DE ENGENHEIRO A PROFESSOR: A CONSTRUÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE

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Transcrição:

Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira DE ENGENHEIRO A PROFESSOR: A CONSTRUÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE Jhonnes Alberto Vaz jhonnes.vaz@gmail.com Universidade Católica de Santos, Mestrado em Educação Av. Conselheiro Nébias, 300, Vila Mathias. 11015-002 Santos SP Irene Jeanete Lemos Gilberto irenejgil@uol.com.br Universidade Católica de Santos, Mestrado em Educação Av. Conselheiro Nébias, 300, Vila Mathias. 11015-002 Santos SP Resumo: Este trabalho é um recorte da dissertação de Mestrado em Educação que investigou a construção da profissionalidade docente do engenheiro professor, com o objetivo de compreender como ocorre este processo. Baseado em conceitos de Pimenta e Anastasiou, Gaeta e Masetto, entre outros, sobre a formação do professor do Ensino Superior, a identidade e a profissionalidade docente, este trabalho de abordagem qualitativa traz resultados sobre a pesquisa que utilizou, como procedimento metodológico, entrevistas semiestruturadas com três professores engenheiros de uma Universidade Pública localizada no Estado do Rio de Janeiro, buscando estabelecer um diálogo entre os relatos desses professores com a teoria. O trabalho também aborda questões trazidas pela área da Educação em Engenharia sobre a formação de professores engenheiros Os resultados da investigação mostraram que, na maioria dos casos, a formação do engenheiro professor ainda ocorre por meio da experiência e que a formação continuada deve ser valorizada nos processos formativos. Além disso, os resultados apontaram a necessidade de as instituições de ensino superior oferecerem condições para melhorias na formação dos novos engenheiros, possibilitando ao engenheiro professor que ele possa construir a sua profissionalidade docente. Sem formação e sem acompanhamento dos professores que ingressam no ensino superior, esse processo pode apresentar problemas para a aprendizagem dos alunos. Considera que os engenheiros, que também são docentes, precisam evoluir na profissão e preparar-se para melhorar a formação dos futuros engenheiros. Palavras-chave: profissionalidade docente, engenheiro professor, ensino superior. 1.Contextualização da Pesquisa A obrigatoriedade da formação em nível de Pós-Graduação para a docência no Ensino Superior, conforme expresso na LDB (BRASIL,1996), levou muitos programas de pós-graduação a oferecer disciplinas voltadas para a docência, além de incluir alunos que são bolsistas CAPES em programas de estágio de docência. Essas atividades configuram uma formação inicial para a docência e colocam em discussão a importância da preparação 9489

Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 2 do futuro professor para o exercício da docência no ensino superior, de forma a evitar que aquele profissional, oriundo do curso de bacharelado, e que ingressa na docência, fique à mercê da própria sorte, improvisando ações em sala de aula que seu bom senso lhe diz ser necessárias (PIMENTA e ANASTASIOU, 2002, p. 106). No entanto, a construção da profissionalidade docente envolve uma série de fatores e constitui-se como um processo que ocorre durante toda a vida profissional do professor. Ao tratar desse aspecto, Sacristán (1995, p. 65) afirma: entendemos por profissionalidade a afirmação do que é específico na acção docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor. No dizer de Contreras (2012, p. 82), a profissionalidade se refere às qualidades da prática profissional dos professores em função do que requer o trabalho educativo. O mesmo autor observa que falar de profissionalidade significa, nessa perspectiva, não só descrever o desempenho do trabalho de ensinar, mas também expressar valores e pretensões que se deseja alcançar e desenvolver nesta profissão (CONTRERAS, 2012, p. 82). De acordo com os estudos de Roldão (2005), podemos analisar a profissionalidade mediante quatro caracterizadores, ou descritores: a) reconhecimento social da especificidade da função associada a atividade; b) saber específico indispensável ao desenvolvimento da atividade e sua natureza; c) poder de decisão sobre a ação desenvolvida e consequente responsabilização social e pública pela mesma, ou seja, o controle sobre a atividade e a autonomia do seu exercício; d) vínculo a um corpo coletivo que partilha, regula e defende, quer o exercício da função e o acesso a ela, quer a definição do saber necessário (ROLDÃO, 2005, p. 109). O trabalho é um recorte da pesquisa realizada no Mestrado em Educação e centrase na formação de professores de engenharia para atuar no ensino superior. Busca conhecer, também, o que motiva este professor a seguir a área acadêmica e como constrói a sua profissionalidade docente. 2.Procedimentos metodológicos Para a compreensão do objeto da pesquisa, foi feito um levantamento inicial das publicações na Revista de Ensino de Engenharia e nas últimas seis edições do COBENGE (Congresso Brasileiro de Engenharia), com objetivo de investigar como a área estava tratando a questão da formação de professores de Engenharia. O estudo inicial feito no 9490

Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 3 referido periódico e nos Anais do evento apontou um total de 54 trabalhos sobre essa temática. Na análise realizada sobre esses artigos, publicados no período de 2010 a 2104, foi possível perceber o interesse da área de Engenharia nas questões sobre a docência, considerando o número de trabalhos apresentados no período selecionado para a pesquisa e as questões trazidas nos trabalhos, entre elas: a) formação continuada (11 trabalhos); b) perfil do engenheiro professor (02 trabalhos); c) formação e construção da docência (15 trabalhos); d) profissionalização e identidade docente (07 trabalhos); e) estágio docente na Pós-Graduação (05 trabalhos); f) atuação do professor na reformulação do Ensino de Engenharia (11 trabalhos); g) prática pedagógica (03 trabalhos). Com base nesses resultados, a pesquisa passou a investigar a construção da profissionalidade docente do engenheiro professor, com o objetivo de compreender como ocorre esse processo. A coleta de dados empíricos teve como procedimento metodológico a realização de entrevistas semiestruturadas, com base nos estudos de Szymanski (2011). Para tal, foram selecionados foram três professores doutores em Engenharia de uma Universidade pública do Rio de Janeiro, cada um de uma especialidade diferente e que atuam na docência há, no mínimo, 10 anos. Os dados oriundos das entrevistas mostraram que, por serem bacharéis, não tiveram formação específica para a docência. Assim, construíram a profissionalidade docente durante o exercício da profissão, conforme expressou o professor A: Eu fui melhorando como professor muito na tentativa e erro, na experiência. É muito na experiência, e na vontade, eu acho que é muito tentativa e erro mesmo, você vai melhorando com as aulas, outra aula talvez você não dê tão boa, aí você melhora na próxima, vai melhorando a abordagem, é assim mesmo. Foi assim comigo. Sobre a formação continuada, os sujeitos afirmaram não terem tido nenhuma formação nesse sentido, porém a Professora B, ao comentar sobre a questão da orientação de alunos de Mestrado e Doutorado, referiu-se à importância do estágio de docência para os alunos bolsistas CAPES: Eu acho bom isso o estágio da docência, até os meus alunos, eles de vez em quando dão uma aula para mim na graduação, eu ajudo eles a prepararem a aula, um assunto específico pra esse aluno né? Não são muitos não, mas uma vez ou outra, alguns alunos dão aula. Eu acho isso bom, porque você ensina o aluno né? E aí ele tem o contato pela primeira vez com uma turma. De acordo com o sujeito de pesquisa, o estágio é apenas uma iniciação à docência, 9491

Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 4 quando o aluno de pós-graduação entra em contato com as questões da sala de aula e participa das atividades do docente supervisor de estágio. Sob esse aspecto, essa experiência pode contribuir para a compreensão do que é ser professor e como relacionarse com os alunos, conforme expressou o professor A: [...] o relacionamento com os alunos ocorre pelo diálogo. É o enriquecimento de uma pessoa experiente lidando com uma pessoa pouco experiente. Esse enriquecimento vai para os dois lados, a pessoa experiente pode tentar transmitir experiência para a pessoa mais nova, e a pessoa mais nova pode bagunçar algumas coisas consolidadas na pessoa experiente, se a pessoa mais experiente for aberta a receber e a refletir sobre os seus paradigmas.. A formação do professor é um tema que vem sendo debatido cada vez mais na área da Educação em Engenharia, onde se observa um movimento, pequeno mas significativo, por parte do próprio engenheiro professor, de buscar uma formação na área da Educação ou em outra área das humanidades. Nesse sentido, Costa (2010) apresenta que Devemos ter um cuidado especial com a formação dos professores dos cursos de Engenharia. Felizmente, cresce o número de Engenheiros que optam por realizar seus estudos de pós-graduação em programas direcionados à Educação ou mesmo a áreas humanas. Sendo a formação, nesta área, relativamente incipiente nos cursos de Engenharia, os estudos de pós-graduação podem complementar a formação destes engenheirosprofessores. Em seu trabalho sobre essa temática, Pereira et al. (2014) mostraram que os professores que tiveram capacitação para atuar na docência, ressaltaram a importância dessa etapa na sua formação, evidenciando a necessidade do conhecimento humanístico no processo de ensino e aprendizagem. Gaeta e Masetto (2013, p. 56), por sua vez, afirmam que O professor vai ensinar, mas poderá (sim! por que não?) aprender com seus alunos. Temos que ter humildade para perceber que não somos mais os especialistas detentores do conhecimento, mas pessoas que poderão aprender em situações de questionamento e reflexão em conjunto com o grupo que participa. Portanto, como podemos observar, são muitos os desafios e dificuldades com as quais os professores bacharéis engenheiros se deparam durante sua carreira docente. O mundo é dinâmico, a sociedade é dinâmica e a profissão docente deve acompanhar esse dinamismo da sociedade. Isso representa aos professores um desafio que só é superado com um processo formativo ao longo da carreira docente, tendo a consciência de que não seremos nunca um profissional acabado, acabado no sentido de pronto, finalizado, sendo 9492

Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 5 assim, estaremos sempre em um processo de formação e construção da nossa identidade e profissionalidade docente. Considerações finais Os resultados da pesquisa mostraram que, no caso do engenheiro professor, o processo de construção da profissionalidade docente, na maioria das vezes, ocorre durante a prática docente, entre acertos e erros, e que falta uma formação voltada para aspectos específicos da docência, o que possibilitaria aos engenheiros professores obter mais conhecimentos sobre o ser professor. A pesquisa revelou que novas demandas e novos desafios estão postos continuamente aos engenheiros professores, que exigem novas soluções e, se existe uma demanda por novos engenheiros professores, é preciso melhorar a formação desses docentes e daqueles que já estão atuando no ensino superior. Referências Bibliográficas BRASIL. Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://bd.camara.gov.br>. Acesso em: 10 abr 2014. CONTRERAS, José. Autonomia de Professores. ed. 2. São Paulo: Cortez, 2012. COSTA, Luciano. A Educação em Engenharia e o Novo Momento da Engenharia Nacional: Possibilidades e Desafios. XXXVIII Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia: Engenharia em Movimento. Fortaleza, 2010 GAETA, Cecíla; MASETTO, Marco Tarciso. O professor iniciante no ensino superior: aprender, atuar e inovar. São Paulo: Editora Senac, 2013. OLIVEIRA, Vanderli Fava, et al. Um Estudo Sobre a Expansão da Formação em Engenharia no Brasil. Revista de Ensino de Engenharia. v. 32, n. 3. Brasília, 2013. PEREIRA, Tânia Regina Silva Dias; et al. Professores Engenheiros ou Engenheiros Professores? Reflexão Sobre o Processo de Construção da sua Prática Pedagógica. XLII Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia: Engenharia Múltiplos Saberes e Atuações. Juiz de Fora (MG), 2014. PIMENTA, Selma Garrido Pimenta; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2002. ROLDÃO, Maria do Céu Neves. Profissionalidade Docente em Análise Especificidades dos Ensinos Superior e não Superior. Nuances: estudos sobre educação. v. 12, n. 13. Presidente Prudente SP, 2005. SACRISTÁN, José Gimeno. Consciência e Acção Sobre a Prática como Libertação Profissional dos Professores. In: NÓVOA, António (Org.). Profissão Professor. Porto: Porto Editora, 1995. SZYMANSKI, Heloisa. A Entrevista na Pesquisa em Educação: a Prática Reflexiva. 4 ed. Brasília: 9493