ORALIDADE E ESCRITA: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA NA EJA A ORALIDADE E A ESCRITA NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO

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Transcrição:

ORALIDADE E ESCRITA: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA NA EJA Aline Rodrigues da Costa - FaE/UFMG 1 Daiane Marques Silva FaE/UFMG 2 Prof ª Drª Francisca Izabel Pereira Maciel FaE/UFMG 3 A ORALIDADE E A ESCRITA NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO Para a realização das nossas atividades, tomamos como premissa os conceitos que fundamentam a prática educativa no PROEF 1: alfabetização e letramento, que remetem à importância da aquisição da tecnologia escrita com vistas ao seu uso social nas diferentes esferas. Portanto, alfabetizar letrando seria ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita de modo que o indivíduo se tornasse ao mesmo tempo alfabetizado e letrado (SOARES, 1998). Do mesmo modo que, além da escrita e da leitura, ao desenvolvermos atividades e pensarmos a oralidade consideramos os seus usos na vida cotidiana. Realizando, assim, o diálogo entre a oralidade e o letramento. Mais que uma simples mudança de perspectiva, isto representa a construção de um novo objeto de análise e uma nova concepção de língua e de texto, agora vistos como um conjunto de práticas sociais. (MARCUSCHI, 2003, p.15). Ao planejarmos nossas práticas de oralidade considerando-as como uma proposta para o letramento o que, principalmente, merece a nossa atenção é o modo como as utilizamos. Segundo Marcuschi (2003), o que determina a variação linguística em todas as suas manifestações são os usos que fazemos da língua, sendo que são as formas que se adequam aos seus usos e não o contrário. Uma vez adotada a posição de que lidamos com práticas de letramento e oralidade, será fundamental considerar que as línguas se fundam em usos e não o contrário. Assim não serão primeiramente as regras da língua nem a morfologia os merecedores da nossa atenção, mas os usos da língua, pois o que determina toda a 1 Graduanda em Pedagogia da UFMG, monitora do PROEF-1 em 2010, bolsista PROEX (contato: aline.cossta@gmail.com). 2 Graduanda em Pedagogia da UFMG, monitora do PROEF-1 em 2010, bolsista PROEX (contato: daianepedagogia@yahoo.com.br). 3 Orientadora professora adjunta da FaE/UFMG, coordenadora do PROEF-1 (contato: franciscamaciel@ufmg.br).

variação lingüística em todas as suas manifestações são os usos que fazemos dela. (MARCUSCHI, 2003, p.16) Outro aspecto fundamental para que a realização dessas atividades se realizasse de modo satisfatório foi levarmos em consideração o conhecimento prévio dos alunos. Sendo, assim, possível a produção de sentido do que estava sendo trabalhado e juntamente à proposta de letramento o uso social tanto da oralidade quanto da escrita, focos desse trabalho. Os alfabetizandos vivem numa sociedade em que é forte a presença da escrita e da oralidade. Eles escutam a leitura de uma notícia de jornal, escrevem ou solicitam que alguém escreva um bilhete ou uma carta, consultam as instruções de receitas seja pela própria leitura ou pela de outra pessoa a quem recorrem. Assim, podemos dizer que eles estão inseridos em práticas de leitura, escrita e oralidade. Para isso é importante que o educador considere que embora os sujeitos ainda não tenham consolidado as habilidades da leitura, da escrita e da oralidade, estes já possuem conhecimentos prévios sobre as suas funções, bem como das características dos diversos gêneros textuais presentes no seu cotidiano. Em relação à escrita, em nossa sociedade ela se tornou um bem social indispensável para realizarmos as mais variadas atividades no cotidiano. Contudo, não podemos considerar que entre a fala e a escrita alguma delas seja superior. Tanto uma quanto a outra tem suas particularidades. A escrita possui elementos como as imagens, tipos de letras e cores, diferentemente dos movimentos do corpo e da expressão facial, presentes na oralidade. Oralidade e escrita são práticas e usos da língua e ambas nos permitem a produção de textos coerentes e coesos levando em consideração as suas características específicas. Essas práticas são usadas paralelamente e se diferenciam nos contextos sociais que são utilizadas, inclusive pelos nossos educandos, como no trabalho, na escola e na família. Retomemos, então, algumas considerações tomando como referência Soares (2004) e Marcuschi (2003). A oralidade pode ser considerada como uma prática social interativa seja ela formal ou informal e apresenta formas variadas nos diferentes contextos. Já a escrita, seria um modo de produção textual que se constitui pela sua forma gráfica. Ambas usadas para fins comunicativos. A pessoa letrada, por sua vez, participa de forma significativa das atividades sociais como utilizar o dinheiro, tomar o

ônibus, usar o caixa eletrônico, se apresentar para uma entrevista profissional, dar conta das pequenas rotinas cotidianas. Diz da forma como as pessoas concebem o lugar, o motivo e a função em que usam a leitura, a escrita e a oralidade. A EXPERIÊNCIA NAS TURMAS DE ALFABETIZAÇÃO Nesse sentido, apresentaremos a sequência didática do trabalho pedagógico desenvolvido junto aos educandos jovens, adultos e idosos que teve como intuito oportunizar a vivência de situações reais entre as duas formas de linguagem: a oral e a escrita. Como instrumento de concretização dessa proposta, elaboramos atividades que culminaram no projeto denominado de Narradores de vida, onde os alunos discorreram sobre suas trajetórias pessoais. A pretensão era que, a partir da apreensão dos diferentes usos e funções da linguagem oral e escrita, lhes fosse possível produzir e compreender os diferentes gêneros textuais e as ocasiões nas quais são exigidas tais formas linguísticas. Para tanto, foram explorados diferentes textos com os quais eles convivem e a sistematização de suas características. Iniciamos o trabalho pedindo aos alfabetizandos que levassem para a sala de aula um objeto que representasse a sua história. A partir disso, realizamos uma roda de conversa para que cada um relatasse o motivo pelo qual escolheu determinado objeto e qual era a relação com a história de vida deles. A cada dia um grupo de alunos apresentava. Para muitos não foi fácil falar da própria história, pois não gostavam do passado. No entanto, essa dificuldade era, logo, contornada quando os demais educandos mostravam interesse em ouvi-los. Em seguida, recorremos a músicas, a poemas e outros textos narrativos para pensarmos as mudanças e permanências das histórias e avançarmos em relação ao aprendizado da escrita, já que escrever é também um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo continuum. (SOARES, 2004). Levamos em consideração as discussões que surgiram e a própria reflexão que os textos nos ofereciam. No momento dos relatos e das discussões nós, como educadores, também participamos uma vez que dialogávamos com os educandos. Depois, nos remetemos à produção individual e escrita da história relatada pelos educandos. Para a realização dessa produção utilizamos como recurso o silabário móvel para que os alfabetizandos pudessem organizar as palavras que estavam ainda em

processo de consolidação. A partir da visualização das sílabas nos cartões, eles confrontavam os modos pelos quais as palavras poderiam ser escritas. Além disso, o ditado com palavras do mesmo campo semântico juntamente com a correção coletiva proporcionou a reflexão do processo de aprendizagem das palavras. Outro recurso foi o de análise fonológica para o desenvolvimento da consciência das sílabas, palavras e rimas. Sendo que uma de nossas reflexões era sobre as semelhanças das sílabas em cada uma das palavras. Ao final dessa etapa algumas histórias foram novamente relatadas e reescritas coletivamente na lousa. O processo de reescrita foi essencial para confrontarmos a maneira como cada um deles escrevia de forma reflexiva. Nesse momento, além de refletirmos sobre o modo pelo qual as palavras são escritas, conversamos sobre o uso social das linguagens que estavam sendo utilizadas: oralidade e escrita, através do memorial que estava sendo produzido. Nossa intenção ao observar, comparar e vivenciar tais linguagens não era tratar uma como superior a outra, mas discutir sobre as características de cada uma delas como práticas sociais. Da mesma forma, não tratar o ensino e a aprendizagem da palavra como decodificação ou um processo sem sentido para os educandos. Buscamos, também, a reflexão da história de cada um deles. Tomamos essas reflexões como referência do conhecimento prévio e conscientização da realidade. Processo que envolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. (FREIRE, 1994, p. 11) A intervenção dos educadores também foi importante nesse processo de escrita de cada educando, tanto na produção individual como na coletiva. Contudo, partilhamos das ideias de Freire (1994) quando ele afirma que: O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção da linguagem escrita e na leitura desta palavra. (1994, p.19) Quando já tínhamos em mãos várias das histórias reunimos todas elas para a produção de um livro de memórias da turma. Mas, antes da organização do mesmo realizamos uma visita a biblioteca para que junto aos alfabetizandos observássemos as características de um livro e vivenciássemos o uso deles em outro contexto real. Na

biblioteca eles folhearam os livros, observaram como eles estavam organizados e em seguida sentamos para ouvir uma história. No momento da organização do livro, já na sala de aula, a turma levou em consideração alguns critérios como, qual seria o título, como era a capa, o sumário e qual seria a ordem das histórias. Concluímos nossas atividades com a finalização da produção desse livro, Narradores de vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Notamos que a partir dessas atividades, onde foram levantados aspectos da oralidade tendo como apoio à escrita, houve um aprimoramento por parte dos alfabetizandos da habilidade de ler e escrever, além de uma maior transitividade entre as diferentes formas de expressão que fazem parte do seu cotidiano. Consideramos também que eles compreenderam a oralidade como uma prática social peculiar, bem como se conscientizaram como sujeitos da própria história. Isso contribuiu para elevar a autoestima da turma, o respeito entre os colegas e a contribuição para o aprendizado dos mesmos ao partilharem do próprio conhecimento. Ao final, podemos dizer que conseguimos atingir os objetivos do nosso projeto, na sequência relatada anteriormente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 29 ed. São Paulo: Cortez, 1994. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2003. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.