IV SEMINÁRIO DE PRÁTICA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA ISSN: Universidade Estadual de Maringá 12, 13 e 14 de Novembro de 2014

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Transcrição:

DISCUSSÕES FILOSÓFICO-CONCEITUAIS SOBRE A PROPOSTA DE UMA TEORIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL DO DESENVOLVIMENTO Claudia Daiane Batista Bettio (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, Laboratório de Filosofia e Metodologia da Psicologia, Departamento de Psicologia,, Maringá-PR, Brasil); Carolina Laurenti (Laboratório de Filosofia e Metodologia da Psicologia, Departamento de Psicologia,, Maringá-PR, Brasil); Carlos Eduardo Lopes (Laboratório de Filosofia e Metodologia da Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil). contato: daiane.bettio@hotmail.com Palavras-chave: Análise do Comportamento. Teoria do desenvolvimento. Comportamentalismo radical. Pelo menos desde a década de 60 do século XX a Análise do Comportamento tem publicado obras emblemáticas que discorrem sobre o desenvolvimento humano. A título de exemplo, é possível citar o livro Child development: a systematic and empirical theory, publicado em 1961 por Sidney W. Bijou e Donald Baer. Essa publicação foi considerada o primeiro livro sobre desenvolvimento humano em Análise do Comportamento (GEHM, 2013). A essa obra se seguiram outras, como o livro publicado por Schlinger Jr. em 1995, intitulado A behavior analytic view of child development. Embora existam essas e outras publicações, a literatura analítico-comportamental tem identificado que suas contribuições usualmente não são contempladas nos manuais de psicologia do desenvolvimento ou, quando são, as menções a respeito de tais contribuições são insuficientes ou inadequadas (PELAEZ; GEWIRTZ; WONG, 2008). Esse quadro tem gerado uma reação por parte da literatura analítico-comportamental, que se expressa por meio de argumentos no sentido de justificar a possibilidade de uma teoria analítico-comportamental do desenvolvimento (PELAEZ; GEWIRTZ; WONG, 2008). Diante disso, esta pesquisa problematizou o fato de que o conceito de teoria é bastante controverso no campo analítico-comportamental, tanto que Skinner por vezes foi acusado de ateórico e, até mesmo, de anti-teórico (CARRARA, 2005). Somadas à complexidade do conceito de teoria, existem inúmeras críticas nos textos skinnerianos endereçadas ao conceito de desenvolvimento. Tendo em vista que a abordagem desses conceitos é, frequentemente, alvo de discussões, o objetivo desta pesquisa foi dar um passo anterior às argumentações de alguns analistas do comportamento e avaliar se a proposta de uma teoria do desenvolvimento seria, antes de tudo, coerente com os pressupostos do comportamentalismo radical.

Para alcançar o objetivo proposto foi realizada uma pesquisa de natureza conceitual, uma modalidade de estudo que busca examinar um ou mais conceitos no âmbito de determinada teoria, relacionando-os com a dimensão conceitual da teoria psicológica investigada e sondando os compromissos filosóficos subjacentes aos conceitos (LAURENTI, 2012). Com base nas especificidades do estudo conceitual, esta pesquisa foi dividida em três etapas complementares. A primeira etapa consistiu em investigar o conceito de teoria para o comportamentalismo radical. A segunda etapa objetivou examinar o conceito de desenvolvimento na filosofia que subsidia a Análise do Comportamento. Por fim, o último passo foi derivar implicações das discussões realizadas para a proposta de uma teoria analítico-comportamental do desenvolvimento. A realização dessas etapas teve por base a análise de textos skinnerianos e de comentadores por meio do método de interpretação conceitual-estrutural de texto (LOPES; LAURENTI, s. d.). Nas análises textuais referentes ao conceito de teoria, o primeiro ponto averiguado foi se as acusações a Skinner como ateórico e anti-teórico (CARRARA, 2005) se sustentam. Disso foi possível constatar que esses julgamentos não encontram respaldo nos textos skinnerianos. Uma possível explicação para tais acusações talvez seja o fato de Skinner criticar duas acepções de teoria. A primeira dessas acepções criticadas é aquela que toma teoria como qualquer explicação de um fato observável que apele a eventos que supostamente ocorram em dimensões diferentes da comportamental, sejam esses eventos de natureza neurofisiológica, mentalistal ou conceitual (SKINNER, 1999b). A segunda acepção criticada por Skinner (1999b) é aquela que aborda a teoria como um mero acúmulo de fatos observáveis. Segundo ele, as teorias têm uma generalidade que transcende os fatos particulares. Por conta disso, considera que o comportamento apenas poderia ser entendido satisfatoriamente ultrapassando os fatos em si, ou seja, criando uma teoria comportamental. Apesar de criticar essas acepções, Skinner (1999a) admite que fazer ciência completamente sem teoria talvez seja muito para se esperar de uma prática geral, então vislumbra a possibilidade de teoria em outro sentido. Do ponto de vista do comportamentalismo radical, a formulação teórica é possível e até desejável em Análise do Comportamento, desde que teoria seja concebida como uma apresentação formal dos dados, reduzida a um número mínimo de termos (SKINNER, 1999b). Nesse sentido, para Skinner (1999b), o conceito de teoria deve ser compreendido como afirmações a respeito de relações estabelecidas entre dados observáveis, que não se

refiram a um sistema dimensional diferente do comportamental. Essa proposta desconstrói a visão recorrente que se tem desse autor como um grande anti-teórico. Entretanto, um alerta merece ser mencionado: para construir uma nova teoria comportamental não basta consertar um modelo antigo (de uma teoria neurofisiológica, mentalista ou conceitual, por exemplo), pois a teoria antiga pode deixar sua marca na estrutura sobrevivente (SKINNER, 1999b). Outro ponto importante que deve ser esclarecido é a respeito do escopo de uma teoria comportamentalista radical. Sobre isso, é válido mencionar que embora a teoria seja concebida como tendo uma generalidade que transcende os fatos (SKINNER, 1999b), Abib (1999) afirma que existe um parentesco entre o discurso pósmoderno e o discurso do comportamentalismo radical, principalmente no tocante à incredulidade em relação às metanarrativas. Assim sendo, a ideia de uma grande Teoria ou sistema, de caráter universal e atemporal, parece não encontrar guarida na filosofia da ciência skinneriana. Tendo esclarecido esses pontos, é possível discutir acerca do que foi constatado sobre o conceito de desenvolvimento. Segundo Skinner (1968), desenvolvimento é uma metáfora. Em sua origem etimológica, desenvolver significava desdobrar ou desenrolar algo que já estava presente. No caso do desenvolvimento humano, o uso desse conceito está comprometido com a ideia de que existiria uma estrutura latente ao sujeito (mental ou biológica), de modo que o ambiente só precisaria fornecer as condições adequadas para essa estrutura se revelar, como se revela um filme fotográfico (SKINNER, 1968). Nessa metáfora, o comportamento é usualmente atribuído à maturação. De acordo com essa visão maturacionista, não é o comportamento em si que se desenvolve, mas sim determinantes internos do comportamento, tais como forças cognitivas, faculdades, traços de caráter ou potenciais genéticos. Criticando essa metáfora, Skinner (1974) afirma que a explicação para as mudanças regulares que os indivíduos passam ao longo de suas vidas não é a existência de um potencial interno ao sujeito. Nesse sentido, embora admita que existe uma certa regularidade nas mudanças pelas quais os sujeitos passam ao longo da vida, Skinner (1987) considera que a ordem das mudanças e a velocidade na qual elas ocorrem não são fixas, ao contrário disso, dependem das contingências ontogenéticas às quais o indivíduo é exposto. Sendo assim, não deve suscitar espanto algum afirmar que uma conclusão mais coerente parece ser que a noção de um processo absoluto, composto por estágios fixos e universais, passa ao largo da concepção

skinneriana. Essa conclusão provavelmente é incômoda para um psicólogo do desenvolvimento que esteja comprometido com a busca de padrões e semelhanças entre os indivíduos. Tendo por base os esclarecimentos acerca dos conceitos discutidos, como a proposta de uma teoria do desenvolvimento se situaria nos preceitos do comportamentalismo radical? No que diz respeito ao conceito de teoria, essa proposta seria coerente com a filosofia que embasa a ciência do comportamento, desde que entendida como afirmações a respeito de relações estabelecidas entre dados observáveis sobre o desenvolvimento, que expliquem esse processo sem ferir o campo comportamental (SKINNER, 1999b). Além disso, essa teoria não deveria ser baseada na tentativa de consertar um modelo de teoria do desenvolvimento pré-existente e seu escopo seria de caráter contingente, não comprometido com as pretensões universais e atemporais das metanarrativas (ABIB, 1999). Por outro lado, o uso do conceito de desenvolvimento pressupõe a necessidade de uma constante vigilância para que essa metáfora não seja tomada em seu sentido literal (LEWONTIN, 2002). Considerando os compromissos etimológicos desse conceito, nos textos de Skinner é predominante a concepção de que desenvolvimento não é um bom termo para ser usado no âmbito da ciência comportamental, principalmente porque está comprometido com o pressuposto de que existem determinantes internos para o comportamento. Com efeito, a proposta de uma teoria do desenvolvimento parece não coadunar com os pressupostos do comportamentalismo radical. Porém, o fato de não existir, marcadamente, uma teoria do desenvolvimento, não significa que a Análise do Comportamento não seja capaz de contribuir para os estudos dessas mudanças que se dão ao longo da vida. Por meio da teoria comportamental, Skinner explicou o desenvolvimento em termos de contingências, apresentando uma concepção alternativa a explicações que recorrem a estágios e processos maturacionais. Exemplos disso são quando ele explica o desenvolvimento de conceitos na infância (SKINNER, 1971) ou quando ele discorre sobre as mudanças comportamentais vivenciadas na velhice (SKINNER, 1987). Essa constatação coloca em xeque a necessidade de uma teoria do desenvolvimento. Tendo isso em vista, uma questão que deve ser reservada a um trabalho posterior é se existem afinidades e distanciamentos entre os conceitos de teoria e de desenvolvimento pressupostos pelo comportamentalismo radical e a forma como a literatura analítico-comportamental, que defende uma teoria do desenvolvimento, tem se apropriado desses conceitos.

Referências ABIB, J. A. D. Behaviorismo radical e discurso pós-moderno. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 15, n. 3, p. 237-247, 1999. CARRARA, K. Behaviorismo radical: crítica e metacrítica. 2. ed. São Paula: Editora UNESP, 2005. GEHM, T. P. Reflexões sobre o estudo do desenvolvimento na perspectiva da Análise do Comportamento. 2013. 73 f. Dissertação (Mestrado Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Experimental) Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. LAURENTI, C. Trabalho conceitual em psicologia: pesquisa ou perfumaria? Psicologia em Estudo, v. 17, n. 2, p. 179-181, 2012. LEWONTIN, R. C. Gene e organismo. In:. A tripla hélice: gene, organismo e ambiente. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 9-45. LOPES, C. E.; LAURENTI, C. Método de interpretação conceitual-estrutural de texto. Londrina: Universidade Estadual de Londrina. Roteiro apresentado aos alunos da disciplina Tópicos Especiais em Análise do Comportamento: Filosofia e Metodologia da Pesquisa Conceitual do programa de mestrado em análise do comportamento. PELAEZ, M.; GEWIRTZ, J. L.; WONG, S. E. A critique of stage theories of human development. In: THYER, B. A.; SOWERS, K. M.; DULMUS, C. N (Orgs.). Comprehensive handbook of social work and social welfare: human behavior in the social environment. Canadá: John Wiley & Sons, 2008. cap. 17, p. 503-518. SKINNER, B. F. Operant behavior. In:. About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf, 1974, p. 64-68. SKINNER, B. F. A case history in scientific method. In: VARGAS, J. S. (Ed.). Cumulative record: definitive edition. Acton: Copley Publishing Group, 1999a, p. 108-131. SKINNER, B. F. Are theories of learning necessary? In: VARGAS, J. S. (Ed.). Cumulative record: definitive edition. United States of America: Copley Publishing Group, 1999b, p. 69-100. SKINNER, B. F. The etymology of teaching. In:. The technology of teaching. New York: Appleton-Century-Crofts, 1968, p. 1-8. SKINNER, B. F. Intellectual self-management in old age. In:. Upon further reflection. New Jersey: Prentice-Hall, 1987, p. 145-157. SKINNER, B. F. The evolution of a culture. In:. Beyond freedom and dignity. New York: Alfred A. Knopf, 1971, p. 127-144.