OBSERVANDO OS ESPAÇOS RESIDUAIS PROVOCADOS PELO TELEFÉRICO DO COMPLEXO DO ALEMÃO, RIO DE JANEIRO

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Transcrição:

Departamento de Arquitetura e Urbanismo - PUC-Rio OBSERVANDO OS ESPAÇOS RESIDUAIS PROVOCADOS PELO TELEFÉRICO DO COMPLEXO DO ALEMÃO, RIO DE JANEIRO Aluno: Ana Luisa Coutinho (Bolsista PIBIC) e Amanda Senna (Bolsista TEPP) Professor: Fernando Espósito Introdução Ao longo da última década, a cidade do Rio de Janeiro experimentou importantes processos de reestruturação urbana em resposta aos megaeventos esportivos dos quais foi sede, sendo estes a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. Uma parte significativa dessas reformas foi desenvolvida em áreas de interesse social sob o argumento de segurança e integração urbana. Nesse contexto, pode-se ressaltar o Complexo do Alemão, uma das mais habitadas favelas da cidade, e das que mais sofreu intervenções. Nesta região, importantes iniciativas foram desenvolvidas, dentre as quais destacam-se a implementação do teleférico, como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Esse arranjo reestruturante envolveu a remoção de moradias, dando lugar às novas infraestruturas, que compreendem, além das das 6 estações do teleférico e dos 25 pilares de sustentação do sistema, as bases das UPPs - o que gerou um conjunto de espaços residuais que permeiam as áreas intervidas. Objetivo A pesquisa tem como objetivo analisar a dinâmica de transformação, usos, apropriações e eventuais conflitos desses espaços residuais, focando o estudo no último trecho do teleférico, entre as estações Itararé e Palmeiras (Fazendinha). Neste trecho, o mais denso, dinâmico, e mais afetado pelas intervenções, se localizam 7 dos 25 pilares do sistema e duas das estações. Metodologia A metodologia utilizada consiste na observação, levantamento, análise e comparação entre os diferentes momentos por quais passaram esses espaços residuais no período compreendido entre os anos de 2008 (início das obras) e 2017. O levantamento desses dados foi realizado a partir da organização de materiais como registros fotográficos para melhor acompanhamento dos desdobramentos da obra do teleférico; elaboração de relatórios de visita ao complexo; produção de mapas e cortes para representação gráfica do trecho de forma geral e também dos pilares de forma mais específica (mapeamento de taludes e dos espaços residuais); extração de dados do banco da prefeitura; extração da área não ocupada dos espaços residuais via Google Earth; produção de fichas que englobam esses recursos gráficos para uma melhor análise comparativa dentro do período

analisado; leitura de livros e artigos para a construção de uma base bibliográfica que a partir de autores e conceitos fundamenta a compreensão das dinâmicas envolvidas neste processo; acompanhamento de notícias em diferentes fontes e mídias. As fichas comparativas englobam mapas que reconhecem o espaço residual consequente do pilar analisado; texto explicativo elaborado a partir do relatório de visitas; registros fotográficos; corte esquemático para um melhor entendimento espacial. Ficha comparativa pilar 18

Conclusão As observações e acompanhamento da evolução dos espaços residuais, permitiu descobrir que estes, embora são lugares relativamente controlados que fazem parte das políticas oficiais do estado, são absorvidos pela comunidade como espaços disponíveis, gerando novos usos e apropriações. Em alguns casos se trata de usos positivos, em outros, negativos, que fomentam mais ainda algumas condições de risco e vulnerabilidade. O resultado leva a concluir que os investimentos, apesar de positivos em uma primeira análise, partem da estigmatização do território favela e da violência simbólica que permeia a compreensão das áreas favelizadas pelo poder público. Essa distorção conduz a uma gestão unilateral e pouco participativa desses espaços, deixando-os à deriva, suscetíveis a apropriações ou abandono. Produtos Publicados Durante o ano foram desenvolvidos produtos e materiais de divulgação. Dentre eles: - Pôster exposto em 23 e 24 de fevereiro de 2017 na IV Conferência de Planeamento Regional e Urbano (PRU) da universidade de Aveiro, em Portugal (como resumo expandido publicado nos anais do evento). A conferência apresentou como tema a participação em planeamento do território e políticas públicas e teve como objetivo dar visibilidade a dinâmicas de investigação e de extensão nas quais docentes, investigadores e alunos têm estado envolvidos: o papel das novas tecnologias de comunicação no planeamento; Alianças Territoriais para a Inovação; Abordagens inovadoras aos processos de participação em planos estratégicos territoriais; Movimentos sociais territoriais e novas formas de envolvimento - movimentos auto-organizados e urbanismo tático; a participação das comunidades no planejamento. A configuração do poster visa introduzir o tema de forma dinâmica e aprofundar em dois pilares que tiveram processos de ocupação mais evidentes, o 20 e o 21. Isso provoca um melhor entendimento das consequências da obra do teleférico no Complexo. Para isso, foram utilizados recursos gráficos como uma linha do tempo que narra os acontecimentos mais relevantes no período analisado; elevação para representar o levantamento topográfico; imagens como registros de visitas para melhor acompanhamento.

Pôster enviado para a conferência na Universidade de Aveiro, Portugal - Artigo na revista Planeo Chile em Junho de 2017 voltado para o tema de cidades inclusivas. A chamada foi para publicações que refletissem entorno da cidade como condicionante de acessibilidade e oportunidades em suas

diversas formas. Tendo o tema em vista, nosso artigo teve como enfoque a resposta da comunidade à insuficiência do estado que surge através de pequenas organizações que tentam diminuir grandes lacunas como a falta de educação básica, do debate entre a comunidade e até mesmo da imersão da população em programas como artesanato que de forma tendem a criar laços entre as aqueles que o praticam. http://revistaplaneo.cl/2017/06/07/ciudad-inclusiva-en-favelas-el-caso-del-complexodo-alemao-en-el-rio-de-janeiro-post-olimpico/ - Envio de resumo (em avaliação) para participar da Conferência Internacional Marginalidad Urbana y Efectos Institucionales, que acontecerá durante os dias 11, 12 e 13 de outubro de 2017 em Santiago do Chile. Os melhores artigos serão publicados na revista EURE, da PUC Chile. Título do Trabalho: Estigmatização e marginalidade no Rio de Janeiro pós-olímpico. Os espaços residuais gerados pelo teleférico do Complexo do Alemão Referências Bibliográficas 1 - JENNINGS, Andrew. Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas?. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 20141. 2 FAULHABER, Lucas; AZEVEDO Lena. SMH2016: Remoções no Rio de Janeiro Olímpico. Rio de Janeiro 2015, Mórula 3 - HAESBAERT, Rogerio. Viver no Limite: Território e multi/transterritorialidade em tempos de in-segurança e contenção. Rio d Janeiro 2014, Bertrand Brasil. 4 - VASCONCELOS, Pedro; CORRÊA, Roberto; PINTAUDI, Silvana. A Cidade Contemporânea: Segregação Especial. São Paulo, 2013, Editora Contexto. 5- SOARES GONÇALVES, Rafael. A política, o direito e as favelas do Rio de Janeiro: um breve olhar histórico. 6- DE LACERDA PESSÔA BORDE, Andréa. Percorrendo os vazios urbanos. 7- DE SOUZA E SILVA, Jailson; BARBOSA, Jorge Luiz; DE OLIVEIRA BITETI, Mariane; LANNES FERNANDES, Fernando. O que é favela afinal? 8- LATOUR, Bruno. Políticas da natureza: como fazer ciência na democracia. Bauru, SP, EDUSe, 2004. 9- BALBO, Marcello; JORDÁN, Ricardo; SIMIONI, Daniela. La Ciudad inclusiva. 10- ESPÓSITO-GALARCE, Fernando; COUTINHO M. DA SILVA, Rachel. Apropiación, uso y abandono de los espacios residuales provocados por el teleférico del Complexo do Alemão

11- HAESBAERT, Rogerio. Viver no Limite: Território e multi/transterritorialidade em tempos de in-segurança e contenção. Rio d Janeiro 2014, Bertrand Brasil. 12- VASCONCELOS, Pedro; CORRÊA, Roberto; PINTAUDI, Silvana. A Cidade Contemporânea: Segregação Especial. São Paulo, 2013, Editora Contexto.