FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

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Transcrição:

Resumo: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO Estela Maris Giordani 1 Aline Simone Holzschuh 2 Aline Tamires Kroetz 3 Cecília Machado Henriques 4 Patrícia Ketzer 5 Pesquisar a docência no ensino superior supõe um intrínseco refletir sobre a formação profissional que se faz neste nível. A formação no ensino superior não consiste apenas o ato estrito da docência, mas, sobretudo, todos os processos que exigem o pensar de um profissional numa sociedade complexa e globalizada. A avaliação institucional é um destes processos que visa avaliar muitos aspectos, dentre os quais o aluno avalia seus professores. A primeira etapa deste projeto, desenvolvida no ano de 2005, realizou uma análise qualitativa partindo dos resultados da avaliação do desempenho docente por parte dos alunos de cursos de licenciatura, a fim de verificar a percepção que estes possuem sobre a influência exercida por seus professores durante a realização do curso superior. Porém, como outras questões se manifestaram, esta segunda etapa do projeto investiga como o professor universitário tem conduzido os processos de ensino aprendizagem considerando que como docente, influencia na formação de seus acadêmicos, conforme os dados obtidos na primeira etapa desta pesquisa. Visto que os acadêmicos percebem que os professores deixam marcas, que marcas didático-pedagógicas são estas. Quais são os modelos operativos de docência que estão sendo construídos na formação do acadêmico e como este percebe estes modelos. Toma-se a percepção do discente porque se entende que ele também é responsável por sua formação profissional, bem como, entende-se que ele faz parte do sucesso da carreira do docente, pois o sentido que os entrevistados manifestaram em nossas pesquisas anteriores foi exatamente ser o aluno um dos principais motivos de sua qualificação profissional. Espera-se com essa pesquisa o repensar da formação profissional do professor universitário e contribuir para uma formação diferenciada nos cursos de graduação, em especial para os cursos de licenciatura, pois, estes preparam futuros docentes. 1 Drª. em Educação, Profª. Adjunta do Departamento de Metodologia do Ensino UFSM, Coordenadora da Pesquisa. estelagiordani@smail.ufsm.br 2 Acadêmica do Curso de Pedagogia UFSM. alinesholzschuh@yahoo.com.br 3 Acadêmica do Curso de Pedagogia UFSM. ceciliamhenriques@yahoo.com.br 3 4 Acadêmica do Curso de Pedagogia UFSM. ceciliamhenriques@yahoo.com.br 5 Acadêmica do Curso de Filosofia UFSM. patriciaketzer@yahoo.com.br

2 Palavras-chave: Formação. Docência. Ensino superior. Ao investigar a docência no ensino superior, podemos perceber que esta profissão passa por uma série de desafios. Pimenta; Anastasiou (2002), estudando as exigências atuais da profissão de docência no ensino superior consideram que esta profissão supõe um certo privilégio social. É característico, neste nível de ensino, que a docência seja exercida por profissionais que possuam outra formação e atuação profissional. A pedagogia universitária no Brasil é exercida por professores que não têm uma identidade única. Suas características são extremamente complexas [...] (Morosini, 2001, p. 31). Mas o que é ser professor universitário? Quais são as condições do exercício profissional? Consideramos como exigência desta profissão o ensino e a pesquisa. Contudo, a formação que possui é caracterizada por um processo individual e autodidata, pois não existe uma formação específica como professor universitário, ele é quase que o único responsável pela construção de sua formação. E, é com base nessa realidade que, iniciativas como formação contínua ou em serviço têm sido tomadas. A tarefa de ensinar implica não só em domínio pedagógico ou de conhecimentos específicos, mas também em opções éticas, em professores sensíveis e preocupados com os resultados do ensino. Salientam as autoras que, uma amostra que antigos conceitos em relação ao ensino universitário vêm mudando foi dada na Conferência Internacional sobre Ensino Superior uma perspectiva docente, Paris, 1997, promovida pela Organização Sindical Internacional da Educação, onde o documento da mesma demonstra preocupações com temas educacionais não antes abordados na docência universitária. [...] a qualidade da educação, a educação à distância e as novas tecnologias; a gestão e o controle do ensino superior; o financiamento do ensino e da pesquisa; o mercado de trabalho e a sociedade; a autonomia e as responsabilidades das instituições; os direitos e liberdades dos professores do ensino superior; as condições de trabalho; entre outras. (Ibidem, p. 38). Tais desafios têm sido requisitados e isso tem gerado uma mudança das necessidades do perfil ou das características dos professores universitários em relação a sua atuação profissional. A qualificação destes é primordial para o exercício da docência, pois, se espera deles um envolvimento mais abrangente que o de sala de aula. Além disso, é importante perceber que sua formação e atuação requerem cada vez mais, a dimensão interdisciplinar. Isso inclui uma nova visão de atuação no ensino superior

3 que supere a visão fragmentada de exercício apenas como repassador de conhecimentos e se volte à formação de um novo tipo de profissional. Nossa pesquisa busca explicitar a dimensão didático-pedagógica da docência no ensino superior entrando no aspecto qualitativo da avaliação que o aluno faz de seus docentes em relação ao preparo profissional para a docência bem como o exercício da mesma em relação à formação que está realizando no curso de Licenciatura. Perguntamos: o que percebe o aluno, do ponto de vista da sua formação para a docência enquanto interage com o professor? Partindo dos dados obtidos na primeira etapa desta pesquisa, em que foram constatados a influência que o professor universitário exerce na formação de seus acadêmicos ao conduzir os processos de ensino aprendizagem, sentiu-se a necessidade de considerar os processos formativos, os aspectos práticos de condução pedagógica e a dimensão das relações humanas que o professor propicia no sentido de desenvolver o acadêmico como profissional da educação. O aluno vivencia e percebe muitos aspectos que compõe sua formação para a docência durante o desenvolvimento das aulas, das disciplinas durante o curso, mas o que percebe, como observa, como avalia e como relaciona isso a formação profissional que recebe no ensino superior? Nossa pesquisa tem como objetivo identificar os modelos operativos propiciados pelos professores dos cursos de Licenciatura em Pedagogia Anos Iniciais Diurno (2º e 3º semestres) e Pedagogia Anos Iniciais Noturno (2º semestre), em relação aos aspectos didático-pedagógicos e humanos, por meio da percepção que os alunos têm em relação ao aproveitamento desta formação na prática pedagógica deste docente e o modo com que percebem esses aspectos. Buscamos ainda, perceber a influência didático-pedagógica que os professores universitários exercem sobre seus alunos durante a realização do curso superior, para que possamos repensar a formação profissional dos docentes e contribuir para uma formação contínua diferenciada nos cursos de graduação. O problema da formação profissional no ensino superior perpassa pelo papel do professor nesta formação e de sua formação contínua. Enquanto docente ele deve atender ao perfil profissional de seu aluno através da vivência deste em sua prática como docente, seja em termos do conhecimento que ensina, seja através das experiências ou vivências que propicia aos futuros profissionais da educação. A docência (ato do ser professor), portanto, deve testemunhar a validade da formação que o professor está fazendo ou fez e testemunhar o perfil profissional que está formando, de forma que a formação que propicia não seja próforma.

4 No Brasil, a docência no ensino superior ainda é pouco pesquisada e necessita de outras fontes de análise, possibilitando um novo referencial em relação à profissionalização do professor universitário, sua formação acadêmico-científica e a real influência que exerce na formação de seus alunos. O conhecimento é vivo, não-linear, é movimento e, por isso, imprevisível e incerto. Precisa ser refeito e reconfigurado. A conjugação de diferentes variáveis constrói o conhecimento vivo. Essa conjugação de variáveis, diferentes para cada momento, participante ou território sala de aula, laboratório, campo da prática -, é feita e refeita a cada nova necessidade, problema ou interesse. Não há certezas ou absolutos ou verdades que não possam ser submetidas à reflexão, à dúvida. Questionar, saber formular perguntas faz parte do esclarecimento. Por isso, também não se admite a existência de uma única metodologia do ensino, de uma receita para bem ensinar. É preciso construir e reconstruir cada prática pedagógica. Ela sempre será nova a cada conjugação de variáveis, mesmo respeitando-se a epistemologia do campo de conhecimento de cada carreira profissional. A incerteza reside em duvidar das certezas tidas como verdades, em pensar e re-significar o conhecimento em cada uma de todas as relações possíveis (Leite, 2001, p. 103). Assim, que construções ou percursos propicia ao aluno o professor universitário dos cursos de licenciatura? É importante perceber a correlação destas construções que são percursos individuais e a repercussão destes enquanto elementos partícipes da formação do acadêmico dos cursos de licenciatura para a docência. Franco (2001) considera o professor universitário sob alguns pontos de vista, o situacional, o institucional, o político, o profissional e o do avanço do conhecimento, mas em nenhum momento o professor é citado sob o ponto de vista do aluno. Essa pesquisa se justifica pela necessidade de compreender qual a percepção que alunos do Ensino Superior têm de seus professores e como esta pode auxiliar na formação destes professores. Neste sentido, é importante relacionar a formação contínua feita pelo professor universitário e a maneira com que seus alunos percebem sua prática pedagógica em sala de aula enquanto formadores de profissionais que serão futuros docentes. Por isso, pesquisar a percepção que o acadêmico possui sobre o seu professor que é agente de sua formação é também uma nova forma de avaliar as dimensões formativas privilegiadas do professor universitário. No ensino superior, os acadêmicos possuem características diferenciadas do que os alunos do ensino de 1º e 2º graus. Estes, ao ingressarem neste nível já possuem de alguma forma definições acerca de sua futura atividade profissional e, com sua condição de liberdade de escolha do curso e da profissão se tornam

5 indivíduos mais críticos o que contribui para elevar sua co-responsabilidade em sua formação. Quanto ao acadêmico, compreende-se que este possui uma expectativa sobre seu curso e sua formação, formação esta viabilizada pelo currículo do curso bem como pelos docentes que ministram as disciplinas do curso. Portanto, a docência no ensino superior também perpassa pela participação do acadêmico. Por isso, as avaliações institucionais consideram sua percepção. Além disso, o provão do MEC avalia o acadêmico. Neste sentido, é importante não apenas sua percepção quantitativa-objetiva (avaliação institucional e provão), mas, perceber aspectos qualitativos em relação ao professor e seu desempenho em sua formação profissional, o quanto este professor faz interferência na sua formação didático-pedagógica. Enfim, é importante o acadêmico se manifestar no sentido de explicitar porque ele avaliou positivamente ou negativamente seu professor (ver em Giordani; Santos, 2002; Giordani; Ketzer, 2005). Esta pesquisa possui abordagem qualitativa e busca analisar a percepção que os acadêmicos possuem sobre a influência da formação didático-pedagógica que experienciam nos cursos de licenciatura em relação sua preparação profissional no curso superior. A abordagem metodológica desta pesquisa segue os princípios racionais da ciência ontopsicológica a qual se utiliza de parâmetros crítico-dialético dos fenômenos colocando-os em confronto de reversibilidade com o real. Neste sentido, importante função cumpre o pesquisador e sua subjetividade na medida em que é ele que desenvolve a pesquisa e elabora os instrumentos para desenvolvê-la. O pesquisador usa suas estruturas cognitivas, psicológicas, emotivas, biológicas e histórico-sociais. Isto é, ele é uma variável interveniente de sua pesquisa. Durante a primeira etapa de pesquisa foram pesquisados 10 alunos do curso de Licenciatura em Pedagogia, 10 do curso de Licenciatura em Filosofia e 10 alunos de outros cursos de Licenciatura da UFSM. Fizeram parte da pesquisa os alunos que se disponibilizaram a participar avaliando seus docentes. Os alunos pesquisados estavam cursando os últimos semestres. Já nesta etapa, não privilegiaremos os semestres, mas buscaremos mapear os acadêmicos dos cursos de licenciatura em Pedagogia Anos Iniciais do Ensino Fundamental Diurno (2º e 3º semestres) e Pedagogia Anos Iniciais do Ensino Fundamental Noturno (2º semestre). Os dados serão coletados através de questionários e entrevistas gravadas a partir de um roteiro estruturado de questões. Os temas das questões envolverão os resultados das nossas pesquisas desenvolvidas na primeira etapa bem como serão formuladas tendo como

6 referências a problemática de pesquisa e os objetivos da pesquisa bem como os referenciais teóricos definidos para explicitar a problemática em questão neste projeto. De acordo com as informações já coletadas com os acadêmicos na fase anterior desta pesquisa, percebe-se que estes manifestam ser muito importantes a dimensão pessoal da formação docente e o vínculo estabelecido na relação professor/aluno, e, que a formação continuada dos professores é um dos aspectos que irão determinar essas questões. O professor é o formador do perfil profissional de seu aluno, colaborando não somente em termos do conhecimento que pode oferecer, mas também através de suas vivências, de sua trajetória de vida enquanto profissional da educação. Sendo assim, os dados que estão sendo coletados nesta pesquisa, possibilitarão visualizar mais profundamente as implicações que as interações psíquicas exercem no processo de ensino e aprendizagem, compreendendo que a formação pessoal do docente é determinante para o aprendizado do aluno, pois é necessário que ambas as partes estejam envolvidas nesse processo. A formação contínua do professor influencia a formação profissional do aluno, pois a qualidade da docência perpassa pela capacitação, desenvolvimento e a atualização pessoal do professor considerando que o professor é ao mesmo tempo sujeito e objeto na formação exercida com o aluno (Vasconcelos, 2000). Concluímos que é necessário investir em pesquisas que identifiquem os modelos operativos relacionados aos aspectos didático-pedagógicos e humanos, que os professores exercem sobre seus alunos durante a realização do curso superior, bem como, se estes influenciam na aquisição de práticas didático-pedagógicas dos futuros docentes. Referências bibliográficas ANASTASIOU, Léia G. C. Construindo a docência no ensino superior: relação entre saberes pedagógicos e saberes científicos. In: ROSA & SOUSA (org.). Didática e práticas de ensino: interfaces com diferentes saberes e lugares formativos. Rio de Janeiro, DP&A, 2002. FRANCO, Maria Estela Dal Pai. Comunidade de conhecimento, pesquisa e formação do professor do ensino superior. In: MOROSINI, Marília Costa.(org). Professor do ensino superior: identidade, docência e formação. 2. ed. Brasília: Plano, 2001. GARCÍA, Carlos Marcelo. Formação de Professores: para uma mudança educativa. Porto Editora, 1999.

7 GIORDANI, Estela Maris e SANTOS, Sônia Regina da Silva. Percepção da Formação Profissional de Professores. Itajtaí, UNIVALI, Relatório Pesquisa Art. 170, 2002, impresso, p. 53. GIORDANI, Estela Maris. A docência como ato de inteligência e a formação do professor universitário. In. Anais do I Fórum de Ensino Superior do Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina. CEFET/Fundação Araucária, Pato Branco, 2002. GIORDANI, Estela Maris. Docência no ensino superior: formação e desenvolvimento docente. In. Anais do II Fórum de Ensino Superior do Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina. Unoesc, Xanxerê, 2003. GIORDANI, E. M. e COELHO, A. O professor dos cursos de licenciatura e a competência de saber administrar sua formação contínua. Relatório Projeto do Art. 170, UNIVALI, 2002, impresso, 50 p. LEITE, Denise. Conhecimento social na sala de aula universitária e a auto formação docente. In: MOROSINI, Marília Costa.(org). Professor do ensino superior: identidade, docência e formação. 2. ed. Brasília: Plano, 2001. MIALARET, Gaston. A formação dos professores. Coimbra : Livraria Almeida, 1981. MOROSINI, Marília Costa.(org). Professor do ensino superior: identidade, docência e formação. 2. ed. Brasília: Plano, 2001. LÜDKE, M. & ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo, E. P. U., 1986. PIMETA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargo. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002. VASCONCELOS, M. L.M. Carvalho. A formação dos professores do Ensino Superior. 2ª ed. São Paulo: Pioneira, 2000.