Gabriel Rodrigues Marques
2 Gabriel Rodrigues Marques Rafael de Souza Oliveira Orientador: MSC Odális Valerino Fernandez DESENVOLVIMENTO MOTOR E SOCIALIZAÇÃO ENTRE GÊNEROS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR- REVISÃO DE LITERATURA Artigo apresentado ao Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Licenciatura em Educação Física. Orientador: MSC Odalis Valerino Fernandez. BRASÍLIA 2014
3 SUMÁRIO 1. Introdução 4 2 - Objetivo Geral 5 3 - Materiais e Métodos 6 4 - Hipótese e Justificativa 7 5 - Revisão de Literatura 9 6- Conclusão 11 7- Referências Bibliográficas 15
4 DESENVOLVIMENTO MOTOR E SOCIALIZAÇÃO ENTRE GÊNEROS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR - REVISÃO DE LITERATURA 1. Introdução Finco (2008) afirma que a importância em aprofundar cada vez mais os estudos de gênero é que o conhecimento aprofundado torna melhor o entendimento sobre a diferença de sexo: macho e fêmea, e gênero: homem e mulher. Em seu estudo, aborda a diferença entre gêneros na prática da atividade física no ambiente escolar com crianças de quatro a seis anos de idade. Mostrar que realmente há uma construção de gênero durante a infância, fazendo assim com que as pessoas cresçam com tipos de pensamentos específicos, e cada vez mais rotulem o desenvolvimento motor como formas de habilidades diferentes entre gêneros. Antigamente os próprios professores já discriminavam o gênero de várias formas, como por exemplo: não deixar meninas jogarem esportes rotulados masculinos e os meninos não participavam de esportes femininos, até mesmo porque os pais não aceitavam essa situação, e o que eu quero explicar através de revisão literária é que há várias formas de trabalhar coordenação motora grossa e fina, sem que sejam rotulados esportes femininos ou masculinos. A separação entre meninos e meninas na prática das atividades físicas no ambiente escolar reflete a pressão que a sociedade exerce na construção social do padrão estabelecido para os gêneros. Uma evidência de tal fato ocorre nas escolas, que já consideram as meninas como sendo frágeis, delicadas e afetivas, e por isso, submissas, e os meninos como fortes, vigorosos e intelectuais. Finco (2008) afirma que a forma como o professor discursa e o comportamento que ele tem frente a meninas e meninos já evidenciam que o mesmo espera comportamentos diferenciados entre eles nas situações propostas ao longo das aulas. Muitas vezes o professor espera que as meninas sejam espelhos para os meninos, na tentativa de que elas sirvam de bons exemplos para eles, o que faz com que meninos e meninas percebam de que forma devem se portar e se
comportar diante da sociedade, já que será essa mesma sociedade que irá cobrar o comportamento estabelecido como padrão de cada gênero. 5 2- Objetivo Geral O objetivo deste trabalho é mostrar os prejuízos de desenvolvimentos motor e de socialização entre sexos e gêneros causados pela separação de meninos e meninas na prática de atividades físicas desde os primeiros anos de escolaridade.
6 3 - Materiais e Métodos Será realizada uma revisão integrativa da literatura nacional sobre a Educação Física Escolar, desenvolvimento motor e socialização entre gêneros. Trata-se de um estudo que fará a revisão literária de artigos científicos, acessados em livros e revistas eletrônicos. A pesquisa bibliográfica foi realizada por meio de levantamento bibliográfico a partir da temática do estudo e das palavras-chave: Educação Física Escolar e Gênero; Aulas Mistas; Socialização entre Gêneros; Desenvolvimento Motor. Parte dos artigos científicos selecionados para a revisão traz dados de pesquisa e resultados abordando a temática prática de atividades físicas e socialização entre gêneros, com crianças de ambos os sexos, entre quatro e seis anos, estudantes do 1º ao 4º ano do ensino infantil, bem como com os professores que ministravam aulas a estes discentes.
7 4 - Hipótese e Justificativa Finco (2008) O Gênero vem de uma construção social que a cultura estabelece sempre, para a formação de estereótipos responsáveis pela exclusão e diferenças que a cultura impõe desde a escola para a sociedade. Queremos mostrar que a cultura brasileira obriga a sociedade entender que homens não podem participar de brincadeiras femininas e as meninas só podem brincar com brincadeiras de mulheres, isso com o passar do tempo vai trazer algumas limitações de coordenação motora e raciocínio lógico. E os meninos apresentarão coordenação motora grossa mais desenvolvida, visto que eles serão mais incentivados do que as meninas para prática de atividade física. Também mostrar que o ser humano é visto pela classe social, etnia, raça, peso, altura, habilidades motoras e etc. São vários fatores que misturados criam uma sociedade com padrões específicos para cada pessoa e então são automaticamente jugadas como fora dos padrões se não seguirem o que a sociedade impõe. Segundo Finco (2008), muitos dos gestos, movimentos e sentidos produzidos no espaço escolar são incorporados por meninos e meninas, tornando-se uma parte do seu corpo, constituindo suas identidades. Muitas vezes, no incentivo à prática da atividade física e recreativa, a escola acaba por reproduzir estereótipos de gênero, repetindo assim padrões préestabelecidos pela sociedade de como o menino e a menina devem ser e se comportar, como, por exemplo, a menina deve brincar com a boneca, por ser mais delicada, frágil e comportada, ter gestos mais sutis, ou seja, deve estar mais inserida no ambiente privado, a casa, o lar; e o menino deve jogar futebol, por ser mais agressivo, mais vigoroso; a menina deve ser um bom exemplo na escola, e do menino, considerado mais desinteressado, mais desleixado, não é cobrado o mesmo comportamento, por exemplo, a menina é fortemente repreendida ao falar palavrão e o menino, quando fala, é menos repreendido, é um comportamento mais aceitável, justamente por se considerar que o menino está mais inserido no ambiente público, a rua.
8 Daolio (2003) afrima, o crescimento social de meninos e meninas são afetados sempre impedindo a serem seres completos, pois limita algumas iniciativas próprias. A forma sexista como a educação escolar de maneira geral e a educação física em especial são ministradas é, portanto, altamente prejudicial para a construção de seres completos, tanto em relação ao seu desenvolvimento motor como social.
9 5 - Revisão de Literatura De acordo com Finco (2008) a educação pela imposição da diferença de gênero na atividade física escolar tem relação com a construção de caráter, da socialização cultural, pessoal e profissional, e induz à desigualdade de gênero, no modelo de construção de gênero que a sociedade impõe e a escola perpetua. Essa construção da diferença de gênero faz com que as crianças de um sexo excluam as outras do outro sexo muitas vezes por pequenos detalhes fazendo com que algumas se tornem mais intimidadas com algumas situações de socialização com outras crianças, e dessa forma vai se construindo uma sociedade onde há discriminações por desigualdade de gênero; importante ressaltar que essas diferenças devem ser abolidas, e que o professor tem papel importantíssimo na construção de um novo modelo de educação que permita trabalhar a educação física de forma em que todas as crianças independentemente do gênero possam participar de todas as atividades sem que aconteçam exclusões, discriminações e outros tipos de desigualdade de gênero. Daolio (2003) afirma que a sociedade brasileira revela uma cultura específica, que estabelece que o menino deve jogar futebol ou brincar de carrinho e a menina deve brincar de ser mãe e gostar de brincar de casinha, determinando as diferenças entre homens e mulheres enquanto gêneros desde muito cedo, delimitando assim desde muito cedo também os espaços que cada um deve ocupar. Esse aspecto cultural brasileiro de incentivo a manutenção da menina no ambiente privado, no ambiente do lar e os meninos no ambiente público, a rua, se repete no ambiente escolar, e a escola acaba também por reforçar esse aspecto, cobrando das meninas que sejam maternais, delicadas, organizadas, e dos meninos a cobrança é para que sejam decididos, vigorosos e firmes. Esse aspecto se reflete também e ainda com mais força na prática da atividade física: para as meninas os esportes tidos como mais leves, menos violentos, mais delicados e sutis, e para os meninos aqueles tidos como mais agressivos, pesados. Tal determinação interfere no desenvolvimento da coordenação motora das crianças, uma vez que tais imposições sedimentam a diferença corporal biológica, ao invés de minimizá-la, o que leva a prática maior de
10 meninos nas atividades físicas no ambiente escolar e o desenvolvimento motor bem mais nítido e aprimorado do que nas meninas, e isso só tende piorar para as meninas dependendo do futuro de cada uma tanto profissionalmente como pessoalmente. Segundo Vaitsman, (1994) apud Pereira, (2005) há muitos anos atrás predominava nas escolas, a atividade física exclusiva para os meninos, e as meninas não poderiam participar da Educação Física escolar. Esse posicionamento era atribuído às questões biológicas, mas com o passar dos anos foi se percebendo que a questão cultural tinha força, os meninos desde novos brincavam com jogos ou brincadeiras que permitiam muito o uso da coordenação motora grossa, brincadeiras como sentar e levantar, usar os braços e pernas, correr; já as meninas não tinham a mesma liberdade para movimentos. E então com a privação dessas brincadeiras para as meninas, percebeu-se que foi se estabelecendo uma diferença de desenvolvimento motor no gênero, e as meninas ficaram conhecidas como bastante frágeis e os homens dominantes como até a pouco tempo atrás e ainda hoje algumas pessoas acreditam. Para Ribeiro (2007), a infância é a etapa mais importante a caminho da maturidade para a vida adulta, daí a necessidade de se garantir que esse período traga condições propícias e pertinentes a sua evolução e desenvolvimento motor. A coordenação motora é uma estrutura psicomotora básica, concretizada pela maturação motora e neurológica da criança e desenvolvida através da sua estimulação psicomotora. Portanto, podemos entender que a correta estimulação e encorajamento igualitário da prática da atividade física entre gêneros desde o início da idade escolar, (e isso pressupõe a não divisão entre sexos na Educação Física Escolar) é o caminho para que o desempenho motor de ambos os sexos não seja comprometido nem revele diferenças acentuadas ao longo dos anos. Sousa e Altmann (1999) não concordam com a separação da turma entre meninos e meninas, por entenderem que a divisão faz com que as exclusões se acentuem, não favorece o convívio, estimula a discriminação e compromete o desenvolvimento igualitário da coordenação motora; os alunos, na adolescência com certeza refletirão alguns efeitos colaterais dessa separação. No ambiente escolar são cobradas organização e disciplina, através de atividades e rotinas pré-estabelecidas, assim também como em outros ambientes da vida social. Essas atividades e rotinas, quando separam meninos e meninas têm a
11 função de disciplinar os corpos masculino e feminino, conforme as imposições sociais e culturais, e exercem um papel na criação e fortalecimento dos estereótipos de gênero e pode-se falar que isso se dá pela tradição tecnicista marcada historicamente também na prática da Educação Física Escolar. Os corpos masculinos e femininos se estabelecem como diferentes nos mais variados ambientes de socialização, mas o certo é que é na Educação Física Escolar que as diferenças ficam mais evidentes, hoje em dia tendo como base certa hierarquia das qualidades físicas aceitas pela sociedade, é automaticamente considerado que as meninas são mais frágeis do que os meninos, e é até mesmo justificada a necessidade de uma estrutura para que as meninas sejam protegidas das ações mais brutas dos meninos. Segundo Barreiros e Neto (2005) o processo de orientação comportamental tem lugar desde muito cedo e a regularidade de comportamento por sexo tende a permitir a constituição de regras, ou seja, o modo como os membros dos dois sexos se comportam na mesma situação fornece pistas sobre qual o papel a desempenhar por cada um dentro da estereotipia de gênero. Isso se reflete nas oportunidades de aprendizado que são diferenciadas entre os gêneros, por discriminação restritiva ou por encorajamento. Dito de outro modo, às meninas restringe-se a participação em esportes ditos masculinos, e aos meninos, incentiva-se a prática destes esportes. Esse estereótipo comportamental aplicado ao universo das atividades físicas, é também fortemente vinculado pela mídia, que colabora para a formação de conceitos relativos a atividades (esportes) sexualmente orientados. A percepção pela criança (menino e menina) desse estereótipo conduz a um empenho em atividades julgadas mais compatíveis com o seu sexo e um abandono progressivo daquelas atividades julgadas como não compatíveis. Em seus estudos, Barreiros e Neto (2005) perceberam que na maioria das representações quantitativas do desempenho motor em crianças, a diferenciação entre gêneros segue uma tendência geral que pode ser retratada como uma levíssima diferença até os quatro ou cinco anos de idade, acentuando-se as diferenças pontuais entre os seis e dez anos de idade e uma evolução significativa mais rápida nos meninos a partir daí, o que faz supor que este processo de diferenciação progressiva ajusta-se a um modelo em que a leve diferenciação biológica é potencializada com os efeitos sociais acumulados e tendenciosos da estereotipia de gênero.
12 Finco (2008) afirma que o gênero, por ser uma construção social que a cultura estabelece em relação a homens e mulheres, torna-se um conceito relevante e importante para as questões em educação na infância para identificar que o estabelecimento de estereótipos é responsável por causar exclusão de gênero. As diferenças entre homem e mulher, impostas pela cultura, e ratificadas pela escola colaboram para tal exclusão. Daòlio (2003) mostra que a cultura brasileira obriga a entender que os meninos só podem brincar com brincadeiras de homem e as meninas só podem brincar com brincadeiras de mulheres. Isso faz com que as crianças de ambos os sexos apresentem algumas limitações motoras ou de raciocínio lógico com o passar do tempo. Os meninos apresentarão sempre uma coordenação motora grossa mais desenvolvida, visto que são incentivados mais que as meninas para a prática da atividade física, para a prática dos esportes. Sousa e Altmann (1999) mostram que o ser humano não é apenas visto pela ótica do gênero e da cultura, mas também pela classe social, etnia, raça, peso, altura, habilidades motoras e etc. É um circulo com vários fatores que, combinados, mostram o que a sociedade impõe para cada pessoa. Se as pessoas não conseguem ser de acordo com os padrões que a sociedade impõe, são automaticamente julgadas como fora dos padrões e, portanto, discriminadas. Segundo Finco (2008), muitos dos gestos, movimentos e sentidos produzidos no espaço escolar são incorporados por meninos e meninas, tornando-se uma parte do seu corpo, constituindo suas identidades. Ainda segundo Finco (2008), muitas vezes, no incentivo à prática da atividade física e recreativa, a escola acaba por reproduzir estereótipos de gênero, repetindo assim padrões pré-estabelecidos pela sociedade de como o menino e a menina devem ser e se comportar, como, por exemplo, a menina deve brincar com a boneca, por ser mais delicada, frágil e comportada, ter gestos mais sutis, ou seja, deve estar mais inserida no ambiente privado, a casa, o lar; e o menino deve jogar futebol, por ser mais agressivo, mais vigoroso; a menina deve ser um bom exemplo na escola, e do menino, considerado mais desinteressado, mais desleixado, não é cobrado o mesmo comportamento, por exemplo, a menina é fortemente repreendida
13 ao falar palavrão e o menino, quando fala, é menos repreendido, é um comportamento mais aceitável, justamente por se considerar que o menino está mais inserido no ambiente público, a rua. De acordo com Faria e Nobre (2003) o sexismo afeta o crescimento social de meninas e meninos impedindo que se tornem seres completos, pois limita suas aspirações e iniciativas. A forma sexista como a educação escolar de maneira geral e a educação física em especial são ministradas é, portanto, altamente prejudicial para a construção de seres completos, tanto em relação ao seu desenvolvimento motor como social.
14 6- Conclusão Com a revisão realizada, chegamos à conclusão que as aulas separadas por sexo trazem falhas na aprendizagem motora para ambos os sexos, fazendo com que os meninos desenvolvam mais coordenação motora grossa e as meninas coordenação motora fina, futuramente trazendo muitos reflexos negativos em atividades físicas ou movimentos rotineiros. Em todos os artigos lidos percebe-se que é de suma importância as aulas e atividades físicas serem realizadas de maneira mista, demonstrando o beneficio do adequado e igualitário desenvolvimento motor para ambos os sexos, e, além disso, diminuindo o preconceito e as exclusões de gênero em atividades que o senso comum rotula, dizendo que um esporte especifico é masculino e outro esporte é feminino.
15 7- Referências Bibliográficas - DAOLIO, Jocimar. A construção cultural do corpo feminino, ou o risco de transformar meninas em antas. In: DAOLIO, Jocimar. Cultura: educação física e futebol- 2 Ed. ver. E ampliada- Campinas SP- Editora da UNICAMP, 2003. - FINCO, Daniela. Socialização de Gênero na Educação Infantil. Fazendo Gênero 8 Corpo, Violência e Poder, Florianópolis de 25 a 28 de Agosto de 2008. Pesquisa de Doutorado. Acesso em:10 Agosto, 2013 - PEREIRA, Sissi Aparecida Martins. Identificações de gênero: jogando e brincando em universos divididos. In: Motriz, Rio Claro, v.11 n.3, p.205-210, set/dez. 2005. - SOUSA, Eustáquia Salvadora de; ALTMANN, Helena. Meninos e Meninas: Expectativas corporais e implicações na educação física escolar; In: Cadernos Cedes, ano XIX, n 48, Agosto/99. - LIMA, Francis Madlener de; DINIS, Nilson Fernandes. Corpo e gênero nas práticas escolares de Educação Física. In: Currículo sem Fronteiras, v.7, n.1, pp.243-252, Jan/Jun 2007 - RIBEIRO, Elane Aparecida Xavier. A relação entre desenvolvimento motor e idade. Um estudo comparativo entre crianças da Fase Introdutória à Fase IV. Monografia de Especialização em Esporte Escolar. Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância 2007. - BARREIROS, João; Net, Carlos. O Desenvolvimento Motor e o Gênero. 2005. Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa. Universidade Técnica de Lisboa. Disponível em http://www.fmh.utl/cmotricidade/dm/textosjb/texto_3.pdf.