INFLUÊNCIA DA TAXA DE LOTAÇÃO SOBRE AS VARIÁVEIS FISIOLÓGICAS DE FRANGOS CAIPIRA MELHORADOS Viviane de Almeida 1, Reíssa Alves Vilela 2, Natália Holtz Alves Pedroso Mora 3, Denise da Costa Barboza Carmo 3 RESUMO Objetivou-se avaliar a influência da taxa de lotação sobre fisiologia de frangos caipiras. Utilizou-se 135 animais distribuídos em três tratamentos com densidades de 10, 15 e 20 aves.m -2. Aferiram-se as variáveis fisiológicas de temperatura cloacal (TC) e frequência respiratória (FR) sendo registrados a cada sete dias às 14h, totalizando oito períodos. Verificou-se efeito (P<0,01) somente de período em relação à FR com menores valores nos períodos sete e oito de 36 e 34 mov.min -1, respectivamente, não se verificou efeito de densidade para nenhuma variável fisiológica monitorada. Conclui-se que se pode indicar a densidade de 20 aves.m -2 sem prejuízos fisiológicos aos animais. Palavras-chave: avicultura de corte, densidade populacional, frequência respiratória, temperatura cloacal ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the influence of the stocking rate on the physiology of hick chickens. Thirty-five animals distributed in three treatments with densities of 10, 15 and 20 birds.m -2 were used. The physiological variables of cloacal temperature (TC) and respiratory rate (RF) were gauged and recorded every seven days at 2:00 p.m., totaling eight periods. Significant effect (P <0.01) only for the period in relation to FR with lower values in seven eight periods of 36 and 34 mov.min-1, respectively, there was no effect on density monitored physiological variable. It is concluded that the density of 20 birds.m -2 can be indicated without any physiological damage to the animals. Keywords: Poultry production, population density, respiratory rate, body temperature 1 Bacharel em Zootecnia nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. 2 Profa. Dra. Orientadora - Departamento Ciências Agrárias nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. E-mail: reissavilela@gmail.com 3 Profa. colaborador - Departamento Ciências Agrárias nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. 1. INTRODUÇÃO A avicultura é uma das atividades de produção animal que mais se desenvolveu nos últimos anos. Isto se deve, basicamente, ao melhoramento genético das diferentes linhagens de aves domésticas, da formulação e elaboração de dietas e da busca de novos sistemas de criação que objetivam maior produtividade em menor tempo possível (VIANA et al., 2000). A produção de frangos, atualmente, é considerada uma atividade econômica internacionalizada e uniforme, sem fronteiras geográficas de tecnologia. Podendo ser considerada um complexo industrial que não deve ser analisado apenas sob o aspecto de produção e distribuição, e sim por meio de uma abordagem sistêmica do setor. As características desta atividade contribuem para aumentar a geração de emprego e renda no campo (SANTOS, 2009). A avicultura no Brasil caracteriza-se, atualmente, pelo confinamento das aves em ambiente fechado e total controle sobre o processo produtivo. Os altos custos deste modelo de produção, baseado em equipamentos e insumos dispendiosos, geram diversos problemas técnicos e econômicos, que dificultam a produção reduzindo a margem de lucro do produtor e causando impactos ambientais. No entanto, a expansão da criação intensiva de frangos de corte em alta densidade permitiu aumentar o volume de produção, porém pode proporcionar um ambiente desfavorável às necessidades dos animais, principalmente, no que se refere ao comportamento social e hábitos alimentares (TINOCO, 2004). Na busca de melhores resultados econômicos tem-se frequentemente investido em tecnologia na avicultura, buscando aumentar a produtividade, atendendo as exigências do setor e os nichos de mercado. Para alcançar o sucesso vários pontos críticos precisam ser observados e avaliados como genética, aspectos sanitários, nutrição e conforto ambiental, fatores estes que influenciam o potencial produtivo (SILVA et al., 2003). A crescente preocupação dos consumidores com os sistemas de produção, qualidade de vida dos animais, dietas a que os mesmos são submetidos, número de animal por unidade de área faz com que tenha um aumento nos investimentos tecnológicos que proporcionam conforto ambiental (CORDEIRO, 2010). 139
Uma das tecnologias aplicadas na avicultura é alteração da densidade. A alta densidade é entendida como aumento do número de aves por metro quadrado, sendo considerado alta taxa de lotação de 15 a 18 aves/m 2 podendo resultar ao final da produção até 40kg de carne/m 2. Quando alojados nos galpões com climatização, comedouros, bebedouros e a cama de frango adequada pode-se proporcionar melhor conforto para as aves (TINOCO, 2004). A quantidade de aves por metro quadrado afeta o potencial de produção podendo otimizar o uso do galpão. Entretanto, deve-se ter muito cuidado com a alta taxa de lotação, dando uma atenção à qualidade da água, quantidade de alimento, umidade da cama e, principalmente, as condições termohigrométricas dentro do galpão, pois são fatores que influenciam diretamente no rendimento e qualidade da carcaça das aves (SILVA, 2001). Além disso, estudos demonstram que a densidade está diretamente relacionada com o desempenho, quanto maior a densidade populacional, maior é a dificuldade de controlar o ambiente interno do galpão e o equilíbrio entre a produção e o bem-estar animal que é um fator de extrema importância para a produção do plantel. Na falta de equipamentos que melhorem o conforto térmico e a adaptabilidade das aves como ventiladores e nebulizadores, os índices zootécnicos de produtividade tendem a piorar, devido o estresse calórico imposto nas aves podendo levar assim a morte das mesmas causando prejuízos (BARBOSA FILHO, 2007). Em alta densidade as aves, normalmente, precisam acionar seus mecanismos termorreguladores para se manter em homeostase. Os mecanismos de termorregulação nos frangos de corte desenvolvem-se completamente na terceira semana de vida e por serem animais homeotermos, são capazes de manter sua temperatura corporal relativamente constante independentemente da temperatura ambiental (AGUIAR, 2006). Quando em estresse térmico as aves acionam seus mecanismos termolíticos, como a vasodilatação periférica, dissipando o calor, principalmente, por radiação e convecção (FABRICIO, 1994). À medida que a temperatura do ambiente se eleva o centro termorregulador, sediado no hipotálamo, dá início à termólise, especialmente por via evaporativa, com o aumento na evaporação respiratória através do ofego. Se estes mecanismos não forem suficientes para perda do calor, não havendo restabelecimento do equilíbrio térmico, a temperatura do corpo começará a se elevar (SILVA, 2008). Ferreira (2011), afirma que se não reestabelecer a homeostase, inicia-se a redução nas atividades da tireóide, redução na ingestão de alimentos e aumento na ingestão de água, com alterações comportamentais como procura por sombra, banho de areia e modificações na postura com abertura das asas. A medida da temperatura cloacal é geralmente utilizada como índice de adaptabilidade fisiológica aos ambientes quentes para aves, pois seu aumento indica que os mecanismos de termólise tornaram-se insuficientes na liberação do calor acumulado (SILVA, 2008). A temperatura interna das aves adultas é influenciada pela temperatura e umidade do ambiente, atividade física, aclimatação, luminosidade, muda de penas, idade, linhagem, jejum e sexo, sendo que, a temperatura corporal ideal variam entre 40 e 41 o C (FERREIRA, 2011). O aparelho respiratório das aves é a principal via utilizada no processo termorregulatório por meio do ofego, a frequência respiratória, em condições de termoneutralidade, varia entre 20-40 mov.min -1, sendo que em situações de estresse severo, poderá aumentar em até 20 vezes o valor normal (AGUIAR, 2006). Diante do exposto é notória a conexão do manejo de densidade do aviário sobre a capacidade do animal em se manter em homeostase. Portanto, o presente trabalho objetivou avaliar o efeito da influência de diferentes taxa de lotação sobre as variáveis fisiológicas de frangos caipira melhorados. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no galpão de criação comercial de frangos de corte pertencente à Fazenda Escola Boa Esperança localizada na Br 158, km 5 sentido Nova Xavantina município de Barra do Garças-MT. Utilizou-se 135 frangos machos caipiras melhorados híbridos comerciais com ciclo de produção de 85 dias em sistema intensivo mantidos no galpão do setor de avicultura da instituição com área total de 45m 2 (5m de largura e 9 metros de comprimento), pé direito de 3metros de altura, telhado de fibrocimento com material reciclável e lanternins para a saída de ar quente e orientação no sentido Leste-Oeste. Dentro do galpão foram instaladas nove gaiolas de aço com área de 1m 2, com cama sobrepostas de serragem de madeira, com espessura de 0,10m para alojamento das aves. 140
Os pintainhos foram retirados do redondel com 14 dias de vida e distribuídos nas gaiolas conforme os tratamentos e suas repetições. Determinou-se três tratamentos com três repetições que foram diferenciados de acordo com a densidade populacional dentro das gaiolas, sendo definida por tratamento A com 10 aves/m 2, tratamento B com 15 aves/m 2 e tratamento C com 20 aves/m 2. Para alimentação dos animais, a ração e água foram fornecidas ad libitum no interior da gaiola experimental, em comedouro e bebedouro do tipo pendular. As aves, por serem da mesma linhagem e da mesma idade, receberam rações formuladas para atender as necessidades nutricionais nas respectivas fases. A coleta dos dados teve início no dia 28 de abril de 2016 e término no dia 16 de junho de 2016 totalizando oito coletas (períodos). Sendo que no período 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 os animais estavam com 21, 28, 35, 42, 49, 56, 63 e 70 dias/vida, respectivamente. Para avaliação das variáveis fisiológicas foram selecionadas cinco aves de cada gaiola identificadas com tintura nos pés, sendo observados e colhidos os dados sempre dos mesmos animais. Foram registrados dados da frequência respiratória (FR) e temperatura corporal, através da cloaca (TC), mensurados a cada sete dias às 14h. A verificação da frequência respiratória foi feita através da contagem do número de movimentos abdominais da ave por 15 segundos, através de um cronômetro digital e em seguida multiplicado por quatro para obter o número de movimentos realizados por minuto (mov.min-1). Após o registro da frequência respiratória foi feita a mensuração da temperatura corporal, TC ( o C) através do uso de termômetro clínico digital, introduzido na cloaca das aves, com o devido cuidado para evitar o estresse ao manuseio e que o mesmo esteja em contato com a mucosa do animal. As análises das variáveis fisiológicas (FR e TC) considerou um modelo estatístico que contemplou os efeitos fixos de período de avaliação (1-8), densidade (10, 15 e 20 animais. metro -2 ) e interação dupla período x densidade, além do efeito aleatório de animal utilizado como resíduo. Nestas análises, considerou-se que as avaliações nos diferentes períodos foram realizadas nos mesmos animais, caracterizando estrutura repetida no tempo, conforme descrito por Crowder e Hand (1990). Em virtude de efeitos significativos realizou-se o teste de comparação de médias pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a variável fisiológica de temperatura cloacal não foi observado efeito significativo (P > 0,05) para os períodos de coleta (tabela 1) e densidades populacionais (tabela 2). Assim como, também não foi observado efeito sobre suas interações. Portanto, independente do período, conforme o envelhecimento dos animais, e da densidade não houve interferência na temperatura cloacal. Para a variável fisiológica de frequência respiratória observou-se efeito significativo (P<0,01) em relação aos períodos de coleta conforme demonstrado na tabela 1. Entretanto, não foi verificado efeito significativo (P> 0,05) para as densidades populacionais (tabela 2). Tabela 1 Média das variáveis fisiológicas de temperatura cloacal (TC) e frequência respiratória (FR) dos animais ao longo dos períodos experimentais Período Variáveis 1 2 3 4 5 6 7 8 TC ( o C) 40,44a 40,12a 39,85a 39,96a 40,18a 40,57a 40,49a 40,60a FR (mov.min -1 ) 67ab 68a 66abc 63c 63bc 52d 36e 34e Letras minúsculas iguais na mesma linha não diferem entre si (P>0,05) pelo teste F. Período 1 animais com idade de 21 dias, período 2 com 28 dias, período 3 com 35dias, período 4 com 42 dias, período 5 com 49 dias, período 6 com 56, período 7 com 63 dias e período 8 com70 dias de vida. Em relação ao período experimental, conforme o envelhecimento dos animais, não houve interferência na TC, variando de 39,85 a 40,60 o C, apresentando temperaturas corporais que indicam uma condição de homeostasia. Pois, segundo Ferreira (2011), a temperatura interna das aves adultas varia de 40 e 41 o C podendo ser influenciada pela temperatura e umidade do ambiente, atividade física, aclimatação, luminosidade, muda de penas, idade, linhagem, jejum e sexo. Ao observar à alteração da FR durante os períodos experimentais verificou-se que não houve diferença entre os períodos de 1 a 5, variando de 67 a 63 mov.min -1, acredita-se que esses valores são resultantes da tentativa de manter a homeostase, já que os animais mais jovens apresentam área de superfície específica maior e metabolismo mais 141
elevado que os animais mais velhos (SILVA, 2008). Segundo Baêta e Souza (2010), a frequência respiratória possui papel importante nos processos de termorregulação, ao acionar as vias de termólise latente por evaporação o animal aumenta a FR a fim de incrementar a perder calor para manutenção da temperatura corporal. Conforme o envelhecimento destes animais com o aumento da superfície específica e redução do metabolismo observou-se que os mesmos permaneciam mais calmos e deitados em grupo diminuindo a FR nos períodos seguintes, com menores valores de FR nos períodos 7 e 8 de 36 e 34 mov.min -1, respectivamente. Tabela 2 - Média das variáveis fisiológicas de temperatura cloacal (TC) e frequência respiratória (FR) dos animais em relação as densidades experimentais Densidade Variáveis 1 2 3 TC ( o C) 40,35a 40,27a 40,21a FR(mov.min -1 ) 57a 56a 55a Letras minúsculas iguais na mesma linha não diferem entre si (P>0,05) pelo teste F. Densidades 1-10, 2-15 e 3-20 animais por metro quadrado. Esperava-se que com o aumento da densidade gerasse uma situação de estresse térmico calórico devido o aumento de troca de calor por condução e radiação entre os animais, resultando em alterações sua fisiologia. Entretanto, no presente experimento não foi observado efeito da densidade sobre as variáveis fisiológicas. Porém ao analisarmos os valores absolutos da FR, verifica-se que as aves, independente da densidade, tiverem que aumentar sua FR para conseguir manter a TC dentro dos valores que indicam condição de homeostase. Pois, de acordo com Aguiar (2006) a FR de aves varia entre 20-40 mov.min -1 quando em condições de termoneutralidade. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os resultados obtidos nesta pesquisa, conclui-se que o aumento da densidade não gerou uma situação de estresse térmico nos animais e, pode-se indicar uma lotação de até 20 aves/m 2 sem que os animais alterem sua homeostasia. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, A. S. Opinião do consumidor e qualidade da carne de frangos criados em diferentes sistemas de produção. 2006. 70 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) Universidade de São Paulo, Piracicaba-SP. 2006. BAÊTA, F. da C.; SOUZA, C. de F. Ambiências em edificações rurais. 2ed. Viçosa, MG: UFV, 2010. BARBOSA FILHO, J. A. D et al. Avaliação dos comportamentos de aves poedeiras utilizando sequencia de imagens. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 27, n.1, p.93-99, jan. abr.2007. CORDEIRO, M. B. et al. Conforto térmico e desempenho de pintos de corte submetidos a diferentes sistemas de aquecimento no período de inverno. Revista Brasileira de Zootecnia. Viçosa, v. 39, n.1, p. 217-224, jan.2010. CROWDER, M. J.; HAND, D. J. Analysis of repeated mesures. London: Chapman & Hall, 1990, 257p. FABRICIO, J. R. Influência do estresse calórico no rendimento da criação de frango de corte. In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLA, 1994, São Paulo. Anais... São Paulo: Apinco, 1994. p 129-133. FERREIRA, R. A. Maior produção com melhor ambiente: para aves, suínos e bovinos. 2ed. Viçosa, MG: Aprenda Fácil, 2011. GARCIA, R. A. M. O estudo do comportamento de galinhas poedeiras como subsidio para promoção do bem-estar animal. 2003, 210f. Dissertação (Mestrado em Agrossistemas). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2003. SANTOS, P. A. dos et al. Avaliação dos sistemas de aquecimento a gás e a lenha para frangos de corte. Revista Ceres, Viçosa, v. 56, n. 1, p. 09-17, jan. fev. 2009. SILVA, I. J. O.; SEVEGNNANI, K. B. Ambiência na produção de aves de postura. In: SILVA, I. J. O. 142
Ambiência na produção de aves em clima tropical. Piracicaba: FUNEP, 2001.p.150-2014. SILVA, M. A. et al. Influencia do sistema de criação sobre o desempenho, a condição fisiológica e o comportamento de linhagens de frangos para corte. Revista Brasileira de Zootecnia, [S. l.], v. 32. n.1, p. 124-140, Jan. Fev. 2003. SILVA, R. G. da. Biofísica ambiental: Os animais e seu ambiente. Jaboticabal: Funep, 2008. TINOCO, I. F. F. Avicultura industrial: novos conceitos de materiais, concepções e técnicas construtivas disponíveis para galpões avícolas brasileiro. Revista Brasileira de Ciência Avícola, Campinas, v. 3, n.1, p. 01-26, 2004. VIANA, C. F. A. et al. Influência de Grupos Genéticos e de Níveis de Energia sobre Características de Carcaça de Frangos de Corte. Revista Brasileira de Zootecnia. Viçosa, v.29, n.1, p.1076-1073, 2000. WELKER, J. S. et al. Temperatura corporal de frangos de corte em diferentes sistemas de climatização. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.37, n.8, p.1463-1467, ago.2008 143