PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social A PRIMEIRA INFÂNCIA E A ATIVIDADE OBJETAL MANIPULATÓRIA

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Transcrição:

A PRIMEIRA INFÂNCIA E A ATIVIDADE OBJETAL MANIPULATÓRIA Nadia Mara Eidt; Departamento de Educação; Universidade Estadual de Londrina; Londrina; Paraná, Brasil. Cassiana Magalhães*; Departamento de Educação; Universidade Estadual de Londrina; Londrina; Paraná, Brasil. contato: nadiaeidet@hotmail.com cassiana@uel.br Palavras-chave: Psicologia Histórico-Cultural. Primeira Infância. Desenvolvimento do psiquismo. 1. A periodização do desenvolvimento à luz da Psicologia Histórico-Cultural Em suas obras, Vigotski (2000) critica as vertentes da psicologia vigentes na época, que, por um lado, reduzem as funções psíquicas superiores a processos naturais, elementares, e, por outro, compreende-as de forma atomística, ou seja, como elementos isolados que se somavam mecanicamente. Em outras palavras, essas teorias confundem o natural e o cultural, investigando apenas os aspectos naturais que integram essas funções. Vigotski defende que as funções formam sínteses complexas (ou neoformações). Para Davidov, No fundamento desta periodização se encontra a ideia de que a cada idade, como período peculiar e qualitativamente específico da vida do homem, corresponde a um determinado tipo de atividade principal; sua mudança caracteriza a sucessão dos períodos evolutivos. Em cada atividade principal surgem e se constituem as correspondentes neoformações psicológicas, cuja sucessão configura a unidade do desenvolvimento psíquico da criança (DAVIDOV, 1988, p. 74, tradução nossa). Nesse sentido, identificar o que caracteriza cada período nos possibilita compreender o desenvolvimento psíquico da criança e ainda, delinear formas intencionais de trabalho na escola. Assim, no item dois pretendemos discutir a primeira infância. 2. A primeira infância e a atividade objetal manipulatória É no interior da atividade de comunicação emocional direta com o adulto que surgem as ações sensório-motoras, com a formação do movimento de preensão e do ato de agarrar. As ações com objetos começam a formar-se a partir da comunicação com o adulto. O desenvolvimento da comunicação e das propriedades sensório-motoras iniciais muda a

relação da criança com os objetos e com os adultos, abrindo novas possibildiades de ação para a criança: o que antes era inalcançável e em geral não percebido passa a ser algo a ser explorado, tocado, sentido (CHEROGLU, 2014). A atividade dominante guia passa a ser, agora, a atividade objetal manipulatória. Pasqualini (2006) afirma que o que caracteriza a situação social de desenvolvimento da criança nesse período é a dependência da situação. Quando analisamos o funcionamento do psiquismo da criança, Vigotski (apud PASQUALINI, 2006) afirma que ela se encontra como se estivesse em poder das impressões externas. Isso significa dizer que a criança ainda é refém da estimulação do meio. Na medida em que vai se apropriando da linguagem, a percepção da criança se reorganiza. Como consequência, a criança passa a perceber os objetos no interior de um todo que possui, para além de suas propriedades físicas, um determinado sentido social. Esse desenvolvimento é guiado pela atividade objetal manipulatória, a atividade dominante na primeira infância. A atividade objetal manipulatória assume importância central no desenvolvimento da criança na medida em que, por ser orientada pelo adulto, [...] requer a realização de ações psicomotoras que estão na iminência de se formarem (CHEROGLU, 2014, p.112). Nesse novo período do desenvolvimento, desenvolve-se uma nova forma de comunicação com os adultos. Eles se tornam os depositários de modelos de ações com os objetos. Elkonin (1998) não nega que a criança seja capaz de descobrir as funções de objetos soltos, na medida em que realizam, por sua própria conta, tarefas que exigem o emprego de instrumentos. Entretanto, o autor entende que não é essa a via principal por meio da qual a criança aprende a dominar os instrumentos culturais e, com isso, desenvolve seu psiquismo. O autor reitera a ideia de que são os adultos que, em atividade conjunta com a criança, por um lado, ensina o uso correto do objeto, entendido aqui como uma produção histórico-social e, por outro, exerce controle sobre sua forma de execução. De acordo com Pasqualini (2006), não basta disponibilizar à criança objetos para livre exploração. Faz-se necessário mediar o processo de apropriação, transmitindo os modos sociais de ação com os instrumentos culturais, tarefa que cabe ao par mais desenvolvido dessa relação, o adulto. Mukhina (1996) aborda a relação existente entre a atividade objetal manipulatória e o desenvolvimento da linguagem na criança. Ela afirma que a criança já é capaz de pronunciar alguns sons no primeiro ano de vida. Entretanto, no período de 2 a 3 anos se verifica a

ampliação do vocabulário da criança. Isso se dá porque, com o surgimento da atividade objetal manipulatória como atividade guia do desenvolvimento psíquico, cresce o interesse da criança pelos objetos e pela compreensão de sua função social. Ela passa a requerer essas informações do adulto e, para tanto, precisa compreender e, também, fazer uso da linguagem verbal. Os gestos do adulto e outras formas mudas de ensino se mostram bastante deficitárias se o objetivo é compreender a função do objeto. Aqui se verifica claramente como a atividade guia, qual seja, a atividade objetal manipulatória, engendra uma nova qualidade psíquica, o desenvolvimento da linguagem. Interessante notar que quando garantidas as condições de humanização das novas gerações, por volta de 2 anos de idade a linguagem e o pensamento se requalificam. Até aqui a linguagem da criança era marcada por um conjunto de sons sem significado e o pensamento era essencialmente prático, ligado à percepção e à ação com os objetos. Gradativamente, porém, a linguagem da criança se intelectualiza e o pensamento se verbaliza. É graças ao encontro entre pensamento e linguagem que é possível à criança a passagem das funções psicológicas elementares às superiores. Isso é possível na medida em que, gradativamente a criança passa a ser capaz de fazer uso da linguagem para substituir objetos ausentes na fala e no pensamento e passa a operar por meio de signos. A linguagem é considerada o signo dos signos. Isso só é possível na medida em que há um processo de complexificação da percepção sensório-motora (própria do primeiro ano de vida) em percepção semântica, ou seja, uma percepção imbuída de sentido. Para que haja essa complexificação, todas as funções psíquicas são requeridas e reorganizadas e como resultado desse processo, a criança passa a formar uma imagem unificada dos objetos e fenômenos (CHEROGLU, 2014). A gênese das funções psicológicas superiores se dá, portanto, em decorrência do encontro entre pensamento e linguagem. Evidentemente, ao longo do processo de desenvolvimento, as funções psicológicas superiores podem se especializar em gradações distintas, atingindo formas de expressão mais ou menos complexas. Esse grau de especialização depende essencialmente da qualidade da apropriação de signos a que o indivíduo teve acesso. No começo do segundo ano de vida, a percepção passa a ocupar um lugar central no desenvolvimento global da criança. A percepção, nesse período, serve de fundamento para a complexificação cultural dos demais processos psíquicos que, desta forma, retroagem sobre

ela, requalificando-a (CHEROGLU, 2014, p. 107). Mas como a percepção se relaciona com as demais funções? A percepção, afeto e ação ainda estão indiferenciados e estreitamente ligados entre si. A criança percebe e age como num ato contínuo. Sua atividade está orientada pela atração ou repulsa mobilizada pelos objetos percebidos. Deste modo, pode-se dizer que sua percepção é emocionalmente orientada (CHEROGLU, 2014). Nesse período do desenvolvimento, a atenção, a memória e o pensamento ainda não estão diferenciados. Como foi dito anteriormente, essas funções psíquicas atuam na consciência de modo subordinado à percepção, dado que permite compreender a importância de organizar o trabalho pedagógico de modo intencional visando promover o desenvolvimento dessa função psíquica na criança na primeira infância. A memória integra a percepção ativa e se expressa na medida em que a criança é capaz de reconhecer uma situação vivida anteriormente. Entretanto, não se trata ainda de uma [...] recordação ativa, não como uma lembrança de algo que já não está presente (CHEROGLU, 2014, p.113). No que se refere ao pensamento, por volta dos dois anos de idade, ele ainda se encontra estreitamente relacionado com a percepção imediata e com a manipulação dos objetos, de tal modo que pensar é agir. A atenção é definida por Luria (1981) como o caráter direcional e a seletividade dos processos mentais. A atenção envolve seleção de estímulos relevantes e inibição de estímulos concorrentes. A capacidade de eleição de um foco atencional, bem como de mudar o foco da atenção é uma capacidade culturalmente desenvolvida, não disponibilizada na ocasião do nascimento. O adulto deve atuar de modo a destacar aspectos importantes dos objetos, por meio de gestos e palavras. Ao assim fazer, o adulto enriquece a percepção e direciona a atenção para aquilo que deve ser percebido (CHEROGLU, 2014). É importante ressaltar que a diferenciação e a complexificação da memória, da atenção, do pensamento e da percepção depende das atividades realizadas pela criança. O adulto deve organizar essas atividades, de modo que elas requeiram o emprego desses processos psíquicos, já que [...] qualquer função [psíquica] se desenvolve e é reestruturada dentro do processo que a realiza (LEONTIEV, 2001, p.77).

Considerações Finais A compreensão por parte do adulto de que não basta, por exemplo, disponibilizar os objetos, mas mediar para garantir as condições de humanização da criança, podem redimensionar o trabalho na escola com as crianças de dois a três anos de idade conforme discutido neste texto. Entender a atividade guia do desenvolvimento e criar condições adequadas para que a criança se desenvolva é papel da escola, e, portanto, papel do professor. Referências CHEROGLU, S. Educação e desenvolvimento de zero a três anos de idade:contribuições da Psicologia Histórico-Cultural para a organização do ensino. Dissertação de Mestrado Universidade Estadual Paulista. Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar. Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara, 2014. DAVIDOV, Vasili Vasilovich. La Enseñanza Escolar y el Desarrollo Psíquico: Investigación psicológica teórica y experimental. Tradución de Marta Shuare. Moscú: Editorial Progreso, 1988. ELKONIN, D. B. Psicologia do jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998. LEONTIEV, Alexis N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psiqueinfantil. In: L. S. VIGOTSKII; A. R. LURIA; A. N. LEONTIEV. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem.9ª ed. São Paulo: Ícone, 2001. LURIA, A. R. Atenção. In: Fundamentos de Neuropsicologia. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1981. p. 223-244. MUKHINA, V. Psicologia da idade pré-escolar. São Paulo, Martins Fontes: 1996. PASQUALINI, Juliana Campregher. Contribuições da PsicologiaHistórico-Cultural para a educação escolar de crianças de 0 a 6 anos: desenvolvimento infantil e ensino em Vigotski, Leontiev e Elkonin. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Araraquara, 2006. VYGOTSKI, Lev S. El problema Del desarrollo de lãs funciones psíquicas superiores. Obras Escogidas, Madri: VISOR, 2000, p. 1