GÊNERO, SEXUALIDADE, E DIVERSIDADE: AMPLIANDO O DEBATE NO AMBIENTE ESCOLAR.

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Transcrição:

GÊNERO, SEXUALIDADE, E DIVERSIDADE: AMPLIANDO O DEBATE NO AMBIENTE ESCOLAR. AUTORES: Carlota Augusta de Brito Gomes; Genildo Ferreira da Nóbrega; Márcio Silva de Melo; Uiliane Gomes da Silva; Weverson Bezerra Silva; Rogério de Souza Medeiros; Ivan Fontes Barbosa Programa Acadêmico: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - UFPB. E-mail: pibidsociologia2014@outlook.com INTRODUÇÃO Este trabalho propõe um debate sobre as questões de gêneros, sexualidade e diversidades no ambiente escolar. Partindo do presuposto que a escola como instituição, que propõe a disseminação do conhecimento para a formação dos estudantes, não somente visando o mercado de trabalho, como também sua formação como pessoa, faz-se necessário realizar essas discussões. Quando tratamos das questões de gênero, estamos problematizando os supostos papéis tidos como naturais que homens e mulheres devem desempenhar na sociedade. Papéis esses construídos no imaginário popular e alimentados cotidianamente através do senso comum. A escola como instituição responsável pelo desenvolvimento da educação dos estudantes, não é um lugar neutro, ou isolado da sociedade. Como instituição do Estado, logo ela irá defender e difundir os valores desse Estado. De modo objetivo pretendemos apresentar a atividade de intervenção realizada na escola EEEFM Olivina Olívia Carneiro da Cunha, bem como desenvolver uma discussão sobre a importância do debate sobre Gênero e Sexualidade nas escolas. Descreveremos como ocorreu essa intervenção, por que ela foi pensada, e quais foram seus resultados. Sobre formato de relato expomos aqui nossas vivências enquanto bolsistas do PIBID de Sociologia. O tema é de grande relevância, pois provoca discussões acaloradas, e reflexões sobre como é construído as diferenças e as desigualdades em torno da sexualidade e do gênero. Torna-se necessário pensar essas questões para que se possa criar mecanismos que ajudem a diminuir essas diferenças e desigualdades. É preciso que haja espaço para um debate conciso que possa promover conhecimento e reflexões de modo a despertar a atenção para o tema, e que nos ajude a desconstruir o preconceito e a falta de informação.

Se vivemos numa sociedade que trata as questões de gênero de modo quase irrelevante, ou seja, naturalizando aspectos que são frutos de construções sociais, e os tratando como fatos de ordem natural ou biológica, na escola isso não é diferente. Como instituição de ensino, os mesmos preconceitos, violência, e discriminações que ocorrem na sociedade, também ocorrem dentro da escola. A escola é parte integrante da sociedade, lá se constrói identidades, pois a mesma desempenha um papel fundamental e singular na formação dos indivíduos, como nem outra instituição. Ela delimita espaços, defini os comportamentos que a sociedade espera de meninas e meninos, e esses estudantes tomam essas demarcações como naturais, e sentem o peso da coerção quando se comportam de maneira diferente do que foi imposto. Segundo Canário (2005) a escola é uma instituição que, a partir de um conjunto de valores, estáveis e intrísecos, funciona como fábrica de cidadãos, desempenhando um papel central na integração social, na perspectiva durkheimiana de prevenir a anomia e preparar para a inserção na divisão social do trabalho. Como instituição a escola desempenha do ponto de vista histórico, um papel fundamental de unificação cultural, linguística e política, afirmando-se como um instrumento fundamental da construção dos modernos estados-nação. Desse modo é perceptível o papel que a escola acaba desempenhando na sociedade. Por isso, precisamos lembrar sempre que possível, que é preciso combater e descontruir esses modelos que acabam sendo legitimados por todos no cotidiano escolar. Não podemos aceitar que a escola continue desempenhando esse papel, pois há uma diversidade de atores dentro dela, e não podemos fechar nosssos olhos diante essa diversidade. A escola não pode ser feita somente para homens, hetéros, brancos e cristãos. A escola deve ser o lugar de todas e todos, e isso inclui homosexuais, negros, mulheres, transexuais e todos os demais membros que compõe essa sociedade. Negar isso, é negar o direito à educação e o respeito à diversidade desses grupos. É necessário discutir esssas relações de gênero que acontece na escola, para que consigamos juntos desenvolver uma cultura de respeito à diversidade, que diga não ao machismo, a homofobia, ao racismo, a transfobia e a qualquer tipo de preconceito e discriminação. Segundo Foucault (1996), este discurso de verdade do sexo e gênero é determinado por uma construção histórica e, portanto, relativa, estando a serviço do estabelecimento de relações de poder sobre os corpos e da regulação dos prazeres e costumes sendo a escola uma ferramenta fundamental na manutenção da ordem dos comportamentos de gêneros vigente, vigiando e punindo os que ousam desviar do caminho pré-estabelecido normal e moralmente correto.

Concordamos com Guacira Lopes (2007) quando é dito que as práticas e a linguagem são marcas que visam constituir o que deve ser tido como feminino e masculino, segundo a autora: Para que se efetivem essas marcas, um investimento significativo é posto em ação: família, escola, mídia, igreja, lei, participam dessa produção. Todas essas instituições realizam uma pedagogia, fazem um investimento que, freqüentemente, aparece de forma articulada, reiterando identidades e práticas hegemônicas enquanto subordina nega ou recusa outras identidades e práticas... (LOURO, 2007, p.22). Esses mecanismos mostrados pela autora, muitas vezes passam de maneira inperceptível aos olhos de todos, se camuflam na ideia de natural e normal, que nada mais é do que uma construção social, imposta pelo grupo dominante dessa sociedade. Sendo o Olivina Olivia uma escola onde já ocorreram fatos que estão diretamente ligados às questões de gênero, nada mais proprício do que promover uma atividade que abordaria o tema. Dentre esses fatos, destacamos dois, onde é perceptivel o desrespeito e despreparo causado pela falta de entendimento dessas relações de gênero. Uma aluna, após ter um vídeo íntimo divulgado pelos alunos, sofreu violência dentro da própria escola. A aluna teve que mudar de escola, foi humilhada pelos colegas, e quase é linchada pelos estudades. Outro caso ocorrido na mesma escola, foi de outra aluna retirada da sala de aula por dois policiais, por simplemente estar com uma roupa que a direção da mesma escola julgou como inapropriada (a aluna usava uma blusa conhecida como tomara que caia ). Percebendo esse tipo de fato, é muito claro o agir do machismo nessa instituição, e o lugar que é dado à mulher dentro da escola. No mesmo dia em que realizamos nossa atividade de intervenção, um dos alunos nos procurou e agradeceu pelo evento que organizamos, e nos confessou que já foi vítima dos colegas. Quando passava pelos corredores era xingado pejorativamente de veadinho, e muitas vezes sofria um duplo preconceito, por ser homosexual e por ser negro. Foi pensando nesses fatos lamentáveis que elaboramos esse projeto de intervenção, justamente para que casos como esses não mais se repitam, e para que todos envolvidos no processo educacional percebam o quão violento pode ser nosso comportamento quando é baseado na intolerância, e no não respeito ao o outro. Demonstrar para os alunos como essa visão tida como natural faz parte de um processo histórico, e como tal é fruto de uma construção social. Sendo assim, o normal precisa ser problematizado, para ser entendido e pra que possamos desconstruí-lo. Junto a isso, apresentar outras formas de relações de ser, e de se colocar no mundo.

Buscamos aumentar a tolerância dos alunos, ao mostrar as diversidades de gêneros, argumentando como toda nossa concepção de mundo trata-se de uma construção social, não levando em conta somente o biológico. METODOLOGIA Como metodologia de construção deste trabalho, buscamos apoio na etnografia para poder descrever o percurso da intervenção de modo a mostrar como se deu a nossa observação participante. E utilizamos uma bibliografia voltada ao tema para podermos pensar e problematizar o mesmo. Quanto à metodologia de execução da atividade, contamos com aulas ministradas antes do evento: Semana Olivina de Artes, cultura e conhecimento (SOACC), essas aulas foram ministradas pelo professor da disciplina e acompanhadas por nós bolsistas. As aulas tiveram como objetivo contextualizar o tema e colocar os alunos em contato com as questões referente ao tema gerador da intervenção. Além disso, tivemos ainda conversas com os alunos que tiveram interesse em participar da atividade realizada. A atividade contou com o apoio dos alunos para ornamentar a sala e apresentar a problemática da ação. Também, ocorreram algumas reuniões de planejamento e um debate sobre o tema com o coordenador do PIBID de sociologia na UFPB. RESULTADOS E DISCUSSÕES O capítulo denominado gênero e sexualidade, do livro Sociologia: sua bússola para um novo mundo, de Robert Brym faz a distinção do que seriam gênero e sexualidade, demonstrando que a sexualidade é um dado da natureza, biológico, enquanto o gênero é uma construção social. Uma vez que nós nascemos com o nosso sexo, mas o gênero trata-se de uma construção social tem começo quando as pessoas são inseridas na sociedade e passam por um mecanismo chamado de processo de socialização. É nesse momento em que as crianças compreendem o que é um comportamento típico de homem ou mulher, isto é, as pessoas não nascem homens e mulheres, mas eles irão se tornar homens e mulheres. Essas características de gênero se evidenciam como a família trata os/as filhos/as, os professores tratam os alunos e da maneira como mídia retratam as imagens e ideais de corpo. O problema ocorre quando a definição desses papéis sociais são formados com o intuído de justificar e reproduzir a desigualdade de gênero.

Após todo esse planejamento e preparo, chegou o dia de apresentar o nosso trabalho em uma quarta-feira pela manhã. Dessa forma, nos dirigimos à escola para apresentar toda discussão científica sobre o tema e elucidá-los sobre o que é a diferença de gênero e sexualidade e como se construiu a desigualdade entre o gênero na sociedade. Entretanto para nossa surpresa, o tema sofreu resistência na escola, inclusive, questionado a sua legitimidade da presença desse debate na escola. A resistência surgiu principalmente por pessoas que não tinha nenhum vínculo com a escola, mas grupos organizados de vertentes religiosas conservadores que tinha como referência um grupo político denominado EscolaSemPartido, que veio censurar a existência desse debate na escola com argumento de que estávamos promovendo ideologia de gênero e que isso não é legalmente permitido na escola, pois os pais tem o direito de decidir o que os seus filhos devem aprender ou não na escola. Embora nós não buscássemos manipular a cabeça das crianças como relata esse grupo, mas de conscientizar e familiarizar os alunos sobre gênero e sexualidade, além de que os alunos se identificavam com o tema e procuraram a área que sentia mais familiarizado, não era uma atividade forçada, mas voluntária, mesmo com os alunos ganhando um 10,0 (dez) em cada disciplina pela participação. Realizamos uma exposição de brinquedos tipicamente associados às meninas e meninos. Neste momento, por exemplo, colocamos uma boneca na mesa de apresentação dos meninos. Os meninos presentes começaram a perguntar o porquê de fazermos isso, e também demonstraram suas ideias de como boneca era coisa de menina. Através disso, explicamos aos alunos que a ideia de brinquedos de menina ou de menino tratava-se também de uma construção social, que crianças não precisam escolher entre brincar de boneca ou de bola, e que não passava de uma ideia machista imposta pela sociedade. Havendo então uma raiva desnecessária de um minúsculo grupo que foram até a feira para atrapalhar o projeto, projeto esse que serve de conscientização no assunto de gênero. Não quiseram aceitar ou entender o que estava acontecendo, caso não tivesse um debate como este no âmbito escolar, a formação dos indivíduos seria cheia de intolerância. O mesmo grupo que queria acabar com o espaço reservado para o nosso projeto, de certa forma trouxe melhor conscientização sobre esse assunto, observamos então que os alunos pediram que o tema tivesse mais abordagem, como palestra, minicursos e aula.

Um aluno do 3º ano que também fez parte da SOACC no tema de história Soy Loco por Ti América que debate a América Latina, que tem dezoito anos e estuda na instituição há três anos, se sentiu constrangido e pediu que tivesse mais respeito com ele, uma vez que o aluno já foi rotulado por ser gay e negro, percebe que se não acontecesse esse tipo de intervenção a porcentagem de estudantes preconceituosos e racistas ia aumentar. O grupo conservador usou o discurso que debates sobre gênero influenciam as crianças do ensino médio, e que a escola não tem função de ensinar a identidade de gênero, entretanto no próprio livro didático escolhido pela escola, no capítulo catorze fala sobre a questão de como gênero tem que ser ensinado na escola. Um dos argumentos era de que nós estávamos doutrinando ideologia de gênero na escola, entretanto um argumento como este não se sustenta, já que em um debate como esse, não se leva em conta somente o assunto de identidade de gênero, mas discute também sobre o machismo. Então, se somos culpados por ensinar questões de gêneros, eles precisam analisar que cotidianamente os alunos são ensinados e influenciados sobre o machismo e heteronormatividade, logo seria injusto não discutir o outro lado da moeda. CONCLUSÃO Quando a definimos uma identidade de gênero como normal, fecha-se a aceitação para qualquer tipo de identidade de gênero que não seja essa a nossa escolhida. Definir uma identidade de gênero como única possível e aceitável é determinar um grupo como portador de poder e todos os demais como subservientes. A escola como instituição a serviço do estado define claramente qual a identidade de gênero é aceita e respeitada. Como podemos ver a seguir: Uma noção singular de gênero e sexualidade vem sustentando currículos e práticas de nossas escolas. Mesmo que se admita que existem muitas formas de viver os gêneros e a sexualidade, é consenso que a instituição escolar tem obrigação de nortear suas ações por um padrão: haveria apenas um modo adequado, legítimo, normal de masculinidade e feminilidade e uma única forma normal de sexualidade, a heterossexualidade; afastar-se desse padrão significa buscar o desvio, sair do centro, tornar-se excêntrico. (LOURO, 2003, p.45). Sendo assim, ser homem ou ser mulher implica diretamente na diferença de acesso a educação, a saúde, ao mercado de trabalho e a posição social que esses sujeitos terram na sociedade. Concluindo há uma necessidade de atividades como essas, e essa necessidade parte não só de nossas observações, mas também constitui uma demanda dos próprios alunos que afirmaram que

era preciso tocar nesses assuntos, e que seria bom mais eventos como esse, para chamar a atenção da realidade em que vivemos que João Pessoa é uma das cidades mais violentas. REFERÊNCIAS LOURO, Guacira Lopes. Currículo, gênero e sexualidade - O normal, o diferente e o excêntrico. In LOURO (Org) Gênero e Sexualidade: Um debate contemporâneo na educação - Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. CANÁRIO, Rui. O que é a Escola?: Um olhar sociológico. Porto Editora, 2005. FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 1987. Petrópolis, Vozes. BRYM, Robert. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomson Learning, 2006.