AGRAVO INTERNO. FALÊNCIA E CONCORDATA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS MÉDICOS DE URGÊNCIA. COMPROVAÇÃO DA ORIGEM. NECESSIDADE. 1. O pedido de habilitação de crédito deve ser instruído com documentos que legitimem a pretensão, pois no processo de verificação os títulos não se revestem de abstração, de sorte que existe a possibilidade de se discutir o negócio subjacente que lhes deu origem. 2. Na hipótese dos autos a parte agravante baseia a sua habilitação de crédito em contrato de prestação de serviços médicos de urgência, sendo que não há nos autos a comprovação de que os serviços foram efetivamente prestados, assim como do real valor apontado como crédito. 3. Não restou preenchido o requisito da liquidez a autorizar a presente habilitação de crédito, pois não há título exprimindo o valor da obrigação, nos termos do art. 585, inciso II, do CPC, nem permite a averiguação desta de pronto, quanto mais quando é necessária a análise detalhada do contrato de prestação de serviços médicos de urgência, bem como a produção de outras provas para que se determine o correto valor do crédito. 4. Assim, não sendo possível a apuração dos valores a que efetivamente a parte agravante faria jus sem a realização de amplo contraditório, é de ser reconhecida a iliquidez da obrigação e a conseqüente impossibilidade de apreciação do pedido de habilitação de crédito. 5. Os argumentos trazidos no recurso não se mostram razoáveis para reformar a decisão monocrática. Negado provimento ao agravo interno. AGRAVO QUINTA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE PASSO FUNDO UNIMED PLANALTO MEDIO COOPERATIVA DE SERVICOS MEDICOS LTDA PALAO INDUSTRIAL LTDA AGRAVANTE AGRAVADO 1
A CÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao agravo interno. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES. ROMEU MARQUES RIBEIRO FILHO E DES.ª ISABEL DIAS ALMEIDA. Porto Alegre, 28 de março de 2012. DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO, Relator. I - RELATÓRIO DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO (RELATOR) UNIMED PLANALTO MEDIO COOPERATIVA DE SERVIÇOS MEDICOS LTDA interpôs agravo interno da decisão que negou seguimento ao agravo de instrumento nº 70045057536, nos autos de habilitação de crédito em procedimento de recuperação judicial de PALAO INDUSTRIAL LTDA. Nas razões recursais às fls. 116/119 dos autos, sustentou que juntou ao processo de habilitação documento apto a comprovar o crédito existente. 2
Argumentou que a legislação em vigor somente exige documentos comprobatórios, não condicionando à apresentação de título executivo para a habilitação de crédito. Asseverou que não há óbice legal que impeça-a de acostar contrato de prestação de serviço, já que se trata de documento suficiente a caracterizar crédito, ainda mais quando a própria agravada concorda com o valor a ser habilitado. Salientou que, se a legislação não menciona a referida limitação sustentada pelo juízo, não há legitimidade do judiciário em criá-la, cerceando o seu direito. Teceu considerações complementares a respeito da Lei 11.101/05. a decisão hostilizada. Colacionou jurisprudência, a fim de amparar a sua tese. Postulou o provimento do recurso, a fim de que seja reformada É o relatório. I I - VOTO DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO (RELATOR) O agravo interno foi interposto de maneira tempestiva e regular, sendo dispensado o preparo, motivo pelo qual conheço do recurso interposto para o fim de lhe negar provimento. No que tange ao pedido formulado em sede recursal, a fim de evitar tautologia, reporto-me aos argumentos expendidos na decisão proferida às fls.111/113 dos autos, que a seguir transcrevo: II - FUNDAMENTAÇÃO Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a decisão que julgou extinta a habilitação de crédito em procedimento de recuperação judicial. Os pressupostos processuais foram atendidos, utilizado o recurso cabível, há interesse e legitimidade para recorrer, este é 3
tempestivo, e foi devidamente preparado (fl. 06), estando acompanhado da documentação pertinente, cumpridas as formalidades legais e inexistindo fato impeditivo do direito recursal, noticiado nos autos. Denota-se do presente recurso que a insurgência da parte agravante é em relação à sentença que julgou extinto o seu pedido de habilitação de crédito junto processo de recuperação judicial da parte agravada.. Preambularmente, é de ser ressaltado que para o adequado deslinde da controvérsia, necessária se faz a leitura do disposto no artigo 9º, inciso III, da Lei 11.101/2005, transcrito a seguir: Art. 9º - A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, 1º, desta Lei, deverá conter; (...) III os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem produzidas. Portanto, o pedido de habilitação de crédito deve ser instruído com documentos que legitimem a pretensão, pois no processo de verificação os títulos não se revestem de abstração, de sorte que existe a possibilidade de se discutir o negócio subjacente que lhes deu origem. A esse respeito preleciona o insigne jurista Waldo Fazzio Júnior1 que:... No processo de verificação de crédito, os títulos não se revestem de abstratividade, sendo possível a discussão do negócio subjacente que lhes deu causa. Por isso, a declaração de crédito deverá conter a menção de sua origem, ou seja, o negócio, o fato ou as circunstâncias de que provém a obrigação do devedor.... A LRE dá por imprescindível a prova da legitimidade dos créditos, ainda mesmo para aqueles créditos que se materializam em títulos dotados de autonomia e abstratividade. A denúncia da sua concepção atende à preservação real, e não meramente formal, da paridade entre os credores. Ademais, cumpre destacar que a lei reconhece eficácia executiva aos documentos enumerados no art. 585 Código de Processo Civil, sejam eles públicos ou privados, desde que na forma escrita, in verbis: Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; 1 Fazzio Júnior, Waldo. Lei de Falências e Recuperação de Empresas. 4ª ed. São Paulo: Atlas. 2008. p. 66/67. 4
II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores; III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida; IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio; V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial; VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. Na hipótese dos autos, a parte agravante baseia a sua habilitação de crédito em contrato de prestação de serviços médicos de urgência (fls. 21/34), sendo que não há nos autos a comprovação de que os serviços foram efetivamente prestados, assim como do real valor apontado como crédito. Assim, entendo que não está preenchido o requisito da liquidez a autorizar a presente habilitação de crédito, pois não há título exprimindo o valor da obrigação, nos termos do art. 585, inciso II, do CPC, nem permite a averiguação desta de pronto, quanto mais quando é necessária a análise detalhada do contrato de prestação de serviços médicos de urgência, bem como a produção de outras provas para que se determine o correto valor do crédito. Destarte, não sendo possível a apuração dos valores a que efetivamente a parte agravante faria jus sem a realização de amplo contraditório, é de ser reconhecida a iliquidez da obrigação e a conseqüente impossibilidade de apreciação do pedido de habilitação de crédito. Nesse sentido é o julgado a seguir transcrito: Apelação cível. Falência. Habilitação de crédito. Comprovação da causa debendi. Como a duplicata é título causal e lastreia-se em contrato de compra e venda ou de prestação de serviços, essa relação subjacente precisa ser comprovada para que expresse dívida contraída pelo sacado não aceitante. Cheque pretendido habilitar não contabilizado. Sentença mantida. Apelo desprovido. (Apelação Cível Nº 70011587862, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do, Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em 26/01/2006) 5
Dessa forma, diante dos fundamentos precitados, com base no artigo 557, caput, do Código de Processo Civil, deve ser negado seguimento, de plano, ao agravo de instrumento, mantendo-se a decisão agravada. Assim, os argumentos trazidos neste recurso não se mostram razoáveis para o fim de reformar a decisão monocrática. I I I - DISPOSITIVO Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao agravo interno. DES. ROMEU MARQUES RIBEIRO FILHO - De acordo com o(a) Relator(a). DES.ª ISABEL DIAS ALMEIDA - De acordo com o(a) Relator(a). DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO - Presidente - Agravo nº 70047221445, Comarca de Passo Fundo: "NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO INTERNO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: LIZANDRA CERICATO VILLARROEL 6