ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE URBANA: estudo de caso do campus da Universidade Federal de São Carlos. B. Massimini, L. M. Gonçalves

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Transcrição:

ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE URBANA: estudo de caso do campus da Universidade Federal de São Carlos. B. Massimini, L. M. Gonçalves RESUMO Avalia-se a tendência de um espaço urbano à sustentabilidade ambiental, mediante as seguintes variáveis de controle: capacidade suporte dos recursos naturais, clima, energia, resíduos, distribuição espacial, ecossistemas de especial interesse, benefícios ambientais, riscos ambientais, mobilidade e patrimônio, paisagem e identidade analisadas no âmbito do arruamento, usos e tipologias construtivas. Foram relacionadas e articuladas diferentes variáveis identificadas no campus da Universidade Federal de São Carlos, de maneira comparativa entre as áreas Norte e Sul. O método adotado para tal análise foi o PESMU Planejamento Estratégico do Meio Urbano, sistematizado para analisar e avaliar intervenções urbanas quanto à tendência à sustentabilidade ambiental. A ação antrópica deve ter mínima alteração da dinâmica do ambiente natural. São consideras ações de compensação, mitigação e políticas de gestão. Constatou-se que o campus, em geral, não possui ações específicas que justifiquem a tendência à sustentabilidade ambiental, entretanto, identificaram-se ações de minimização dos impactos na área Norte. 1 INTRODUÇÃO A forma com que as construções vêm sendo implantadas no espaço urbanizado ao longo dos anos gera danos, reversíveis ou não, ao meio ambiente. Frente a esta realidade, muito se discute atualmente sobre a questão da sustentabilidade ambiental. Sendo assim, a elaboração de métodos que avaliam a sustentabilidade de determinado local é de extrema importância para garantir a eficácia das medidas tomadas com o intuito de garantir ao ambiente construído uma tendência ambientalmente sustentável. Os debates internacionais acerca da sustentabilidade ambiental se iniciaram de maneira expressiva por volta da década de 1960, quando as grandes potências econômicas mundiais sentiram os primeiros efeitos negativos da apropriação humana dos recursos naturais. Em 1972, a Organização das Nações Unidas reuniu, na Conferência de Estocolmo, pela primeira vez, um significativo número de países para discutir questões relacionadas ao meio ambiente. O crescimento urbano desordenado que ocorria, até o final do século XX, de modo corriqueiro, provocou a necessidade de se criar medidas que revertessem a situação de uso insustentável do meio ambiente.

Neste contexto, torna-se importante reverter o quadro de degradação ambiental em que a maioria das cidades se encontra, especialmente aquelas dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Para tanto, é necessário que o modo com que as cidades são organizadas e gerenciadas seja aprimorado, de forma que haja um uso mais eficiente dos recursos naturais. Esta pesquisa analisou a relação antrópica com o meio ambiente, considerando os conceitos de sustentabilidade ambiental introduzidos ao planejamento do espaço e de gestão urbana. Existem muitos estudos a respeito de sustentabilidade ambiental no meio urbano. Entretanto, estudos orientados através da parametrização dos princípios e das diretrizes da sustentabilidade ambiental são mais recentes. Diante dos trabalhos que seguem este tipo de abordagem, destacou-se o método do Planejamento Estratégico e Sustentado do Meio Urbano PESMU (SILVA e TEIXEIRA, 1999), desenvolvido em pesquisa na Universidade Federal de São Carlos. Frente ao entendimento da necessidade do desenvolvimento de técnicas e métodos que visem o planejamento sustentável do meio urbano, a presente pesquisa teve por objetivo principal a aplicação do método PESMU em um meio urbanizado para classificar o objeto empírico quanto a sua tendência à sustentabilidade ambiental. O campus principal da Universidade Federal de São Carlos, localizado na cidade de São Carlos (SP) Brasil, foi escolhido como objeto empírico para esta pesquisa. A escolha deste local considerou o fato deste se tratar de um meio urbanizado, com valor ambiental e características muito próximas às de cidades. São Carlos se encontra a 235 km da capital do Estado e o campus, construído em 1968, possui com 645 hectares de extensão, sendo 196 mil metros quadrados de área construída, no local em que existia uma fazenda cujas instalações foram adaptadas para receber a administração, salas de aula e laboratórios. Dentro do campus há um lago e também uma área preservada de vegetação do tipo cerrado, sendo estas áreas habitadas por animais silvestres nativos, inclusive espécies ameaçadas de extinção. 2 O MÉTODO O método PESMU foi desenvolvido para analisar projetos na dimensão da sustentabilidade ambiental, propondo que os recursos naturais existentes sejam utilizados de modo a equacionar o menor impacto ambiental. O PESMU considera que a sustentabilidade se manifesta na medida em que a ação antrópica altera de modo positivo a dinâmica existente no meio avaliado. A sustentabilidade ambiental tem por diretrizes: renovação dos recursos naturais, predominância de resultados positivos na soma dos impactos da ação antrópica no meio, não geração de rejeitos e a recuperação e inserção dos sistemas degradados.

Partindo destas diretrizes, foram consideradas as seguintes variáveis de controle para fim de aplicação do método PESMU: capacidade de suporte dos recursos naturais, clima, energia, resíduos, distribuição espacial, ecossistemas de especial interesse, benefícios ambientais, riscos ambientais e patrimônio, paisagem e identidade analisadas no âmbito do arruamento, usos e tipologias construtivas. Cada variável de controle pode se dividir em componentes, nos quais fator e critério ajudam na compreensão do escopo da variável, representadas no Quadro 01. Quadro 01: Descrição das Variáveis de Controle. Neste artigo, relatamos a pesquisa realizada no campus da Universidade Federal de São Carlos, cuja ocupação consolidada se divide em áreas Norte e Sul. O método prevê o preenchimento de uma matriz, chamada de Matriz de Análise de Sustentabilidade Ecológica (MASE), na qual cada variável foi relacionada com cada componente do urbanismo. Na pesquisa, a MASE foi adaptada para se adequar à analise de um campus universitário, quanto as questões ambientais e urbanas. A exemplo das modificações, citase a desconsideração da componente lote, uma vez que o campus não é organizado em forma de loteamento. Tabela 01: Componentes do Urbanismo.

Quadro 02: Matriz de Análise de Sustentabilidade Ecológica (MASE). Fonte: PESMU (SILVA, R. S.; TEIXEIRA, B. N.) adaptado pelos autores. A matriz é preenchida com classificações resultantes da análise das variáveis citadas, mediante consulta a fichas de detalhamento dos critérios. Cada cruzamento entre linhas e colunas recebe uma das seguintes classificações: Favorável (F) quando a relação analisada promover um resultado favorável aos objetivos da dimensão avaliada no âmbito da sustentabilidade ambiental; Desfavorável (D) quando a relação analisada promover um resultado contrário aos objetivos da dimensão avaliada no âmbito da sustentabilidade ambiental; Neutra (N) - quando a relação analisada não detectar aspectos que contribuam ou que prejudiquem a sustentabilidade ambiental; Insuficiência de dados (I) quando os dados disponíveis não forem suficientes para avaliar suas consequências; Não se aplica (NSA) quando não houver relação significativa entre a variável de controle e o fator da componente do urbanismo estudados. Após o preenchimento da Matriz, os somatórios de cada classificação são apresentados em um Quadro Resumo. Os resultados são quantificados para cada componente do urbanismo e em um resultado da predominância de uma das classificações (favorável, desfavorável, neutro, dados insuficientes ou NSA). Neste Quadro Resumo se destacam as principais causas da tendência favorável ou as principais motivações da tendência favorável. Tais considerações auxiliam na identificação

de tendências contribuindo para a elaboração de propostas específicas de mudanças de projeto, adequação de procedimentos, aplicação de medidas compensatórias ou mitigatórias, mesmo em espaços já construídos, contribuindo para a tendência à sustentabilidade desejada. 3 RESULTADOS O campus da Universidade Federal de São Carlos, em Carlos, apresenta dois grandes momentos distintos na sua história de construção. A área Sul foi a primeira a ser ocupada, desde 1968, incorporando antigas construções da fazenda original. Possui maior densidade de ocupação e predominância de edifícios de até dois pavimentos. A área Norte, construída a partir de um plano diretor urbanístico, possui menor densidade de ocupação, com edifícios de até três pavimentos. Situa-se entre o lago e a área preservada com vegetação do tipo cerrado. Em função destas fortes diferenças, optou-se pela aplicação do método de forma comparativa entre estas áreas. A partir do preenchimento da matriz, baseado em documentos e visita aos locais de estudo, foram identificadas políticas ou ações que permitiram a identificação da sustentabilidade ambiental nas duas áreas do campus e relações antrópicas com o meio que receberam a classificação de desfavorável à sustentabilidade em cada uma das áreas. Em ambas as áreas predominaram os resultados neutros, ou seja, ações mínimas previstas em projeto e construídas, não se identificando ações positivas quanto à sustentabilidade. Na área Norte do campus foram detectadas mais políticas ou ações que favorecem a sustentabilidade ambiental do que na área Sul. Existem ainda aquelas relações que se repetem tanto na área Norte quanto na Sul. O preenchimento do Quadro Resumo para cada uma das áreas está representado nos quadros 02 e 03. Quadro 03: Quadro Resumo resultante da análise da área Sul do campus.

Quadro 04: Quadro Resumo resultante da análise da área Norte do campus. As políticas e relações que receberam classificação positiva em pelo menos uma das áreas do campus foram: a existência da Unidade de Gestão de Resíduos (UGR), o projeto de drenagem por técnicas compensatórias que promove a infiltração e filtração da água pluvial na área Norte, o padrão de construção seguido nesta mesma área em que os edifícios são construídos sobre o eixo Leste-Oeste (de modo que favoreçam o conforto térmico e a possibilitem maior uso da iluminação natural). Também foram classificados positivamente o sistema de aquecimento solar de água para abastecer a piscina e o pavilhão de ginástica na área Sul, a política de distribuição de canecas para todos os alunos ingressantes de forma a evitar o uso de copos descartáveis, a preservação da área de vegetação do tipo cerrado na área Norte, e a existência de três secretarias responsáveis pela gestão ambiental no campus (Departamento de Gestão de Resíduos, Departamento de Apoio à Educação Ambiental, Secretaria Geral de Gestão Ambiental e Sustentabilidade). A reforma que ocorreu nas vias para aumentar a área de calçadas favorecendo a mobilidade interna e valorizando o deslocamento de pedestres e a preservação de locais onde existem referências de patrimônio, paisagem e identidade na área Sul como a praça da bandeira, o lago e construções originais da antiga fazenda também favoreceram a análise de tendência à sustentabilidade. As políticas ou relações que receberam classificação desfavorável à sustentabilidade ambiental em pelo menos uma das áreas do campus foram: a presença dos contaminantes provenientes da movimentação dos veículos nas vias, a presença de uma via marginal ao lago que favorece a ocorrência de poluição por material depositado nesta rua, o arruamento de material impermeável, a falta de incentivos por parte da Universidade ao uso de bicicletas ou transporte coletivo para locomoção interna ao campus, o fato de o arruamento priorizar o transporte por meio de veículos motorizados, o padrão de construção já citado existente na área Norte não ser utilizado também na outra área. Também recebeu classificação desfavorável a politica de construção dos edifícios de material convencional e nunca de material alternativo, a inexistência de medidas que visem a conservação de energia ou utilização de soluções alternativas de fontes energéticas na

área Norte, a proximidade entre os prédios na área Sul faz com que a ventilação e iluminação naturais não sejam aproveitadas de forma adequada, o ônibus interno que circula pelo campus não é movido a energias alternativas (como a eletricidade, por exemplo), a dispersão das construções na área Norte é considerada excessiva, bem como a concentração dos edifícios localizados na área Sul e o material impermeável das vias pode desencadear um lento processo erosivo em locais com desnível no terreno. Figura 01: Cerrado, lago, construção original da Fazenda Trancham e via impermeável devido ao asfalto. Fonte: os autores. O quadro 03 apresenta o modelo utilizado na disposição dos dados coletados e traz algumas das justificativas que foram utilizadas para classificação dos aspectos ambientais urbanos, representa a análise das variáveis de controle da MASE, com as quais se compara área Norte e Sul, apresentando suas principais justificativas quanto à classificação obtida. Quadro 05: Análises referentes ao fator Ecossistemas de especial interesse impactos negativos. ECOSSISTEMAS DE ESPECIAL INTERESSE IMPACTOS NEGATIVOS CRUZAMENTO NORTE SUL Impactos negativos X Arruamento Na área Norte, o ecossistema de especial interesse em questão é a área de cerrado. Esta área não possui urbanização, logo não possui arruamentos, característica positiva uma vez que não há impermeabilização do solo e processos que acelerem o escoamento superficial da água. Desta forma, este item foi considerado FAVORÁVEL à sustentabilidade. Impactos negativos X Uso do solo O ecossistema de especial interesse localizado na área Norte é o cerrado. Este ambiente é protegido e, embora se discuta a abertura de um caminho por meio dele para dar acesso a edificações no extremo norte do campus, este permanece intacto. Como há a proteção desta vegetação, classificou-se o item O arruamento que corta parte do lago tornou sua classificação como DESFAVORÁVEL, na área Sul. Na área Sul, o lago pode ser considerado um ecossistema de especial interesse. Sobre ele foi construída uma rua de intenso movimento de

Impactos negativos X Geometria da edificação Impactos negativos X Material da edificação como FAVORÁVEL. veículos e calçada para trânsito de pedestres. A construção da rua, os poluentes resultantes da movimentação dos veículos que se alocam no lago e o lixo jogado por pedestres classifica este uso do solo como DESFAVORÁVEL. A geometria das edificações não gera riscos ambientais, uma vez que estas não estão presentes na área do cerrado. NEUTRO. Como a área de cerrado foi preservada sem edificações, considerou-se NEUTRO este cruzamento. Idem. A impermeabilidade dos materiais utilizados nas vias contribui para o aumento da velocidade de escoamento de águas pluviais, podendo ocasionar enchentes em eventual situação de chuva muito intensa e contaminação do lago, presente na área Sul, por poluição difusa. Assim, DESFAVORÁVEL para a área Sul. 4 CONCLUSÕES Concluiu-se que a área Norte possui maior número de ações e políticas cujos resultados são favoráveis à sustentabilidade ambiental do que a área Sul do campus estudado. Além disso, a área Sul possui maior número de características desfavoráveis à sustentabilidade ambiental. Foi possível constatar que, em ambas as áreas, o fator que mais influenciou para uma classificação desfavorável foi o sistema viário, principalmente devido ao material impermeável das vias. Outro ponto de grande expressividade negativa foi o uso de materiais convencionais para a construção dos edifícios, uma vez que materiais alternativos atuariam para favorecer o conforto térmico e, por consequência, influenciar positivamente no consumo energético do campus. Por outro lado, o fator que foi classificado mais vezes como favorável à tendência à sustentabilidade ambiental foi o uso do solo, também para ambas as áreas. Isto se deve à preservação de objetos naturais como o lago e a praça da Bandeira, além da área em que existe a vegetação do tipo cerrado. Outra política que favoreceu esta classificação foi a existência da Unidade de Gestão de Resíduos, responsável pela coleta e tratamento dos resíduos gerados no campus.

Em sua maioria, os cruzamentos demonstraram-se neutros, de modo que ambas as áreas recebam tal classificação final. Isto significa que elas, em geral, não possuem ações que justifiquem uma tendência favorável ou desfavorável. Os autores agradecem o apoio da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 5 REFERÊNCIAS Gaion, P. P.. Diretrizes de Planejamento e Projeto Urbano Sustentável de Campi Universitários: o Caso da UFSCar. São Carlos, 2013. 247 p. Dissertação (Mestrado, Programa de Engenharia Urbana do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia), Universidade Federal de São Carlos. MAPA ZAU - PD - Campus Sao Carlos - Modelo Final. São Carlos, 2013. Disponível em: <http://www.soc.ufscar.br/documentos/pdi/mapa-zau-pd-campus-sao-carlosmodelofinal/view>, acessado em 10 de abril de 2015. Martins, F. A. S.. O Processo de Produção do Espaço Construído (O Caso da UFSCar). São Carlos, 1986. Dissertação (Mestrado), EESC-USP. Silva, R. S.; TeixeirA, B. N. (Coord.). Urbanismo e Saneamento Urbano Sustentáveis: Desenvolvimento de Métodos Para a Análise e Avaliação de Projetos. São Carlos, 1998 e 1999. Universidade Federal de São Carlos. Tavanti, D. R.. Desenvolvimento de Baixo Impacto Aplicado ao Processo de Planejamento Urbano. São Carlos, 2011. 151 p. Dissertação (Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia), Universidade Federal de São Carlos. Vianna, A. V. N.. Análise de Sustentabilidade Ecológica de Projetos Urbanos. Avaliação do Método PESMU Aplicado a Fundos de Vale em Ribeirão Preto, SP. São Carlos, 2002. 149 p. Dissertação (Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia), Universidade Federal de São Carlos. Zoneamento Ambiental Urbano - ZAU, campus São Carlos, Sorocaba e Araras. São Carlos, 2013. Disponível em: <http://www.soc.ufscar.br/documentos/pdi/memorial-zau>, acessado em 10 de abril de 2015.