EDUCAR PARA RECICLAR, GERAR SERVIÇOS E RENDA RESUMO Este artigo tem como propósito estimular a prática de educação ambiental, refletindo sobre a utilização dos resíduos sólidos reutilizáveis, via reciclagem. Este, representando ações de reutilização, reaproveitamento e reforma de objetos e materiais vistos como inaproveitáveis. Mediante ações de extensão via PBAEX, esta prática possibilitou uma formação em prol da valorização de qualidade de vida e das possibilidades destes resíduos se transformarem em alternativa de serviços e renda. A metodologia utilizada para este processo formativo foi a realização de palestras, oficinas e cursos de capacitação para a população alvo proporcionando conhecimentos a cerca da preservação ambiental, empreendedorismo e uso de materiais que podem ser reaproveitados, a favor da geração de serviço e renda. Os resultados obtidos mostraram mudanças de atitudes e comportamentos dos participantes do projeto (estudantes e comunidade), frente ás questões ambientais, tais como: preservação do ambiente, olhar empreendedor e consciência ecológica, condições fundamentais para a formação cidadã e o compromisso com a qualidade de vida, diminuição de lixo nas ruas do seu entorno e redução dos impactos ambientais provocado pela comunidade. Palavras-chave: Geração de serviços e renda. Reciclagem. Qualidade de vida.. 1 INTRODUÇÃO Este artigo apresenta os resultados do trabalho de extensão, via PBAEX/IFRR que objetivou investigar as possibilidades de utilização do lixo urbano e residencial enquanto ação de educação ambiental, serviços e renda. Essas ações foram desenvolvidas através de oficinas e palestras, onde voluntariamente moradores do Bairro Conjunto Cidadão, Boa Vista - RR aderiram à proposta. Esta teve como propósitos principais a formação ambiental em prol da melhoria da qualidade de vida e a inserção social de pessoas que vivem em processo de vulnerabilidade social, que passaram a olhar o lixo como alternativa econômica de serviços e renda.
Ao vislumbrarmos esta formação, se retoma algumas constatações a respeito do processo de degradação ambiental que a sociedade atual tem vivido em especial a urbana cujas ações, hábitos e costumes tem colaborado para o descarte, o acumulo do lixo e as práticas anti-ambientais como a queima do lixo, o deposito de descartes em valas, bueiros e terrenos baldios têm sido uma pratica constante. Já se constata que os resíduos produzidos pelos seres humanos, que o ciclo de decomposição e reciclagem da matéria não ocorre de maneira normal, espontânea como na natureza, pois uma parte desse material manufaturado é sintético, utiliza recursos da química e levará até milhares de anos para se decompor por si só, a exemplo: vidros, latas e alguns plásticos que podem rapidamente provocar poluição. Quando o ser humano explora os recursos da natureza e não os reutiliza ou recicla, o ambiente se polui com o rebotalho desses produtos. A degradação provocada pelo os seres humanos impede que os ciclos naturais se realizem apropriadamente, além de ser repugnante e, muitas vezes, perigosa. Quanto mais se acumula rebotalho, tanto mais se precisa de buracos no solo ou locais de aterro para depositá-lo. A destinação dos resíduos é uma situação difícil de resolver, pois é constante em quase todos os municípios do Brasil, apesar de ser mais observados nas grandes cidades. Assim, os municípios se defrontam com a falta de posses para aplicar na coleta e no processamento e disposição final desses resíduos. Os lixões continuam sendo o caminho da maior parte dos resíduos urbanos produzidos nas cidades brasileiras, causando sérios prejuízos ao ambiente, à saúde e à qualidade de vida da sociedade. Mesmo nas cidades que apresentam aterros sanitários, o rápido esgotamento de sua vida útil mantém evidente o problema do destino do resíduo urbano. Assim, este estudo se justifica por reconhecer a importância da Educação Ambiental como ato de cidadania e melhoria da qualidade de vida de todo o ser humano. Em se tratando de futuros educadores da área de Biologia, é impar contribuir para ações dessa natureza, que levem a um novo olhar sobre o ambiente
e sua utilização de forma sustentável, ao mesmo tempo em que possa ser utilizada como alternativa de sobrevivência econômica, ou seja, a criação de ações que amenizem a destruição e poluição do ambiente ocupado pela população e ao mesmo tempo possibilitem a geração de serviço e renda e formação de cidadãos conscientes. Para BOFF in: GADOTTI. (2005), uma sociedade ou um processo de desenvolvimento possui sustentabilidade quando por ele se consegue a satisfação das necessidades, sem comprometer o capital natural e sem lesar o direito das gerações futuras de verem atendidas também as suas necessidades e poderem herdar um planeta sadio com seus ecossistemas preservados. Nesse contexto, o Desenvolvimento Sustentável precisa fazer parte de todo o projeto de desenvolvimento por uma exigência de um maior bem estar da humanidade e uma necessidade universal, representando um grande avanço. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Nesse artigo foram utilizados os fundamentos da pesquisa qualitativa, através do Método Hermenêutico, buscando-se a compreensão das ações e significado das ações realizadas, que segundo Santos Filho (2002), exigiu a adoção pelo pesquisador de uma abordagem hermenêutica. Assim, procurou-se primeiramente verificar o conhecimento e a percepção ambiental dos moradores do bairro Conjunto Cidadão localizado no município de Boa Vista/RR, sendo desenvolvida uma entrevista contendo dez(10) questões abertas, a 50 moradores do bairro, sendo possível conhecer a forma como os moradores percebem, utilizam e conservam o meio ambiente. Com base na análise e interpretação das respostas dadas pelos moradores, observou-se que os moradores apresentam conhecimento prévio dos temas que abrangem a Educação ambiental, porém necessita-se de maior compreensão sobre os benefícios e malefícios causados a natureza em virtude de práticas indevidas, como por exemplo, o descarte de matérias despejadas no ambiente, cuja durabilidade comprometerá este por muitas gerações. Também estes moradores
foram sensibilizados para a necessidade de mudanças de atitudes frente a essas questões além da percepção da importância de utilizar adequadamente os recursos naturais, pois estes são finitos e tais práticas causam cada vez mais a sua degradação. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A educação ambiental é uma ferramenta de fundamental importância na construção de valores sociais, conhecimentos, habilidades e competências voltadas a favor do meio ambiente (PIROLA, 2006). Nesse sentido, foram desenvolvidas durante o trabalho palestras, oficinas e cursos de capacitação para proporcionar a população alvo do projeto conhecimentos e compreensão a cerca da preservação ambiental, empreendedorismo e uso de materiais que podem ser reaproveitados, como geração de serviço e renda. No tocante ao conhecimento e compreensão da preservação ambiental e empreendedorismo realizamos as seguintes palestras e cursos de capacitação: a) Palestras - Crescimento econômico e a preservação do meio ambiente; A importância da reciclagem na atualidade; Sustentabilidade; Resíduos sólidos; e O papel da comunidade na proteção ambiental, conforme figura 1. Figura 1: Crescimento econômico e a preservação do meio ambiente. Fonte: Arquivo fotográfico dos pesquisadores Nessa primeira ação de desenvolvimento do projeto, foi realizada uma palestra, onde os participantes tiveram acesso ao material da 4ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, havendo discussões e elaborações de propostas para
os quatros eixos temáticos da conferência - Produção e Consumo Sustentáveis/ Redução de Impactos Ambientais/ Geração de Emprego, Trabalho e Renda/ e Educação Ambiental - sendo as mesmas direcionadas para o bairro Conjunto Cidadão. b) Cursos de capacitação desenvolvidos com o apoio de parceiros onde foram abordados os seguintes temas: Educação Ambiental; Geração de renda através da reciclagem; Meio ambiente e saúde; e Empreendedorismo em pequenos negócios, conforme figura 2 e 3. A Educação Ambiental deve ser um processo de formação dinâmico, permanente e participativo, no qual as pessoas envolvidas passem a serem agentes transformadores, atuando de forma ativa na busca de alternativas para a redução de impactos ambientais e para o controle social do uso dos recursos naturais (MARCATTO, 2002). Figura 2: Educação ambiental e Empreendedorismo em pequenos negócios. Fonte: Foto de autoria do grupo Em relação à reutilização de materiais, processo que consiste em conferir um uso diferenciado ao resíduo sólido ou em aproveitá-lo ao máximo tanto quanto permita a sua vida útil, foi organizado diversas oficinas com mães de família do bairro, visando demonstrar destinos alternativos para os resíduos sólidos. Currie diz que, a criatividade sempre produz resultados interessantes. O ser humano gosta de desafios, e precisamos utilizar toda a criatividade à nossa disposição para tentar amenizar os problemas que estão ameaçando Meio Ambiente. (CURRIE, 2000, p. 98).
Figura: Figura 3: Reciclagem com latas de alumínio e reutilização do papel. Fonte: Arquivo fotográfico dos pesquisadores Todas essas atividades contaram com um público de aproximadamente 10 a 15 pessoas e tiveram o intuito levar os moradores a repensar determinados hábitos, que embora pareçam inofensivos podem acarretar em sérios prejuízos para o meio ambiente e mostrar-lhes as alternativas de geração de serviços e renda por meio do reaproveitamento de resíduos sólidos. Segundo REIGOTA (2001) um dos objetivos da educação ambiental é: Levar os indivíduos e os grupos a adquirir o sentido dos valores sociais, um sentimento profundo de interesse pelo meio ambiente e a vontade de contribuir para sua proteção e qualidade (REIGOTA, 2001, p. 32). Após a aplicação das ações foi possível se verificar algumas mudanças de atitudes, como por exemplo o depoimento de algumas mães envolvidas no projeto que declararam não estarem mais reutilizando materiais, antes considerados por elas como inaproveitáveis, como o óleo que antes jogavam fora, no quintal e no ralo da pia, hoje utilizam para fazer sabão e as garrafas pet usam para fazer flores, borboletas e caixa de presente. Gevena Honorato, participante do projeto relatou que:
[...] as informações repassadas foram indispensáveis para adquirir conhecimentos e atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente e que graças ao projeto de extensão está desenvolvendo artesanato com garrafas pet e gerando uma renda extra para sua família. Joselane dos Santos, outra participante fala: Agora consigo entender a importância de ser consciente e preservar o meio ambiente, pois as pessoas que se preocupam em consumir, ter melhores roupas e sapatos e não respeitam a natureza só tem como resultado poluição e doenças. Victorino (2000) enfatiza que educação ambiental não é somente aquisição de conhecimento, mas também a mudança de comportamento, a de determinação para a ação e busca de soluções para os problemas. Sendo assim, os resultados foram satisfatórios já que as participantes aprenderam como preservar melhor o ambiente onde vivem trabalhando de forma empreendedora, melhorando a sua qualidade de vida e reduzindo o lixo das ruas do bairro e os impactos ambientais. 4 CONCLUSÃO ou CONSIDERAÇÕES Nesse contexto, ao se pensar em educação ambiental, deve se tomar como principal objetivo a interação ser humano-ambiente e ambiente-ser humano, criando, assim, meios de desenvolvimento menos agressivos ao ambiente e proporcionando alternativas viáveis que evitem a sua degradação. Sendo assim, houve algumas limitações no desenvolvimento do projeto, no entanto acredita-se na sua potencialidade como mecanismo de transformação da sociedade atual e principalmente na futura. Agora a semente foi plantada, resta agora começar a mudança por si mesmo e envolver as outras pessoas, tornando-se multiplicadoras das ações educativas, sensibilizando e educando as novas gerações. Contudo, o projeto assumiu um papel ímpar na formação de cidadãos conscientes e com atitudes empreendedoras, pois permitiu-lhes o contato direto com a realidade e a oportunidade de transformá-la através da mudança de pequenas atitudes.
REFERÊNCIAS CURRIE, K. Meio Ambiente: Interdisciplinaridade na prática. Campinas-SP, Papirus, 2000. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra. 3. ed. São Paulo: Petrópolis, 2005. MARCATTO, C. Educação ambiental: conceitos e princípios. Belo Horizonte: FEAM, 2002, 64 p. PIROLA, J.C. Educação Ambiental: Análise da Prática Docente nas Escolas de Aimorés via Instituto Terra com Visitas às Práticas Sociais. 2006. REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2001. SANTOS FILHO, José Camilo dos. Pesquisa quantitativa versuspesquisa qualitativa: o desafio paradigmático. In:.; GAMBOA, Silvio Sánchez (Org.). Pesquisa educacional: quantidade -qualidade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002. p. 12-59. (Coleção Questões da Nossa Época; v. 42). VICTORINO, C. J. Canibais da natureza: Educação Ambiental, limites e qualidades de vida. Petrópolis: Vozes, 2000.