A comparação do presencial e do virtual: um estudo de diferentes metodologias e suas implicações na EAD André Garcia Corrêa andregcorrea@gmail.com Universidade Federal de São Carlos Resumo. O presente trabalho é uma pesquisa em andamento de comparação entre métodos de educação à distância e a metodologia presencial. Foram entrevistadas duas professoras, uma de uma disciplina de um curso de Educação à Distância de Educação Musical e outra de uma disciplina do curso de Licenciatura em Música, ambos pela Universidade Federal de São Carlos. Ambas as professoras foram questionadas sobre suas metodologias de abordagem dos temas, preparação das aulas e suas avaliações. O objetivo principal do trabalho é tentar comparar a metodologia mais usual presencial e a modalidade mais recente de EAD, para tentar avaliar quais as principais vantagens e dificuldades encontradas na segunda, e ao mesmo tempo comparando quais são as prioridades para o que será virtual e o que deve acontecer presencialmente no planejamento da disciplina analisada. Durante a pesquisa, também foram levados em conta dados levantados e, juntamente com a bibliografia para referencial teórico e debates realizados pelo grupo de pesquisa, deliberou-se sobre o tema do tutor presencial do curso de Educação Musical e seu papel na aplicação de disciplinas de que exigem aulas presenciais. Como evitar que os critérios estabelecidos pelo professor idealizador da disciplina não fossem tão sujeitos à subjetividade no decorrer de suas utilizações pelos tutores. Palavras-chave: EAD, Educação Musical, Tutoria. 1 INTRODUÇÃO Este trabalho é continuação de uma pesquisa que abordou a relevância do presencial e do virtual na prática de cursos à distância 1 O trabalho consiste em um levantamento de dados através de entrevistas com as professoras de disciplinas de conteúdo semelhante em um curso à distância e outro de caráter estritamente presencial, ambos oferecidos pela Universidade Federal de São Carlos, além de análise de materiais didáticos utilizados por ambas disciplinas. Além dos dados levantados, o trabalho sugere possíveis soluções aos dilemas levantados no decorrer da pesquisa sobre o assunto pesquisado, referente às aulas no formato de EAD. Foi entrevistada a professora da disciplina de Vivências em Educação Musical 2 do curso de Educação Musical oferecido pela Universidade Federal de São Carlos, mais 1 O Equilíbrio Entre o Presencial e o Virtual foi apresentado no XVI Encontro Anual da ABEM em 2007.
especificamente sobre os conteúdos de flauta doce contemplados por essa mesma disciplina para serem comparados com a de flauta doce oferecida pelo curso de Licenciatura em Música, também pela mesma instituição de ensino superior citada. 2 METODOLOGIA A metodologia utilizada não manteve o foco da pesquisa nas disciplinas, mas sim nas professoras da mesmas, Maria Carolina Leme Joly e Ilza Zenker Leme Joly, como suas aulas são planejadas e aplicadas e como se dá o equilíbrio entre os âmbitos virtuais e presenciais utilizados. Também foram analisados os materiais didáticos disponíveis para os alunos e como eles são usados em sala de aula. 3 DADOS COLETADOS SOBRE OS CONTEÚDOS DE FLAUTA DOCE NA DISCIPLINA VIVÊNCIAS EM EDUCAÇÃO MUSICAL Alguns dados considerados relevantes para a pesquisa foram coletados através de uma breve entrevista com a professora da disciplina em questão do curso à distância sobre qual foi sua metodologia utilizada para a formulação e aplicação das aulas e do material didático. 3.1 A DISCIPLINA, O CONTEÚDO E SUAS AULAS Nas aulas em questão foi dada grande importância para o caráter presencial, sendo que acontecem nos pólos de apoio uma vez por semana por duas horas. São em grupo, requerendo a presença dos alunos. Em segundo plano está se caráter virtual, com orientações online de como e o que vão tocar em sala durante a aula. O conteúdo do presente semestre são conceitos básicos de técnica para a execução musical, ou seja, para iniciantes (apenas as notas da mão esquerda). Além de outros conceitos genéricos e não específicos de flauta doce como notação musical alternativa. 3.2 MATERIAL DIDÁTICO 2 A disciplina de Vivências em Educação Musical do curso Licenciatura em Educação Musical com Habilitação em Recursos Musicais, Didáticos e Tecnológicos Modalidade Educação à Distância pela Universidade Federal de São Carlos. Tem aulas presenciais e congrega o conteúdo de várias outras disciplinas do cursos de Licenciatura em Música, de caráter presencial e também oferecido pela UFSCar.
O material didático constitui praticamente toda a parte virtual do curso. Os alunos têm acesso ao mesmo pela internet e/ou CD s e DVD s disponibilizados pelo curso. Neste material é possível encontrar as partituras que serão executadas em aulas presencias bem como o áudio das mesmas, pequenos vídeos demonstrando como deve ser a posição e a sonoridade das notas e questões de embocadura e referencial histórico sobre a família das flautas. Todo este material está disponível via internet no moodle (ferramenta de mídia usada nos cursos à distância oferecidos pela UFSCar) para o acesso dos alunos. Segundo a própria professora, esta era uma das únicas qualidades, em seu julgamento, que poderia ser virtual (Sobrando apenas uma reflexão feita à distância peloos alunos como uma das etapas de avaliação). Cabendo às aulas presenciais todo o resto da disciplina. 3.3 AVALIAÇÃO A avaliação também é feita de forma presencial, com exceção de uma reflexão feita pelos alunos em um diário de forma virtual à distância. Os tópicos analisados para avaliação são: Participação em sala de aula Avaliação presencial do desempenho Prova prática com execução de peças
4 DADOS REFERENTES À DISCIPLINA DE FLAUTA DOCE NO CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA A disciplina de flauta doce usa métodos bastante convencionais para o ensino coletivo do instrumento. As aulas são todas presenciais e ministradas pelo próprio professor da disciplina e não por um tutor, como é o caso das disciplinas do curso à distância de educação musical, onde o professor apenas formula as aulas, o material a ser utilizado e os critérios de avaliação e não aplica as mesmas diretamente. Outra diferença que pode ser notada é que o conteúdo desta disciplina aprofunda-se um pouco além do conteúdo da disciplina de Vivências em Educação Musical, além de abordar tanto a flauta soprano quanto a contralto, ao contrário da disciplina de Vivências que aborda somente a flauta doce soprano. Isso acontece porque o curso presencial possui uma disciplina específica para flauta doce e o curso à distância precisa unir vários tópicos além do conteúdo de flauta doce na sua respectiva disciplina. Mesmo assim, é importante ressaltar que a matéria em questão não se limita apenas ao estudo técnico do instrumento. Vários elementos de educação e, mais especificamente, educação musical também são abordados e explorados pela disciplina de flauta doce. Existe grande ênfase na socialização e seus benefícios, ocorrem atividades de arranjo coletivo entre os alunos e também acontecem atividades corporais, como danças circulares. Todas essas atividades levam as aulas a um passo adiante do mero estudo técnico do instrumento, trazendo à tona princípios de educação musical que podem ser aplicados mais tarde pelo profissional formado pelo curso em inúmeras situações educacionais, não apenas aulas de flauta doce, integrando a disciplina com todo o perfil profissional proposto pelo projeto do curso de Licenciatura em Música da UFSCar, também como o de Licenciatura em Educação Musical da UAB- UFSCar. 4.1 MATERIAL DIDÁTICO
Seu material didático é disponibilizado aos alunos também de forma presencial. Eles recebem partituras com conteúdos de técnica e de peças a serem executadas. Existiu a proposta de utilizar a ferramenta Moodle (a mesma utilizada nos cursos à distância oferecidos pela UFSCar) no formato de fórum virtual para contribuir com as aulas sem que houvesse necessidade de ocupar o tempo cumprido presencialmente. 4.2 AVALIAÇÃO A avaliação ocorre presencialmente e, neste ponto, é bem semelhante à disciplina de Vivências em Educação Musical, utilizando os mesmos critérios com exceção do diário virtual. Outra grande diferença é o conteúdo mais aprofundado que esta disciplina apresenta, exigindo maior desempenho dos alunos de técnica do instrumento. 5 ANÁLISE DOS DADOS Em uma breve análise dos dados coletados referentes à disciplina do curso à distância e do curso presencial, é possível notar que a grande prioridade foi dada ao caráter presencial da disciplina e foi delegado ao espaço virtual o mínimo possível, sendo que toda a prática dos alunos e praticamente toda a avaliação acontece nas aulas presenciais dos pólos de apoio, diferindo em pouco com as aulas presenciais de flauta doce no ensino do instrumento. Um dado importante levantado pela professora entrevistada da disciplina de Vivências é que a principal diferença com o curso presencial não são as vantagens oferecidas pela Educação à distância e sim a aplicação das aulas. No sistema utilizado pelo curso à distância cabe ao professor montar as aulas, o material didático e definir os critérios de avaliação, mas não é o próprio professor que os aplica. Toda as aulas são ministradas e o material aplicado por tutores no pólo de apoio nas aulas presenciais. Ainda segundo a professora, isso acarreta em certas peculiaridades não encontradas no curso presencial. Quando o material e as aulas foram elaborados, várias questões
tomadas em conta para suas preparações podem ter um caráter subjetivo quando essas mesmas são aplicadas em sala de aula. Como exemplo, podemos tomar as avaliações de flauta doce: O professor as elabora e diz ao tutor quais os critérios necessários para a aprovação dos alunos, mas mesmo tais critérios não estão livres de subjetividade. O professor que os elaborou tem sua própria experiência e vivência musical e as transpõe nas suas atividades. Já os tutores tem suas próprias vivências e tais critérios previamente estabelecidos pelo professor ficam sujeitos à subjetividade que a situação acaba por impor. Ao analisar estes dados na tentativa de encontrar como acontece o equilíbrio entre as práticas didático pedagógicas e as vantagens da tecnologia de comunicação à distância aplicadas no ensino, chegou-se a uma interessante questão: o papel do tutor na aplicação das aulas e dos materiais formulados pelo professor do curso à distância. Medidas simples poderiam ser tomadas para contornar a situação, como um controle mais rigoroso por parte do professor, mas outras medidas poderiam ser tomadas para evitar justamente que o dilema se instaurasse. Como proposta de solução, após deliberação com o grupo de pesquisa EdMusEad e aprofundamento na bibliografia analisada, sugeriu-se que seria necessário que o tutor contratado para a aplicação de disciplinas do curso à distância fosse especialista ou que tenha, ao menos, contemplado em sua formação original todos os parâmetros abordados pela disciplina de forma que possa abranger a todos sem que haja detrimento de algo. Visto que a disciplina possui ampla abordagem e que a professora trabalhou de maneira que pudesse explorá-la plenamente, faz-se necessário que seu tutor tenha uma formação que permita suportar sua amplitude. Ou seja, uma maneira fácil de contornar a situação, segundo deliberação do grupo de pesquisa, é ter um sistema seletivo criterioso para os tutores que garanta a contemplação de toda a amplitude que a disciplina exige. Outra possível solução levantada, com ajuda da própria professora, é que houvesse um treinamento dos tutores para a própria disciplina, e não uma mera preparação para a tutoria em si, resolvendo de maneira simples o problema. É importante citar que, de maneira alguma, essa situação seja resultante de um problema com os tutores ou com a forma que a educação à distância esteja sendo usada.
Tanto a professora como o grupo de pesquisa reconhecem que o sistema implantado ainda é novo e várias experiências são vividas ao longo do processo. Dificuldades como essa são encontradas em qualquer sistema e saná-las faz parte de sua elaboração. REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS JOLY, Ilza Z. L. et al.; GOHN, Daniel M.; SANTIAGO, Glauber L. A. Projeto Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal de São Carlos Curso de Educação Musica Modalidade Educação a Distância. KEMP, Anthony E. Introdução à Investigação em Educação Musical. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. 153 p. Lucena, Alex. E-Learning: O Ensino à Distância Ainda Mais Prático. Disponível em: http://www.aprendaki.com.br/art_not.asp?codigo=74. Acesso em: 20 de julho de 2007. Moran, José Manuel. Educação On-line e sua Didática. Disponível em: http://www.aprendaki.com.br/art_not.asp?codigo=17. Acesso em : 20 de Julho de 2007. Moran, José Manuel. Proposta de Mudanças nos Cursos Presenciais com a Educação Online. Disponível em: http://www.aprendaki.com.br/art_not.asp?codigo=18. Acesso em: 20 de Julho de 2007 PINHEIRO, Marco Antônio. Estratégias para o Design Instrucional de Cursos pela Internet: Um Estudo de Caso. 2002. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis). Vicarri, Rosa. Proposta de Modelo Computacional de Aprendizagem à Distância. Disponível em: http://www.aprendaki.com.br/art_not.asp?codigo=12. Acesso em: 20 de Julho de 2007