Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP Rio Claro, SP. ISSN
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- Octavio Amorim Ribeiro
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1 PROPOSTA DE INSTRUMENTO ECONÔMICO PARA A GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE RIO CLARO SP 1. INTRODUÇÃO Elisa Fonseca Horta, Marcus Cesar Avezum Alves de Castro. Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Rio Claro. Atualmente, as ações municipais na gestão dos resíduos sólidos domiciliares tem como foco principal a reciclagem de embalagens. Programas de coleta seletiva são direcionados para materiais como plásticos, papel, metais e vidro. Observa-se pouca ou nenhuma iniciativa de reaproveitamento da matéria orgânica presente nos resíduos domiciliares (CASTRO, 2013). Entretanto, os resíduos domiciliares gerados no Brasil são compostos por aproximadamente 50% de matéria orgânica, um dos principais causadores de mau-cheiro, vetores de doenças e geração de lixiviado com elevado potencial de contaminação de recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2013) no Brasil aproximadamente 41,74% dos RSU são destinados a lixões e vazadouros (forma incorreta de disposição final), que representam cerca de 79 mil toneladas diárias de resíduos. Todavia, o material orgânico quando segregado na fonte de geração, apresenta características favoráveis para ser utilizado no processo de compostagem, que possibilita agregar valor ao material e reduzir a sua disposição em aterros sanitários. Nesse sentido, a proposição de instrumentos econômicos pode incentivar a condução de práticas adequadas dos geradores no manejo dos resíduos orgânicos, e ao mesmo tempo assegurar a sustentabilidade financeira do sistema de compostagem. Tais instrumentos econômicos são estratégias de intervenção pública que buscam aperfeiçoar o desempenho da gestão e sustentabilidade ambiental (MMA, 2011). Assim, o pagamento de taxa vinculada a quantidade gerada de resíduos orgânicos internaliza eventuais efeitos negativos. Enquanto a concessão de benefícios pode fomentar práticas adequadas de gestão. Neste contexto, a pesquisa apresenta a proposição de plano de gestão municipal para os resíduos orgânicos gerados em estabelecimentos comerciais do ramo de hortifrúti (quitanda, verdurão e sacolão) e mercado no município de Rio Claro. O plano municipal contempla a estimativa da geração de resíduos pelo setor, os custos envolvidos na implantação e operação de sistema de compostagem, e a proposição de cobrança de taxa para garantir a sustentabilidade financeira do sistema. A pesquisa apresenta um estudo para subsidiar a implantação de Plano Municipal para a Gestão de Resíduos Sólidos Orgânicos (PMGRO) gerados em estabelecimentos comerciais da tipologia hortifrúti e mercado no município de Rio Claro. Nesse sentido, são propostos os seguintes objetivos específicos: Quantificar os resíduos orgânicos gerados nos estabelecimentos de hortifrúti e mercado; Caracterizar as práticas de gestão adotadas para os resíduos orgânicos nos estabelecimentos de hortifrúti e mercado; Estabelecer as responsabilidades e atribuições dos atores envolvidos na gestão dos resíduos (gestor público municipal, gerador/estabelecimento);
2 Propor subsídios para elaboração de Plano de Gestão Municipal para Resíduos Orgânicos, contemplando mecanismos para sustentabilidade financeira e práticas de gestão. 2. METODOLOGIA A partir do cadastro de estabelecimentos comerciais fornecidos pela prefeitura municipal, foram identificados aqueles que apresentavam a tipologia hortifrúti e mercado totalizando 38 estabelecimentos. Neste universo foi realizada a entrevista em 15 estabelecimentos obtidos por amostragem direcionada, com base nas características de porte, tipologia e localização na área urbana (central ou periférica). Nesta etapa foram identificadas as práticas adotadas e a quantidade gerada. O dimensionamento da central de compostagem para a estimativa dos custos para implantar e operar a central de compostagem foi baseado na bibliografia foi consultada. Optou-se pelo processo de compostagem aeróbia pela simplicidade de operação e por se tratar de uma técnica já conhecida. Os custos para a construção da central e sua posterior operação foram baseados em programa de orçamentos do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI) e sites comerciais de venda de produtos rurais. A central de compostagem foi estimada para uma capacidade de processamento 30% acima da geração atual, prevendo possíveis acréscimos de geração decorrente de novos estabelecimentos. O custo de implantação foi diluído num período de 10 anos. A sistemática de cobrança foi baseada em dois modelos: número de cestas utilizadas para acondicionar os resíduos; e por número de caixas (check-outs) existentes no estabelecimento. Entende-se por caixas ou check-outs o local onde os produtos são registrados para cobrança do consumidor (caixa registradora). No modelo de cestas o estabelecimento deve pagar um valor mensal relacionado com a quantidade de cestas coletadas durante o mês. Já para o modelo de caixas (check-outs), o pagamento baseia-se na média de geração encontrada na pesquisa por número de caixas, assim cada estabelecimento paga um valor fixo por mês. Neste caso, os estabelecimentos foram divididos em faixas em função do número de caixas (check-outs), conforme estabelece o IBGE (1996). Com a finalidade de averiguar a viabilidade econômica da central de compostagem proposta, foi realizada a comparação dos atuais custos de coleta e disposição final para os resíduos sólidos domiciliares com os custos do tratamento dos resíduos orgânicos na central de compostagem. 3. RESULTADOS OBTIDOS Dos estabelecimentos entrevistados, 94% fazem a segregação na fonte dos resíduos em recicláveis, orgânicos e rejeitos, sinalizando que a proposta de gestão dos resíduos orgânicos é passível de aplicação sem muitas alterações na rotina já existente nos estabelecimentos. Recicláveis são destinados à coleta seletiva, os orgânicos são destinados para o aterro sanitário e alimentação animal. A média de geração de resíduos foi estabelecida por faixas sendo estabelecimentos com até 4 caixas (check-outs) classificados como de pequeno porte, com 5 a 9 caixas são classificados como de pequeno/médio porte e de 10 a 19 caixas como de médio porte. A Figura 1 analisa as médias de
3 geração obtidas no campo referente a cada faixa de porte e a cada tipo de resíduo. No total, os estabelecimentos geram 105t/mês de resíduos, sendo 35t/mês de orgânicos Média da geração de resíduos por estabelecimento Pequeno Pequeno/Médio Médio Recicláveis Orgânicos Rejeitos Total Figura 1. Média da geração de resíduos por estabelecimento em cada porte. O custo de implantação da central de compostagem com capacidade para 50t/mês foi estimado em R$165 mil (construção de galpão, impermeabilização do terreno e compra de maquinário). O valor não contabilizou o custo de aquisição da área, pois a implantação foi considerada no atual aterro desativado. O valor foi diluído em um período de 10 anos (120 meses), estabelecendo um custo fixo para cada estabelecimento de R$52,88/mês. Já o custo de operação foi estimado em R$10 mil/mês (contratação de funcionários, contas de luz e água, coleta e transporte dos resíduos orgânicos). Para garantir a sustentabilidade financeira foram elaborados dois modelos de cobrança baseados no número de cestas de resíduos orgânicos coletadas e na média de geração por caixas. A Tabela 1 apresenta os valores médios mensais estimados para cada estabelecimento, considerando o custo de implantação e o custo de operação. O modelo por cesta coletada permite ao estabelecimento desenvolver metodologias para reduzir a geração de resíduos orgânicos e assim reduzir o valor a ser pago para a destinação adequada.
4 Tabela 1. Custos mensais para cada estabelecimento em função do porte e do modelo de cobrança proposto. Atualmente, o poder público municipal desembolsa o valor de R$191,88/t, que corresponde a R$76,81/t de coleta e R$ 115,07/t para a disposição dos resíduos no aterro sanitário. Para a central de compostagem o custo de coleta adotado foi o mesmo valor de R$ 76,81/t, considerando que o material poderia ser transportado por caminhão compactador e o custo de operação da central de compostagem é de R$ 208,90/t totalizando um custo de R$285,71/t. Para que o resíduo orgânico seja tratado há um acréscimo de aproximadamente R$ 90/t (aumento de 37%), porém este custo é compensado ao considerarmos que a compostagem atua, por exemplo, nos seguintes aspectos: aumento da vida útil do aterro, diminuição da geração de lixiviados em aterros, redução no potencial de contaminação de solos e recursos hídricos, ciclagem de nutrientes, diminuição de vetores em aterros, possibilidade de venda do composto gerado e a redução de custos do poder público com a gestão de resíduos com a instalação de um dos modelos de cobrança. 4. CONCLUSÕES Com base nos resultados é possível concluir que: Os resíduos gerados nos estabelecimentos de hortifrútis e mercados são aproximadamente 105 t/mês que representam 2,6% dos resíduos coletados no município (4.000 t/mês) mês. Ao contrário da hipótese inicial da pesquisa, os resíduos orgânicos gerados constituem 35% do total de resíduos do segmento, uma porcentagem menor do que a porcentagem de material orgânico presente nos resíduos sólidos domiciliares. Acredita-se que esta porcentagem refere-se apenas ao resíduo que é destinado à coleta regular, não contabilizada a quantidade doada para alimentação animal. A quantidade de resíduos foi coletada nas entrevistas, mas não foi conferida através de pesagem. A maioria dos estabelecimentos (94%) faz a segregação dos resíduos em recicláveis, orgânicos e rejeitos, sinalizando que a proposta de gestão dos resíduos orgânicos é passível de aplicação sem muitas alterações na rotina já existente nos estabelecimentos. Os recicláveis são destinados à cooperativa do município ou aos
5 catadores informais; e os orgânicos são doados para alimentação animal. Na implantação do plano municipal cabe ao poder público municipal as responsabilidades de viabilizar a instalação e execução do projeto, fornecendo as diretrizes para implantação e operação; criar um cadastro específico para os estabelecimentos de hortifrúti e mercado, assim como incluir a informação do tipo e do porte exigindo a entrega anual de autodeclaração da destinação adequada dos resíduos pelo estabelecimento; indicar as possibilidades de reinserção do composto final na cadeia produtiva, por intermédio de programas e políticas públicas como a agricultura familiar; elaborar os instrumentos legais para disciplinar a cobrança do tratamento dos resíduos orgânicos. O custo de implantação da central de compostagem foi de R$ 165 mil, o qual foi amortizado em 10 anos, considerando a capacidade de 50 toneladas por mês. O custo da coleta e operação dos resíduos orgânicos foi calculado em R$ 10 mil por mês para a geração de 35 toneladas. O valor não inclui o lucro. Considerando custos mensais de operação e instalação da central de compostagem para o modelo com base no número de caixas (check-outs) os custos seriam em média: Pequeno (até 4 caixas) R$161,14; Pequeno/Médio (5 a 9 caixas) R$494,6; Médio (mais de 10 caixas) R$949,41; Já no sistema baseado no numero de cestas os valores em média seriam: Pequeno R$186,27; Pequeno/Médio R$414,33; Médio R$956,49; O custo de coleta, transporte e operação da central de compostagem é de R$285 por tonelada. Para coletar e transportar os resíduos e dispor no aterro sanitário do município o poder público desembolsa R$192 por tonelada. A comparação dos custos demonstra que a central de compostagem demanda um aumento de R$90/t (37%) para realizar o tratamento dos resíduos. Este aumento é aceitável considerando que a compostagem viabiliza o aumento da vida útil do aterro, a diminuição da geração de lixiviados em aterros, a ciclagem de nutrientes, a diminuição de vetores em aterros e áreas contíguas, a possibilidade de venda do composto gerado e a redução de custos do poder público com a gestão de resíduos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS - ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil BRASIL. Lei Federal nº / Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Publicado no Diário Oficial da União - DOU de 03/08/2010. Disponível em: <
6 2010/2010/lei/l12305.htm>, acesso em: set CASTRO, M.C.A.A.; ANTONIO, S.M.; SCHALCH, V.; LEITE, W.C.A. Analysis of variation of concentration and methane gas flow in sanitary landfill in Brazil IN BRAZIL In: 14a. International Waste Management and Landfill Symposium, 2013, Cagliari, Italy.Sardinia v.1. p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Arquivo Supermercados. Rio de Janeiro, Disponível em: < SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/relato/supmerca.pdf>, acesso em: 16 dez MMA Ministério do Meio Ambiente. Estudo Técnico Sobre Instrumentos Econômicos de Gestão de Recursos Hídricos e/ou Ambiente Urbano no Brasil Disponível em: < _Consultores/Avaliacao/RodrigoCarvalho-Estudo%20tecnico%20sobre%20instru mentos%20economicos%20de%20gestao%20de%20recursos%20hidricos%20eou%20ambiente%20urbano%20no%20brasil.pdf>, acesso em: fevereiro 2015.
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