DIRETRIZES PARA A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS NAS CENTRAIS DE ABASTECIMENTO DE MINAS GERAIS - CEASA / MG

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Transcrição:

DIRETRIZES PARA A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS NAS CENTRAIS DE ABASTECIMENTO DE MINAS GERAIS - CEASA / MG Mônica de Abreu Azevedo (1) Engenheira Civil, formada pela Universidade Federal de Viçosa, em 1988. MSc. em Saneamento e Meio Ambiente, pela UFMG, em 1993. Professora do Departamento de Engenharia Civil da Universidade FOTOGRAFIA Federal de Viçosa. Chefe do Setor de Saneamento do DEC/UFV, no NÃO período de 1995 a 1998. Doutoranda em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos - USP. DISPONÍVEL José Carlos Bohnenberger Engenheiro Civil, formado pela Universidade de Santa Maria, em 1977. MSc. em Recursos Hídricos e Saneamento, pelo IPH/UFRG, 1980. Professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa. Chefe do Departamento de Engenharia Civil, no período de 1992 a 1993. Diretor do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da UFV, no período de 1993 a 1997. Endereço (1) : Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Engenharia Civil - Campus Universitário - Viçosa - MG - CEP: 36571-000 - Brasil - Tel: (031) 899-2740 - Fax: (031) 899-1737 - e-mail: mazevedo@mail.ufv.br RESUMO No presente trabalho, resultante de um convênio firmado entre a Universidade Federal de Viçosa e as Centrais de Abastecimento de Minas Gerais, CEASA-MG, são apresentados os resultados obtidos e as metodologias empregadas nos levantamentos de dados, realizados no período de março a julho de 1998, como pressupostos iniciais para o estabelecimento de um diagnóstico dos sistemas de limpeza e coleta praticados pela CEASA-MG. Baseado no diagnóstico elaborado, foram definidas as diretrizes de gestão para os resíduos sólidos gerados na área do entreposto, Unidade da Grande BH, que são apresentadas como conclusões ao final do trabalho. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos, Centrais de Abastecimento, Gestão. INTRODUÇÃO O presente trabalho, resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido junto às Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S.A. (CEASA-MG), como parte de um convênio firmado entre a Universidade Federal de Viçosa e a CEASA-MG, visa apresentar os resultados obtidos e as diretrizes adotadas para a implantação de um plano de gestão de resíduos sólidos na Unidade da Grande Belo Horizonte. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1822

A CEASA-MG é uma empresa de economia mista ligada à Secretaria de Agricultura, que é responsável no Estado de Minas Gerais pela administração da comercialização de produtos hortigranjeiros. A Unidade da Grande B.H., situada no município de Contagem, possui uma área total de 2.300.000 m 2, sendo 1.000.000 m 2 urbanizados. Na Unidade existem 564 empresas estabelecidas, as quais comercializam um volume anual de 1.000.000t de produtos hortigranjeiros, 170.000 t de cereais, 565.000t de produtos alimentícios industrializados e 125.000t de produtos não industrializados. A movimentação financeira anual dentro da empresa é de R$ 1,1 bilhão. Nos dias de maior atividade comercial, o público flutuante é de 65 mil pessoas. A diversidade das atividades comerciais desenvolvidas nas Centrais de Abastecimento aliada ao volume de produtos comercializados por dia e à flutuação de público tornam a estruturação do sistema de resíduos sólidos, nesses tipos de entrepostos, um desafio a ser equacionado. Dessa forma, o presente trabalho, pioneiro no país, pretende ser uma contribuição e referência para outras Centrais de Abastecimento de outros Estados, que venham implantar ou estruturar seus sistemas de gestão de resíduos sólidos. OBJETIVO O presente trabalho visa apresentar as metodologias empregadas e os resultados obtidos dos levantamentos realizados, como pressupostos iniciais para elaboração de um diagnóstico dos sistemas de coleta e disposição de resíduos sólidos, praticados pela CEASA-MG; bem como as diretrizes de gestão para os resíduos sólidos gerados na área do entreposto da Grande BH, estabelecidas a partir deste diagnóstico elaborado. Os principais levantamentos realizados foram: i. A caracterização dos resíduos sólidos, com a determinação de suas características físicas (composição gravimétrica, quantidade/ volume de lixo gerado diariamente e peso específico); ii. O levantamento do sistema de coleta praticado; iii. A avaliação do sistema de disposição final dos resíduos; iv. relacionamento dos tipos de atividades comerciais desenvolvidas no entreposto com a geração de resíduos, a fim de identificar os setores que geram resíduos preponderantemente orgânicos ou inorgânicos; v. A avaliação do grau de percepção e satisfação dos comerciantes e atacadistas da CEASA-MG em relação à questão dos resíduos sólidos e ao sistema praticado; vi. A avaliação da atividade de catação desenvolvida na área do entreposto e no local de disposição final do lixo. METODOLOGIA Para a elaboração das diretrizes de gestão dos resíduos sólidos gerados na CEASA-MG, foi realizado, em uma primeira etapa, o diagnóstico do sistema praticado, o qual foi elaborado a partir dos levantamentos de campo, das determinações e análises físicas dos resíduos gerados e da aplicação de questionários aos comerciantes e atacadistas e aos catadores da CEASA-MG. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1823

Para o cumprimento dos objetivos expressos anteriormente, foram empregadas as seguintes metodologias: Caracterização Física dos Resíduos Sólidos As características físicas determinadas foram a composição gravimétrica, o peso específico e a quantidade/ volume gerados diariamente. A determinação da composição gravimétrica foi realizada no período de março a julho de 1998 e compreendeu a análise de 210 caçambas estacionárias de 4 a 6 m 3, as quais foram previamente numeradas (1 a 81) e identificadas, a fim de relacionar o tipo de lixo com o local de geração. A determinação foi feita com a totalidade dos resíduos amostrados (4 a 6 m 3 ). Os constituintes dos resíduos eram separados, colocados em tonéis de 200 l e pesados. A composição gravimétrica foi determinada pela percentagem em peso dos seguintes constituintes: matéria orgânica, madeira, papel/papelão, plástico, vidro, metais, material de difícil classificação e outros, com a identificação do tipo preponderante de matéria orgânica. Para cada caçamba analisada foi gerada uma planilha. A composição gravimétrica considerada foi a média aritmética das determinações realizadas. Da mesma forma foram obtidos o peso médio transportado por caçamba e o peso específico geral do lixo. O peso específico foi determinado pela relação entre o volume da caçamba e o peso total do lixo analisado. A quantidade total de lixo produzida foi determinada pela pesagem diária, em balança rodoviária, de todas as caçambas coletadas durante o período de 2 meses. Levantamento do Sistema de Coleta Praticado Todas as caçambas utilizadas para o acondicionamento e coleta de lixo, distribuídas na CEASA-MG, em um total de 81, foram numeradas, com o intuito de localizá-las na área do entreposto, permitindo seu retorno ao local de origem e favorecendo a identificação do tipo de resíduo gerado por área ou pavilhão. Após esta numeração, elaborou-se uma planilha de controle diário de viagens destas caçambas, onde foram anotados pelo motorista do veículo coletor, o número da caçamba, a hora da remoção e o estado de enchimento. Basicamente, três veículos trabalharam neste sistema, dois da CEASA-MG e um de uma empresa particular. Assim, pôde-se obter o número de viagens diária e semanal de cada caminhão, o total destas viagens, a freqüência de remoção de cada caçamba e seu estado de enchimento. Desta forma, determinou-se o número de viagens de cada caçamba e com isto foram identificados os locais de maior geração de resíduos, através das caçambas que apresentaram o maior número de viagens. Avaliação do Sistema de Disposição Final dos Resíduos A CEASA-MG utiliza desde a sua implantação, há cerca de 27 anos, uma área às margens da avenida sanitária do Córrego do Sarandi, para a disposição final dos resíduos gerados no entreposto. Até o mês de abril, os resíduos eram simplesmente lançados no solo sem nenhuma forma de tratamento dos resíduos coletados na área do entreposto. Os impactos 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1824

ambientais preponderantes detectados na área, como em qualquer lixão, foram os problemas de odor, proliferação de vetores biológicos, fumaça e gases produzidos pela queima do lixo, além dos problemas sociais, devido à prática de catação, exercida por cerca de 100 pessoas na área. Avaliação do Sistema de Limpeza Urbana da CEASA-MG A avaliação do sistema de limpeza urbana praticado pela CEASA-MG foi realizada através da aplicação de 381 questionários aos estabelecimentos comerciais da CEASA- MG, com o intuito de verificar o grau de percepção da comunidade geradora em relação à questão dos resíduos sólidos. Através da aplicação dos questionários foram levantados os seguintes aspectos: i. As principais atividades comerciais dos estabelecimentos; ii. Os tipos de resíduos gerados por pavilhão; iii. O destino dado aos resíduos produzidos por loja e pavilhão; iv. O grau de satisfação em relação aos serviços de limpeza e coleta de lixo praticados no entreposto; v. O grau de adesão e interesse dos comerciantes em participarem de um programa de coleta seletiva; vi. As sugestões dos comerciantes para os recipientes de coleta seletiva para os resíduos inorgânicos; vii. As sugestões do comerciantes para a melhoria dos sistemas de limpeza e coleta de lixo, em geral, praticados pela CEASA-MG. Avaliação da Catação de Resíduos Sólidos na Área da CEASA-MG Para avaliar a atividade dos catadores na CEASA-MG, desenvolvidas tanto na área do entreposto quanto no Aterro Controlado, foram aplicados de 518 questionários, a fim de verificar quais os materiais coletados, o destino dado a estes materiais, a procedência dos catadores e seu perfil sócio-econômico, bem como o interesse destes em se associarem em uma cooperativa de reciclagem. RESULTADOS OBTIDOS Caracterização Física dos Resíduos Sólidos A composição gravimétrica média global dos resíduos produzidos na CEASA-MG foi de: 70,6% de matéria orgânica; 10,7% de madeira; 9,9% de papelão; 4% de plástico; 0,7% de vidro; 0,5% de metais; 2,3% de entulho; 0,8% de materiais não classificados e 0,5% de outros materiais (borracha, tecido etc.) A quantidade média de lixo disposta nas caçambas era de 464 kg. O peso específico do lixo determinado foi de 102 kg/m 3. Como a determinação da composição gravimétrica era feita por caçamba, da qual era conhecida a procedência, foi possível identificar o tipo de resíduo gerado por pavilhão e com isto confeccionar um mapa de geração de resíduos na CEASA-MG. Tal procedimento permitiu identificar os locais geradores de resíduos, preponderantemente, 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1825

orgânicos ou inorgânicos e, o início da definição e estruturação de um programa de coleta seletiva a ser implantado. Na época dos levantamentos, das caçambas distribuídas na CEASA-MG, trinta e duas apresentaram uma composição orgânica superior a 80% e quatorze uma composição inorgânica superior a 70%. As demais caçambas não apresentaram uma composição preferencial, o que demonstra que o lixo gerado encontra-se misturado, em função das atividades desenvolvidas no entreposto e da distribuição da caçambas na área. Levantamento do Sistema de Coleta Praticado A avaliação do sistema de coleta praticado permitiu determinar o número de viagens realizadas por caminhão, a tonelagem transportada e o tempo de percurso. Em média, os caminhões realizaram 340 viagens por semana (57 viagens por dia). A tonelagem média transportada foi de 464 Kg. O peso específico médio foi de 102,3 Kg/m 3. Os resultados obtidos demonstram a necessidade da implantação de um sistema de transbordo na área da CEASA-MG. O sistema adotado foi do tipo direto, onde o lixo das caçambas de 4 a 6 m 3 era basculado diretamente para caçambas estacionárias maiores, de 26 m 3, que eram transportadas ao destino final. Com a implantação do transbordo, no mês de junho de 1998, houve uma redução dos custos do sistema de coleta interna da CEASA-MG, uma vez que os dois caminhões da CEASA-MG responderam por cerca de 70% da coleta das caçambas (1554 viagens, no período), enquanto a caminhão alugado de uma firma particular foi responsável por 30% da coleta (686 viagens). Tal fato pode ser explicado pela redução na distância e tempo de transporte, uma vez que o sistema de transbordo foi implantado dentro da área do entreposto. Sem a operação do transbordo a situação foi praticamente inversa. Os dois caminhões da CEASA-MG transportaram apenas 50% das caçambas. Foi constatado também, o aumento no número de viagens dos caminhões da CEASA-MG, durante a operação do sistema de transbordo. A avaliação do sistema de transbordo foi feita através da pesagem direta das caçambas estacionárias e da quantificação do número de viagens. A tonelagem média transportada foi de 6.250 Kg por viagem, com peso específico de 240 Kg/m 3. Em média, eram realizadas 16 viagens por semana. Melhorias Realizadas na Área de Disposição Final do Lixo Após a avaliação das condições da área utilizada para a disposição final do lixo gerado na CEASA-MG, foram implantadas uma série de medidas que objetivaram, principalmente, a transformação do lixão em um aterro controlado. Os resíduos, a partir do mês de abril de 1998, passaram a ser compactados e enterrados diariamente. As ações desenvolvidas consistiram na raspagem e no enleiramento de todo resíduo disposto na área. As leiras, construídas em seção reta trapezoidal, foram utilizadas para a definição dos novos locais 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1826

para a disposição do lixo, para direcionar o tráfego de veículos até a frente de trabalho e como material de cobertura, quando necessário. O resíduos passaram a ser dispostos na nova frente de trabalho, evitando-se a descarga das caminhões em vários pontos da área, permitindo ainda, a compactação e recobrimento diário do lixo depositado. A altura máxima total da células foi limitada em 1,5 metros. A realização do enterramento controlado e diário dos resíduos sólidos propiciou a melhoria ambiental da área, com a redução significativa de vetores biológicos, de emanação de odores, de fogo, fumaça, bem como da presença de catadores e animais na área. Avaliação do Sistema de Limpeza Urbana da CEASA-MG Os resultados obtidos da compilação dos questionários aplicados aos comerciantes e atacadistas demonstram que: i. 93% dos estabelecimentos utilizam as caçambas da CEASA para a disposição dos seus resíduos; ii. 78% dos comerciantes e atacadistas estão satisfeitos em relação ao sistema de coleta interna de lixo praticado pela CEASA-MG; iii. 87% dos estabelecimentos comerciais encontram-se, previamente, dispostos a aderirem a um programa de coleta seletiva e 13% não estão propensos à adesão e apontaram a razão da negativa; iv. Com relação ao tipo de recipiente a ser utilizado para a coleta de resíduos inorgânicos, 50% sugeriram o mesmo tipo de caçamba utilizada, porém pintada de cor diferente; v. As principais sugestões para a melhoria do sistema de limpeza da CEASA-MG foram: a detetização, a lavagem das vias, das caçambas e da área onde ficam as caçambas, com jatos de águas. Avaliação da Catação de Resíduos Sólidos na Área da CEASA-MG Os questionários aplicados aos catadores da CEASA-MG, cerca de 518, com distinção na compilação dos dados para a atividade desenvolvida no entreposto (439 questionários) e na área do aterro controlado (79 questionários), revelaram que: i. Esta atividade é desempenhada preferencialmente por mulheres no entreposto (84%) e por homens no lixão (41%). ii. A maioria dos catadores são casados (47%) ou solteiros (39%); analfabetos (26%) ou que não completaram o primeiro grau (67%); a faixa etária é bem distribuída com maior percentual entre 10 e 20 anos. iii. Na área do entreposto, 99,8% dos catadores recolhem hortigranjeiros, sendo que a coleta de papel/papelão ocorre principalmente no lixão, atividade de 13,9% dos catadores que lá atuam. iv. O destino dos produtos/resíduos coletados é a alimentação familiar em 95% dos casos e, apenas o papelão recolhido é vendido. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1827

v. Em relação a procedência, 63% dos catadores residem em Contagem, 17% em ribeirão das Neves e, apenas 6% em Belo Horizonte. vi. 92% dos catadores encontram-se desempregados e destes, 46% há mais de dois anos, sendo que 37% não desejam ter outro emprego ou função vii. Em relação a função de catador, 65% já desempenharam esta atividade anteriormente e, na CEASA-MG, 49% atuam há mais de dois anos recolhendo produtos nos pavilhões do entreposto em geral. viii. Em relação a formação de uma cooperativa de reciclagem, 99% dos entrevistados consideram a idéia da associação boa ou ótima. CONCLUSÃO As diretrizes, definidas para a gestão dos resíduos gerados na CEASA-MG, foram elaboradas com base no diagnóstico estabelecido a partir dos resultados, apresentados anteriormente, e considerando-se a realidade de infra-estrutura, a disponibilidade de equipamentos de pessoal e as características das principais atividades desenvolvidas na área do entreposto. As diretrizes de gestão foram: i. A necessidade de se reduzir a geração de resíduos sólidos na área do entreposto, com a diminuição do desperdício de produtos alimentícios, o que pode ser conseguido a médio e longo prazo, através da melhoria do sistema de embalagem, acondicionamento, manuseio e transporte dos produtos, bem como a instalação de um programa de padronização e classificação dos produtos hortigranjeiros junto aos produtores. ii. A criação de uma gerência de resíduos sólidos no organograma da empresa, a qual ficaria responsável pela compatibilização e integração das diferentes etapas do sistema de gestão a ser implantado. iii. O tratamento e ou disposição dos resíduos em parceria com órgãos públicos ou empresas privadas em uma área fora da CEASA-MG. iv. A melhoria das condições de geração, coleta e acondicionamento dos resíduos sólidos através de soluções setorizadas. v. A implantação gradativa de um programa de Coleta Seletiva com destinação adequada e diferenciada para os resíduos orgânicos e inorgânicos. vi. A desativação da área do Aterro Controlado, com a remoção dos resíduos dispostos, visando a utilização do material na recuperação de áreas degradadas. Com relação específica a implantação de um programa de Coleta Seletiva no entreposto foram adotadas as seguintes diretrizes: i. A adoção de recipientes do mesmo tipo, porém de cores diferentes, para a disposição, em separado, dos resíduos orgânicos (resíduos de hortigranjeiros e paliaria) e dos resíduos inorgânicos (caixa de madeira, papel/papelão, plástico, vidro e metais). Os resíduos orgânicos seriam dispostos nas caçambas de cor verde (já utilizadas no sistema de coleta da CEASA-MG) e os resíduos inorgânicos, em caçambas de cor azul, ambas identificadas com o tipo de resíduo que iriam receber. ii. A distribuição das caçambas na área foi baseada no mapa de geração de resíduos, elaborado a partir dos dados da composição gravimétrica, sendo que nos pavilhões/locais, onde estes dois tipos de resíduos são gerados e dispostos, as caçambas seriam colocadas em pares contíguos. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1828

iii. As novas caçambas a serem adquiridas seriam de 6m 3, a fim de aumentar a capacidade de acondicionamento. iv. A modernização da frota de veículos coletores. v. A disposição em separado do lixo das lanchonetes e da varrição. vi. A construção de uma infra-estrutura para a triagem, processamento e armazenamento dos materiais inertes, atividades estas a serem realizadas pela cooperativa de catadores com apoio e suporte da CEASA-MG. vii. O reaproveitamento e tratamento da fração orgânica. viii. A disposição dos rejeitos dos processos anteriores em um aterro sanitário licenciado. ix. O acompanhamento do programa através de campanhas educativas permanentes, buscando sempre fomentar a participação da comunidade (geradores, catadores e pessoal da limpeza). x. A abordagem do programa de forma integrada em relação as etapas do processo: geração, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento/reaproveitamento e destinação final. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1829