EDUCAÇÃO INCLUSIVA E FORMAÇÃO DOCENTE: CONCEPÇÃO DOS PROFESSORES DO CURSO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ALUNOS SURDOS

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Transcrição:

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E FORMAÇÃO DOCENTE: CONCEPÇÃO DOS PROFESSORES DO CURSO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ALUNOS SURDOS Lilian Calaça; Vilma Aparecida Souza; Viviane Prado Buiatti Introdução O presente trabalho apresenta dados de uma pesquisa realizada na 3ª Edição do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado para Alunos Surdos, no ano de 2011. Este curso constitui-se em uma modalidade de ensino à distância, está sob a coordenação do Centro de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento em Educação Especial (CEPAE) e tem a duração de 160 a 200 horas. É um curso de aperfeiçoamento, oferecido aos profissionais de diferentes locais do País e se apresenta como uma tentativa de contribuir com a formação continuada de professores que atendem ou pretendem atender alunos surdos, na busca de implementar a Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. A Educação a Distância (EaD) segundo Mourão (2010, p. 45) proporcionou uma mudança de paradigma advinda das novas possibilidades de comunicação por meio da internet e fazendo emergir uma ferramenta para ampliar e favorecer a melhoria das condições de ensino e aprendizagem na busca pela informação e complementação de novos conhecimentos. Este tipo de instrumento consegue ampliar e democratizar o ensino, alcança um público que não possui acesso a formação presencial, podendo ser realizada em horário e tempo de disponibilidade do aluno. Metodologia Ao iniciarem no curso os alunos responderam a um questionário que retratam sobre o perfil dos estudantes e suas concepções sobre EaD, inclusão, educação inclusiva, as práticas do AEE na escola e o AEE para pessoas surdas. Ao final responderam algumas questões idênticas ao questionário inicial e outras referentes às contribuições do curso para a sua formação profissional. Neste trabalho apresentaremos análise de uma questão na qual os alunos responderam inicialmente e ao final para compararmos os dados. Esta diz respeito às suas concepções sobre a Educação Inclusiva. No questionário inicial obteve-se 821 respostas e no final, 566. Nos tópicos que se seguem iremos apresentar os dados referentes à questão e compreender se houveram mudanças nas concepções destes cursistas com relação à Educação

Inclusiva após a conclusão deste curso de formação continuada. Destacamos as respostas dos sujeitos em itálico e com recuo para melhor visualização. Resultados Concepções de Educação Inclusiva Com relação à concepção de Educação Inclusiva, os participantes do curso responderam a questão: O que você sabe sobre Educação Inclusiva? ao iniciar o curso e ao concluí-lo. A seguir, serão analisados primeiro os dados obtidos no questionário inicial e após o final, buscando também um paralelo entre os dois. Constatou-se que na maioria das respostas (41%) os participantes descreveram que a Educação Inclusiva corresponde a inserção de pessoas com deficiência no sistema de ensino e também abarca os distúrbios e dificuldades de aprendizagem. Aparecem as expressões: portadores de deficiência, portadores de necessidades educacionais especiais, déficit e pessoas especiais, bem como citações diretas de vários tipos de deficiência. Como se pode constatar nos discursos que se seguem: Educação inclusiva se entende o processo inclusão dos portadores de necessidades especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus graus (R1). A inclusão é dar oportunidade com dignidade a aqueles que têm uma necessidade especial (R2).. A educação inclusiva é uma inclusão dos alunos com algum déficit que esta sendo inserido no ensino dito normal (R3). De acordo com a maioria das respostas a educação inclusiva seria para um grupo de pessoas, aquelas com deficiência ou dificuldades ou distúrbios para aprender. Contudo, diversos autores (MANTOAN, 2006, GÓES e LAPLANE, 2007; GLAT, 2007; BUENO, 2008; SILVA, 2009) discutem que a inclusão envolve todas as pessoas, com deficiência ou não, as minorias excluídas da sociedade, sejam os negros, pobres, índios, doentes mentais e outros. Desde 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos impõe os direitos iguais à educação, independentemente das características, interesses e necessidades individuais. A Declaração de Salamanca (1994) constitui-se importante documento, marco na legislação, que salienta a obrigatoriedade de a escola oferecer serviços que atenda à diversidade da população. Para Mantoan (2006, p. 23) o sistema de ensino brasileiro está aberto para poucos, na medida em que suas práticas estão focadas no homogêneo, na ideia de igualdade e normalização. E nesse sentido, não garante a todos os alunos condições para prosseguir em seus estudos, segundo a capacidade de cada um, sem discriminações nem espaços segregados de educação. Mendes (2006) retrata que a inclusão perpassa por questões políticas mais amplas como a disparidade social e reflete que não há como se pensar em inclusão num país onde a desigualdade impera. Constatamos em algumas respostas um conceito de que é preciso transformar o anormal em normal, ou possibilitar ensino para o anormal. Isto é, a escola busca critérios para definir a anormalidade, orientada pela vertente da homogeneidade, como se a diferença fosse o anormal, diferença construída pela instituição. Aparecem também os termos, portadores de necessidades especiais, portadores de deficiência ou necessidades educacionais especiais. Estes termos são discutidos por vários autores (FERREIRA E FERREIRA, 2007; GLAT, 2007; KASSAR, 2007, BUENO, 2008, 2010; SILVA, 2009) porque trazem algumas conotações que merecem ser debatidas no que diz respeito ao conceito das palavras. Com relação aos educandos com necessidades 2

educacionais especiais a resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE)/ Câmara de Educação Básica (CEB) Nº 2, de 11 de setembro de 2001, institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica descreve em linhas gerais que estas pessoas são todas aqueles que possuem dificuldades para aprender (com ou sem causas orgânicas) ou para se comunicar ou superdotados. E então, se pode concluir que foram todos colocados no mesmo grupo, as pessoas com deficiência e aqueles com dificuldades de aprendizagem. Souza (2002), Patto (2008), Ferreira e Ferreira (2007) discutem que as dificuldades no processo de escolarização muitas vezes se misturam às dificuldades de ensinagem, não há causa orgânica identificada e em vários casos detectou-se dificuldades inerentes ao processo de escolarização, no que diz respeito às metodologias e práticas de ensino. E nessa perspectiva, as crianças com dificuldades de aprendizagem são rotuladas às que possuem necessidades educacionais especiais. Para Ferreira e Guimarães (2003, p. 30) o termo portador é inadequado porque necessidades não se portam, como objetos; necessidades são experimentadas e manifestamse. Como nos lembra Silva (2009, p. 144) a expressão portadores remota a idéia de deficiência enquanto algo que se carrega e que marca o sujeito de forma pejorativa, ou ainda que a encara enquanto um fardo, um peso para a sociedade e para a pessoa que aporta, carrega. Podemos contatar nos dados da pesquisa que há um enfoque nas deficiências, uma ênfase nos aspectos biológicos. Como nos lembra Rodrigues (2006) e Ferreira e Ferreira (2007) a formação inicial e continuada tem focalizado numa compreensão essencialmente médica, na qual a condição biológica torna-se impedimento e uma barreira para a inclusão escolar e social. Nas respostas, 26% destacaram que a inclusão significa a inserção, o atendimento a todos na escola, como consta: É um direito de todo e qualquer cidadão de estar na escola, independente de quais forem suas condições, e esta deve se adequar para melhor atendê-lo (R1). Educação Inclusiva é aquela que possibilita o acesso sem discriminação de todos à escola, independente de suas deficiências ou habilidades (R2). Dezoito por cento (18%) descreveram a relevância da inclusão e citaram algum documento oficial para respaldar a sua resposta, 9% salientaram que para a efetivação da inclusão é necessário mudanças no sistema de ensino, 4% enfatizaram que a inclusão não está acontecendo na prática porque a escola, seus profissionais não estão reparados e 2% disseram que a inclusão significa a integração de pessoas com deficiência na escola. Neste momento é interessante verificar as mudanças nas respostas após a realização do curso. Houve um aumento nas respostas referente à concepção de que inclusão significa escola para todos de 26% para 50%, bem como na compreensão de que é preciso modificar a escola, de 9% para 15%. Há menor ênfase nas deficiências, de 41% para 16%. E a palavra integração aparece muito pouco, 1% nas respostas. Dessa forma, podemos concluir que o curso ampliou o olhar e o conhecimento em relação à proposta da educação inclusiva e traz outra perspectiva que difere ao modelo médico, com destaque nas deficiências. Foi interessante constatar as respostas que fazem uma reflexão na necessidade de a escola se modificar para que a inclusão ocorra, nas palavras dos participantes da pesquisa: A educação inclusiva não significa apenas colocar o aluno em sala de aula e sim mudarmos de atitude para atendermos as necessidades dele também, através de metodologias e recursos diferenciados para que ele tenha uma educação eficiente e de qualidade (R1). Não basta colocar a criança com necessidades especiais em sala de aula é necessário assegurar condições de acesso ao currículo, eliminando 3

barreiras e promovendo acessibilidade, interação e participação coletiva (R2). Ao analisar as respostas constatamos que há uma conscientização de que é preciso que muitas alterações sejam efetivadas na educação, como destaca Ferreira e Ferreira (2007, p. 43) Concepções mecanicistas, lineares, claramente hierarquizadas de ensino e currículo, processos pedagógicos centrados nos docentes, assim como concepções psicométricas ou homogeneizantes de alunos, aliadas a concepções patologizantes de qualquer dificuldade ou fracasso escolar, não mais contribuem com as ações que estão sendo requeridas para a inserção escolar dos alunos com deficiência. Considerações Finais Sabemos que a educação inclusiva pressupõe educar a todos nas diferenças humanas considerando as especificidades que envolvem as pessoas com deficiência e assim, é primordial a formação adequada e o conhecimento sobre a organização do ensino e do currículo de maneira a atender as diferentes necessidades. Considerando que o professor é o profissional que atua diretamente com a aprendizagem, a formação docente deverá favorecer o estabelecimento de interações sociais visando o aprendizado desses sujeitos, para que as ações já desencadeadas em favor da inclusão e as metas estabelecidas pelas políticas educacionais alcancem êxito desejado (OLIVEIRA, 2008, p. 168). REFERÊNCIAS: BUENO, J. G. S. As políticas de inclusão escolar: uma prerrogativa da educação especial? In: Deficiência e escolarização: novas perspectivas de análise. Araraquara, SP: Junqueira &Marin; Brasília, DF: CAPES, 2008. FERREIRA, M. C. C; FERREIRA, J. R. Sobre a inclusão, políticas públicas e práticas pedagógicas. In: Políticas e práticas da Educação Inclusiva 3.ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. GÓES, M. C. R.; LAPLANE, A. L. F. (Orgs.). Políticas e práticas da Educação Inclusiva 3.ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. KASSAR, M. de C. M. Matrículas de crianças com necessidades educacionais especiais na rede de ensino regular- do que e de quem se fala? In: Políticas e práticas da Educação Inclusiva 3.ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. MANTOAN, M. T. E; PRIETO, R. G.; ARANTES, V. A. (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006. OLIVEIRA, M. A. C. Práticas de professores do ensino regular com alunos surdos inseridos: entre a democratização do acesso a permanência qualificada e a reiteração da incapacidade de aprender. In: Deficiência e escolarização: novas perspectivas de análise. Araraquara, SP: Junqueira &Marin; Brasília, DF: CAPES, 2008. PATTO, M. H. S. Políticas atuais de inclusão escolar: reflexão a partir de um recorte conceitual. In: Deficiência e escolarização: novas perspectivas de análise. Araraquara, SP: Junqueira &Marin; Brasília, DF: CAPES, 2008. RODRIGUES, D. Dez idéias (mal) feitas sobre a educação inclusiva. In: RODRIGUES, D. (Org.). Inclusão e educação: doze olhares sobre a educação inclusiva. São Paulo, Summus, 2006. SILVA, L. C. da. Políticas públicas e formação de professores: vozes e vieses da educação inclusiva. Universidade Federal de Uberlândia, tese de doutorado, 2009. 4

UNESCO. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília, CORDE, 1994. 5