TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 fls. 5 TRIBUNAL DE JUSTIÇA São Paulo ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Santo André, em que é apelante CVC BRASIL OPERADORA E AGÊNCIA DE VIAGENS S.A., é apelado KEILA DIAS NOGUEIRA. ACORDAM, em 26ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FELIPE FERREIRA (Presidente) e ANTONIO NASCIMENTO. São Paulo, 27 de agosto de Vianna Cotrim RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 6 APELANTE: C V C BRASIL OPERADORA E AGÊNCIA DE VIAGENS S/A APELADO: KEILA DIAS NOGUEIRA COMARCA: SANTO ANDRÉ EMENTA: 1. Prestação de serviços Pacote turístico com viagem aérea e hospedagem Ausência de reserva no hotel que acarretou a deportação do casal em lua de mel Exclusão da responsabilização da agência de turismo - Impossibilidade Informações imprecisas e desencontradas que denotam equívocos nos serviços prestados pela ré. 2. Evidente descaso no atendimento dos consumidores pela agência de turismo - Danos morais caracterizados - Quantum bem fixado Apelo improvido. VOTO N A r. sentença de fls. 86/89, cujo relatório é ora adotado, julgou parcialmente procedente a ação de indenização por danos materiais e morais, daí o apelo da ré, a fls. 92/99, aduzindo que houve reserva em nome da autora, sendo do hotel a responsabilidade pela falha no serviço prestado; o problema foge ao controle da agência de turismo, de sorte que não pode por isso ser responsabilizada, lembrando que o comerciante não responde pelo fato do serviço, como na hipótese, mas apenas pelo vício do serviço; assim, os fatos relatados na inicial não decorrem de sua conduta; ademais, os danos morais e materiais não estão caracterizados; quando não, a indenização deve ser reduzida, bem como a verba honorária. Apelação 2

3 fls. 7 Recebido e processado o recurso, com contrarrazões a fls. 112/119, subiram os autos. É o relatório. Trata-se de ação indenizatória relatando a autora que contratou pacote turístico, que não conseguiu realizar, incluindo passagem aérea e hospedagem tendo como origem São Paulo e destino Paris. Alegou que ao desembarcar na França, com seu esposo, em viagem de lua de mel, foram imediatamente deportados, porque não confirmada pelo hotel a reserva de hospedagem. A ré, ora apelante, imputa a responsabilidade ao hotel. Pelos elementos dos autos, contudo, não se pode excluir a responsabilidade dela, que deverá indenizar a autora e, se o caso, discutir em sede própria a responsabilidade de cada qual, o que, obviamente, não pode ocorrer em prejuízo da consumidora. Como bem salientou a r. sentença: Uma vez estabelecida a responsabilidade da ré, não é possível a alegação da excludente do fato de terceiro, já que a agência de viagem assume a obrigação de fim, qual seja a de zelar pelo efetivo sucesso da viagem contratada, desde o vôo de ida, até o retorno dos consumidores. A questão envolvendo o hotel é inerente ao serviço prestado, não podendo ser alegada em benefício da ré e em detrimento da consumidora. Apelação 3

4 fls. 8 Deste modo, sendo incontroverso que a autora foi deportada da França em razão da ausência de confirmação da reserva pelo hotel, conforme admitido pelo réu a fls. 58 e efetivamente demonstrado pelos documentos de fls. 26, 32 e 35, este último em língua portuguesa, é evidente que o réu tem o dever de restituir integralmente a quantia paga pela autora no valor de R$7.887,30 (fls. 11). Os danos materiais e morais são, portanto evidentes na espécie, na medida em que a autora, para desfrutar de viagem, evidentemente programou sua vida por certo período e teve suas justas expectativas de lazer e descanso frustradas, o que desborda dos simples incômodos ou transtornos naturais das relações negociais, principalmente por tratar-se de viagem de núpcias. Ademais, o jogo de empurra-empurra e o nítido desrespeito aos direitos mais comezinhos do consumidor são mais do que suficientes para demonstrar que a requerente teve muito mais do que um mero dissabor ou mero aborrecimento, emergindo dos autos que a ação da ré gerou danos de ordem material (gastos com o pacote) e moral, cuja indenização foi arbitrada em R$23.661,90 (três vezes o valor pago pelo pacote de viagem). mostrou-se correto. E a meu ver, data vênia, este montante Como se tem dito habitualmente, a indenização por danos morais fica ao prudente arbítrio do juiz, sem que, no entanto, se traduza em montante incipiente para reparar o dano produzido e também sem que caracterize enriquecimento indevido da parte ofendida. Sobre o tema também já se pronunciou o Colendo Superior Tribunal de Justiça: Apelação 4

5 fls. 9 DIREITO CIVIL. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. VALOR. FIXAÇÃO. ENUNCIADO NUM. 7 DA SUMULA/STJ. AGRAVO DESPROVIDO. É de repudiar-se a pretensão dos que postulam exorbitâncias inadmissíveis com arrimo no dano moral, que não tem por escopo favorecer o enriquecimento indevido (Relator Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira. Agravo regimental no agravo de instrumento ; DJ:29/10/1996 pg:41666). I - A indenização por dano moral deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, devendo o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte empresarial das partes, às suas atividades comerciais e, ainda, ao valor do negócio. Há de orientar-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida, notadamente à situação econômica atual e às peculiaridades de cada caso. II - Protestados os títulos no valor de R$ 666,02, tem-se por excessivo o quantum arbitrado, em cem vezes esse valor, sendo razoável a sua redução ao montante de vinte (20) vezes, como fixado em primeiro grau (REsp /SP, rel. Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira, j. 08/06/99, DJ 28/06/99, p. 122). No IX Encontro dos Tribunais de Alçada do Brasil, realizado em 1997, concluiu-se por unanimidade: Na fixação do dano moral, deverá o juiz, atendendo-se ao nexo de causalidade inscrito no art do Código Civil, levar em conta critérios de proporcionalidade e razoabilidade na apuração do quantum, atendidas as condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado. Apelação 5

6 fls. 10 Vai daí que, não se distanciando também do caráter punitivo dessa indenização mas, aferidas as circunstâncias pessoais do fato, da autora e da própria ré, tem-se como razoável o quantum fixado, corrigido do arbitramento, consoante o disposto na Súmula 362 do STJ, quantia que reputo apta a reparar a autora pelos danos morais, mantidas também, as demais cominações da sentença. Com relação à verba honorária foi ela bem arbitrada, em consonância com os parâmetros do artigo 20, 3º do Código de Processo Civil, afigurando-se remuneração condigna ao profissional do direito. Portanto, permanece íntegra a r. sentença por seus próprios e jurídicos fundamentos, aqui adotados como razão de decidir nos termos do artigo 252 do Regimento Interno desta Corte. provimento ao recurso. Pelo exposto, por esses fundamentos, nego VIANNA COTRIM RELATOR Apelação 6