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Transcrição:

Número do 1.0145.11.044555-1/001 Númeração 0445551- Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Veiga de Oliveira Des.(a) Veiga de Oliveira 16/12/2014 28/01/2015 EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - CONTRATO DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS - ÔNUBUS - MUDANÇA DOS PONTOS DE EMBARQUE - AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÃO - DANOS MORAIS CARACTERIZADOS - VALOR DE R$ 7.000,00 PARA CADA PASSAGEIRO. - É dever da sociedade empresária prestadora do serviço de transporte de passageiros ao modificar os locais de embarque, comunicar previamente às pessoas que adquiriram as passagens antes da mencionada mudança. - Os passageiros que não foram devidamente comunicados e não tiveram o transporte garantido pela prestadora de serviço, sofreram dano moral passível de compensação, por quebra do princípio da confiança. - Em face das circunstâncias do caso concreto é razoável e proporcional a fixação do valor dos danos morais em R$ 7.000,00 para cada um dos passageiros. - Apelação principal provida em parte e apelação adesiva provida. PELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0145.11.044555-1/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - APELANTE(S): UTIL S/A UNIAO TRANSP INTERESTADUAL LUXO - APTE(S) ADESIV: MARIA HELENA VIZANI BRETAS, TEREZINHA BRETAS DE AQUINO, MARLENE APARECIDA BRETTAS, MARIA LUCIA BRETAS, MARIA DULCE BRETAS E OUTRO(A)(S) - APELADO(A)(S): UTIL S/A UNIAO TRANSP INTERESTADUAL LUXO, MARIA DULCE BRETAS E OUTRO(A)(S) - APTE(S) ADESIV: MARIA LUCIA BRETAS, TEREZINHA BRETAS DE AQUINO, MARLENE APARECIDA BRETTAS, MARIA HELENA VIZANI BRETAS 1

A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 10ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos em <DAR PARCIAL PROVIMENTO À APELAÇÃO PRINCIPAL E DAR PROVIMENTO À APELAÇÃO ADESIVA>. DES. VEIGA DE OLIVEIRA RELATOR. DES. VEIGA DE OLIVEIRA (RELATOR) V O T O Trata-se de apelação principal interposta por UNIÃO TRANSPORTE INTERESTADUAL DE LUXO S/A. - UTIL e apelação adesiva interposta por MARIA DULCE BRETTAS e OUTRAS contra sentença da meritíssima Juíza da 7ª Vara Cível da comarca de Juiz de Fora, proferida nos autos da ação de indenização por danos materiais e compensação por danos morais ajuizada pelas Apelantes adesivas contra a Apelante principal. Em sua sentença, a douta Juíza primeva julgou procedentes os pedidos iniciais, condenando a Apelante principal ao pagamento de compensação por danos morais a cada uma das Apelantes adesivas no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), com correção monetária e juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês a partir da publicação da decisão, e a restituirlhes, de forma simples, a quantia de R$ 1.300,00 (um mil e trezentos reais), acrescida de juros de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária a partir do desembolso. Por fim, condenou-a ao pagamento das custas processuais e de honorários arbitrados em R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais). A Apelante principal aduz que há culpa exclusiva ou, no mínimo, concorrente das vítimas no caso concreto, uma vez que, no 2

momento em que adquiriram os bilhetes de passagens de ônibus da linha Macaé/RJ para Juiz de Fora/MG, omitiram que pretendiam embargar em Cabo Frio/RJ, motivo por que não foram avisadas previamente do transbordo que a Apelante principal disponibilizou para o embarque dos passageiros de Cabo Frio/RJ. Afirma, também, que o valor despendido por elas com transporte particular não é de sua responsabilidade, uma vez que elas optaram por não adquirir passagem da empresa Única, a qual realiza o transporte de passageiros de Cabo Frio/RJ para Juiz de Fora/MG. Sustenta, ademais, que as Apelantes adesivas teriam experimentado, no máximo, mero desconforto, aborrecimento, dissabor do dia-a-dia, o que não caracterizaria os danos morais alegados. Por fim, alega que o valor dos danos morais deve ser fixado observando-se parâmetros adequados e condizentes com a realidade dos fatos, o que não ocorreu in casu, e que os juros de mora sobre o valor dos danos materiais deve incidir a partir da data da citação, e não do desembolso. Pede, assim, o provimento do recurso, reformando-se a sentença para julgar improcedentes os pedidos iniciais ou, sucessivamente, para diminuir o valor fixado a título de compensação por danos morais e alterar o dies a quo dos juros de mora sobre o valor da indenização por danos materiais. As Apelantes adesivas, por sua vez, pugnam pela majoração do valor da compensação por danos morais, sugerindo o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para cada uma delas. Intimada, a Apelante principal apresentou contrarrazões, rebatendo os argumentos expendidos no apelo adesivo, pugnando por seu desprovimento. As Apelantes adesivas, intimadas, não se manifestaram 3

quanto à apelação principal. É este, em epítome, o relatório. Decido. APELAÇÃO PRINCIPAL - APELANTE: UNIÃO TRANSPORTE INTERESTADUAL DE LUXO S/A. - UTIL Analisando-se os autos, observa-se que não assiste razão à Apelante em sua irresignação. Conforme bem observado pela Juíza primeva As Apeladas ajuizaram ação de indenização de danos morais e materiais contra a Apelante ao argumento de que adquiriram passagens da linha Macaé/RJ para Belo Horizonte/MG, que passava nas cidades de Cabo Frio/RJ e Juiz de Fora/MG. Entretanto, o ônibus não fez a parada para embarque na cidade de Cabo Frio/RJ, local em que estavam as Apeladas. Restou devidamente comprovado nos autos, por meio do depoimento da testemunha Cléber Apolinário da Silva (fls. 161/163), empregado da Apelante, que na época em que as Apeladas compraram as passagens, a linha Macaé/RJ - Belo Horizonte/MG passava pela cidade de Cabo Frio/RJ, local em que as Apeladas iriam embarcar, sendo quer elas não sabiam do referido impedimento quando adquiriram as passagens. Além disso, não há nos autos nenhuma comprovação de que a Apelante comunicou às Apeladas a mencionada mudança de itinerário, sendo inconteste que também não providenciou o transporte delas para o destino pretendido. Não há que se falar, ainda, em culpa exclusiva ou concorrente das Apeladas para a ocorrência do evento danoso, já que, por negligência da Apelante, elas não foram comunicadas acerca da extinção do embarque na cidade de Cabo Frio/RJ. Não se pode perder de vista que se aplica ao caso concreto 4

o denominado princípio da confiança, ou seja, as Apeladas confiaram que ao adquirirem as passagens, haveria o embarque na cidade de Cabo Frio/RJ, frustrando-se, pois, o direito que elas, na condição de consumidoras, eram titulares, em face da celebração do contrato de transporte com a Apelante. Passa-se, pois, à análise acerca da presença do dano moral passível de compensação. O dano moral pode ser conceituado de maneira simples e precisa como sendo aquele que provoca uma lesão a um direito da personalidade. Assim, o dano moral, independentemente de prejuízo material, fere direitos personalíssimos, isto é, todo e qualquer atributo que individualiza cada pessoa, tal como a liberdade, a honra, dignidade, a vida íntima e privada, além da atividade profissional, a reputação, as manifestações culturais e intelectuais, entre outros. O dano é ainda considerado moral quando os efeitos da ação, embora não repercutam na órbita de seu patrimônio material, originam angústia, dor, sofrimento, tristeza ou humilhação à vítima, trazendo-lhe sensações e emoções negativas. É o que se convencionou chamar de dano moral puro. De acordo com o que foi narrado e devidamente comprovado nos autos, não resta dúvida de que houve lesão ao direito de personalidade das Apeladas que se viram impedidas de embarcarem na a cidade de Cabo Frio/RJ, gerando-lhes angústia, dor e sofrimento que ultrapassam o mero aborrecimento. Leva-se em conta, ainda, a idade avançada das Apeladas, o que torna o fato ainda mais reprovável. O valor dos danos morais será analisado na apelação adesiva interposta pelas Apeladas. A Apelante insurge-se, ainda, quanto à incidência dos juros de mora na condenação pelos danos materiais, que deveriam incidir a partir da citação válida. 5

A Juíza primeva condenou a Apelante ao pagamento do valor de R$ 1.300,00 para as Apeladas a título de danos materiais, acrescidos de correção monetária e juros de mora de 1% ao mês, contados a partir do desembolso. Com relação à referida questão, verifica-se que assiste razão à Apelante. De acordo com o artigo 219, do CPC, os juros de mora incidem a partir da citação válida, enunciado este que é perfeitamente aplicável ao caso concreto. Portanto, deverá ser reformada a r. sentença, para que o termo inicial dos juros de mora com relação aos danos materiais, seja a data da citação válida. APELAÇÃO ADESIVA - APELANTES: MARIA DULCE BRETTAS e OUTRAS As Apelantes adesivas interpuseram o recurso adesivo com o objetivo de majorar os danos morais fixados pela Juíza primeva em R$ 4.000,00 para cada uma delas, acrescido de correção monetária e juros de mora de 1% ao mês, contados a partir da publicação da sentença. Este Relator entende que, levando-se em consideração as peculiaridades do caso concreto, deverá a compensação ser majorada para R$ 7.000,00 para cada uma das Apeladas, já que mencionado valor se coaduna com os danos morais sofridos pelas Apeladas, levando-se em consideração a proporcionalidade e razoabilidade, a fim de suprir o caráter punitivo-pedagógico do dano moral, não se afigurando, pelo seu montante, como exagerada a ponto de se constituir em fonte de renda, já que tem o nítido caráter compensatório. Além disso, de ofício, deverá ser modificada a r. sentença, no que diz respeito ao termo inicial dos juros de mora com relação à indenização dos danos morais, já que, pelo fato de se tratar de relação contratual, eles deverão incidir a partir da data da citação válida. 6

Aplica-se o entendimento consolidado no Colendo Superior Tribunal de Justiça sobre essa matéria: "Incidem juros de mora sobre a condenação por danos morais a partir do evento danoso ou da citação, conforme se trate de relação extracontratual ou contratual, respectivamente." (AgRg no AREsp 261321/MG - Relator: Ministro CASTRO MEIRA - Data do Julgamento: 18/12/2012). Nesse sentido: "PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALSA ACUSAÇÃO DE FURTO EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL. ABORDAGEM INADEQUADA. DANO MORAL. CONFIGURADO. FIXAÇÃO DO QUANTUM. RELAÇÃO EXTRACONTRATUAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. SÚMULA N. 362/STJ. JUROS DE MORA. SÚMULA N. 54/STJ. 1. A falsa acusação de furto e a abordagem inadequada dos prepostos do estabelecimento comercial expõem a pessoa a situação vexatória ensejadora de abalo emocional, ensejando, portanto, a indenização por dano moral. 2. O termo inicial da correção monetária incidente sobre a indenização por danos morais é a data do seu arbitramento, consoante dispõe a Súmula n. 362/STJ: "A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento". 3. Os juros moratórios, em se tratando de responsabilidade extracontratual, incidem desde a data do evento danoso, na forma da Súmula n. 54/STJ: "Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual". 4. Agravo regimental desprovido." (STJ, AgRg no REsp 1258882/SP, Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, 27/06/2013). 7

Ex positis, DOU PARCIAL PROVIMENTO à apelação interposta por UNIÃO TRANSPORTE INTERESTADUAL DE LUXO S/A. - UTIL, reformando a r. sentença para que o termo inicial dos juros de mora da condenação pelos danos materiais sofridos seja a data em que ocorreu a citação válida. DOU PROVIMENTO à apelação adesiva interposta por MARIA DULCE BRETTAS e OUTRAS, para majorar a compensação pelos danos morais sofridos, para o montante de R$ 7.000,00 para cada uma das autoras, acrescida de correção monetária desde a data da publicação da presente decisão e juros de mora desde a citação válida. Custas recursais pela Apelante DESA. MARIÂNGELA MEYER (REVISORA) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. VICENTE DE OLIVEIRA SILVA - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "<RECURSO PRINCIPAL PARCIALMENTE PROVIDO E RECURSO ADESIVO PROVIDO" 8