Distribuindo os lucros

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Transcrição:

FINANÇAS Distribuindo os lucros A distribuição das riquezas geradas por uma empresa aos seus acionistas é uma forma de geração de valor, pois diminui os riscos de os acionistas majoritários ou administradores utilizarem o caixa da empresa em benefício próprio. Existem hoje, na legislação, alguns mecanismos que podem ser utilizados pelas empresas para definir sua política de distribuição. O artigo apresenta esses mecanismos e as principais vantagens e desvantagens de cada um deles. por William Eid Jr. e Daniel Camarotto Mota FGV-EAESP IMAGEM: KIPPER A política de distribuição do caixa das empresas aos acionistas é uma decisão financeira importante, já que evidências empíricas no Brasil e no mundo mostram que ela pode ser uma fonte de criação de valor. Uma explicação bem aceita para isso é o fato de a distribuição do caixa aos acionistas ser capaz de mitigar problemas de agência, pois diminui o caixa livre na empresa, reduzindo, assim, a possibilidade de que administradores ou acionistas majoritários utilizem esse caixa em projetos ruins para a empresa, mas que os beneficiem de alguma forma. Entretanto, para que uma política de distribuição seja feita de maneira efetiva, é necessário definir o período de GV executivo 31

sua realização, o instrumento a ser utilizado e o valor distribuído. Neste artigo, apresentamos os principais mecanismos de distribuição de lucros das empresas, a legislação em vigor que trata dessas distribuições, as vantagens e desvantagens de cada um desses mecanismos e, por fim, aqueles que têm sido mais utilizados pelas empresas brasileiras. Mecanismos de distribuição. Atualmente, existem no Brasil três mecanismos para realização de distribuição de lucros. O primeiro são os dividendos. Nesse caso, parte do lucro líquido da empresa é distribuída diretamente aos acionistas. A baixa liquidez do mercado acionário brasileiro exerce influência nas recompras de ações, pois, para que haja a transferência de caixa da empresa para acionistas, as ações recompradas devem ser canceladas, e isso influencia na liquidez da ação pela redução de sua quantidade em circulação. O segundo mecanismo são os juros sobre capital próprio, ou JSCP. Criado em dezembro de 1995 como incentivo para compensar o fim da correção monetária dos balanços das firmas, essa é uma forma de distribuição em que os dividendos podem ser contabilizados como despesa financeira, reduzindo, dessa forma, a base de cálculo do imposto de renda e da contribuição social incidente sobre o lucro das empresas. Enfim, há um terceiro mecanismo que é a recompra de ações. Isso faz com que a quantidade de ações no mercado diminua, de forma a aumentar a participação de cada acionista na empresa, sem alterar, do ponto de vista contábil-financeiro, o valor da empresa, valorizando, em um mercado perfeito, o preço da ação pelo montante gasto na recompra. É uma forma de distribuição em que os acionistas recebem o caixa indiretamente, através dos ganhos de capital com as ações. Legislação. A lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, prevê um dividendo mínimo obrigatório. A empresa tem a liberdade de definir em seu estatuto o dividendo mínimo a ser pago aos seus acionistas. Se o estatuto não possuir nenhuma definição a esse respeito, o dividendo mínimo obrigatório passará a ser 50% do lucro líquido com os acréscimos e as deduções estabelecidos no artigo 202 da Lei 6.404. Entretanto, no caso de o estatuto ser omisso, a assembléia geral poderá alterar o dividendo obrigatório para um percentual menor do que 50% do lucro, porém com a limitação de que ele deverá ser de, no mínimo, 25%. No entanto, se a empresa for de capital fechado, a assembléia poderá deliberar, caso não haja oposição de qualquer acionista presente, a distribuição de dividendo menor do que 25% do lucro. De qualquer forma, os administradores só poderão ter participação nos lucros se o estatuto fixar o dividendo obrigatório em, no mínimo, 25% do lucro. Os juros sobre capital próprio, ou JSCP, podem ser utilizados para o cumprimento do dividendo mínimo obrigatório. Entretanto, para considerar essa despesa dedutível da base de cálculo de imposto de renda e contribuição social, não deve exceder a TJLP (taxa de juros de longo prazo) aplicada ao patrimônio líquido, limitado a 50% das reservas de lucros ou do lucro líquido, o que for maior. As recompras de ações podem ser de dois tipos no Brasil. O primeiro tipo é a oferta pública de ações (OPA), que é uma oferta a preço fixo e possui diversas modalidades (cancelamento de registro de companhia aberta, aquisição do controle, alienação do controle, aumento da participação do controlador), além de ser uma oferta irrevogável e irretratável. O segundo tipo é a recompra de ações a mercado, em que a empresa recompra as ações a preços de mercado como qualquer outro investidor. A recompra 32 VOL.6 Nº3 MAIO/JUN. 2007

a mercado é a mais freqüentemente utilizada na política de distribuição. O imposto de renda (IR) a que os acionistas estão sujeitos em cada um dos instrumentos da política de distribuição são os seguintes: no caso dos dividendos, há isenção de impostos; quanto aos JSCP, a alíquota é de 15%; e, por fim, no caso da recompra de ações, há uma alíquota de 15% sobre os ganhos de capital, com exceção das operações de day-trade em que a alíquota é de 20%. Os ganhos obtidos com a venda de ações no mercado à vista, cujo valor de alienação é inferior a R$ 20 mil durante o mês, estão isentos do pagamento de IR. ações negociadas na Bovespa possuírem uma média inferior a 5 negócios diários e 60,2% possuírem uma média inferior a 1 negócio diário. Essa baixa liquidez do mercado acionário brasileiro exerce influência no resultado das recompras de ações, pois, para que haja uma efetiva transferência de caixa da empresa para os acionistas, as ações recompradas devem ser canceladas, o que influenciaria na liquidez da Vantagens e desvantagens. Há evidências empíricas de retornos anormais positivos nas ações das empresas após a elevação de seus dividendos/jscp ou depois do anúncio de um programa de recompras de ações. Retornos negativos foram encontrados após a redução dos dividendos. Assim, sempre que houver condições propícias, deve-se realizar uma distribuição, pois, dessa forma, é possível criar valor aos acionistas. Como a redução dos dividendos e JSCP trazem retornos negativos, o dividendo definido pela empresa deve ser sustentável a longo prazo. Esse comprometimento não ocorre no caso das recompras de ações, que podem ser utilizadas para distribuições esporádicas, não sustentáveis, propiciando flexibilidade financeira. Além disso, propiciam aos acionistas a possibilidade de diferir o imposto a ser pago sobre os ganhos de capital, já que eles podem ser realizados no momento em que o acionista desejar. Entretanto, do ponto de vista fiscal, os dividendos são claramente mais vantajosos do que as recompras, já que os acionistas estão sempre isentos do pagamento de IR. Além disso, o mercado brasileiro é bastante concentrado e tem baixa liquidez, o que dificulta a transferência de caixa via recompra de ações. A baixa liquidez é demonstrada pelo fato de 77,4% das GV executivo 33

ação pela redução da quantidade de ações em circulação. Isso poderia ocasionar uma diminuição no preço da ação. Portanto, os dividendos são mais vantajosos do que as recompras de ações como forma de distribuição no Brasil quando a distribuição é sustentável ou a empresa possuir ações com baixa liquidez. Já os JSCP são dedutíveis da base de cálculo de impostos sobre o lucro da empresa, mas os acionistas pagam 15% de IR na distribuição. Os dividendos, ao contrário, são isentos de IR para os acionistas, porém As empresas com uma administração mais profissional de sua política de distribuição, ou seja, que são menos endividadas, com propriedade mais dispersa, mais antigas na Bolsa de Valores e, principalmente, com os maiores payouts, optam pela utilização dos juros sobre capital próprio. não são dedutíveis para a empresa. Assim, a princípio, não é claro qual das formas de distribuição é a mais vantajosa. Realizando-se uma comparação, entretanto, entre o pagamento líquido de dividendos e JSCP aos acionistas, de forma que um acionista-pessoa física receberia exatamente o mesmo valor em ambos os casos, a firma que opta por pagar JSCP tem um desembolso de recursos menor e um patrimônio líquido maior ao final do processo. Portanto, os JSCP são a melhor forma de se distribuir caixa aos acionistas. A situação brasileira. Como as empresas brasileiras estão realizando suas políticas de distribuição? Quais instrumentos têm sido escolhidos? Para responder a essas questões, fizemos uma análise da política de distribuição de empresas brasileiras relacionadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no período de 2000 a 2005. Os resultados serão apresentados a seguir. As empresas brasileiras distribuem dividendos/jscp dependendo de cinco variáveis principais. Primeira: existência de fluxo de caixa para a distribuição. Segunda: estabilidade desses fluxos de caixa ao longo do tempo, de forma que se possa definir uma política de dividendos sustentável e estável ao longo dos anos. Terceira: não comprometimento com um endividamento, que faria com que a empresa tivesse que destinar seus fluxos de caixa futuros para o pagamento de juros e poderia impor-lhe cláusulas contratuais de não distribuição de dividendos. A quarta variável de que depende a distribuição de dividendos / JSCP nas empresas brasileiras é a preocupação com a governança coorporativa. Essa preocupação a levaria a reforçar os agentes do mercado (analistas, investidores etc.) por meio da distribuição de dividendos, uma vez que não apresenta problemas de agência, no sentido de expropriação dos minoritários (o principal problema de agência no Brasil é o de expropriação dos acionistas minoritários por parte dos majoritários, pois há uma grande concentração da propriedade). E, por fim, a quinta variável é a não existência de oportunidades de investimento, que eleva o fluxo de caixa livre que pode ser distribuído como dividendos e aumenta a probabilidade de haver problemas de agência. Por sua vez, as recompras de ações são utilizadas pelas empresas para complementar as suas políticas de distribuição em termos de dividendos/jscp, quando as suas ações possuem liquidez e não há clareza se a distribuição a ser feita é sustentável no futuro. Apesar dessa falta de clareza em relação aos resultados futuros, as recompras de ações seguem um padrão de distribuição razoavelmente estável ao longo do tempo. Empresas com melhores governanças coorporativas preferem utilizar os dividendos/jscp às recompras de ações por serem a melhor opção para a empresa e para os acionistas, já que são mais vantajosos do ponto de vista fiscal e ainda levam ao cumprimento do dividendo mínimo obrigatório estabelecido no estatuto. Como se vê, as empresas brasileiras têm utilizado os dividendos/jscp e as recompras de ações de forma coeren- 34 VOL.6 Nº3 MAIO/JUN. 2007

te com o que prevê a teoria e com a análise realizada anteriormente da legislação e das particularidades do mercado brasileiro. Surpresas. Ao analisarmos como tem sido feita a escolha entre os dividendos e os JSCP, descobrimos que, embora os JSCP sejam uma forma de distribuição aos acionistas que gera menos custos para as empresas, comparativamente aos dividendos, há muitas companhias que possuem grande disponibilidade de JSCP e não os utilizam em suas políticas de distribuição. Isso mostra que, na escolha entre os JSCP e os dividendos, não têm sido levados em consideração, em muitos casos, a disponibilidade para a distribuição de JSCP e o fato de que eles são mais vantajosos do que os dividendos, ocasionando a destruição de valor para muitas empresas que poderiam utilizar os JSCP, mas fazem uso dos dividendos. As empresas com uma administração mais profissional de sua política de distribuição, ou seja, que são mais maduras, menos endividadas, com propriedade mais dispersa, mais antigas na Bolsa de Valores e, principalmente, com os maiores payouts, optam pela utilização dos JSCP quando possuem a disponibilidade para fazê-lo. Práticas à mão. Concluímos este artigo indicando algumas práticas que podem ser utilizadas pelos gestores financeiros com o intuito de ampliar a geração de valor. A primeira consiste em que os gestores realizem uma política estável de distribuição de dividendos. A segunda refere-se à distribuição de dividendos quando houver resultados razoavelmente estáveis que os sustentem a médio e longo prazo e a empresa não tiver boas oportunidades de investimento, nem estiver muito endividada. A terceira prática diz que, sempre que houver condições propícias, o mais indicado é distribuir dividendos, pois isso pode ser uma fonte de criação de valor para a empresa. A quarta sugere a utilização de toda a disponibilidade de JSCP antes de se utilizarem os dividendos. A quinta prática indica que as empresas mais preocupadas com a governança corporativa devam distribuir uma parcela maior de seus lucros aos acionistas, para assegurar ao mercado que não expropriam os acionistas minoritários, e preferem os dividendos/jscp às recompras de ações, pois são mais eficientes. Por fim, a sexta prática é utilizar as recompras de ações como complemento aos dividendos quando as ações da empresa tiverem liquidez e o resultado a ser distribuído não for sustentável a médio ou longo prazo. William Eid Jr. Doutor em administração financeira pela FGV-EAESP Prof. do Departamento de Contabilidade, Finanças e Controle da FGV-EAESP E-mail: weid@fgvsp.br Daniel Camarotto Mota Mestre em administração financeira pela FGV-EAESP E-mail: daniel.mota@itau.com.br GV executivo 35