Codorna - efeito ambiental e nutricional para aumento da produtividade
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1 Codorna - efeito ambiental e nutricional para aumento da produtividade INTRODUÇÃO PAULO RENÊ DA SILVA JÚNIOR GRANJA LOUREIRO A questão ambiental e de bem estar animal vem sendo tema de diversos debates a nível mundial, todos os setores da avicultura têm que se adaptar a esta nova visão de produção. A codorna não tem sofrido este tipo de pressão, porém os próprios produtores, observando as vantagens que o bem estar das aves trás em termos produtivos, estão buscando melhorar a ambiência e consequentemente o bem estar das aves. As codornas ainda não estão adaptadas a condição de produção, ou não totalmente adaptadas, o que faz com que o nível de estresse seja mais alto quando comparados as demais aves comerciais, esta situação exige um manejo mais complexo e meticuloso. Outro fator que afeta a produtividade da codorna é o calor, devido ao clima tropical, que causa problemas de redução de consumo de ração e consequentemente redução de produtividade e perda da qualidade dos ovos, principalmente no verão. Em climas tropicais e subtropicais, os valores de temperatura e umidade relativa do ar são restritivos ao desenvolvimento, à produção e à reprodução dos animais (OLIVEIRA et al., 1995). Apesar dos problemas descritos o crescimento da coturnicultura é destaque dentro da avicultura, o que foi possível com a modernização das gaiolas, estruturas e também com a evolução dos métodos de controle de temperatura para os galpões de postura de codornas. Ocorreram avanços também na genética e na capacidade de fornecimento de codorninhas por parte dos matrizeiros, assim como avanços práticos nos níveis das dietas formuladas para codornas, apesar de não ter ocorrido alterações nos níveis nutricionais dos manuais técnicos para codornas. O aumento exponencial da densidade e do alojamento das codornas trás para o setor problemas que ele não tinha, como pressão sanitária, dificuldade de formação de lotes uniformes, piora nos índices zootécnicos da recria e também redução dos índices zootécnicos da postura e conseqüente redução da vida útil das codornas. EFEITO AMBIENTAL O manejo, associado às condições climáticas e condições estruturais do galpão tem muita influencia sobre os resultados de produtividade. Os principais fatores que interferem na produção são: qualidade do ar, ventilação, umidade do ar, temperatura, incidência de sol diretamente na gaiola, consumo e qualidade da ração, qualidade e temperatura da água e manejo. Os sistemas de esteira para retirada automática e diária do esterco contribuiu para aumentar o número de codornas alojadas por galpão sem comprometer a qualidade do ar respirado pelas aves. Além de melhorar a qualidade do ar, reduz significativamente a presença de moscas e auxilia no controle de roedores, quando comparados a sistemas que o esterco fica um ciclo embaixo das gaiolas.
2 Ventilação, umidade do ar e incidência de luz solar diretamente sobre as aves, são fatores que influenciam a dissipação de calor. No momento de construir o galpão para alojar as aves, deve-se pensar em todos estes pontos. A altura do galpão tem que permitir boa circulação do ar e consequente dissipação de calor, o galpão deve ser alocado em posição que tenha menor incidência de luz solar, dentro do galpão, no período do verão. Também deve ter um projeto de arborização, que gere sombra ao redor dos galpões, minimizando a sensação térmica. Os colaboradores devem fazer manejo correto de cortinas, evitando a incidência direta de luz solar sobre as aves. Muitas granjas investiram em sistemas de resfriamento de galpões, como instalação de ventiladores, uso de aspersores e nebulizadores, sistemas de molhar o telhado, molhar o chão e mais recentemente os galpões climatizados. Os galpões de pressão negativa criam uma ambiência controlada, com poucas variações de temperatura e umidade, possibilitam um controle melhor sobre a luminosidade e sobre a ventilação. O conforto térmico gerado pela climatização melhora muito os índices produtivos das codornas, e também a qualidade dos ovos. O consumo de ração é estável, em todas as épocas do ano, sofre pequena variação de codornas em inicio do ciclo para codornas mais velhas, o que também já era esperado. As tabelas apresentadas abaixo mostram as medias das temperaturas máximas e mínimas durante o ano e também separadas por períodos, em diferentes tipos de estrutura e alojamento. Tabela 1: TEMPERATURA MEDIA ANUAL DE 2014 ESTRUTURA MINIMA MAXIMA PIRAMIDAL 19,6 30,6 VERTICAL 1 BATERIA 18,3 31,9 VERTICAL TELHA 17,8 29,3 VERTICAL 19,7 30,2 CLIMATIZADO 15,7 24,5 Como podemos ver na tabela 1, a temperatura máxima media de todas as estruturas foi superior aos 28º C, que já estariam acima da temperatura critica superior, exceto a granja climatizada que apresentou temperatura máxima media muito próxima a zona de conforto térmico. Tabela 2: TEMPERATURA MEDIA DE JANEIRO DE 2014 A MARÇO DE 2014 MINIMA MAXIMA PIRAMIDAL 22,5 32,4 VERTICAL 1 BATERIA 25,6 33,7 VERTICAL TELHA 19,3 30,6 VERTICAL 21,4 31,7 CLIMATIZADO 17,7 25,3 Durante o ano de 2014, que foi o período de coleta das máximas e mínimas de temperatura em ºC, percebeu-se uma discrepância das temperaturas em três fases do
3 ano, que não coincidiram com as estações do ano, por isto o ano foi dividido da seguinte maneira: Janeiro a março (tabela 2), Abril a agosto (tabela 3) e Setembro a dezembro (tabela 4) Tabela 3: TEMPERATURA MEDIA DE ABRIL DE 2014 ATE AGOSTO DE 2014 MINIMA MAXIMA PIRAMIDAL 17,0 28,6 VERTICAL 1 BATERIA 13,0 29,4 VERTICAL TELHA 14,8 27,1 VERTICAL 17,6 28,9 CLIMATIZADO 13,0 23,0 A tabela 3, período de abril a agosto foi a única que apresentou temperatura máxima media abaixo dos 30ºC para os galpões convencionais, mas mesmo no período do inverno as temperaturas estavam acima da temperatura critica superior. Exceção apenas para granja climatizada, que esteve dentro da zona de conforto térmico. Porém a temperatura mínima media do galpão climatizado esteve abaixo dos 18ºC. Tabela 4: TEMPERATURA MEDIA DE SETEMBRO DE 2014 ATE DEZEMBRO DE 2014 MINIMA MAXIMA PIRAMIDAL 20,5 31,4 VERTICAL 1 BATERIA 18,8 33,4 VERTICAL TELHA 20,0 30,9 VERTICAL 21,0 30,8 CLIMATIZADO 17,9 25,9 Analisando apenas a questão de temperatura, o galpão climatizado fica fora da zona de conforto térmico somente no período descrito na tabela 3, quando a media mínima fica bem abaixo dos 18ºC descrito na literatura como referencia. As codornas são aves extremamente exigentes quanto aos limites das variáveis climáticas, no entanto, a zona de conforto térmico das codornas em fase de produção situa-se em torno de 18 e 24 C (OLIVEIRA et al., 2004; MAS et al., 2004; FERREIRA et al., 2005) e a temperatura crítica superior para esses animais é considerada em torno de 28 C. Segundo Moura, 2001, a umidade relativa do ar tem maior importância no conforto térmico das aves quando a temperatura ambiental atinge 25 C, pois altas temperaturas associadas a altas taxas de umidade relativa dificultam a remoção da umidade através das vias aéreas, tornando a respiração cada vez mais ofegante. A ave poderá não conseguir manter a freqüência respiratória alta o bastante para remover o excesso de calor interno, levando a hipertermia, seguida de prostração e morte. Analisando as tabelas apresentadas, os dados de referência de temperatura para zona de conforto térmico citados e a influencia da umidade em temperaturas acima dos 25 ºC, explica o fato de no período mais frio do ano na região de Perdões-MG as codornas terem uma produção melhor, com taxa de mortalidade menor, maior consumo
4 de ração e melhor qualidade dos ovos, isto em estruturas convencionais. Pois apesar de estar acima da temperatura critica superior, a umidade neste período (tabela 3) é menor que nos demais períodos (tabelas 2 e 4) e a codorna consegue melhor resultado na tentativa de manter a homeotermia. EFEITO NUTRICIONAL Diversos autores têm mostrado que a temperatura interfere diretamente no consumo de ração das aves, o que também é nitidamente observado na pratica, com reduções da ordem de 5% a 8% no consumo. Esta redução interfere na nutrição, visto que além da redução no consumo da ração, ainda tem a maior demanda da codorna em nutrientes para manter a homeotermia. Segundo Abreu & Abreu 2003, a falta de bemestar e conforto térmico interfere no mecanismo termodinâmico que as aves possuem para se protegerem de extremos climáticos, acarretando desperdício de energia e conseqüentemente redução no consumo, menor taxa de crescimento, maior conversão alimentar e queda na produção. TINÔCO & GATES, 2005, citaram que diversos trabalhos têm demonstrado que o consumo de ração pelas aves, a reprodução e a produção de ovos estão intimamente relacionados com condições térmicas do ambiente, demonstrando que a ingestão de alimentos diminui à medida que a temperatura ambiente se eleva a partir de 21 C Para tentar contornar a perda de produtividade, alem dos investimentos estruturais, os produtores tem que adequar sua dieta ao desafio que a ave esta passando, Borges (2001) recomenda a manipulação da proteína e energia da dieta, aclimatação dos animais, utilização de antitérmicos, acido ascórbico e eletrólitos, ainda segundo Borges (2001) a adição de sais à dieta pode amenizar as perdas devido ao estresse térmico, os mais utilizados são: sal comum (NaCl), bicarbonato de sódio (NaHCO3), carbonato de potássio (KHCO3) e Cloreto de amônia (NH4Cl). Outra alternativa seria a descrita por ALETOR et al. (2000), citando que a suplementação de aminoácidos sintéticos nas rações, principalmente lisina e metionina, é uma prática incorporada na rotina das fábricas de rações para aves, com a finalidade de reduzir os níveis protéicos das dietas e, consequentemente, o custo das rações. Essa diminuição dos níveis protéicos das dietas traz outros benefícios, como a redução do consumo alimentar, evita os excessos de aminoácidos e leva à menor poluição ambiental, pela melhor eficiência na utilização e menor excreção de nitrogênio pelas aves. Arraçoamento automatizado, possibilita tratar as codornas mais vezes ao dia, evitando desperdício e estimulando o consumo de ração, isto gera muitos benefícios, principalmente no verão quando a ave tende a reduzir a ingestão de ração. O galpão climatizado por sua vez não apresenta este tipo de situação com temperaturas elevadas que reduzem o consumo de ração e aumentam o gasto energético para manutenção da homeotermia, logo a nutrição em um galpão com ambiência controlada deve sofrer alterações para adequar as necessidades da codorna naquele ambiente. Apos um ano de observações, conclui- se que o galpão climatizado apresenta resultados superiores no desempenho de codornas em postura, quando comparado as codornas em galpões convencionais. Existem fatores restritivos a implantação deste tipo de galpão, que são a disponibilidade de água e de energia. Os resultados médios de desempenho das codornas no galpão climatizado do inicio de postura até os 400 dias de vida das aves estão demonstrados na tabela 5.
5 Tabela 5: desempenho de codornas em galpão climatizado ITEM VALOR Peso médio dos ovos 11,93g Peso médio das codornas 187,07g Media de ovos bons 77,48% Media de ovos descarte ate 300 dias 1,72% Media de ovos descarte acima de 4,73% 300/400 dias Media de aves alojadas Em termos de observações práticas a nível de campo, observou-se menor descalcificação, ovos com maior qualidade durante um período superior ao observado nos galpões convencionais, maior produção e ovos mais pesados. É nítido o conforto das aves, que pode ser observado por seu comportamento mais dócil e por serem raras as vezes que se vê uma codorna "bater papo". E segundo SANTOS et al. (2006), a freqüência respiratória é considerado um parâmetro fisiológico importante na caracterização da condição de conforto ou estresse dos animais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o aumento da densidade de alojamento e do numero de aves alojadas dentro de um mesmo galpão, com lotes cada vez maiores, a coturnicultura tem que se readaptar e reinventar o jeito de criar codornas, em todos os setores da cadeia. Temos muito que descobrir sobre ambiência, luminosidade e principalmente sobre níveis nutricionais e composição da dieta. Buscando as melhores alternativas para cada linhagem de codorna em cada microrregião, de forma que as aves possam expressar todo seu potencial. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ABREU, V. M. A.; ABREU, P.G. Diagnóstico bioclimático para produção de aves na mesorregião centro sul baiano. Concórdia: EMBRAPA SUÍNOS E AVES, p. BORGES, S.A. Balanço eletrolítico e sua interrelação com o equilíbrio ácidobase em frangos de corte submetidos a estresse calórico f.Tes (Doutorado em Zootecnia) -Curso de Pós-graduação em Zootecnia,Universidade Estadual Paulista. FERREIRA, R.A. Maior produção com melhor ambiente para aves, suínos e bovinos. Aprenda Fácil, Viçosa, p. MAS, H.A.R. et al. Energia metabolizável de alimentos protéicos para codornas japonesas (Coturnixcoturnixjaponica). In: Simpósio Internacional, 2.; Congresso Brasileiro de Coturnicultura, 2004, Lavras, MG. Anais... Lavras: Universidade Federal de Lavras, p.20 MOURA, D.J. Ambiência na avicultura de corte. In: SILVA, I.J.O. Ambiência na produção de aves em clima tropical. Piracicaba: FUNEP, v. 2, p , OLIVEIRA, P. A. V.; GUIDONE, A. L.; BARONI JÚNIOR, W.; DALMOURA, V. J.; CASTANHA, N. Efeito do tipo de telha sobre o acondicionamento ambiental e o desempenho de frangos de corte. In: Conferência
6 Apinco de Ciência e Tecnologia Avicolas, 1995, Curitiba. Anais... Curitiba: FACTA, p OLIVEIRA, B.L. Importância do manejo na produção de ovos de codornas. In: Simpósio internacional de Coturnicultura, 2., 2004, Lavras. Anais... Lavras: Núcleo deestudos em Ciência e Tecnologia Avícolas, p TINÔCO, I.F.F., GATES, R.S. Ambiência e construções para matrizes pesadas. In: MACCARI, M.; MENDES, A.A. (Ed.) Manejo de matrizes de corte. Campinas: FACTA, cap.2, p
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