fls. 153 SENTENÇA Processo nº 0204951-87.2008.8.04.0001 Procedimento Comum Requerente:Rocicleide da Silva Souza RequeridoAmazon Best Editora e Eventos Ltda I- RELATÓRIO Trata-se de Ação de Indenização por Dano Moral e Material à imagem proposta por Rocicleide da Silva Souza em face de Amazon Best Editora e Eventos Ltda, ambos devidamente qualificados nos autos. Alega que após realizar algumas fotos com profissional a fim de ter recordações culturais, sem interesse comercial, teve conhecimento de sua publicação no exemplar número 10-2007 da Revista Empório Amazônia sem sua autorização. Em decorrência da prática ilícita sofreu constrangimentos, inclusive social. Requer indenização por danos morais no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) e danos materiais correspondente a R$ 60.000,00 (sessenta mil reais). Juntou documentos às fls. 10/15. Às fls. 24/39 Contestação que em sede de preliminar aduz ilegitimidade passiva ad causam. No mérito afirma que a Autora é modelo profissional e as fotografias foram realizadas com o seu consentimento, afastando a indenização por dano moral e material. Acostou documentos às fls. 40/71. Às fls. 77/84 Réplica refutando os alegados em Contestação e requer a condenação em litigância de má-fé. Audiência de conciliação realizada no dia 03 de dezembro de 2008 em que não houve a realização de acordo. Audiência de instrução e julgamento realizada no dia 23 de fevereiro de 2010 em que não houve a realização de instrução por ausência da parte Requerida e seu patrono, com determinação de encaminhamento dos autos para sentença. Audiência de instrução e julgamento realizada no dia 20 de março de 2014 restou infrutífera, com análise da preliminar de ilegitimidade passiva. Às fls. 141 Certidão informando o decurso do prazo legal, não tendo a Autor
fls. 154 apresentado provas que pretende produzir, apenas a Requerida, conforme fls. 39. Audiência de instrução e julgamento realizada no dia 17 de setembro de 2014 restou infrutífera, em razão da ausência da Requerida, com determinação do prazo de 48h (quarenta e oito horas) para a Ré indicar o endereço, sob pena de aplicação do julgamento antecipado. Às fls. 146 Petitório do Réu informando seu novo endereço. É o relatório. Passo a decidir. II- FUNDAMENTAÇÃO 1- Da preliminar de ilegitimidade passiva No que toca à alegação de ilegitimidade passiva, verifica-se que já fora decidida em audiência de instrução e julgamento realizada no dia 20 de março de 2014, com a determinação de retificação do polo passivo. Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação e não havendo quaisquer nulidades a sanar, passo ao exame do mérito. 2- Do mérito A questão cinge-se em saber se houve o consentimento da Autora para a divulgação de suas fotos em revista, uma vez que a Autora afirma que realizou a sessão de fotos para servir de recordações culturais, sem interesse comercial. O direito à imagem é o direito de identificação, garantia constitucional, possuindo três dimensões para a identificação no meio social: a) imagem-retrato, relacionada às condições características fisionômicas; b) imagem-atributo, relacionada às características psicológicas e c) imagem-voz, ao timbre sonoro identificador. Neste sentido, a doutrinadora Maria Helena Diniz: [...] a imagem-retrato, que é a representação física da pessoa como um todo ou em parte separadas do corpo, desde que identificáveis, implicando o reconhecimento de seu titular por meio de fotografia, escultura, desenho, pintura, intepretação dramática, cinematografia, televisão, sites, etc., que requer autorização do retratado (CF, art. 5º, X); b) a imagem-atributo, que é o conjunto de caracteres ou qualidades cultivadas pela pessoa reconhecidos socialmente (CF, art. 5º, V), como
fls. 155 habilidade, competência, lealdade, pontualidade, etc. Abrange o direito: a própria imagem, ao uso ou à difusão da imagem; à imagem das coisas próprias e à imagem en coisas, palavras ou escritos em publicações; de obter imagem ou de consentir en sua captação por qualquer meio tecnológico. (DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado, 17 ed., São Paulo: Saraiva, 2014, pág. 99) O art. 20 do Código Civil de 2002 exige que para que haja a exposição e/ ou utilização da imagem de alguém é necessário o seu consentimento, salvo nos casos de manutenção da ordem pública ou essencial à administração da justiça, in verbis: Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Conforme entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça, no caso de violação ao direito de imagem, a obrigação da reparação decorre do próprio uso indevido do direito, não havendo de se cogitar da prova da existência do prejuízo, ou seja, o dano é in re ipsa, já que o dano consiste na própria utilização indevida da imagem. Súmula 403- Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. No caso em tela, apesar de a Autora ter realizado a sessão de fotografias, não restou comprovado que houve o consentimento no seu uso para a reprodução na revista da Requerida, pois esta não demostrou a realização de contrato escrito, autorização do uso da imagem ou, ao menos, contrato verbal. Ao revés, acostou aos autos às fls. 62/67 autorizações do uso de imagens e os respectivos recibos de outras licenciadas. Portanto, se a conduta da empresa Ré é de realizar contrato escrito, deveria ter colacionado a autorização da Requerente. Ademais, seu patrono e/ ou constituído não compareceram as audiências designadas por este Juízo a fim de aclarar possíveis pontos que entendessem relevantes para o deslinde da questão. A quantificação dos danos morais tem sido fonte de muitas discussões, tendo recentes decisões do Col. STJ o seguinte teor:
fls. 156 O entendimento deste Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que evidente exagero ou manifesta irrisão na fixação, pelas instâncias ordinárias, viola os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, sendo possível, assim, a revisão da aludida quantificação".(4ºturma, Rel. Ministro Hélio Quaglia Barbosa). O dano material, também denominado de dano patrimonial, é a violação do patrimônio, seja material ou imaterial, da vítima, podendo ser mensurado financeiramente e indenizado. Compreende tanto o dano emergente e os lucros cessantes. Aqueles compreendem a perda do patrimônio já adquirido pela parte, baseando-se na restitutio in integrum, ou seja, na restituição integral, consagrado no caput do art. 944 do CC/02, verbis: Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. O princípio da restituição integral tem como funções: assegurar a reparação na totalidade dos prejuízos e limitar a indenização. Conclui-se que deve existir adequação entre o dano e o quantum indenizatório, vez que a inovação legislativa enfocou o dano em si e não as partes, evitando-se o enriquecimento sem causa. Não incorrendo na exceção imposta pelo parágrafo único do art. 944, isto é, não existindo excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, não há falar em redução equitativa pelo juiz. Assim como os lucros cessantes, a perda do património que inexoravelmente seria adquirido, o que deixou de lucrar, baseando-se no juízo de certeza, com a utilização do critério da aferição razoável. Dispõe o art. 402 do CC/02: Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Frise-se que o dano deve ser certo, sendo absolutamente necessária a comprovação do dano efetivamente suportado pela vítima, não podendo se trabalhar com simples hipóteses.
fls. 157 Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça no julgamento dos Embargos de Declaração no REsp 809.594/PR, in verbis: PROCESSO CIVIL. DECISÃO MONOCRÁTICA. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRARIEDADE AO ARTIGOS 159 DO CPC E 1.539 DO CC. DANOS MATERIAIS NÃO-COMPROVADOS. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO NO STJ. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA N. 7/STJ (...) 2. Em sede de reparação por danos materiais, exige-se que haja comprovação de perda de patrimônio, seja de danos emergentes ou de lucros cessantes, não bastando alegações genéricas de perda salarial. Sendo a Requerida detentora de revista, obteve lucros com a exibição da imagem da Autora, descabendo quaisquer alegações de ausência de objetivo comercial na divulgação das fotografias. O dano material, pelo uso indevido da imagem, deve se atrelar ao que a parte Autora ganharia pela sua autorização para a exibição das fotos, logo, será considerada a remuneração que a Ré teria que pagar a um artista com a mesma projeção que a Autora tinha à época para posar nas circunstâncias em que se deram as publicações na revista, cujo montante será apurado em liquidação por arbitramento. III- DISPOSITIVO Ao lume de todo o exposto, Julgo PROCEDENTES os pedidos iniciais para condenar a Requerida ao pagamento de: a) R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), a título de indenização por danos morais, atualizado monetariamente pelo INPC a partir desta sentença e juros de 1% a partir do evento danoso. b) danos materiais referentes à remuneração que a Ré teria que pagar a um artista com a mesma projeção que a Autora tinha à época para posar nas circunstâncias em que se deram as publicações na revista, cujo montante será apurado em liquidação por arbitramento. c) custas e de honorários advocatícios na base de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação ao patrono da parte ex adversa. Transitada em julgado, arquivem-se os presentes autos com as cautelas
fls. 158 devidas. P.R.I.C Manaus, 21 de fevereiro de 2017. Kathleen dos Santos Gomes Juíza de Direito Expedientes emitidos, (C08715).