figura 04 Imagem de satélite do mangue no município de Ilhéus BA, 2012. Através dos levantamentos feitos em 1964 e 2012, foi possível organizar uma tabela quantificando e comparando os diferentes fragmentos de uso identificados. Nota-se que ao longo dos anos houve uma grande modificação no uso e ocupação do solo. Tabela 01 Percentual das unidades de uso da terra das áreas de mata ciliar do Rio Cachoeira pelos períodos de 1964 e 2012. 1964 Atual Km² % Km² % Pasto 9,93 71,58 8,21 63,71 Cacau 1,28 9,25 0,91 7,07 Vegetação Secundária 0,33 2,37 1,6 12,38 Área urbana 0,17 1,23 0,43 3,35 Mata 0,06 0,41 - - Mangue 2,1 15,16 1,74 13,49 Analisando os dados acima, observa-se que desde 1964 havia uma grande área de pastagem (71,58%). O manejo inadequado deste tipo de cultura pode ocasionar danos aos ecossistemas frágeis, como as matas ciliares, por não considerar as suas verdadeiras limitações. Outra cultura em destaque é o cultivo de cacau que possuía 9,25%, já que neste período a lavoura cacaueira era a principal fonte econômica da região, além de ser de grande importância para a preservação de espécies nativas de árvores, visto que o cacau (Theobroma cacao L.) era plantado principalmente no sistema cabruca, 82

que é um sistema agroflorestal. Além destes, foram quantificados diferentes tipos de usos, tais como: vegetação secundária (2,37%), área urbana (1,23%), mata nativa (0,41%) e mangue (15,16%). No mapeamento atual, a área de cacau diminuiu para 7,07%, acreditando-se que uma grande influência para essa queda tenha sido em decorrência da crise na lavoura cacaueira ocasionado pela doença da vassoura de bruxa (Crinipellis perniciosa). Houve redução também nas áreas de mangue (1,67%), ocasionada pelo aumento de pastagens, avanço de espaços urbanos e vegetações secundárias. Confrontando as duas informações, constata-se que ocorreu um acréscimo de 10,01% na área de vegetação secundária e de 2,12% na área urbana, e um decréscimo de 7,87% na área de pasto, 2,18% na área de cacau e 1,67% na área de mangue. Nota-se também à ausência de mata nativa. As formas de uso e ocupação ocorrentes estão associadas à retirada da cobertura vegetal que geram a instabilidade das margens e consequente a alteração das características morfométricas e físico-químicas do rio, ocasionando impactos negativos como aumento do escoamento superficial, erosão das margens, maior aporte de sedimentos no rio, assoreamento, diminuição do volume de água e maior concentração de poluentes, desta forma, comprometendo a qualidade da água deste curso, consequentemente a vida da população local ribeirinha que tiram seu sustento do rio. CONCLUSÕES: Através da análise feita é possível constatar que as áreas de mata ciliar desde 1964 até atualmente sofreu constantes mudanças no seu uso e ocupação, sempre prevalecendo às áreas de pasto. Verificou-se também, que a crise na lavoura cacaueira contribuiu significativamente para a diminuição de muitas áreas de cacau, onde, cabe ressaltar, que estas áreas tem um papel fundamental na conservação de algumas espécies arbóreas nativas. Além disso, foram identificados fragmentos de matas secundárias que servem de sobreamento para alguns cacauais, o que assume maior importância conservacionista, principalmente nas áreas mais tradicionais. Notou-se também, que nos municípios por onde passa o Rio Cachoeira, questões sócio-políticas e ambientais influenciaram no padrão de modificação da paisagem. Estas modificações podem influenciar na diversidade faunística, florística e principalmente na qualidade do Rio. Para isso, a manutenção equilibrada da qualidade ambiental do Rio Cachoeira exige programações específicas para o seu manejo, de maneira a contribuir para a elevação da qualidade de vida, proteção ao seu patrimônio natural, econômico, histórico e cultural. Através dos estudos feitos percebeu-se um elevado grau de degradação nas áreas de mata ciliar, onde se acredita que para sua recuperação será preciso uma intervenção humana devido à sua capacidade de regeneração estar comprometida. REFERÊNCIAS: BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 mai 2012. IBGE. Manual Técnico de Uso da Terra. 3ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. LOBÃO, D.E; VALERI, S.V. Sistema Cacau-cabruca: conservação de espécies arbóreas da Floresta Atlântica. Revista Agrotrópica: Vol. 21, n o 1. 2009. MARTIN, P. T. A. Os reflexos da crise da lavoura cacaueira nos ecossistemas de manguezal do município de Ilhéus, Bahia. Revista de Geografia, vol 16, n o 1. UEL Departamento de Geociências. Londrina PR, 2007. ROCHA, L. B. A Região Cacaueira da Bahia dos coronéis a vassoura-de-bruxa: saga, percepção, representação. Editus: Ilhéus BA, 2008. ROCHA FILHO, ARMANDO, C. Recursos hídricos. Diagnóstico Sócio-Econômico da Região Cacaueira, vol.5. Rio de Janeiro, Convênio IICA/CEPLAC, 1976. 83