3. A Moeda e a Inflação no Longo prazo



Documentos relacionados
Capítulo 4. Moeda e mercado cambial. Objectivos do capítulo

Organização do Mercado de Capitais Português

5. Moeda e Política Monetária

O processo de criação de moeda. 1. Conceitos básicos 31

Macroeconomia. Faculdade de Direito UNL 2008/09. José A. Ferreira Machado

Avaliação Distribuída 2º Mini-Teste (30 de Abril de h00) Os telemóveis deverão ser desligados e guardados antes do início do teste.

O Processo Cumulativo de Wicksell:

NºAULAS PONTO PROGRAMA Cap INTRODUÇÃO 1

Capítulo 3. Taxas de câmbio e mercados de divisas. Objectivos do capítulo

Unidade II. Mercado Financeiro e de. Prof. Maurício Felippe Manzalli

Acções. Amortização. Autofinanciamento. Bens

Aula 06: Moedas e Bancos

Portugal Enquadramento Económico

6. Moeda, Preços e Taxa de Câmbio no Longo Prazo

Macroeconomia. 6. O Mercado Monetário. Francisco Lima. 2º ano 1º semestre 2012/2013 Licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial

EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO

Banco de Portugal divulga estatísticas de balanço e taxas de juro dos bancos relativas a 2013

ECONOMIA INTERNACIONAL II Professor: André M. Cunha

Capítulo 1. Taxas de câmbio e mercados de divisas. Objectivos do capítulo

O Comportamento da Taxa de Juros. Introdução. Economia Monetária I (Turma A) - UFRGS/FCE 6/10/2005. Prof. Giácomo Balbinotto Neto 1

MÓDULO VI. Mas que tal estudar o módulo VI contemplando uma vista dessas...

O Preçário das Operações BNI pode ser consultado nos Balcões e Locais de Atendimento ao público do Banco de Negócios Internacional ou em

M Pesa. Mobile Banking Quénia

4.1 I tr t o r dução M ed e as a s e ban a co c s C p a í p tul u o o I V 4.1 I tr t o r dução 4.2

A Taxa de Câmbio no Longo Prazo

Crédito ao sector privado não financeiro (taxas de variação homóloga)

A DÍVIDA PAGA-SE SEMPRE 1

Sem figuras nem imagens, Entrelinha 1,5. Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos.

Apresentação de contas de de Maio de 2012

Sendo manifesto que estas incertezas e insegurança económica sentidas por. milhões de cidadãos Portugueses e Europeus são um sério bloqueio para o

Programa de Estabilidade e Programa Nacional de Reformas. Algumas Medidas de Política Orçamental

Tabela de Taxas de Juro. Anexo II. Instituição Financeira Bancaria com Sede em Território Nacional. Entrada em vigor: 26 de Outubro de 2015

UNIVERSIDADE DO ALGARVE. GESTÃO BANCÁRIA Anexo 5

Elementos de Análise Financeira Matemática Financeira e Inflação Profa. Patricia Maria Bortolon

NBC TSP 10 - Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária

FUNCIONAMENTO DA GESTÃO DA RESERVA FINANCEIRA DA REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE MACAU E RESPECTIVOS DADOS

RELATÓRIO & CONTAS Liquidação

- Reforma do Tesouro Público

LUZ AO FUNDO DO TÚNEL TALVEZ SÓ EM As previsões do Euroconstruct para o sector da construção e da reabilitação em Portugal.

Nota de Informação Estatística Lisboa, 21 de Abril de 2011

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

Economia Financeira Internacional

Macroeconomia Equilíbrio Geral

Capítulo 3: Restrições orçamentais intertemporais

NORMA CONTABILISTICA E DE RELATO FINANCEIRO 10 CUSTOS DE EMPRÉSTIMOS OBTIDOS

Escola Secundaria de Paços de Ferreira Técnicas de secretariado 2009/2010

Manual de Instrução. Para o preenchimento do questionário sobre OPERAÇÕES E POSIÇÕES COM EXTERIOR EMPRESAS DE TRANSPORTE

UNIVERSIDADE DOS AÇORES DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÂO EXEMPLO de TESTE

INSTRUTIVO N.º 07/2011 de 18 de Agosto

A POLÍTICA MONETÁRIA ÚNICA NA TERCEIRA FASE. Documentação geral sobre os instrumentos e procedimentos de política monetária do SEBC

Bancos Centrais para o que servem? Prof. Dr. Antony P. Mueller UFS 9 de Setembro de 2015

Operacionalidade da Política Monetária e a Determinação da Taxa de Juros

INQUÉRITO AOS BANCOS SOBRE O MERCADO DE CRÉDITO Resultados para Portugal Outubro de 2015

OS BENEFÍCIOS DO RENTING NAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO.

A importância dos Fundos de Investimento no Financiamento de Empresas e Projetos

ASSUNTO: Mercado Monetário Interbancário (MMI) ÍNDICE CAPÍTULO IV. PROCEDIMENTOS RELATIVOS ÀS OPERAÇÕES

Análise Financeira. Universidade do Porto Faculdade de Engenharia Mestrado Integrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Economia e Gestão

PROSPECTO SIMPLIFICADO (actualizado a 31 de Dezembro de 2008) Designação: Liberty PPR Data início de comercialização: 19 de Abril de 2004

Aula 25 - TP002 - Economia - 26/05/2010 Capítulo 32 MANKIW (2007)

Perguntas Frequentes

Publicado no Diário da República, I série nº 79, de 28 de Abril. Decreto Presidencial N.º 95/11 de 28 de Abril

INQUÉRITO AOS BANCOS SOBRE O MERCADO DE CRÉDITO. Janeiro de 2014 RESULTADOS PARA PORTUGAL

Esclarecimentos sobre rentabilidade das cotas do Plano SEBRAEPREV

CONHECIMENTOS BANCÁRIOS: POLÍTICA ECONÔMICA & MERCADO FINANCEIRO

CAPITULO 7. Poupança e Investimento

GESTÃO BANCÁRIA (NOTAS DAS AULAS)

CRITÉRIOS / Indicadores

Sumário. Conceitos básicos 63 Estrutura do balanço de pagamentos 64 Poupança externa 68

Banco de Portugal divulga estatísticas de balanço e taxas de juro dos bancos relativas a 2014

Introdução à Empresa

Finanças Internacionais

Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos. Na folha de respostas, indique de forma legível a versão da prova.

EMPRÉSTIMO OBRIGACIONISTA GALP ENERGIA 2013/2018 FICHA TÉCNICA. Galp Energia, SGPS, S.A. Euro (cem mil euros) por Obrigação.

Prova escrita de conhecimentos específicos de Economia

Demanda por Moeda. 1. Introdução

Fundo de Pensões BESA OPÇÕES REFORMA

Regulamento da CMVM n.º 10/98 Operações de Reporte e de Empréstimo de Valores Efectuadas por Conta de Fundos de Investimento Mobiliário

Matemática Financeira e Instrumentos de Gestão [2] 2007/2008

ANEXO AO BALANÇO E À DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Anexo ao Balanço e à Demonstração de Resultados

ANÁLISE 2 APLICAÇÕES FINANCEIRAS EM 7 ANOS: QUEM GANHOU E QUEM PERDEU?

NORMA CONTABILÍSTICA E DE RELATO FINANCEIRO 15 INVESTIMENTOS EM SUBSIDIÁRIAS E CONSOLIDAÇÃO

ÁREA DE FORMAÇÃO: CONTRAIR CRÉDITO CRÉDITO À HABITAÇÃO

Regime Jurídico dos Certificados de Aforro

Excelência Sr. Presidente da Associação Angolana de Bancos, Distintos Membros dos Conselhos de Administração dos Bancos

A diferença entre o curto e o longo prazo

LAKE FUND SGPS, SA. Demonstrações Financeiras Individuais. Exercício 2014

Investimentos e Mercados Financeiros

QUAL A DIFERENÇA ENTRE O CÁLCULO DA TAXA CDI E TAXA OVER DE JUROS?

Enquadramento Page 1. Objectivo. Estrutura do documento. Observações. Limitações

MACROECONOMIA I LEC201 Licenciatura em Economia 2007/08

MATEMÁTICA FINANCEIRA

2. CONTABILIDADE NACIONAL

NCRF 2 Demonstração de fluxos de caixa

B 02-(FCC/EMATER-2009)

O valor da remuneração do Depósito Indexado não poderá ser inferior a 0%. O Depósito garante na Data de Vencimento a totalidade do capital aplicado.

ATIVO Explicativa PASSIVO Explicativa

3.1 Da c onta t bil i i l d i ade nacio i nal para r a t e t ori r a i ma m cro r econômi m c i a Det e er e mi m n i a n ç a ã ç o ã o da d

MERCADOS, INSTRUMENTOS E INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ENQUADRAMENTO DO MERCADO DE TÍTULOS ESPAÇO O FINANCEIRO EUROPEU

N A P. Assunto: Certificados de Depósito de Banco Central (CDBC)

Análise e Resolução da prova de Auditor Fiscal da Fazenda Estadual do Piauí Disciplina: Matemática Financeira Professor: Custódio Nascimento

Transcrição:

3. A Moeda e a Inflação no Longo prazo Apresentação do papel do sistema monetário no comportamento do nível de preços, da taxa de inflação e de outras variáveis nominais

Introdução Inflação é o crescimento do nível geral de preços. Um preço é a taxa a que a moeda é trocada por um bem ou serviço. Logo para entender a inflação necessitamos entender a moeda : O que é? O que afecta a sua oferta e procura? Qual a sua influência na economia

O que é a moeda Moeda é o conjunto de activos que podem ser usados prontamente para comprar bens e serviços. A moeda desempenha 3 funções na economia: 1. Meio de troca usada para efectuar transacções 2. Unidade de conta na qual os preços são cotados e as dívidas registadas; 3. Reserva de valor usada para transferir poder de compra do presente para o futuro (é parte da riqueza ) Serão moeda: Notas? Depósitos? Um Picasso? Uma casa? Títulos de tesouro? Acções?

Stock de Moeda A quantidade de moeda numa economia num dado momento chama-se stock (oferta) de moeda Como é medido o stock de moeda? Várias medidas de acordo com o grau de liquidez dos activos neles incluídos; basicamente: Notas e moedas em circulação Depósitos à ordem Depósitos a prazo Moeda = Circulação + Depósitos 31.12.2007: M (particulares)=131 mil milhões euros; 81% PIB

Controlo da Oferta de Moeda Nas economias modernas, é o governo que controla a oferta de base monetária (notas e moedas utilizadas): Circulação Reservas bancárias Tipicamente, os governos delegam esse controlo numa agência mais ou menos independente chamada banco central BCE na área Euro Federal reserve nos E.U.A. Bank of England no RU Os bancos centrais têm funções essenciais: Controlar a oferta de moeda (política monetária) Regular actividade bancária; Prestamista em última instância

Controlo das Reservas Operações de mercado - aberto: Operações de compra ou venda de títulos no mercado monetário (mercado interbancário onde são transaccionados contratos com maturidade inferior a 1 ano) Quando compra activos cede liquidez Quando vende activos absorve liquidez As operações de cedência predominam pois os sistemas bancários têm um défice de liquidez devido a procura de notas e de reservas

Mercado Interbancário de Fundos Tx. Juro S1 (interbancária) D reservas venda S r1 r compra S2 r2 Res1 Res Res2 Euros Variações da taxa de juro e da oferta de moeda são duas faces da mesma moeda

No eurosistema, a operação de mercado aberto mais importante chama-se operações principais de refinanciamento (MRO: main refinancing operations): Cedência de fundos Temporária (2 semanas) Através leilões semanais A taxa de juro (mínima) para estas operações é fixada pelo BCE e é a taxa mais importante do eurosistema

Tx. Juro (interbancária) D reservas Quantidade máxima em leilão Tx.juro target r1 r S1 S Res1 Res Euros Operações de Refinanciamento

Taxa juro r1 D r2 Limite em leilão Reservas Quando baixar a taxa de leilão não basta

Taxa juro D r1 Leilão sem limite! r2 Limite em leilão Reservas Agora já aumentam as reservas bancárias!

Criação monetária pela banca comercial Mas a banca comercial também influencia a quantidade de moeda (notar que os depósitos fazem parte do stock de moeda). O processo chama-se multiplicador monetário

C >> D >> Emp >> C >> D >>Emp >> C As autoridades monetárias podem afectar a capacidade da banca comercial criar moeda através do fixação de reservas obrigatórias. Quanto maior o rácio de reservas menor a capacidade de criação de moeda

Teoria Clássica da Inflação Como é que a oferta de moeda influencia os preços e a inflação no longo prazo? A inflação respeita acima de tudo ao valor da moeda Um gelado custa hoje muitas vezes mais do que 10 anos antes, não porque as pessoas gostem mais de gelados mas porque a moeda vale menos. P= Qts unidades de moeda/ 1 unidade de produto 1/P= Qt. produto / 1 unidade moeda Valor da moeda

Oferta de Moeda: Exógena Procura de Moeda: Valor dos bens e serviços adquiridos Determinado no LP pela qt factores e tecnologia Nível de Preços P x Y Produto Real P (valor moeda ) Procura moeda Outros factores: Taxa de juro Facilidades de pagamento

Mecanismo de ajustamento: Injecção monetária cria excesso oferta de moeda; Os agentes eliminam esse excesso de moeda Comprando bens Aplicando no mercado de fundos Em qualquer dos casos, a procura de bens e serviços irá aumentar! A capacidade para produzir não se alterou Logo P terá de aumentar Teoria quantitativa de moeda A qt. moeda determina o nível preços A taxa de crescimento da qt. moeda determina a taxa de inflação

1/P S P D D Procura de moeda aumenta, preços caem M

A inflação é sempre e em toda a parte um fenómeno monetário (Milton Friedman)

Efeito de Fisher A esta relação de 1 para 1 entre a taxa de inflação e a taxa de juro nominal chama-se efeito de Fisher

Dicotomia Clássica Variáveis reais: grandezas medidas em unidades físicas Output real; stock de capital Preços relativos; salários reais; taxa juro real Variáveis nominais: expressas em unidades monetárias A dicotomia clássica afirma que alterações na oferta de moeda não influenciam as variáveis reais: neutralidade da moeda. Descrição aproximada do Longo Prazo O que aconteceria às alturas se em lugar se serem medidas em cm fossem medidas em ½ cm?

Custos da Inflação Shoe leather costs : A inflação constitui como que um imposto nos detentores de moeda; Uma forma de reduzir esse imposto é deter menos moeda. Mas fazer transacções com menos moeda envolve desperdício de recursos (tempo e conveniência). Especialmente relevante em períodos de alta inflação Custos de ajustamento de preços ( menu costs ): As empresas ajustam preços de forma pouco frequente porque esse processo tem custos: Novos catálogos Custos de envio desses catálogos para grossistas e clientes Custos de publicação (Um survey nos E.U.A. revelou que a empresa típica ajusta os preços 1 vez por ano) A inflação aumenta esses custos, pois os preços têm de ser ajustados frequentemente.

Variabilidade dos preços relativos: Dado que os preços apenas se ajustar de quando em vez, a inflação faz com que os preços relativos variem mais do que variariam sem inflação. A inflação tende a aumentar a carga fiscal sobre a poupança porque os códigos tributam os juros nominais. 9

Redistribuição arbitrária da riqueza A inflação não antecipada tem um outro custo: redistribuição de riqueza entre devedores e credores. Pense-se num empréstimo de longo prazo com uma taxa de juro nominal especificada: Se a inflação é maior do que antecipado, ganha o devedor. Se a inflação é menor do que antecipado, ganha o credor. Também prejudicial para indivíduos com pensões fixas Inflação alta Inflação variável