DIDÁTICA A DIDÁTICA E AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

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Transcrição:

DIDÁTICA A DIDÁTICA E AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

Comenius registra sua ideias na primeira obra clássica, chamada Didática Magna. Os demais pensadores e teóricos como Rousseau, Pestalozzi e Herbart formaram as bases do pensamento pedagógico europeu e demarcaram as concepções pedagógicas chamadas: Pedagogia Tradicional com ênfase na transmissão do saber e a concepção de ensino como impressão de imagens a partir da palavra do professor ou pela observação sensorial. Pedagogia Renovada Seu maior expoente foi John Dewey (1859 1952). Opõe-se à tradicional na medida em que valoriza a criança, que tem liberdade, iniciativa e interesses próprios, sendo sujeito da sua aprendizagem; dá tratamento científico ao processo educacional considerando as etapas sucessivas do desenvolvimento biológico e psicológico; respeita as capacidades individuais; e rejeita os modelos adultos, mudando o foco para a atividade da criança

As ideias de John Dewey influenciaram na formulação da política educacional, na legislação, na investigação acadêmica e na prática escolar do sistema educacional brasileiro. Para Dewey, o foco da educação pela instrução é substituído pela ação. A escola é considerada a própria vida e a educação é o resultado da interação entre o organismo e o meio. Por isso, a escola deve estimular o aluno a participar de atividades próprias do organismo para que ele cresça e se desenvolva.

No Brasil, as tendências pedagógicas estão classificadas em dois grupos as de cunho liberal engloba: a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia Renovada, e a Pedagogia Tecnicista. as de cunho progressista engloba: a Pedagogia Libertadora, e a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos.

1. PEDAGOGIA TRADICIONAL Caracteriza-se por considerar que o ensino consiste na transmissão de conteúdos e que a capacidade de aprender da criança é igual à do adulto, sem considerar as características próprias de cada idade. O professor tem poder decisório quanto à metodologia, conteúdo e avaliação. Procura a retenção das informações e conceitos através da repetição de exercícios sistemáticos (tarefas). Há a tendência de tratar a todos os alunos igualmente: todos deverão seguir o mesmo ritmo de trabalho, estudar os mesmos livros-texto, no mesmo material didático e adquirir os mesmos conhecimentos. A concepção de educação é caracterizada como produto, já que estão pré- estabelecidos os modelos a serem alcançados. Não se destaca, portanto, o processo. São privilegiadas as atividades intelectuais. O ensino é centrado no professor, que usa a aula expositiva como a única forma de ser passado o conteúdo a ser aprendido. Após exercícios de repetição, os alunos reproduzem-no através de provas orais e escritas. O uso de recursos de ensino como objetos, figuras, ilustrações etc., serve para formar as imagens na mente através dos sentidos, mas não leva a sua reelaboração porque a aprendizagem é apenas receptiva, automática, dispensando qualquer atividade do próprio pensamento. Mas não é isto que se vê ainda hoje? O ensino tradicional ainda prevalece no cotidiano escolar: as aulas são expositivas, no sentido da transmissão de conhecimentos, os assuntos são ministrados sem questionamento, sem significado, sem vinculação com a realidade e o que se espera do aluno é que memorize sem compreendê-los.

2. PEDAGOGIA RENOVADA Caracteriza-se por considerar que o ensino consiste no estímulo que é dado ao aluno para buscar, por si mesmo, conhecimentos e experiências, partindo dos seus interesses e necessidades. Muda-se o foco do processo de ensino: em vez de centrar-se no professor, agora tem o aluno como eixo para o qual convergem todas as atividades facilitadoras da aprendizagem. Passa-se a ideia de que o aluno aprende fazendo, e não, só ouvindo e vendo. O professor é quem promove as situações de aprendizagem capazes de atender às individualidades dos alunos. As primeiras manifestações desse movimento se deram com crianças excepcionais e deficientes mentais, fora da instituição escolar. A pediatra Maria Montessori e do médico Ovíde Decroly, preocupados com a individualização do ensino, com a estimulação às atividades livres concentradas, baseados no princípio da autoeducação. Daí surge a valorização de métodos e técnicas de ensino, como o trabalho em grupo, o estudo dirigido, as pesquisas etc., sempre oportunizando o aluno a refletir sobre o que está aprendendo, como forma de exercitar a autonomia de pensamento. Contribui para a construção de uma sociedade em que seus membros se aceitem e se respeitem em suas diferenças. Esta nova forma de entender a Educação leva necessariamente a uma mudança, por contraposição à Pedagogia Tradicional, nos elementos constitutivos da prática pedagógica. Assim é que o professor deixa de ser o centro do processo, dando o lugar ao aluno. O professor deixa de ser o transmissor dos conteúdos, passando a facilitador da aprendizagem. conteúdos programáticos passam a ser selecionados a partir dos interesses dos alunos. As técnicas pedagógicas da exposição, marca principal da Pedagogia Tradicional, cedem lugar aos trabalhos em grupo, dinâmicas grupais, pesquisa, jogos de criatividade. A avaliação deixa de valorizar os aspectos cognitivos, com ênfase na memorização, passando a valorizar os aspectos afetivos (atitudes) com ênfase na autoavaliação.

3. PEDAGOGIA TECNICISTA A tendência tecnicista firma-se nos anos 70, alicerçada no princípio da otimização: racionalidade, eficiência e produtividade. Com sua organização racional e mecânica, visava corresponder aos interesses da sociedade industrial. A semelhança com o processo industrial não ocorre por acaso, pois tal proposição atinge seu apogeu nos anos 70, período de forte presença do autoritarismo do Estado e do regime militar. É nesse período que o espírito crítico e reflexivo é banido das escolas. Caracteriza-se por considerar que o ensino consiste em um processo de condicionamento. O comportamento aprendido é uma resposta a estímulos externos. O aluno aprende quando muda de comportamento. Para tal, a ênfase recai sobre técnicas específicas para que ocorra esta mudança. Tudo isso voltado para atender a ordem social vigente, o sistema capitalista, que vê a escola como uma produtora de indivíduos competentes para o mercado de trabalho. Na "Pedagogia Tecnicista", o aluno e o professor ocupam uma posição secundária, porque, o elemento principal é o sistema técnico de organização da aula e do curso. Orientados por uma concepção mais mecanicista, os professores brasileiros entendiam seus planejamentos e planos de aulas centrados apenas nos objetivos que eram operacionalizados de forma minuciosa. Faz parte ainda desse contexto tecnicista o uso abundante de recursos tecnológicos e audiovisuais, sugerindo uma "modernização" do ensino.

4. PEDAGOGIA LIBERTADORA Baseado na pedagogia do oprimido do educador Paulo Freire, propõe uma educação crítica a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas para a superação das desigualdades existentes no interior da sociedade. Caracteriza-se por considerar que o ensino consiste numa atividade onde professores retiram da experiência dos alunos, os conteúdos de aprendizagem que contribuem para questionar a realidade das relações do homem visando transformá-la. Essa Pedagogia começou a ser empregada nos movimentos sociais, como sindicatos, associações comunitárias e comunidades religiosas, cujos alunos já vivenciavam uma prática política e hoje a mesma de dá de maneira formal nas escolas públicas de ensino fundamental do turno noturno. (EJA) É uma perspectiva transformadora da educação onde o foco sai do conteúdo e se dirige para a relação e onde o aluno desloca-se do papel passivo e passa para o ativo. Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas (isto é, as "escolas burguesas"), que ele qualificou de educação bancária. Nela, segundo Freire, o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras, o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos.

5. PEDAGOGIA CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS As propostas desta tendência foram desenvolvidas, no Brasil, por Dermeval Saviani, o qual se baseia em vários autores, como: Marx, Grasmci, Kosik, Snyders, entre outros. Junto a Saviani, tendo vários outros educadores que elaboram a favor desta corrente, dos quais destacamos José C. Libâneo, Carlos R. J. Cury e Guiomar N. de Mello. está preocupada com a função transformadora da educação em relação à sociedade, sem, com isso, negligenciar o processo de construção do conhecimento fundamentado nos conteúdos acumulados pela humanidade. A pedagogia crítico-social é uma das correntes da pedagogia crítica que propõe uma educação vinculada à realidade econômica e sociocultural dos educandos, ligando ensino e ação transformadora da realidade, ação e reflexão, prática e teoria. Sustenta a ideia de que o conhecimento está comprometido com a emancipação das pessoas, com a liberdade intelectual e política. Por isso, associa as tarefas do ensino a uma análise crítica sócio-histórico-cultural do contexto em que as pessoas vivem. Na prática, significa uma abordagem crítica dos conteúdos, crítica no sentido de tratar os conteúdos escolares dentro de uma análise concreta das relações econômicas, sociais, culturais que envolvem a prática escolar. A pedagogia crítico-social quer contribuir efetivamente para a formação sujeitos pensantes e críticos.

a) Caracterização das Tendências da Pedagogia Liberal Tendência liberal tradicional - são os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e repassadas ao aluno como verdades. As matérias de estudo visam preparar o aluno para a vida, são determinadas pela sociedade e ordenadas na legislação Os conteúdos são separados da experiência do aluno e das realidades sociais, valendo pelo valor intelectual, razão pela qual a pedagogia tradicional é criticada como intelectualista e, às vezes, como enciclopédica. Tendência liberal renovada progressista - como o conhecimento resulta da ação a partir dos interesses e necessidades, os conteúdos de ensino são estabelecidos em função de experiências que o sujeito vivencia frente a desafios cognitivos e situações problemáticas. Dá-se, portanto, muito mais valor aos processos mentais e habilidades cognitivas do que a conteúdos organizados racionalmente. Trata-se de aprender a aprender, ou seja, é mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber propriamente dito. Tendência liberal renovada não-diretiva - a ênfase que esta tendência põe nos processos de desenvolvimento das relações e da comunicação torna secundária a transmissão de conteúdos. Os processos de ensino visam mais facilitar aos estudantes os meios para buscarem por si mesmos os conhecimentos que, no entanto, são dispensáveis. Tendência liberal tecnicista - são as informações, princípios científicos, leis etc., estabelecidos e ordenados numa sequência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e mensurável; os conteúdos decorrem, assim, da ciência objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O material instrucional encontra-se sistematizado nos manuais, nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos dispositivos audiovisuais etc

b) Caracterização das Tendências da Pedagogia Progressista: Tendência progressista libertadora - denominados termos geradores, são extraídos da problematização da prática de vida dos educandos. Os conteúdos tradicionais são recusados porque cada pessoa, cada grupo envolvidos na ação pedagógica dispõem em si próprios, ainda que de forma rudimentar, dos conteúdos necessários dos quais se parte. O importante não é a transmissão de conteúdos específicos, mas despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida. A transmissão de conteúdos estruturados a partir de fora é considerada como invasão cultural ou depósito de informação, porque não emerge do saber popular. Se forem necessários textos de leitura, estes deverão ser redigidos pelos próprios educandos com a orientação do educador. Tendência progressista libertaria - as matérias são colocadas à disposição do aluno, mas não são exigidas. São um instrumento a mais, porque importante é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo grupo, especialmente a vivência de mecanismos de participação crítica. Conhecimento aqui não é a investigação cognitiva do real, mas a descoberta de respostas às necessidades e às exigências da vida social. Assim, os conteúdos propriamente ditos são os que resultam de necessidades e interesses manifestos pelo grupo e que não são, necessária nem indispensavelmente, as matérias de estudo. Tendência progressista crítico-social dos conteúdos - são os conteúdos cultuais universais que se constituíram em domínios de conhecimento relativamente autônomos, incorporados pela humanidade, mas permanentemente reavaliados face às realidades sociais. Embora se aceite que os conteúdos são realidades exteriores ao aluno, que devem ser assimilados e não simplesmente reinventados, eles não são fechados e refretários às realidades sociais. Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que, bem ensinados; é preciso que se liguem, de forma indissociável, à sua significação humana e social. Essa maneira de conceber os conteúdos do saber não estabelece oposição entre cultura humana erudita e cultura popular, ou espontânea, mas uma relação de continuidade em que, progressivamente, se passa da experiência imediata e desorganizada ao conhecimento sistematizado. Não que a primeira apreensão da realidade seja errada, mas é necessária a ascensão a uma forma de elaboração superior, conseguida pelo próprio aluno, com a intervenção do professor.