Auditoria de custo: análise comparativa das evidências de glosas em prontuário hospitalar*



Documentos relacionados
AUDITORIA EM ENFERMAGEM. UNIPAC UBERLÂNDIA CURSO GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DISCIPLINA: Administração ll Profa : Amanda Cristina de Oliveira Mendes

Benchmarking Resultados de Auditoria SUS e Convênio no Setor de Faturamento da Santa Casa de Votuporanga

PROCEDIMENTO GERENCIAL

TRANSFERÊNCIA DE PACIENTE INTERNA E EXTERNA

Portaria nº 339 de 08 de Maio de 2002.

II ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FAFIPA EIC ANÁLISE DAS ANOTAÇÕES DE ENFERMAGEM EM UMA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR PRIVADA DO MUNICÍPIO DE PARANAVAÍ

EMENTA: Auditoria Hospitalar Relação Contratual entre Hospitais e Operadoras de Saúde CONSULTA

Experiência: VIGILÂNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

CÓPIA NÃO CONTROLADA. DOCUMENTO CONTROLADO APENAS EM FORMATO ELETRÔNICO. PSQ PROCEDIMENTO DO SISTEMA DA QUALIDADE

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO PARECER COREN-SP GAB Nº 073/2011

OBJETIVO 2 APLICAÇÃO 3 ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES 4 DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA 5 TERMINOLOGIA 6 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO DE MUDANÇAS

Enf.ª Danielle Perdigão

ESPECÍFICO DE ENFERMAGEM PROF. CARLOS ALBERTO

Conceitos e definições da ANS (Agencia Nacional de Saúde)

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SANTA CATARINA

NORMAS DO ESTÁGIO CURRICULAR

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UECE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

CRIAÇÃO DA DISCIPLINA SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

R E S O L U Ç Ã O. Fica alterado o Regulamento de Estágio Supervisionado do Curso de Psicologia, do. São Paulo, 26 de abril de 2012.

Administração Central Unidade de Ensino Médio e Técnico - Cetec. Ensino Técnico

PR 2 PROCEDIMENTO. Auditoria Interna. Revisão - 2 Página: 1 de 9

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Cobrança de Procedimentos por pacote e diárias compactadas

Manual do Estagiário 2008

FPB FACULDADE INTERNACIONAL DA PARAÍBA SAE SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM MARTA CRECÊNCIO DA COSTA

Capítulo 8 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

PORTARIA CRN-3 nº 0112/2000

A AUDITORIA DE ENFERMAGEM E AS GLOSAS HOSPITALARES 1

Seminário: "TURISMO DE SAÚDE NO BRASIL: MERCADO EM ASCENSÃO"

O CUIDADO QUE FAZ A DIFERENÇA

Sistema de Gestão da Qualidade

Recrutamento e seleção

PROJETO DE APERFEIÇOAMENTO DO MODELO DE REMUNERAÇÃO DE SERVIÇOS HOSPITALARES

Case de Sucesso. Integrando CIOs, gerando conhecimento. FERRAMENTA DE BPM TORNA CONTROLE DE FLUXO HOSPITALAR MAIS EFICAZ NO HCFMUSP

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UECE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Orientações para elaboração de documentos utilizados no gerenciamento e assistência de enfermagem

Briefing Auditoria Médica ASSOCIAÇÃO EVANGÉLICA BENEFICENTE ESPÍRITO SANTENSE


Gestão de Qualidade. HCFMRP - USP Campus Universitário - Monte Alegre Ribeirão Preto SP Brasil

Dispõe sobre a implementação de estrutura de gerenciamento do risco operacional.

CICLO DE INOVAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA 14/07/2014. Infrahosp

RESOLUÇÃO CFP N 009/2000 DE 20 DE DEZEMBRO DE 2000

Política de Gerenciamento do Risco Operacional Banco Opportunity e Opportunity DTVM Março/2015

Normas de regulamentação para a certificação de. atualização profissional de títulos de especialista e certificados de área de atuação.

Palestra Informativa Sistema da Qualidade NBR ISO 9001:2000

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

ESPECÍFICO DE ENFERMAGEM PROF. CARLOS ALBERTO

PROCESSO DE TRABALHO GERENCIAL: ARTICULAÇÃO DA DIMENSÃO ASSISTENCIAL E GERENCIAL, ATRAVÉS DO INSTRUMENTO PROCESSO DE ENFERMAGEM.

MANUAL DE ORIENTAÇÃO PARA A REDE DE PRESTADORES GUIA DE CONSULTA

CHECK - LIST - ISO 9001:2000

Metas Internacionais de Segurança do paciente

1. Instituído pela Genzyme do Brasil, o Edital do PAPAP é regido pelo presente regulamento.

SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: A CRIAÇÃO DE UMA FERRAMENTA INFORMATIZADA.

AUDITORIA DE ENFERMAGEM UM ESTUDO NA ENFERMARIA PEDIÁTRICA SEIXAS, R. S. 1 ; VIANA, R. B. 2 ; SILVA, L. R. 3. Resumo

ESPECÍFICO DE ENFERMAGEM PROF. CARLOS ALBERTO

REGULAMENTO DOS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES LEGAIS

Aplica-se obrigatoriamente a todas as áreas que possuem empresas contratadas na Vale Fertilizantes.

GESTÃO ORÇAMENTÁRIA. João Milan Júnior Tel.:

INDICADORES E METAS A EXPERIÊNCIA DO CRER

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

PELOTAS /RS CARTILHA DE ORIENTAÇÕES

Carga Horária :144h (07/04 a 05/09/2014) 1. JUSTIFICATIVA: 2. OBJETIVO(S):

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA (EBA) DISCIPLINA: ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM I

GLOSAS HOSPITALARES RELACIONADAS AS NÃO CONFORMIDADES ENCONTRADAS NOS PRONTUÁRIOS

Identificação do Órgão/Unidade:Tribunal Superior Eleitoral/STI/COINF/SEPD Service Desk

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO

Introdução Visão Geral Processos de gerenciamento de qualidade. Entradas Ferramentas e Técnicas Saídas

Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências

RELATÓRIO TÉCNICO Competência Outubro a Dezembro /2014

MARATONA DO CONHECIMENTO TECNOLÓGICO DESCRITIVO TÉCNICO DA OCUPAÇÃO DE: GESTÃO HOSPITALAR

Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e dá outras providências

PARECER COREN-SP 006/2014 CT PRCI n /2013 Tickets nº e

POLÍTICA INSTITUCIONAL DE FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DA UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA

Organização dos Estados Ibero-americanos. Para a Educação, a Ciência e a Cultura TERMO DE REFERÊNCIA PARA CONTRATAÇÃO DE PESSOA FÍSICA

PARECER COREN-SP 056/2013 CT PRCI n Tickets nº

PROCEDIMENTO DE GESTÃO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO ESCOLA DE FARMÁCIA E ODONTOLOGIA DE ALFENAS CENTRO UNIVERSITÁRIO FEDERAL

INFORMATIZAÇÃO DOS LABORATÓRIOS DE ANÁLISES CLÍNICAS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE BELO HORIZONTE

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Edital do Concurso Público SOBRAGEN 2015

SGQ 22/10/2010. Sistema de Gestão da Qualidade. Gestão da Qualidade Qualquer atividade coordenada para dirigir e controlar uma organização para:

PREFEITURA MUNICIPAL DE PALMAS

REVISÃO VACINAS 15/02/2013

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Curso de Especialização em GESTÃO EM SAÚDE MENTAL

INSTRUÇÃO CVM Nº 539, DE 13 DE NOVEMBRO DE 2013

Critérios para certificação de Sites SciELO: critérios, política e procedimentos para a classificação e certificação dos sites da Rede SciELO

Manual de Competências do Estágio dos Acadêmicos de Enfermagem-Projeto de Extensão

Resumo das Interpretações Oficiais do TC 176 / ISO

PROCEDIMENTO OPERACIONAL

Manual de Implantação e Roteiro para Auditoria do Critérios para Auditoria SISTEMA DE GESTÃO DO PROGRAMA ATUAÇÃO RESPONSÁVEL

C.E.S.A.R Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife Regimento Interno do Mestrado Profissional em Engenharia de Software

Transcrição:

Rev Inst Ciênc Saúde 2008;26(4):403-8 Auditoria de custo: análise comparativa das evidências de glosas em prontuário hospitalar* Cost auditorship: comparative analysis of gloss evidence in hospital record Ana Paula de Godoi** Claudia da Silva Machado** Márcia Alencar Lins** Márcia Gomes da Cruz** Vânia Maria Batista** Beatriz Angelo Rosa*** Resumo Introdução A auditoria de custos atingiu um espaço fundamental nas instituições hospitalares, devido à competitividade do mercado e as exigências do cliente, sendo necessário à qualificação do serviço de saúde. A qualidade de assistência multidisciplinar e as divergências de informações encontradas nos prontuários, são pontos relevantes, como também perda financeira e diminuição da credibilidade dos serviços de saúde prestados pelas instituições. O objetivo deste estudo foi avaliar os indicadores mais freqüentes nas discussões hospitalares, através de uma avaliação dos prontuários hospitalares e das anotações de enfermagem, para diminuição destes índices de maneira global. Material e Métodos Trata-se de uma pesquisa descritiva, análise retrospectiva em prontuários hospitalares não auditados em uma instituição hospitalar filantrópica e credenciada com várias operadoras de saúde, no interior do Estado de São Paulo. Em relação à coleta de dados foram utilizados dois instrumentos, um para caracterização dos prontuários desenvolvido pelas próprias pesquisadoras e outro extraído da literatura científica para avaliação da qualidade das anotações de enfermagem. A coleta de dados foi realizada no mês de julho de 2007, totalizando uma amostra de 60 prontuários. Foi realizada uma análise descritiva para caracterização dos prontuários, das inconformidades em relação a anotações de enfermagem e uma análise comparativa. Resultados Os resultados demonstraram inconsistência, incoerência, entre prescrição, evolução clínica, anotação e checagem da enfermagem. Conclusões Torna-se evidente o papel do enfermeiro auditor, apontando as divergências e orientando o correto, traz subsídio para a educação continuada e promove um trabalho multidisciplinar efetivo. Palavras-chave: Custos hospitalares; Registros de enfermagem; Controle de formulários e registros; Auditoria de enfermagem Abstract Introduction The auditorship of costs has achieved a fundamental space at the hospital institutions, due to market competition and customers requirements, being therefore necessary to the qualification of health care service. The quality of multi-disciplinary assistance and the variances of information found on the records are relevant, as well as the financial loss and the worthiness decrease on health care services provided by institutions. This study aims to evaluate the most frequent indicators on hospital discussions, through the evaluation of hospital records and the nursing annotations for a general reduction of these rates. Material and Methods This paper is a descriptive research, retrospective analysis in hospital records not audited in a philanthropic hospital institution and accredited by several health care operators within the interior of the State of São Paulo. Concerning to the collection of data two instruments have been used, one for the characterization of the records designed by the proper research, and another draw out from the scientific literature to the assessment of the quality of nursing annotations. The collection of data was accomplished in July 2007, adding up a sample of sixty records in total. A descriptive analysis in view of the characterization of the records, the disagreement in relation to nursing annotation and a comparative analysis using were accomplished. Results The outcomes showed inconsistency, incoherence, little scientific use among the prescription and clinical evolution, annotation and nursing check, Conclusions It makes evident the part of the nurse auditor, indicates the variances and guide the correct way, brings subsidy for continued education and promotes an effective multidisciplinary job. Key words: Hospital costs; Nursing records, Forms and records control; Nursing audit * Trabalho de Conclusão do Curso de Enfermagem da Universidade Paulista (UNIP) - Campinas. ** Graduandos do 8º semestre da UNIP - Campinas. *** Professora Mestre do Curso de Enfermagem da UNIP Campinas. E-mail: enfermagemjundiai@unip.br

404 Introdução A auditoria no Brasil teve inicio nos anos 50 1-3. Considerada uma avaliação sistemática e formal é realizada sempre por um profissional capacitado não envolvido diretamente na execução do processo, têm a finalidade de analisar gastos, custos, desperdícios, além de garantir a qualidade do cuidado 2,4-5. Na área hospitalar, a auditoria e o profissional auditor se faz a cada dia mais necessário devido à própria exigência do mercado de trabalho, cada vez mais competitivo, exigindo maior capacitação profissional, custos mais baixos e maior qualidade de assistência 1-5. Neste aspecto a auditoria de enfermagem surge como um processo necessário dentro da filosofia da gestão da qualidade total. Promovendo o controle permanente de todos os passos do processo de atenção ao usuário incluindo a introdução de ações corretivas, mediante a educação da equipe multidisciplinar para a melhora do atendimento 9. As avaliações são realizadas através do prontuário que é um documento legal do cliente, sendo de responsabilidade técnica do médico e da instituição contendo informações pertinentes a procedimentos, condutas médicas e de enfermagem, realizados durante a internação desde sua admissão até a alta hospitalar 1,7. Os cuidados de enfermagem podem ser avaliados através de registros contidos nas anotações de enfermagem onde deve conter dados claros, concisos, checagem de medicações e procedimentos realizados com identificação do executor com nome e número do registro no COREN 2,4-6. Através da anotação pode-se avaliar a qualidade da assistência e garantir respaldo legal ao profissional em questão 11. Os registros de enfermagem completos consistem em um dos mais importantes indicadores de qualidade, sendo o enfermeiro agente determinante, levando a equipe multidisciplinar a constituir alicerces para a qualidade nas anotações de enfermagem 8-12. Estudos internacionais demonstram que os registros como parte do processo de enfermagem, tem função prioritária junto ao cuidado do paciente e atua como indicador da qualidade do cuidado de enfermagem no contexto da saúde 9-10,15-16. A auditoria de cuidados avalia a qualidade da assistência de enfermagem, utilizando as anotações no prontuário do cliente ou de suas próprias condições, além de mensurar o grau de satisfação 2. A auditoria de custos avalia e confere o faturamento enviado para as operadoras de saúde, confrontando informações recebidas com as que constam no prontuário do cliente, investiga os registros de materiais e medicamentos utilizados pela equipe médica e de enfermagem 5-6. As modalidades de auditoria são baseadas nas seguintes definições: Auditoria retrospectiva é realizada após o usuário receber os cuidados prestados 1-2,8,10. Auditoria simultânea é realizada enquanto o cliente recebe os cuidados, confrontando prescrição médica com procedimentos realizados pela equipe de enfermagem 1,3,10. Auditoria prospectiva tenta identificar a maneira como as atuais intervenções afetarão o desempenho futuro 1-3,6,10. O enfermeiro auditor vem assumindo importante papel frente aos negócios de uma empresa hospitalar. Tem por atribuição fornecer relatórios gerenciais informando, a eficiência e a efetividade do uso dos recursos disponíveis, em relação à assistência prestada, se os resultados estão em conformidades com as disposições planejadas, com a legislação vigente, por meio de um exame analítico e de uma verificação operacional 11. Cabe ressaltar com base nos aspectos da lei Resolução-COFEN Nº 266/2001 que o enfermeiro auditor deverá dominar a legislação vigente, atuar com concordância, agindo dentro dos princípios éticos e legais, conhecendo os contratos entre operadoras e prestadoras de serviço e mantendo-se atualizado com o conteúdo da conta hospitalar 1,3. A auditoria de enfermagem vai ao encontro da necessidade dos hospitais em aumentar suas receitas e das operadoras em diminuir seus custos com o objetivo de organizar, diagnosticar, mensurar e controlar 1. Implantação do Serviço de Auditoria Para implantação do serviço de auditoria dentro de uma instituição hospitalar é necessário que se elabore uma coleta de dados e trace o perfil da instituição, subsidiando e analisando de forma quantitativa e qualitativa 3. O processo de implantação da auditoria deverá iniciarse como um projeto piloto, optando-se por um departamento específico e elaborando protocolos para que os profissionais compreendam o processo 2. Um processo de auditoria bem implantado e conduzido propicia benefícios à instituição com profissionais altamente capacitados e excelência em qualidade de atendimento 3. A análise desta realidade à luz da literatura científica se faz necessária, devido à importância e abrangência da função do enfermeiro auditor. Este estudo realizou uma análise documental em prontuário hospitalar, a fim de traçar um perfil destes, identificando as inconformidades, principalmente ligadas às anotações de enfermagem, passíveis da atuação do enfermeiro auditor. O objetivo do trabalho foi identificar os indicadores responsáveis pelo maior número de glosas relacionadas às anotações de enfermagem bem como destacar o papel do enfermeiro na elaboração de uma intervenção efetiva na diminuição destes índices de maneira global. Material e Métodos Trata-se de abordagem quantitativa, um estudo descritivo, exploratório. Uma pesquisa de campo com coleta de dados em prontuários, através do qual procurou analisar as inconformidades no prontuário hospitalar 13-14. Este estudo foi desenvolvido no setor de Faturamento de uma Instituição de saúde filantrópica de médio porte

405 localizada no município de Vinhedo, composta de 92 leitos, sendo que 60% dos atendimentos são destinados ao SUS e os restantes estão divididos entre os demais convênios, 31 tipos, atuando em diversas especialidades. A amostra deste estudo foi composta pela totalidade de 60 prontuários, que estavam no faturamento durante o período estipulado para a coleta de dados, julho de 2007. Conforme os pacientes receberam alta hospitalar, os prontuários foram encaminhados ao faturamento obedecendo a seqüência de internação nas unidades. O presente estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNIP, por estar de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo Seres Humanos conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e pelo Comitê de Ética do município conforme protocolo. Foram utilizados dois instrumentos para coleta de dados, sendo que o primeiro desenvolvido pelos pesquisadores para caracterização e identificação dos prontuários. O segundo extraído da literatura para avaliação das anotações de enfermagem 12. 1º Instrumento: Instrumento de identificação e avaliação dos prontuários Contendo dados sobre: identificação do cliente, número do prontuário, tipo de convênio, unidade de origem do prontuário, tempo de internação, tipo de tratamento, especialidade, categoria do executor, forma do registro e identificação do executor da atividade, da checagem, anotação, evolução, outras identificações e unidade de origem da glosa. 2 º Instrumento: Formulário para coleta de dados relativos a anotação de enfermagem no prontuário do paciente Instrumento adaptado por Labbadia contendo: horário de admissão, motivo de internação, condições gerais do paciente, medicações em uso, controle dos sinais vitais, classificação dos registros quanto à forma, estado físico, mental, higiene corporal, aceitação da dieta, eliminações, lesões, cateteres/drenos, sinais/sintomas, procedimento de enfermagem/outros profissionais, exames/tratamentos realizados, orientações dadas ao paciente/familiar/ acompanhante, controles, medicamentos, alta hospitalar, óbito. A coleta de dados foi realizada por meio da técnica de análise documental em prontuários de pacientes, baseada em critérios e padrões de registro do Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar sobre registros de enfermagem e literatura relativa ao tema com tratamento estátistico 17. Resultados Os resultados a seguir mostram os indicadores responsáveis pelo maior número de glosas relacionadas às anotações de enfermagem, sendo assim, é possível destacar o papel do enfermeiro na elaboração de uma intervenção efetiva na diminuição destes índices. As Tabelas 1, 2 e 3 apresentam os resultados referidos às anotações da enfermagem específicamente e os Gráficos 1 e 2 a avaliação dos prontuários no que se refere a caracterização dos sujeitos. Tabela 1. Dados relativos aos registros de enfermagem nos prontuários, referente à admissão do paciente setor de faturamento de uma instituição filantrópica no município de Vinhedo (n = 60). Vinhedo, 2007 Horário da admissão Nº % Não 06 10,0% Sim 54 90,0% Motivo da internação Nº % Não 11 18,3% Sim 49 81,7% Condições gerais do paciente Nº % Não 7 11,7% Incompleto 19 31,7% Completo 34 56,7% Medicações em uso (1º dia) Nº % Não 05 8,3% Incompleto 11 18,3% Completo 44 73,3% Controle de SSVV (1º dia) Nº Não 01 1,7% Incompleto 08 13,3% Completo 51 85,0% Identificação da executora da atividade (1º dia) Nº % Não 03 5,0% Incompleto 25 41,7% Completo 32 53,3% Classificação dos registros quanto à forma (1º dia) Nº % Inadequado 01 1,7% Parcialmente adequado 29 48,3% Adequado 30 50,0% A Tabela 1 mostra os resultados referentes aos registros no prontuário no primeiro dia de internação, onde 90,0% dos prontuários constavam o item horário de admissão, o item motivo da internação estava presente em 81,7% e em relação ao item condições gerais dos pacientes 56,7% apresentavam preenchimento completo e 31,7% incompleto. Em relação ao item medicação em uso no primeiro dia 73,3% estavam completos. Quanto ao item sinais vitais 85,0% foram preenchidos de forma completa no prontuário, o item identificação 53,3% completo e 41,7% incompleto. Quanto ao item classificação dos registros 50,0% adequados e 48,3% parcialmente adequado. A Tabela 2 descreve os registros de enfermagem no segundo dia de internação: o item estado físico apresentou uma freqüência de 45,0% da amostra parcialmente adequada. Já o item estado mental obteve uma freqüência de 16,7% parcialmente adequado, sendo 51,7% completo, ou citado no prontuário. Com relação ao item higiene corporal verificou-se que 33,3% estava completo, 21,7% estava parcialmente adequado, 13,3% incompleto e 8,3% não continha informação sobre este dado. Quanto ao item aceitação da dieta 46,7% obtiveram resultados completos, porém 20,0% eram parcialmente adequados e 5,0% não apresentavam tais anotações ou eram incompletas.

406 Tabela 2. Dados relativos aos registros de enfermagem nos prontuários referente ao segundo dia de internação setor de faturamento de uma instituição filantrópica no município de Vinhedo (n = 60). Vinhedo, 2007 Controle de sinais vitais (PA,P e T) (Controle) Nº % Não 12 20,0% Incompleto 11 18,3% Completo 36 60,0% Outros controles (sondas, débitos) Nº % Não 01 1,7% Incompleto 36 60,0% Completo 20 33,3% Total 57 95,0% Não se aplica 03 5,0% Horário checados/circulados Nº % Incompleto 26 43,3% Completo 34 56,7% Horários circulados com justificativa Nº % Não 30 50,0% Sim 11 18,3% Total 41 68,3% Não se aplica 19 31,7% Horário da alta (Saída - Alta) Nº % Não 17 28,3% Sim 42 70,0% Condições de saída (Saída Alta) Nº % Não 25 41,7% Incompleto 21 35,0% Completo 13 21,7% Orientações dadas ao paciente/familiar Nº % Não 46 76,7% Incompleto 10 16,7% Completo 03 5,0% Identificação da executora da atividade Nº % Não 04 6,7% Incompleto 33 55,0% Completo 22 36,7% Classificação dos registros quanto à forma Nº % Inadequado 04 6,7% Parcialmente adequado 32 53,3% Completo 22 36,7% Total 58 96,7% Não se aplica 02 3,3% Horário do óbito Nº % Não 59 98,3% Sim 01 1,7% Condutas adotadas Nº % Não 59 98,3% Completo 01 1,7% Identificação da executora da atividade Nº % Não 59 98,3% Completo 01 1,7% Classificação dos registros quanto à forma Nº % Adequado 01 1,7% Não se aplica 59 98,3% Considerando o item eliminações no segundo dia de internação, obteve um percentual de 41,7% sendo parcialmente adequado, e referente ao item lesões 11,7% também eram parcialmente adequadas. Em relação ao item cateteres e drenos 40,0% eram parcialmente adequados. Já os itens sinais e sintomas, procedimentos de enfermagem outros profissionais, exames e tratamentos realizados foram parcialmente adequados, e a freqüência foi respectivamente 45,0%, 50,0%, 36,7%. É importante destacar que em relação ao item de orientações dadas ao paciente, familiar e/ou acompanhante 58,3% não possuíam tal informação. No segundo dia de internação também foram avaliados as anotações quanto ao item identificação do executor da atividade onde pode-se concluir que 50,0% eram inadequados e o item forma de registro, 36,7% eram parcialmente adequados e 38,3% eram adequados. A Tabela 3 apresenta os resultados para o item faltando um ou dois dados sobre a categoria profissional e Nº COREN e Rubrica apresentou um percentual de 78,3% 68,40% foi proveniente da enfermagem, 40,4% médica e 2,1% da recepção, por outro lado, o item nome categoria profissional e Nº COREN e Rubrica completo apresentou um percentual de 21,7% sendo 100% da enfermagem e 38,5% médica. Com relação aos itens checagem foram parcialmente adequados 80,6% da enfermagem, anotação que foi de 74,5% da enfermagem e 40,4% médica, e evolução inadequados com 86,5% da enfermagem e 43,2% médica. Discussão Quanto aos Gráficos 1 e 2 observa-se que a maioria dos prontuários deu origem à enfermaria coletiva 72,10%, a especialidade onde obteve maior freqüência foram Ginecologia e Obstetrícia entre outras com percentual entre 20,0% e 51,6% no qual o profissional que mais executou a atividade no prontuário foi o enfermeiro com 100% de preenchimento e médico com 98,3%. No entanto houve uma variância entre setores como a maternidade que obteve maior divergência médica e outros setores como Enfermaria Coletiva e Enfermaria Apartamento onde o maior índice de divergência foi de origem da enfermagem. Segundo autores pode-se considerar que a enfermagem é o profissional que passa o maior tempo com os pacientes e conseqüentemente manuseiam com maior freqüência o prontuário, ressaltando novamente a importância da anotação de enfermagem 2-4. Na Tabela 2 no que se refere à anotação de enfermagem itens como condições gerais, medicações em uso, estado físico, mental, higiene corporal, ou melhor, todos os itens do segundo dia de internação, podem ser considerados como incompletos e inconsistentes, pois apresentaram preenchimento parcialmente adequado, destacando-se o item de orientações dadas ao paciente, familiar e/ou acompanhante, que obteve um escore de 58,3% de não preenchimento durante a internação hospitalar. Na Tabela 3 verificou-se que 60 (100%) dos prontuários obtiveram uma freqüência de a opção de faltando 1 ou 2 dados sobre a

407 Tabela 3. Coeficiente de correlação entre os profissionais que executaram a atividade e preenchimento de todos os itens que devem conter num prontuário hospitalar, analisados em uma instituição filantrópica de médio porte localizada no município de Vinhedo. Vinhedo, 2007 Identificação do Executor Médico Enfermagem Recepção Nome Completo Categoria profissional e Nº COREN ou Rubrica 13 38,50% 100% 7,70% Faltando 1 ou 2 dados referidos acima 47 40,40% 68,10% 2,10% Identificação da checagem Médico Enfermagem Recepção Adequado 22 40,90% 63,60% 9,10% Parcialmente adequado 36 41,70% 80,60% 0% Inadequado 02 0% 100% 0% Identificação da anotação Médico Enfermagem Recepção Adequado 13 38,50% 76,9 0 Parcialmente adequado 47 40,40% 74,5 4,30% Identificação da evolução Médico Enfermagem Recepção Adequado 02 50,00% 0% 0% Parcialmente adequado 21 33,30% 61,90% 0% Inadequado 37 43,20% 86,50% 5,40% Outras identificações Médico Enfermagem Recepção Adequado 27 33,30% 74,10% 7,40% Parcialmente adequado 28 42,90% 71,40% 0% Inadequado 05 60,00% 100,00% 0% Unidade de origem de prontuário Especialidade 100% 80% 100% 100% 100% 72,10% 100% 80% 66,70% 83,30% 80,60% 60% 40% 20% 0% 3 Maternidade Médico 33,30% 33,30% 0% 0% 0% 0% 0% 6 Pronto Socorro Enfermagem 1 UTI 37,20% 43 7 Enfermaria Enfermaria Coletivo Apto. Recepção 42,90% 2,30% 14,30% 60% 40% 20% 0% 25% 50% 50% 4 Cardiologia Médico 44,40% 50% 16,70% 16,70% 0% 0% 0% 0% 0% 4 Urologia Enfermagem 9 Ortopedia 12 Ginecologia/ Obstetrícia Recepção 9 Outros Gráfico 1. Coeficiente de correlação entre a unidade de origem dos prontuários e profissional que obteve maior indicador de divergência categoria profissional e Nº COREN e Rubrica, sendo 68,10% proveniente da enfermagem, com relação a checagem foram parcialmente adequado 80,6% da enfermagem, a anotação foi de 74,5% de enfermagem e 40,4% médica, sendo importante ressaltar quanto a evolução inadequado com 86,5% de enfermagem e 43,2% médica. Nas Tabelas 1 e 2 é importante destacar que quanto à forma de registro tanto no primeiro quanto no segundo dia de internação variando de 48,3% (29/60) e 53,3% (32/60) foram preenchidos de forma a ser de difícil compreensão, ou melhor, a anotação de enfermagem obtiveram letras ilegíveis, com ausência de alguns itens no preenchimento, confrontando-os com a checagem de Gráfico 2. Coeficiente de correlação entre as especialidades e executor do indicador divergências medicação e de procedimentos, mesmo quando comparados com os registros médicos. Conclusões Os dados obtidos no presente estudo possibilitam as seguintes conclusões: Os indicadores responsáveis pelo maior número de glosas relacionadas às anotações de enfermagem foram identificados e o papel do enfermeiro destacado. Observa-se que não houve conformidade entre o conteúdo das prescrições médicas com os procedimentos executados durante o período hospitalar.

408 As anotações de enfermagem apresentaram dados inconcisos e incompletos, destacando um alto índice de falta de orientação ao paciente e à família quanto a terapêutica e alta hospitalar. Observa-se que a grafia estava ilegível na maior parte dos prontuários, e os dados além de incompletos não continham a identificação do executor da atividade. No que se refere aos indicadores de glosas, os dados sobre identificação de checagem, identificação de evolução e identificação do executor da atividade, foram os indicadores de maior índice de divergência. Os prontuários avaliados através de análise de coleta de dados identificaram os profissionais da enfermagem como a categoria de maior índice de divergência na instituição hospitalar. Observa-se que o papel do enfermeiro auditor é fundamental para uma educação efetiva e integral junto à equipe multidisciplinar. Referências 1. Brevidelli MM, Domenico EBDL. Trabalho de conclusão de curso Guia prático para docentes e alunos da área da saúde. São Paulo: Iátria; 2006. 2. Buzatti CV, Chianca TC. Auditoria em enfermagem: erros e custos envolvidos nas anotações. Rev Nursing. 2005;90(8):518-22. 3. Cianciarullo TI. C&Q: teoria e prática em auditoria de cuidados. São Paulo: Icone; 1997. 4. Felix D. Critérios para avaliação da qualidade da assistência de enfermagem por meio das anotações em prontuários. [Tese de Doutorado]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade São Francisco, Bragança Paulista; 2006. 5. Fonseca AS, Yamanaka NMA, Barison THAS, Luz SF. Auditoria e o uso de indicadores assistênciais: uma relação mais que necessária para a gestão assistencial na atividade hospitalar. Mundo Saúde (1995). 2005;29 (2):161-9. 6. Francisco IMF, Castilho V. O ensino de custos nas escolas de graduação em enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(3):317-25. 7. Galante CA. Auditoria hospitalar do serviço de enfermagem. Goiânia: AB; 2005. 8. Huston JC, Marques LB. Administração e liderança em enfermagem: teoria e prática. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2002. 9. Idvall E, Rooke L, Hamrin E. Quality indicators in clinical nursing: a review of the literature.j Adv Nurs. 1997;25(1):6-17. 10. Johansson P, Oléni M, Fridlund B. Patient satisfaction with nursing care in the context of health care: a literature study. Scand J Caring Sci 2002; 16(4):337-44. 11. Kobus LSG, Dias JS. Dados essenciais para auditoria de contas médicas hospitalares: experiência em Curitiba. Rev Esc Enferm USP. 2004; 38(3):317-25. 12. Labbadia LL, Adami NP. Avaliação das anotações de enfermagem. In: Brevidelli MM, Domenico EBDL. Trabalho de conclusão de curso Guia prático para docentes e alunos da área da saúde. São Paulo : Iátria; 2006. 13. Lobiondo-Wood G, Haber J. Pesquisa em Enfermagem. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. p.110-21. 14. Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em Enfermagem. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. p.200-19. 15. Riolino AN, Kliukas GBV. Relato de experiência de enfermeiras no campo de auditoria de prontuário: uma ação inovadora. Rev Nursing. 2003;65(6):35-8. 16. Rodrigues VA, Perroca MG, Jericó MC. Glosas hospitalares: importância das anotações de enfermagem. Arq Ciênc Saúde. 2004;11(4):210-4. 17. Souza RR, Beltrame A. Manual brasileiro de acreditação hospitalar. Brasília; 2002 [acesso 18 mar 2007]. Disponível em http://www.fiocruz. br/biosseguranca/bis/manuais/02_0060_m.pdf Recebido em 23/1/2008 Aceito em 24/3/2008