ASPECTOS FISIOLÓGICOS E METABÓLICOS DO RPM : UMA REVISÃO SISTEMÁTICA.



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Transcrição:

ASPECTOS FISIOLÓGICOS E METABÓLICOS DO RPM : UMA REVISÃO SISTEMÁTICA. Bruna Coninck Araujo Acadêmica do Curso de Educação Física. Guilherme Weiss Freccia Professor Orientador. Centro de Ciências da Saúde e do Esporte - Universidade do Estado de Santa Catarina. RESUMO: Apesar do número considerável de estudos envolvendo o cilismo indoor, existe uma lacuna quanto a padronização da avaliação e sua respectiva validade ecológica nos resultados obtidos. Para isso, o objetivo do presente estudo foi revisar de forma sistematizada pesquisas científicas que investigaram as respostas fisiológicas e metabólicas encontradas durante as aulas de RPM. Para isso, buscaram-se artigos por referências em língua Portuguesa e Inglesa que tratassem de forma clara e objetiva o assunto, desde que publicados entre 1985 e 2011. De modo geral, a modalidade possui adesão consolidada nas academias por seu aspecto democrático de gênero, idade e condicionamento físico; todavia existe o risco de participantes inaptos serem tratados como indivíduos habilitados para a prática onde a freqüência cardíaca é predominantemente alta. A tentativa de adequar a intensidade do treino com a individualidade biológica de cada aluno ainda parece distante, pois as mensurações dessas respostas dependem de equipamentos e mão de obra especializada, o que inviabiliza sua manutenção dentro de uma academia. Palavras-chave: RPM. Fisiologia. Freqüência cardíaca.

INTRODUÇÃO A busca por uma melhora na qualidade de vida está fazendo com que, cada vez mais, as pessoas modifiquem alguns hábitos de vida, dentre eles a prática regular de atividade física dentro de academias de ginástica. Na tentativa de motivar esse hábito, novas modalidades indoor surgiram a fim de atender essa demanda. Visando a melhoria da saúde e retenção de alunos a LES MILLS INTERNACIONAL (LMI) criou um programa de ciclismo indoor conhecido como RPM. O programa visa a melhoria da aptidão física, exige baixo padrão de coordenação, aperfeiçoa o sistema cardiorrespiratório, estimula a perda de peso e apresenta baixo impacto nas articulações dos membros inferiores. Neste contexto, a intensidade do treino é estipulada por valores que a LMI predita a partir de testes realizados a cada três meses a fim de validar a eficiência, segurança e resposta da freqüência cardíaca durante a aula de RPM. (LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011). Em análises laboratoriais, como o teste incremental máximo, as análises cardiorrespiratórias e metabólicas são variáveis que representam de maneira direta o comportamento fisiológico durante o esforço máximo. Costa e Oliveira (2010) assumem que existe uma relação contundente entre essas variáveis fisiológicas durante o exercício. Desta forma, atividades de natureza intermitente como o RPM podem representar essa afinidade. A aula de RPM ganha uma relevante importância por recrutar grandes grupos musculares e solicitar diferentes percentuais de vias metabólicas (sistema alático, sistema lático e sistema aeróbio) podendo sofrer influência da especificidade do movimento realizado no ambiente indoor. Segundo Barbanti (1996), o princípio da especificidade se caracteriza na adaptação do organismo ao estímulo oferecido, produzindo respostas específicas necessárias à realização de determinada habilidade esportiva. O crescimento da modalidade a nível internacional deu início a uma série de estudos sobre as variáveis fisiológicas e metabólicas que envolvem o 2

RPM. Alguns resultados dessas pesquisas se complementam e outras se contradizem, sendo necessária uma revisão sistemática sobre os valores encontrados a fim de estabelecer um bom senso e debater novas propostas de padronização para análise. O presente trabalho teve como objetivo revisar de forma sistematizada pesquisas científicas que investigaram a resposta fisiológica e metabólica encontrada durante as aulas de RPM e a sua respectiva validade ecológica nos resultados. Revolução do fitness e a história Les Mills Body Systems. Na década de 60 surgiu em várias cidades brasileiras o modismo da chamada academia. Dantas (2003) afirma que este modismo teve dimensões internacionais e que milhares de pessoas passaram a buscar, com a atividade física, uma forma de alcançar o novo padrão estético que a mídia implantava, com a aparência muscular mais desenvolvida. Nessa mesma época, a empresa neozelandesa Les Mills iniciaria uma revolução na área do fitness. A família Les Mills está no mercado fitness desde 1928, aonde o seu patriarca, Les Mills, fundou sua primeira academia nomeada de Instituto Glengarry. Depois de um grande sucesso com a sua inovadora aborgadem comercial combinando exercício físico e música, Les Mills abriu em 1968 a Les Mills World of Fitness, com sede em Auckland. (LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011). A partir de então, sua trajetória se assemelha à de tantas outras organizações que, nascidas a partir de um produto que logrou ampla aceitação no mercado, no caso a ginástica pré-coreografada, deu origem a um novo modelo de negócios: a franquia. Cada país possui um representante comercial, que vende o programa de ginástica dentro desse modelo. Vale ressaltar que, no final da década de 70 surgiu nas academias do Rio de Janeiro outra moda que logo se espalharia pelo país a ginástica aeróbica. Novaes (2001) afirma que por ser uma prática advinda do Método 3

Cooper, combinava exercícios de alto impacto com deslocamentos a fim de melhorar a performance. Os anos de introdução da ginástica aeróbica colocaram o professor no papel central, visto como um coreógrafo, sendo necessário alterar com freqüência as combinações para que as aulas não se tornassem monótonas. Ou seja, além do desempenho físico era exigido um esforço intelectual demandando de tempo para organizar e preparar as aulas. (NOVAES, 2001). Na final da década de 90 foi o momento da ascensão das academias no Brasil com a chegada da Body Training Systems (BS), a partir de uma proposta ousada de um professor de Educação Física, Paulo Akiau. Ciente da necessidade de aprimoramento comercial e profissional da área de fitness, a idéia inicial era levar para as academias o conceito de sistematização das aulas de ginástica. Com o declínio da ginástica aeróbica, as indústrias responsáveis pelo fitness rapidamente criaram uma nova proposta metodológica, a fim de garantir a venda de seus produtos nesse promissor mercado de consumo. (NOVAES E VIANNA, 2003). O produto oferecido pela LMI compreende dez subprodutos denominados de programas, cada qual corresponde a uma franquia independente: BODY PUMP, BODY COMBAT, BODY ATTACK, BODY STEP, BODY BALANCE, BODY VIVE, BODY JAM, RPM, CX30 e SHBAM. Além disso, o POWER POOL e POWER JUMP também fazem parte da lista dos programas, porém se diferenciam das outras apenas pela fonte de origem, sendo criados e desenvolvidos pela BS. Os programas são divulgados por meio de estratégias globais de promoção da marca Body Systems o que inclui instrução, patrocínio, treinamento de professores, certificação e educação continuada dos mesmos. (LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011). RPM Na busca de uma atividade que aumentasse a aderência dos alunos na academia e acompanhasse a tendência da era fitness que estava em ascensão a LMI criou o RPM (Raw Power in Motion) em 1998. (BARRY et al, 2007). 4

O RPM é um programa de ciclismo indoor que simula a atmosfera do ciclismo de rua em um ambiente coletivo de circuito fechado com duração total de aproximadamente 50 minutos. (LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011). O programa segue um formato específico de interval training, aonde a intensidade é alternada por trechos curtos de atividade intensa com recuperação ativa. Por causa disso, a aula é realizada em uma bicicleta estacionária que permite variar a intensidade através da frenagem na roda dianteira, mantendo uma rotação do pedal entre 100 e 130 rotações por minuto. (LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011). Os ritmos das músicas organizadas em 9 faixas musicais se situam de 100 a 120 batidas por minuto (bpm) para o aquecimento e volta à calma, de 124 a 140 para giros e 52 a 90 para subidas (TABELA 1). (LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011). Música Cadência Mínima Cadência máxima 1 Aquecimento 100 RPM 120 RPM 2 Giro de cadência 124 RPM 132 RPM 3 Subida de montanha 52 RPM 74 RPM 4 Terreno Misto 124 RPM 132 RPM 5 Revezamento 80 RPM 90 RPM 6 Meta-volante 130 RPM 140 RPM 7 Montanha especial 52 RPM 74 RPM 8 Giro de recuperação 100 RPM 120 RPM 9 Alongamento TABELA 1 Estrutura da cadência durante uma sessão de RPM. 5

A estrutura do RPM reflete os princípios do treinamento intermitente com quatro fases: (1) aquecimento para elevar a temperatura corporal, aumentar a mobilidade e preparar o individuo psicologicamente; (2) intervalos seqüenciados e recuperações ativas para condicionar os sistemas energéticos específicos com elevações repetidas e cargas variadas levando um aumento da resistência e força muscular; (3) recuperações ativas e alterações posturais entre as músicas assegurando a manutenção de um trabalho alcançável e efetivo e (4) a fase de volta a calma, incluindo giros de recuperação e alongamentos posturais para promover o retorno do corpo aos níveis próximo do repouso (BARRY et al, 2007). A habilidade de regular a intensidade individualmente através do controle da resistência é um benefício chave do treinamento intervalado RPM. (LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011).Recentemente a LMI simplificou a escala de Borg (TABELA 2), determinando apenas três níveis de treinamento por meio da Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) a serem atingidos durante a aula, a partir dos valores da freqüência cardíaca máxima (FCmáx): confortável, cansativo e exaustivo (TABELA 3). Descrição da intensidade Classificação Reserva FC Muito, muito leve 7 < 30% Muito leve 9 < 30% Leve 11 30 49% Pouco intenso 13 50 74% Intenso 15 75 84% Muito intenso 17 85 95% Muito, muito intenso 19 91% ou + TABELA 2 Relação entre PSE e Reserva FCmáx. 6

PSE %FCmáx Confortável 60-70% Cansativo 70-80% Exaustivo 80-90% TABELA 3 Tabela simplificada de PSE criada pela LMI. Sistemas Energéticos O principal sistema energético utilizado no RPM é o sistema aeróbico, junto a uma demanda moderada do sistema anaeróbico lático. A ativação do sistema aeróbico envolve um aumento na captação de oxigênio durante os primeiros minutos do exercício, até que um platô ou um steady-state seja atingido, refletindo um equilíbrio entre a energia utilizada pelos músculos ativos e a quantidade de ATP produzida. Em steady-state, o oxigênio supre a maior parte da energia necessária ao exercício com mínimo acúmulo de ácido láctico (BARRY et al, 2007). Segundo McArdle et al (1998), os fosfatos de alta energia devem ser ressintetizados continuamente em um ritmo rápido, para que o exercício extenuante possa continuar além de um curto período de tempo. Para fosforilar um ADP num exercício intenso, a energia provém principalmente do glicogênio muscular armazenado através da glicólise anaeróbica, tornando possível a formação rápida de ATP pela fosforilação ao nível do substrato, mesmo quando o fornecimento de oxigênio é insuficiente e/ou quando as demandas energéticas ultrapassam a capacidade do músculo para a ressíntese aeróbica do ATP. A energia anaeróbica láctica ocorre em intensidades submáximas, as quais acontecem no RPM com cargas intervaladas e giros de pedal de moderados a rápidos, gerando demandas sucessivas no sistema anaeróbico láctico para suprir o ATP durante períodos curtos e intensos de atividade. A produção do ácido láctico como subproduto deste tipo de treinamento pode 7

interferir na contração muscular, na condução do estímulo nervoso e na produção de energia, levando a um alto índice de fadiga (BARRY et al, 2007). O sistema anaeróbico alático (fosforilação) é usado muito pouco no RPM, pois é solicitado somente quando não há tempo suficiente para o corpo degradar o glicogênio e manufaturar a energia do ATP pela utilização de oxigênio. Em atividades de alta duração e curta intensidade, como um sprint, exige um fornecimento imediato e rápido de energia, proporcionada quase exclusivamente pelos fosfatos de alta energia ou fosfagênios (ATP-CP) armazenados dentro dos músculos específicos ativados durante o exercício (MCARDLE et al, 1998). A LMI modificou a tabela de Egger e Champion (1990) para exemplificar as diferentes atividades e a contribuição de sua respectiva fonte de energia comparando com o RPM (TABELA 3). Atividade Duração Principais fontes de energia Movimento simples 1 seg Fosforilação (ATP-CP) Sprint curto 10 seg Fosforilação Sprint prolongado 10-60seg Fosforilação - Lactato Distancia média 1-6min Lactato- Aeróbio RPM 45-60min Fosforilação -Lactato- Aeróbio Esportes coletivos 1hr+ Fosforilação -Lactato- Aeróbio Maratona 2hr+ Aeróbio TABELA 3 Modificado de Egger e Champion (1990). Vale lembrar que o RPM se encaixa no modelo de treinamento nomeado de Fartlek, induzindo o indivíduo a treinar em zonas aeróbias e anaeróbias otimizando a atividade enzimática e endócrina, metabolismo pós-exercício e aumentando a capacidade de oxidação dos carboidratos e lipídios. De acordo com Bekene et al (2003), esse método combina variações na freqüência cardíaca em picos altos e baixos diminuindo a taxa glicolítica e aumenta a 8

remoção do lactato na fase de recuperação, conseqüentemente retardando a fadiga e favorecendo a perda de gordura. Essa natureza intervalada é observada através dos tracks durante toda a aula, onde cada música tem um objetivo de intensidade diferente alcançado pela simulação de um terreno: 1- Aquecimento: representa a eficiência aeróbia com grande conforto visando à técnica de pedalada e o controle respiratório. 2- Giro de cadência: giro rápido com estabilização do tronco servindo como estímulo cardiorrespiratório. 3- Subida de montanha: com carga intensa e constante possui poucas recuperações e simula muitas colinas exigindo mais força e maior participação do metabolismo anaeróbio. 4- Terreno misto: com intensidade ainda alta, mas com momentos de recuperação, promove menor sensação de fadiga. 5- Giro contra-relógio: simula uma prova real de estrada em pelotão com vácuo e ultrapassagens estimulando aumento da participação do metabolismo anaeróbio lático. 6- Giro meta-volante: com carga um pouco mais leve, mas com giros em alta velocidade, representa eficiência aeróbia para recuperação do estímulo anterior. 7- Montanha especial: carga confortável no início, difícil no meio e limítrofe no final, exigem ajustes cardiorrespiratórios e musculares. 8- Giro de recuperação: quase no término da aula, apresenta movimentos de soltura de braços, tronco e cabeça. 9- Alongamento: apresenta exercícios de alongamentos específicos para a musculatura utilizada durante a aula, envolvendo as articulações do quadril e joelho principalmente. 9

As literaturas são controversas quando mencionam a intensidade e duração na qual se devem praticar exercícios. Segundo Cooper (1979), os exercícios aeróbios de baixa intensidade e longa duração são excelentes para a melhoria da aptidão aeróbia e redução da gordura corporal. Em contrapartida, resultados de pesquisas recentes tem sido contraditórias a essa teoria. No Canadá, em 1994 Tremblay, conduziu uma pesquisa no qual indivíduos destreinados foram divididos em dois grupos, o primeiro treinou 20 semanas com uma intensidade inicial de 65% da FC max. e progredindo para 85% da FC max., sendo que cada treino durava entre 30 e 45 minutos de 3 a 4 vezes por semana. O segundo grupo treinou 15 semanas, fazendo aquecimento e posteriormente 10 a 15 tiros de 15 até 30 segundos ou 4 a 5 tiros de 60 até 90 segundos. Os intervalos ocorriam até que a freqüência cardíaca atingisse a 120-130 bpm. O autor descreveu que o primeiro grupo gastou o dobro de calorias que o grupo 2 (120,4 MJ e 57,9 MJ respectivamente), mas o grupo 2 obteve uma redução bem maior no seu percentual de gordura do que o grupo 1. Tremblay (1994) conclui que: quando calculamos a quantidade de gordura perdida por caloria, o grupo 2 obteve um resultado nove vezes melhor e para um dado nível de dispêndio energético, exercícios vigorosos favorecem balanço calórico e balanço de lipídios negativos em proporções maiores que exercícios de intensidade moderada e média. Além disso, as adaptações da musculatura esquelética ocorridas como resposta ao treinamento intervalado intenso parecem favorecer o processo metabólico dos lipídios. Para Grediagin et al (1995), se o objetivo é perder gordura e o tempo for limitado as pessoas devem se exercitar com segurança nas intensidades mais altas possíveis.... Ele submeteu dois grupos a diferentes intensidades (50% e 80% do VO2 máx) respectivamente, sendo que as atividades eram realizadas até que chegasse ao total de 300 Kcal. Ao final do estudo ambos os grupos perderam a mesma quantidade de gordura, porém o grupo que se exercitou intensamente ganhou mais que o dobro de massa magra em relação ao outro. 10

Em um estudo de Bryner et al (1997), os exercícios em freqüências cardíacas mais altas resultaram em maior redução da gordura, assim como diminuição da ingestão de gorduras saturadas e colesterol, o que não aconteceu em freqüências cardíacas mais baixas. Desta forma Campos (2004) concluiu que: O aumento da capacidade cardiovascular, bem como as adaptações com relação ao aumento do número e densidade das mitocôndrias, aumento do número de enzimas oxidativas, aumento da capacidade de transporte e difusão do oxigênio e o aumento do número de receptores beta-adrenégicos fazem com que o indivíduo treinado com intensidades mais altas tenha cada vez mais a utilização de gordura favorecida tanto durante o exercício como no repouso. Sem contar que o gasto calórico é maior do que o exercício de baixa intensidade, o que colabora com o equilíbrio calórico negativo no dia deste exercício. A resposta da freqüência cardíaca e percepção subjetiva de esforço no RPM. Uma das opções mais acessíveis pelos professores certificados no programa é a Escala de Borg modificada e resumida em três níveis de intensidade de acordo com a Freqüência Cardíaca Máxima (FCM): Confortável (60-70%FCM), Cansativo (70-80%FCM) e Exaustivo (80-90%FCM).(LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011).Outra ferramenta acessível é o monitor cardíaco utilizado individualmente pelos alunos com o objetivo de manter a intensidade do treino dentro das zonas alvo previstas por cada música da modalidade. A variação de intensidade existe durante toda a aula de RPM através dos diferentes terrenos, desde a baixa intensidade do aquecimento até os sprints, trechos pesados, power training e recuperações ativas. A resistência e as posições de pedalar são manipuladas para criar o efeito desejado do treinamento intermitente. (LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011). Dessa forma, para alcançar a eficiência no treino deve-se envolver a maior quantidade de músculos disponíveis, aplicando a força adequada em sua 11

respectiva fase durante a revolução no pedal. (LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011). Wilmore e David (2001) afirmam que a freqüência cardíaca (FC) reflete a quantidade de trabalho que o coração deve realizar para satisfazer as demandas aumentadas do corpo durante uma atividade. A FC é o método preferido de monitoração da intensidade do exercício, pois além de ser um método não invasivo, de fácil aplicabilidade e baixo custo operacional, pode ser determinada com auxílio de aparelhos como freqüencímetros ou simplesmente pela palpação das artérias radial e/ou carótida, esta relacionada com o trabalho cardiorrespiratório (ou ao estresse imposto ao coração). Um estudo da LMI em relação à resposta da freqüência cardíaca permitiu utilizar o freqüencímetro para obtenção de dados. Foram testados 16 participantes (9 mulheres e 7 homens) que usaram o monitor de freqüência cardíaca (MFM) POLAR RS400. As mulheres tinham idade média de 33 anos e os homens 34 anos. A coleta foi realizada durante uma aula de RPM do mix 35 e o resultado da curva de FC apresentou momentos de esforço e recuperações ativas bem claras ao longo de cada música (FIGURA 1). Ao final dos tracks 3,5 e 7 a FC foi elevada comprovando os respectivos treinos como picos de esforço, e os tracks 2,4 e 6 mostraram a FC mais baixa comprovando-as como tracks de manutenção da FC e preparadores para próximos picos. A FCM média do treino combinado entre homens e mulheres foi 77,5%FCM, sendo que a média feminina era 76%FCM e a masculina era 80%FCM.(LES MILLS BODY TRAINING SYSTEMS, 2011). 12

FIGURA 1 Ilustração da coleta de dados da FC média durante uma aula de RPM. Apostila de treinamento para certificação de professores. Ao prescrever a intensidade do exercício é adequado estabelecer uma faixa para a FCT (Freqüência Cardíaca de Treinamento), sendo que no início do exercício a FC esteja na extremidade inferior da faixa e no decorrer do tempo, progredir até a extremidade superior (WILMORE; DAVID, 2001). O método mais adequado é um teste incremental máximo para identificar a FC máx do praticante e conseqüentemente definir a sua respectiva FCT. Durante o teste o sujeito é submetido a um stress metabólico, muscular e fisiológico até a sua completa exaustão, utilizando de preferência o ergômetro específico da modalidade. (URSO et al., 2010). Por isso, o ideal seria que os praticantes de RPM tivessem conhecimento da sua FC máx a fim de adequar a intensidade do seu treino de acordo com os valores que a LMI predita (FIGURA 2). 13

FIGURA 2 Ilustração das zonas de treinamento por música durante uma aula RPM. Apostila de treinamento para certificação de professores. Outro estudo realizado em alunos durante uma aula de RPM criou um teste para achar a FCM em função das bicicletas utilizadas no ciclismo indoor não serem ergométricas (ausência de controle de carga). Como essa limitação inviabilizaria a aplicação de um teste incremental convencional de literatura e com o objetivo de evitar a utilização das tradicionais equações de predição de FCM, optaram pela aplicação de uma metodologia de teste específica para este contexto. O teste foi aplicado na bicicleta específica de RPM e na própria sala de aula da academia, aonde o aluno pedalou por aproximadamente 7 minutos submetendo-se aos três níveis de esforço estipulados (confortável, cansativo e exaustivo) com o monitoramento da FC. Depois de ter sido feita o ajuste na bicicleta de acordo com o uso habitual, o avaliado iniciava o aquecimento pedalando três minutos no nível confortável na primeira música do mix 37 do RPM (o mais atual durante o estudo). Após o aquecimento, pedalaram durante três minutos utilizando a quinta música do mix, alternando a intensidade da carga em zona cansativa e exaustiva, permanecendo 30s em 14

cada nível. Durante o esforço considerado cansativo o aluno fazia sprints de 30s na posição sentada, enquanto que na PSE considerada exaustiva era solicitado ao aluno o aumento da carga para pedalar 30s na posição de subida (em pé na bicicleta). Por último, era solicitado ao avaliado que pedalasse sentado até a exaustão, na forma de um sprint de no mínimo 30s e no máximo um minuto. Ao final do teste, o maior valor de FC registrado era adotado como sendo a FCM. (BORGES et al., 2010). Os testes laboratoriais são ferramentas importantes na avaliação da resposta da FC durante uma atividade, desde que possam levar em consideração o princípio da especificidade do movimento. (URSO et al., 2010). O instrumento mais usado é o cicloergômetro, onde o avaliado pedala sentado vencendo uma potência fixa, não retratando algumas situações naturais da aula de RPM. A grande dificuldade de realizar um teste incremental em uma modalidade com característica intervalada como o RPM é a sua validade ecológica. Grossl et al.(2009) conduziu outra pesquisa na tentativa de aproximar os sujeitos da rotina do RPM, atendendo ao princípio da especificidade realizando a coleta no mesmo ambiente do ciclismo indoor. Depois de determinar a FCM através do teste incremental máximo em laboratório, sete professores do programa foram submetidos à coleta da FC, VO 2 máx e lactato sanguíneo durante uma aula de RPM do mix 38. O resultado encontrado de todas as variáveis fisiológicas superestimou os valores estipulados sob análise da aula no ambiente laboratorial de outros estudos, concluindo que o desempenho dos avaliados pode ser influenciado negativamente fora do contexto da academia. Vale ressaltar que a FC pode não refletir a produção de energia sob algumas condições ambientais, alterando os resultados reais do estresse metabólico proveniente de uma atividade. Os principais fatores que contribuem para essas alterações são concomitantes a desidratação, vasodilatação periférica, bem como o aumento da temperatura. Por isso a prescrição da 15

intensidade do treinamento possui diferentes parâmetros. (COSTA e OLIVEIRA, 2010). O consumo máximo de oxigênio ou VO 2 máx, é caracterizado como o melhor indicador da resistência cardiorrespiratória, e equivale a taxa mais elevada do consumo de oxigênio possível de ser obtido durante o exercício máximo ou exaustivo. Especula-se existir uma relação linear entre a FC e o VO 2 máx como medida da intensidade do esforço em valores entre 60 e 90% VO 2 máx. Dessa forma, permite selecionar percentuais que podem ser utilizados como marcadores de intensidade do esforço. (GILMAN, 1996). Apesar de ser uma conduta razoavelmente precisa, esta medida parece ser confiável apenas para modalidades de potência aeróbia. Nas modalidades aeróbicas de média e longa duração como o RPM, o VO 2 máx parece ser um indicador insuficiente para a estimativa da capacidade aeróbia (HECK et. al., 1985). Assim, Heck et. al. (1985) sugeriram que a melhor variável a ser mensurada na determinação da capacidade aeróbia é o momento de transição metabólica denominado pelos autores de limar aeróbio-anaeróbio, determinado pela concentração de lactato no sangue. FERRARI e GUGLIELMO (2007) analisaram as respostas do lactato sanguíneo nas músicas ímpares da aula de RPM em mulheres, e verificaram uma grande solicitação do sistema cardiorrespiratório, além de uma grande exigência do metabolismo anaeróbio. Os altos valores de lactato sanguíneo encontrados ao final de cada track demonstram que a coleta de lactato é mais sensível que a FC para identificar mudanças na intensidade de esforço. Segundo Robergs e Roberts (2002), o aumento do lactato ocorre devido uma suposta hipóxia tecidual relativa, observada durante o exercício intenso com a predominância do metabolismo energético glicolítico, a produção de NADH ultrapassa a capacidade da célula em arremessar os átomos de hidrogênio (e os elétrons) através da cadeia respiratória, independentemente da disponibilidade de oxigênio. Esse desequilíbrio na liberação e subseqüente oxidação do hidrogênio, faz com que o piruvato aceite o excesso de hidrogênio com o acúmulo de ácido lático. 16

Variáveis no RPM O RPM atrai praticantes de diferentes gêneros, idades, nível de condicionamento, sendo que o resultado da atividade se dá de forma individual. A carga de trabalho na bicicleta é escolhida pelo próprio aluno, mas como o sucesso do treinamento depende do apurado controle de intensidade, um erro no controle desta variável pode comprometer o sucesso do programa por não surtir os efeitos desejados ou colocar a vida de seus praticantes em risco. Estudos sustentam que em aulas de ciclismo indoor são atingidas altas intensidades de exercício, com valores transitando entre o domínio moderado a muito pesado. Vidotti e Favaro (2011) dividiram um grupo de nove mulheres em duas categorias, treinadas e iniciantes, e através dos valores da FC investigaram a intensidade do exercício. O Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM, 1995) recomenda intensidades cariando entre 55% a 90% da FCM, e durante a maior parte da aula de RPM as participantes treinadas ultrapassam o limite da máxima prevista (>90%FCM). Para as participantes iniciantes, a FC se manteve dentro das recomendações da ACSM, embora a intensidade segundo a PSE tenha se situado na intensidade pesada. (VIDOTTI e FAVARO, 2011). Machado et. al (2010) também pesquisou mulheres praticantes de RPM comprovou que o valor da FC ultrapassou a FCM em diversos momentos da aula, classificando que a intensidade do treino estava entre moderada-intensa e intensa-severa. (MACHADO et al., 2010). Por isso, o controle de intensidade durante o treino deve ser visto com certa ressalva já que os valores de FC são muito elevados e populações de risco podem ser prejudicadas. Dessa forma, recomenda-se que indivíduos sedentários, idosos e cardiopatas realizem exames prévios antes de realizar uma aula de RPM. (CARIA et. al., 2007). Intensidades de exercício muito altas apresentam associação com risco cardiovascular podendo acarretar a baixa aderência ao programa de treinamento. Por isso, Vidotti e Favaro (2010) recomenda que a intensidade para indivíduos iniciantes em programas de atividade física deve permanecer baixa e depois progredir para intensidades mais elevadas, de acordo com um programa periodizado. 17

Como visto anteriormente, as variáveis com maior precisão de controle de carga de treinamento são o consumo de oxigênio, os limiares ventilatórios e os limiares de lactato. Entretanto, devido à necessidade de mão de obra especializada, equipamentos específicos e maior dispêndio financeiro, nem sempre são as mais utilizadas para a avaliação, prescrição e supervisão do treinamento, especialmente em academias de ginástica. Ao invés da carga ser controlada por variáveis fisiológicas, normalmente ela é feita pela percepção subjetiva de esforço (PSE), podendo ser influenciada pela presença da música durante a atividade. Ela pode estimular a secreção de hormônios como a endorfina e promover emoções que reforcem a experiência positiva do exercício. (BARRY et al, 2007). Um estudo realizado por Gfeller (1988) analisou essa relação em aulas de ginástica e verificou que quanto mais a música favorecesse o gosto musical do praticante, maior era a chance deste aluno realizar a atividade. A autora afirma que a música pode auxiliar o foco de atenção do aluno que por sua vez se distrai com outras informações ao invés de pensar no desconforto causado por atividades mais intensas. (GFELLER, 1988). O fator motivacional está relacionado com as razões pelas quais o indivíduo escolhe fazer algo ou executar determinada tarefa com mais empenho do que outras ou, ainda, persistir numa atividade por longo período de tempo (CRATTY, 1984). A prática de atividade física realizada em grupo acaba sendo um ótima solução para a captação, aderência, retenção e fidelização de alunos. (GFELLER, 1988). 18

CONCLUSÕES Baseado nos resultados obtidos nos estudos analisados pode-se concluir que as aulas de RPM promovem uma grande solicitação do sistema cardiorrespiratório e do sistema anaeróbio em determinados momentos da aula. De modo geral, as pesquisas indicaram a resposta da FC em domínio de intensidade entre moderada e alta durante a sessão de RPM. Entre as justificativas para isso destacam-se a música, o ambiente, o treino coletivo e todo o contexto que envolve a modalidade. O programa possui adesão consolidada nas academias por seu aspecto democrático de gênero, idade e condicionamento físico; todavia existe o risco de participantes inaptos serem tratados como indivíduos habilitados para a prática onde a freqüência cardíaca se encontra predominantemente na zona cansativa. As pesquisas também denotam sobre a prescrição da intensidade de treino através da análise de variáveis fisiológicas e metabólicas. No entanto, a tentativa de adequar a intensidade do treino com a individualidade biológica de cada aluno ainda parece distante, pois as mensurações dessas respostas dependem de equipamentos e mão de obra especializada, o que inviabiliza sua manutenção dentro de uma academia. Assim, sugere-se que as academias disponibilizem a tabela de PSE em suas salas de RPM e que os professores possam utilizá-la como instrumento de orientação e controle das zonas alvo prevista para cada música. Em adição, salientar a importância do monitor cardíaco para a prática de atividade física, principalmente para um treinamento intermitente como o RPM também pode ser considerado válido. Vale ressaltar ainda a dificuldade de realizar um teste incremental em uma modalidade com característica intervalada levando em consideração o princípio da especificidade do movimento. Ainda mais se levar em consideração que a bicicleta utilizada nas aulas de RPM são desprovidas de controle de cadência e carga, apresentando um fator limitante para uma análise fidedigna. 19

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