01064 AS PRODUÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO SUPERIOR DO GT 22 DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO ANPED RESUMO Rita Silvana Santana dos Santos - UNB O presente trabalho compõe parte do estado da arte sobre a educação ambiental na educação superior, desenvolvida no âmbito acadêmico e profissional, com a finalidade de contextualizar a presença da educação ambiental nos currículos de formação inicial de professores. Foi realizado um estudo no âmbito do Grupo de Trabalho 22 Educação Ambiental, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação ANPEd. A análise possibilitou perceber que os estudantes de graduação, em especial os de licenciatura, são os principais sujeitos pesquisados, e as atividades envolvendo ensino foram as mais investigadas, seguida das de extensão e poucos trabalhos trataram de pesquisa. Em relação às perspectivas teórico-metodológicas, observou-se que a maioria está relacionada com o materialismo histórico dialético, a denominada EA crítica, seguida por outras que abordam afetividade, construção coletiva do conhecimento, diversidade de saberes, criatividade, as relações interpessoais e humanização nos contextos formativos. Quanto aos desafios apontados pode-se inferir que os mais eminentes estão voltados ao currículo, às questões paradigmáticas e às políticas públicas e/ou governamentais. Em relação às sugestões foram indicadas a inserção da EA nas atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão, mudanças paradigmáticas na formação e no currículo, políticas públicas que subsidiem mudanças estruturais nas IES, atenção a complexidade presente na práxis pedagógica e nas condições de trabalho dos professores. O estudo indica que têm sido utilizados diferentes caminhos para o desenvolvimento da EA na educação superior, mas a sua apropriação requer políticas públicas e mudanças paradigmáticas e estruturais em todas as atividades das instituições de educação superior e em especial na formação docente para que em suas práticas pedagógicas possam ser incorporadas questões concernentes a sustentabilidade ambiental Palavras-chave educação ambiental; educação superior; ANPED Introdução Ao buscar identificar e compreender a presença da educação ambiental (EA) nos currículos dos cursos de formação inicial de professores procura-se conhecer o estado da arte sobre EA na educação superior, lócus da formação de docentes que atuarão, na educação básica conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9394/96). A análise de produções acadêmicas possibilita perceber os conhecimentos sistematizados em um determinado campo do saber além da quantidade e da qualidade dos estudos desenvolvidos. Indica também as questões consideradas mais relevantes e as lacunas existentes (WITTER, 2005). Neste ensaio apresento os resultados de parte
01065 dessa investigação realizada no âmbito do Grupo de Trabalho 22 Educação Ambiental, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (GT22/ANPEd), uma das instituições de renomado destaque nacional e internacional pelas produções e atuações na área educacional brasileira. A pesquisa O levantamento, seguido da análise preliminar dos trabalhos teve como principal objetivo perceber os estudos e experiências sobre EA na educação superior. Estudos anteriores sobre a produção acadêmica envolvendo a ANPEd mapearam as tendências (PATO, SÁ e CATALÃO, 2009), o cenário temático (CATALÃO, 2009), a formação de professores (GUIMARÃES e ALVES, 2012) e a produção científica em EA (CARVALHO e FARIAS, 2011), mas não tiveram como foco a educação superior apesar de revelarem informações importantes sobre a mesma. Para identificação dos artigos, resultantes de comunicação oral e pôster, do GT22/ANPEd, realizei um levantamento no sítio da associação, dos trabalhos produzidos no período de 2003 a 2012, ou seja, quando ainda era Grupo de Estudo (GE). Começou pela leitura dos títulos à leitura dos resumos e desta a leitura completa dos trabalhos. Foram encontrados 21(vinte e um) artigos sobre educação superior, o que corresponde a 13% dos trabalhos do GE/GT desde a sua existência. Para análise qualitativa dos trabalhos foram utilizadas categorias de análise previamente definidas, a saber: cursos e programas; público pesquisado; cursos investigados; tipo de atividades; referenciais teóricos-metodológicos incluindo nestes os principais autores; desafios e sugestões para a inserção da EA na educação superior; região geográfica dos artigos. A região Sudeste destacou-se pela quantidade de trabalhos na área, com um pouco mais da metade de publicações. Seguida pelas regiões Sul, Nordeste e Norte. Não foram identificados trabalhos da região Centro-Oeste. Corroborando com os estudos anteriores (PATO, SÁ e CATALÃO, 2009; CARVALHO e FARIAS, 2011) sobre a predominância de trabalhos das regiões Sudeste e Sul. Em relação a cursos e programas da educação superior, nota-se que a maioria trata da graduação e, em especial, dos cursos de licenciaturas dos quais os de Biologia e Ciências Naturais foram os mais investigados além dos de Química, Pedagogia e Geografia. Isso indica a preocupação com a formação inicial dos professores, principais responsáveis pelo desenvolvimento dos currículos e formação dos educandos.
01066 O público em foco foi eminentemente o de estudantes universitários, apenas dois artigos trouxeram como sujeitos da pesquisa os professores da educação superior e coordenadores de curso. Isso indica o interesse pela formação dos educandos, suas aprendizagens e as repercussões na prática pedagógica. Juntem-se a isso as discussões de vários artigos sobre estratégias metodológicas para a formação de professores/educadores. Por outro lado, chama atenção o pouco estudo sobre a formação do docente universitário em EA. As atividades envolvendo ensino foram as mais investigadas, seguida das de extensão e poucos trataram sobre a pesquisa. Das que abordaram a pesquisa ou a extensão notou-se comentários relevantes sobre a responsabilidade social da universidade com as transformações socioambientais na produção do conhecimento com e para a comunidade. Apesar das atividades de pesquisa e extensão também integrarem o currículo da IES, é no ensino que mais se evidencia os conhecimentos legitimados pela comunidade acadêmica e as tensões resultantes das disputas pelos espaços de determinados campos do conhecimento em detrimento de outros. Em relação às perspectivas teórico-metodológicas, a maioria está relacionada com o materialismo histórico dialético e a denominada EA crítica que enfatiza a formação crítica, emancipatória e transformadora dos sujeitos. Outras abordagens mencionadas a exemplo da Antropofagia Cultural, Autopoiésis, Educação Popular, Educação intercultural, Educação dialógica-relacional e Histórico Cultural da Psicologia, dadas suas especificidades, trazem a importância de incluir na formação a afetividade, a intuição, a construção coletiva do conhecimento, a diversidade, a criatividade, as relações interpessoais e a humanização. Vale ressaltar a utilização da ambientalização curricular como referência para as discussões sobre a estrutura organizacional dos cursos. Os autores mais mencionados na área de EA foram: Carlos Frederico Loureiro, Mauro Guimarães, Paulo Freire, Marcos Reigota, Isabel Carvalho, Philippe Layrargues, Marília Tozoni-Reis, Michèle Sato, Lucie Sauvé e Martha Tristão. Em relação à formação de professores tema mais pesquisado os autores: Maurice Tardif, Francisco Imbérnon, Antônio Nóvoa, Selma Pimenta. Os autores Boaventura Souza Santos, Carlos Brandão, Henry Giroux, Edgar Morin, Antonio Gramsci, Enrique Leff, Moacir Gadotti, Humberto Maturana, Istvàn Mèszàros, fundamentaram a perspectiva paradigmática de ambiente, conhecimento, sociedade e educação. A diversidade de
01067 perspectiva teórico-metodológica e de autores mencionados indica os diferentes caminhos que a educação ambiental no Brasil vem se constituindo. Considerando os desafios apontados pode-se inferir que os mais eminentes estão voltados ao currículo, às questões paradigmáticas e às políticas públicas e/ou governamentais. Em relação ao currículo têm-se a ênfase na especialização e fragmentação das atividades e das áreas de conhecimento; a desarticulação entre o discurso e a prática; a incipiência ou ausência da EA nas IES apesar das legislações vigentes. Quanto as questões paradigmáticas os principais desafios são referentes a formação fragmentada e o reducionismo científico no trato da EA; a predominância da perspectiva neoliberal e mercantilista na educação superior que reflete, dentre outros, na coisificação das pessoas e da natureza; a relação hierárquica e individualista na formação de professores, bem como, a culpabilização desses profissionais como únicos responsáveis pela sua formação em EA. No que se refere as políticas públicas e/ou governamentais são apontados a insuficiência da legislação na garantia da inserção da EA nos currículos e na formação dos docentes; a ausência, escassez ou omissão de iniciativas governamentais; e políticas públicas que não geram mudanças estruturais necessárias à incorporação da EA na educação superior. A análise assinala também sugestões para avanços e superação dos desafios. São elas: a inserção da EA nas atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão; mudanças na organização curricular buscando abordagens mais densas e complexas da sustentabilidade ambiental; interconexões entre as áreas de conhecimento, disciplinas e as atividades desenvolvidas pela IES, bem como a articulação entre os conhecimentos, as culturas e as questões socioambientais. Em relação à formação, reconhece as potencialidades e desafios da EA para favorecer a articulação com outras iniciativas necessárias à atuação transformadora dos sujeitos e suas práticas pedagógicas; possibilita o reconhecimento das contradições e tensões presentes na realidade e uma atuação profissional em prol da emancipação e plena formação humana. A contextualização sócio-histórica e política da formação de professores, a complexidade presente na práxis pedagógica e nas condições de trabalho desses profissionais são aspectos fundamentais para inserção da EA nas instituições de educação superior.
01068 Considerações Os artigos do GT22/ANPEd apontam diferentes caminhos e os principais focos de interesse de pesquisadores em relação a EA na educação superior. Os estudantes, a formação inicial de professores e as atividades de ensino indicaram a necessidade e o interesse em relação aos conhecimentos, saberes e práticas que as IES deveriam possibilitar para formação acadêmica e profissional dos estudantes que nela ingressam. Destaca-se ainda a importância da educação ambiental na educação superior ao tempo que demonstraram as limitações encontradas e as possibilidades para superação dos desafios. Os autores assinalam para a necessidade de mudanças articuladas nas estruturas das IES envolvendo o currículo ensino, pesquisa e extensão - e a gestão. Para tanto são necessárias políticas públicas que promovam e subsidiem tais mudanças. As diferentes concepções teórico-metodológicas, bem como os autores citados revelam que não há uniformidade em relação às práticas, concepções e visões sobre a EA na educação superior e que as tensões e contradições são fundamentais para constituição do campo. Entretanto, observa-se a convergência quanto a relevância e urgência do desenvolvimento da EA nas Instituições de Educação Superior. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. In: Diário Oficial da União. Brasília: [s.n.], 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 12 mai 2014. CARVALHO, I. C. M.; FARIAS, C. R. D. O. Um balanço da produção científica em educação ambiental de 2001 a 2009 (ANPEd, ANPPAS e EPEA). Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 16, n. 46, p. 119-267, Jan-Jun 2011. CATALÃO, V. L. Desenvolvimento sustentável e educação ambiental no Brasil. In: PADUA, J. (Org.) Desenvolvimento, justiça e meio ambiente. Belo Horizonte / São Paulo: UFMG/ Petrópolis, 2009. p. 242-270. GUIMARÃES, J. D. M.; ALVES, J. M. Formação de professores na área de educação ambiental: uma análise dos anais da ANPEd (2009-2011). Pesquisa em Educação Ambiental, v. 7, n. 1, p. 44-66, Jan-Jun 2012. ISSN 2177-580X. PATO, C.; SÁ, L. M.; CATALÃO, V. L. Mapeamento de tendências na produção acadêmica sobre educação ambiental. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 25, p. 213-233, dezembro 2009. WITTER, G. P.(Org.) Metaciência e psicologia. Campinas: Alínea. Campinas: Alínea, 2005.