Produzir narrativas sobre versões da mesma história Nesta proposta a ideia é que os alunos leiam e comparem duas histórias sobre a mesma temática para, posteriormente, criarem seu próprio texto. Comparar as duas histórias possibilita às crianças conhecer diferentes soluções narrativas e estilos e as aproxima da linguagem escrita. Quando as crianças se veem diante do desafio de escrever a sua própria história sobre um enredo já conhecido, colocam em prática o que aprenderam a respeito da linguagem escrita. Público-alvo: Ensino Fundamental (anos iniciais). Objetivos: Perceber ideias e temáticas que se cruzam no interior de narrativas com versões diferentes da mesma história. Aproximar-se da linguagem escrita. Produzir uma paródia. Material: Livros que apresentem versões diversas de uma mesma história. Papel, lápis pretos e coloridos, giz de cera, tintas e outros materiais para desenho. Sugestões de encaminhamento: Aquecendo-se para a leitura Nossa sugestão é trabalhar com a lenda A festa no céu. Há várias versões dessa narrativa, desde a do folclorista natalense Câmara Cascudo até da intimista Clarice Lispector, passando pelas de Monteiro Lobato e de Ana Maria Machado. O protagonista também varia de acordo com a versão: em algumas é o cágado (ou a tartaruga) a grande estrela, em outras é o sapo quem ganha as luzes da ribalta. Para esta
proposta, indicamos estes recontos: A festa no céu: um conto do nosso folclore, de Angela Lago. (São Paulo: Melhoramentos, 1995.) A tartaruga que queria voar, de Margaret Mayo. (In: Como contar crocodilos: histórias de bichos. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2012.) É importante iniciar o momento de leitura com uma roda de conversa para aquecer a turma. Algumas perguntas que podem ser feitas: Vocês conhecem alguma lenda em que as personagens são animas? Quais? Vocês se lembram de quando conheceram essa lenda? Alguém contou a vocês ou vocês leram em um livro? É provável que alguns alunos se refiram à lenda da festa no céu. Nesse caso, é interessante incentivá-los a contar o que lembram sobre a história. Caso haja divergências entre aqueles que se lembram da narrativa, ressalte positivamente essas diferenças, dizendo que as histórias orais, transmitidas boca a boca por gerações, são muito antigas, por isso não têm uma origem definida e um autor conhecido. Elas fazem parte da cultura de um povo e cada um que as contou e as conta até hoje modifica um detalhe, daí o dito: Quem conta um conto aumenta um ponto. Por isso é que existem muitas versões de uma mesma narrativa oral, que está sempre aberta para ser recontada. Lendo as histórias Procure ler várias vezes cada uma das histórias, para que a turma possa apreciar a narrativa e as imagens com calma e prazer. Para isso, preveja que as sessões de leitura tenham a duração de pelo menos quatro aulas. Cabe lembrar aqui a importância de preparar-se antes de ler para a turma. Procure atentar para a entonação, o ritmo e a emoção, envolvendo-se com a leitura. Nessa preparação, vale ficar atento às partes da história que achou mais engraçadas, às que considerou mais importantes para a compreensão da narrativa e às informações que estão implícitas no texto e que precisam ser compreendidas para que o sentido não se perca. Aprecie as ilustrações e observe as relações entre as imagens e o texto e como elas contribuem para a construção do sentido. Essas observações, de sua parte, poderão ajudar muito, tanto durante quanto depois da leitura. Durante porque contribuirão para que você transmita a emoção que pretende passar por meio da leitura. Depois porque tais observações serão úteis para mediar a conversa dos alunos sobre as histórias ouvidas. Também é muito importante que as crianças estejam bem acomodadas enquanto ouvem a história e que consigam ver as ilustrações. Preveja momentos em que mostrará as ilustrações para a turma e as deixará observálas com calma. Conversando após a leitura Primeiro deixe as crianças comentarem livremente as histórias. Conforme a conversa for se encaminhando, você pode explorar algumas questões para que comecem a estabelecer relações entre as duas histórias, como: O que há em comum entre elas? O que há de diferente?
O que acontece com a tartaruga em uma história? E na outra? Como uma história termina? E a outra? O que acharam engraçado em cada história? Recontando a história oralmente Proponha aos alunos recontarem oralmente as duas histórias. Preveja mais de uma aula para essa etapa. Recontar cada história oralmente permite que reconstruam a narrativa e seu encadeamento, e apropriemse da linguagem escrita. Recontando a história coletivamente Marque outro dia para a turma escrever coletivamente o reconto. Você será o escriba: eles vão ditando para que você escreva. Estimule todos os alunos a fazer contribuições. Ao final, é importante copiar o texto escrito na lousa da forma como eles ditaram, mesmo que contenha erros gramaticais, justamente para que seja o objeto de trabalho durante a revisão, que ocorrerá posteriormente. Revisando o reconto Marque um dia para a revisão do texto coletivo. Nessa situação didática, você questiona a coerência, a coesão e a clareza do texto. Ou seja: vai lendo o texto em voz alta e perguntando aos alunos se a narrativa está clara, se está faltando algum trecho, se há repetições de palavras que podem ser evitadas (por meio do uso de pronomes, sinônimos, elipses e outros recursos), se há coerência nos fatos relatados, se a história está bem encadeada, de modo que o leitor consiga entendê-la, etc. O importante é que os alunos compreendem que podem tornar o texto mais claro e mais bem escrito. Vale sempre a pergunta: será que da forma como está escrito o leitor (que não conhece a história) vai conseguir entender o que estamos querendo dizer? Veja um exemplo de texto criado com base na história A festa no céu e a revisão que o professor pode fazer. Criando a sua história Essa atividade pode ser proposta em duplas ou individualmente. Cabe a você decidir o que acha mais adequado para a sua turma. O objetivo neste momento é que os alunos criem a sua própria história sobre uma tartaruga que queria voar. A ideia é que, inspirados nas duas narrativas lidas e no texto coletivo, eles elaborem uma paródia ou contem a história de outro ângulo. Os estudantes podem, por exemplo: modificar as personagens, o cenário, o desfecho; mudar o foco narrativo (de terceira para primeira pessoa o narrador sendo uma das personagens); focar em um aspecto pouco explorado da narrativa (como a própria aventura de uma tartaruga ou sapo voando pelo céu a bordo de uma viola, os preparativos da festa etc.) Oriente os alunos a conversar sobre que modificações pretendem fazer na narrativa e chegar a um acordo.
Se optar por realizar a atividade em duplas, proponha que um aluno dite e o outro escreva. Procure formar duplas de modo que aqueles que têm mais dificuldade em escrever ditem, pois assim podem exercer o papel de produtores de texto com mais tranquilidade. Nesse caso, cuide para que seu parceiro seja um colega que já escreve com autonomia. Depois é necessário trabalhar na revisão do texto, atentando para as mesmas questões citadas na etapa da produção coletiva: coesão, coerência e clareza no texto. Você pode revisar o texto de uma dupla por dia junto com toda a turma, assim todos podem aprender com o trabalho dos colegas. Para isso, você pode transcrever o texto na lousa do jeito que foi escrito pela dupla e ir corrigindo com a ajuda da classe. Depois a dupla copia o texto corrigido. Ou, se for possível, as histórias podem ser produzidas no computador, e você faz a correção junto com a classe utilizando o data show, de forma que o que for sendo corrigido vai sendo projetado na parede e todos os alunos acompanham. Ilustrando a história No final, peça a cada dupla que ilustre a sua história. Expondo as histórias Para finalizar, as histórias produzidas podem se transformar em livros e você pode organizar, junto com os alunos, uma exposição para que toda a escola e as famílias possam apreciar as produções da turma. Avaliação Combine com a turma um dia para avaliar o projeto, procurando valorizar os conhecimentos construídos e apontar o que pode ser aprimorado nos próximos. Outras viagens... A narrativa A festa no céu também ganhou versões musicadas. Ouça a de Moraes Moreira (DVD Lendas brasileiras): Conheça outras versões dessa narrativa. Para saber mais Autora da oficina: Maria Alice Junqueira, formadora de professores com especialização em alfabetização
Autora da oficina: Maria Alice Junqueira, formadora de professores com especialização em alfabetização