APELAÇÃO CÍVEL Nº 364771-17.2009.8.09.0051 (200993647715) DE GOIÂNIA APELANTE APELADO CÂMARA LEONARDO BEZERRA DE LIMA GANDRA ESTADO DE GOIÁS DESEMBARGADOR CARLOS ESCHER 4ª CÍVEL RELATÓRIO Trata-se de recurso de apelação, figurando como apelante Leonardo Bezerra de Lima Gandra e, como apelado, o Estado de Goiás, qualificados e representados. Ao relatório da sentença de fls. 1059/1069, aqui adotado e a este incorporado, acrescento que o MM. Juiz de Direito da Auditoria Militar desta Capital, Dr. Gustavo Assis Garcia, julgou improcedentes os pedidos formulados na ação declaratória c/c nulidade de ato administrativo proposta pelo apelante em face do apelado. Inconformado com a decisão, o apelante interpôs recurso de apelação (fls. 1075/1082). Referindo-se aos princípios da moralidade e da impessoalidade, discorda da 1
maneira pela qual o órgão colegiado conduziu o processo administrativo disciplinar instaurado contra si. Aduz que As teses defensivas apresentadas pela defesa, todos os pedidos, documentos foram ignorados, porque o douto colegiado já tinha tomado mesmo antes da instrução a decisão de excluir o apelante dos quadros da corporação. (fl. 1079). Ressalta que A falta de motivação das decisões proferidas também, é sem dúvida, prova de que os atos praticados pelo douto órgão colegiado é carente dos requisitos essências à validade e eficácia do ato administrativo. (sic - fl. 1079). da legalidade. Frisa que houve violação ao princípio Afirma que vigorava no âmbito da Polícia Militar, dispositivo legal ( art. 40, 2º da Lei nº 8.033/75 ), que determinava o sobrestamento do feito disciplinar quando o objeto deste transgressão disciplinar encontrava-se tipificado na norma penal militar como crime. (fl. 1080). Entende que a Administração Pública não 2
poderia aplicar nenhum dos corretivos disciplinares elencados no art. 20 do Dec. 4.717/96, antes de decisão judicial transitada em julgado. (fl. 1081). sentença. Ao final, requereu a reforma da O apelado apresentou contrarrazões ao recurso de apelação e requereu seu improvimento (fls. 1085/1090). Ouvida a respeito, a ilustre Promotora da Justiça Militar, Drª. Carmem Lúcia Santana de Freitas, opinou pela manutenção da sentença (fls. 1092/1096), assim como o digno Procurador de Justiça, Dr. Wellington de Oliveira Costa (fls. 1100/1104). É, em síntese, o relatório. À douta revisão. Goiânia, 05 de outubro de 2012. 5/A Desembargador CARLOS ESCHER 3
APELAÇÃO CÍVEL Nº 364771-17.2009.8.09.0051 (200993647715) DE GOIÂNIA APELANTE APELADO CÂMARA LEONARDO BEZERRA DE LIMA GANDRA ESTADO DE GOIÁS DESEMBARGADOR CARLOS ESCHER 4ª CÍVEL VOTO Presentes os pressupostos de admissibilidade da apelação, dela conheço. Referindo-se aos princípios da moralidade e da impessoalidade, o apelante discorda da maneira pela qual os membros do conselho processante conduziram o processo administrativo que culminou com sua exclusão das fileiras da corporação da Polícia Militar do Estado de Goiás, a bem da disciplina (fls. 922/923), por cometimento de crime militar. Citando Maurice Hauriou, Maria Sílvia Zanella Di Pietro diz ter o referido autor definido a moralidade administrativa como o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração ; implica saber distinguir não só o bem e o 4
mal, o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, mas também entre o honesto e o desonesto; há uma moral institucional, contida na lei, imposta pelo Poder Legislativo, e há a moral administrativa, que é imposta de dentro e vigora no próprio ambiente institucional e condiciona a utilização de qualquer poder jurídico, mesmo o discricionário. (Direito Administrativo, 9ª. ed., Editora Atlas, pág. 69). O princípio da impessoalidade, por sua vez, Significa que a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, uma vez que é sempre o interesse público que tem que nortear o seu comportamento; (in obra supracitada, pág. 64). Ademais, conforme ressaltado pelo Ministro Gilson Dipp, em relação ao controle jurisdicional do processo administrativo, impõe-se esclarecer que a atuação do Poder Judiciário circunscreve-se ao campo da regularidade do procedimento, bem como à legalidade do ato demissionário, sendo-lhe defesa qualquer incursão no mérito administrativo a fim de aferir o grau de conveniência e oportunidade. (trecho do voto relativo ao julgamento do Recurso em Mandado de Segurança nº 19846, julgado pela 5ª turma do STJ em 04/05/2006). 5
Não há dúvida de que o conselho processante oportunizou ao apelante o acompanhamento da instrução, inclusive através de advogada, qual seja, a Drª. Cláudia Cristina de Oliveira Campos, levando ao conhecimento daquele as provas produzidas contra si e oportunizando refutá-las. Aliás, o próprio apelante afirmou ter buscado por diversas vezes, através de recursos administrativos, que as autoridades competentes tomassem as providências necessárias a evitar a nulidade do processo administrativo (fl. 1079), admitindo, portanto, que lhe foi assegurado o direito de defesa em sua plenitude, através dos meios legais. Inaceitável, pois, a assertiva de que As teses defensivas apresentadas pela defesa, todos os pedidos, documentos foram ignorados, porque o douto colegiado já tinha tomado mesmo antes da instrução a decisão de excluir o apelante dos quadros da corporação. (fl. 1079), haja vista que a deliberação foi tomada pelo Comandante Geral da Polícia Militar, Cel QOPM Edson Costa Araújo, em processo administrativo marcado pelo crivo da ampla defesa e do contraditório. 6
Ressalte-se, ainda, que o apelante generalizou a alegação acerca da falta de motivação das decisões proferidas (fl. 1079), valendo lembrar, ainda, que a adoção de tese contrária àquela desenvolvida pelo apelante ao longo da instrução processual não implica em nulidade do ato administrativo. Inviável ao Poder Judiciário adentrar ao mérito da deliberação administrativa de exclusão do apelante das fileiras da corporação militar, a pretexto de terem sido violados os princípios da moralidade e da impessoalidade, sob pena de violação a um outro, qual seja, o da separação dos poderes. Relativamente à alegada violação ao princípio da legalidade, por não ter sido sobrestado o processo administrativo disciplinar, com base no art. 40 da Lei nº 8.033/1975, observo que o apelante já tentou, na ação de mandado de segurança nº 200602739238, sobrestá-lo, mas o pedido de liminar foi indeferido (fl. 1007), sendo convertido em retido o agravo de instrumento interposto contra a decisão de indeferimento (fls. 1020/1025). 7
Além disso, a segurança foi denegada, conforme sentença proferida pelo Dr. Jeronymo Pedro Villas Boas, MM. Juiz de Direito da Auditoria Militar naquela época (fls. 1006/1019). É cediço, ainda, que a referida sentença foi mantida neste grau recursal. Vejamos a respectiva ementa do acórdão então proferido: "APELACAO CIVEL. AGRAVO RETIDO. MANDADO DE SEGURANCA. POLICIAL MILITAR. SUSPENSAO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. ANTE A INDEPENDENCIA DAS ESFERAS PENAL E ADMINISTRATIVA, A PUNICAO DISCIPLINAR PRESCINDE DE PROCESSO CRIMINAL E DESTE NAO DEPENDE. INEXISTE ASSIM, MOTIVACAO HABIL A ENSEJAR SOBRESTAMENTO DO FEITO ADMINISTRATIVO PARA AGUARDO DA DECISAO DO JUIZO CRIMINAL. AGRAVO RETIDO E APELO CONHECIDOS E IMPROVIDOS." - sic (TJGO 2ª Câmara Cível, Apelação Cível em Mandado de Segurança nº 120720-5/189, relator: Desembargador Alan Sebastião de Sena Conceição, data do julgamento: 07/08/2008) O recurso de embargos de declaração interposto contra o acórdão supracitado também foi rejeitado pelo órgão colegiado deste Tribunal (fls. 1028/1038). coberta pela coisa julgada. É cediço ser inviável discutir tese 8
Segundo o apelado, ocorreu coisa julgada após a interposição de recurso (fl. 1090) contra a sentença denegatória da segurança. Com efeito, não consta ter sido revertida a sentença denegatória da segurança. Destarte, inadmissível maiores discussões a respeito da falta de sobrestamento do processo administrativo disciplinar, tendo em vista que houve coisa julgada neste particular. Ante ao exposto, improvejo a apelação, mantendo inalterada a decisão recorrida, por estes e seus próprios fundamentos. É o voto. Goiânia, 25 de outubro de 2012. Desembargador CARLOS ESCHER 5/A 9
APELAÇÃO CÍVEL Nº 364771-17.2009.8.09.0051 (200993647715) DE GOIÂNIA APELANTE APELADO CÂMARA LEONARDO BEZERRA DE LIMA GANDRA ESTADO DE GOIÁS DESEMBARGADOR CARLOS ESCHER 4ª CÍVEL EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO. MÉRITO DA DELIBERAÇÃO ADMINISTRATIVA. TESE COBERTA PELA COISA JULGADA. 1 Inviável ao Poder Judiciário adentrar ao mérito da deliberação administrativa, a pretexto de terem sido violados os princípios da moralidade e da impessoalidade, sob pena de violação a um outro, qual seja, o da separação dos poderes. 2 Inviável, ainda, discutir tese coberta pela coisa julgada, tal como a alegada necessidade de sobrestamento do processo administrativo disciplinar, cuja questão foi dirimida em outra ação. APELAÇÃO IMPROVIDA. 10
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as retro indicadas. ACORDAM os componentes da 2ª Turma Julgadora da 4ª Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos, em conhecer do recurso e improvê-lo, cassando a sentença, nos termos do voto do Relator. Votaram com o Relator, a Desembargadora Elizabeth Maria da Silva e o Dr. Fernando de Castro Mesquita (subst. do Des. Kisleu Dias Maciel Filho). Kisleu Dias Maciel Filho. Presidiu a sessão o Desembargador Presente a ilustre Procuradora de Justiça Dra. Orlandina Brito Pereira. Goiânia, 25 de outubro de 2012. Desembargador CARLOS ESCHER 11