Mecânica Lagrangeana

Documentos relacionados
MESTRADO INTEGRADO EM ENG. INFORMÁTICA E COMPUTAÇÃO 2015/2016

Resposta: (A) o traço é positivo (B) o determinante é negativo (C) o determinante é nulo (D) o traço é negativo (E) o traço é nulo.

x + x x 3 + (a + x) x = 0

Física I 2010/2011. Aula 16. Momento de uma Força e Momento Angular

LISTA DE EXERCÍCIOS 1

Energia potencial (para um campo de forças conservativo).

Série IV - Momento Angular (Resoluções Sucintas)

Mecânica Analítica. Dinâmica Hamiltoniana. Licenciatura em Física. Prof. Nelson Luiz Reyes Marques MECÂNICA ANALÍTICA PARTE 2

Física Geral I. 1º semestre /05. Nas primeiras seis perguntas de escolha múltipla indique apenas uma das opções

Apresentação Outras Coordenadas... 39

Mecânica Analítica. O Princípio de Hamilton. J. Seixas. Mecânica Analítica (Módulo 1)

Física Geral I. 1º semestre /05. Nas primeiras seis perguntas de escolha múltipla, indique apenas uma das opções. R 1 R 2

Mecânica Clássica I 2011/2012

MESTRADO INTEGRADO EM ENG. INFORMÁTICA E COMPUTAÇÃO 2015/2016

Segunda Prova de Física I, Turma MAA+MAI 8h-10h, 30 de novembro de 2011

Mecânica 2007/ ª Série. 1. Discuta o trabalho realizado por um lançador de baseball quando atira uma bola.

Parte 2 - P2 de Física I NOME: DRE Teste 0. Assinatura:

Licenciatura em Engenharia Civil MECÂNICA II

Condições especiais de Acesso e Ingresso ao Ensino Superior

y m Antes Depois NOME: DRE Teste 1 Parte 2 - P2 de Física I

12. o ano - Física

MOVIMENTO 3D: REFERENCIAL EM TRANSLAÇÃO

Problemas sobre osciladores simples

FEP Física Geral e Experimental para Engenharia I

CAPÍTULO 3 DINÂMICA DA PARTÍCULA: TRABALHO E ENERGIA

ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Cinemática de Mecanismos

Mecânica I (FIS-14) Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Pelá Sala 2602A-1 Ramal 5785

UNIDADE 15 OSCILAÇÕES

Mecânica e Ondas 1º Ano -2º Semestre 2º Teste/1º Exame 05/06/ :00h. Mestrado Integrado em Engenharia Aeroespacial

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

Lista 14: Oscilações. Questões

em que é a constante de gravitação universal, é a massa da Terra e é a distância do satélite ao centro do Terra.

Exame de Seleção. Doutorado em Física. 2º Semestre de ª Prova 12/06/2018. Mecânica Clássica e Mecânica Quântica

MATEMÁTICA 1ª QUESTÃO. O valor do número real que satisfaz a equação =5 é. A) ln5. B) 3 ln5. C) 3+ln5. D) ln5 3. E) ln5 2ª QUESTÃO

UNIFEI - UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

MOVIMENTO 3D REFERENCIAL AUXILIAR EM TRANSLAÇÃO. QUESTÃO ver vídeo 1.1

Movimento periódico é um movimento que um objecto repete com regularidade. O objecto regressa à posição inicial depois de um intervalo de tempo.

Importante: i. Nas cinco páginas seguintes contém problemas para se resolver e entregar. ii. Ler os enunciados com atenção.

Gabarito. (a)[0,3] (b)[1,0] Pela segunda lei de Newton teremos que. m~a = ~ F R = ~ F + ~ P + ~ f + ~ N.

Equação de Schrödinger

UC: STC 6 Núcleo Gerador: URBANISMO E MOBILIDADES Tema: Construção e Arquitectura Domínio de Ref.ª:RA1 Área: Ciência

a) (2 valores) Mostre que o módulo da velocidade de um satélite numa órbita circular em torno da Terra é dado por:

MECÂNICA GERAL Apostila 3 : Rotação do Corpo Rígido. Professor Renan

3. Considere as duas diferentes situações em que uma mala está suspensa por dois dinamómetros como representado na Fig.1.

Mecânica e Ondas 1º Ano -2º Semestre 2º Teste/1º Exame 21/06/ :30h. Mestrado Integrado em Engenharia Aeroespacial

Corpos Rígidos CORPOS RÍGIDOS. Mecânica II (FIS-26) Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Pelá IEFF-ITA. 5 de março de R.R.Pelá

Cada questão objetiva vale 0,7 ponto

Mecânica I. Corpo rígido

Instituto Politécnico de Tomar Escola Superior de Tecnologia de Tomar ÁREA INTERDEPARTAMENTAL DE FÍSICA

Exame de Época Especial de Mecânica Aplicada II

Física I 2010/2011. Aula 13 Rotação I

3. Mecânica de Newton

FEP Física Geral e Experimental para Engenharia I

Parte 2 - P2 de Física I NOME: DRE Teste 1

Universidade Federal Rural do Semi Árido UFERSA Pro Reitoria de Graduação PROGRAD Disciplina: Física II Professora: Subênia Medeiros

Notas de aula resumo de mecânica. Prof. Robinson RESUMO DE MECÂNICA

Múltipla escolha [0,5 cada]:

Desenvolvimento de um modelo de ensino da Física

Dinâmica. Prof.ª Betty Carvalho Rocha Gonçalves do Prado

Física 1 - EMB5034. Prof. Diego Duarte Rolamento, torque e momento angular (lista 15) 24 de novembro de 2017

m R 45o vertical Segunda Chamada de Física I Assinatura:

Física I para a Escola Politécnica ( ) - SUB (03/07/2015) [0000]

Mecânica Geral 2016/17

Instituto de Física - UFRJ Física I - Segunda Chamada - 2/03/2016. (c) 12gL/7 (d) 12gL/11 (e) 24gL/7. Parte 1 - Múltipla escolha - 0,6 cada

Da Física Clássica à Física Moderna

2 Energia em movimentos

Parte 2 - P2 de Física I Nota Q Nota Q2 Nota Q3 NOME: DRE Teste 1

Física 1. Resumo e Exercícios P1

Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Pelá. 12 de março de 2013

CAOS E ORDEM CONTROLO DE UM PÊNDULO INVERTIDO

Aula 3 Escalares e Vetores

Exercício 1. Exercício 2.

1 o Ano - 1 o Semestre de 2018/2019 Trabalhos Finais (03/12/2018)

8. Mecânica lagrangiana

1) O vetor posição de uma partícula que se move no plano XZ e dado por: r = (2t 3 + t 2 )i + 3t 2 k

2. Em um sistema massa-mola temos k = 300 N/m, m = 2 kg, A = 5 cm. Calcule ω, T, f, E (12,25 rad/s; 0,51 s; 1,95 Hz; 0,38 J).

Física I VS 18/07/2015

MESTRADO INTEGRADO EM ENG. INFORMÁTICA E COMPUTAÇÃO 2014/2015

FIS-14 Lista-01 Novembro/2017

QUESTÕES DE MÚLTIPLA-ESCOLHA (1-5)

MESTRADO INTEGRADO EM ENG. INFORMÁTICA E COMPUTAÇÃO 2016/2017

FEP Física para Engenharia II

Problemas de Duas Partículas

Lista 12: Oscilações NOME:

Grandezas Escalares e Vetoriais

DINÂMICA DE CONTATO: O PÊNDULO COM RESTRIÇÕES AO MOVIMENTO

O Movimento Harmônico Simples

Física I Prova 2 20/02/2016

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS. Departamento de Matemática e Física Coordenador da Área de Física

Capítulo II Relatividade Newtoniana

Física I 2010/2011. Aula 07. Trabalho e Energia Potencial

USANDO O MODELLUS. Aula 3

Física para Zootecnia

1. Movimento Harmônico Simples

9ª Série de Problemas Mecânica e Relatividade MEFT

FIS 26. Mecânica II. Aula 2: Corpo rígido - cinemática. Exercícios.

Lista de Exercícios - OSCILAÇÕES

Transcrição:

Mecânica agrangeana Apontamentos para a disciplina Introdução à Mecânica Clássica 00/0 Maria Inês Barbosa de Carvalho Aníbal Castilho Coimbra de Matos icenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

O formalismo lagrangeano permite obter as equações de movimento de um sistema de um modo elegante e sistemático. Contrariamente aos métodos baseados nas leis de Newton, este formalismo não exige a identificação das forças envolvidas, o que torna a análise mais abstracta. Contudo, é assim possível simplificar o tratamento de sistemas de maior complexidade, especialmente quando não é relevante a determinação das forças associadas às restrições ao movimento das suas partículas. Estas notas constituem uma breve introdução à Mecânica agrangena. O seu conteúdo está de acordo com os sistemas físicos estudados no âmbito desta disciplina. Coordenadas generalizadas A posição de uma partícula fica definida pelo seu raio vector de posição r G, cujas componentes são as suas coordenadas cartesianas x, y, e z. Para especificar completamente a posição de um sistema de N partículas, serão necessários N raios vectores de posição, ou seja, 3N coordenadas. No entanto, é possível conhecer a posição de determinados sistemas a partir de um número de variáveis inferior a 3N. Designa-se por número de graus de liberdade a quantidade de variáveis independentes que é necessário especificar para conhecer completamente a posição de um dado sistema. Se uma partícula for obrigada a mover-se sobre uma superfície conhecida (por exemplo, sobre a superfície de uma esfera, ou sobre o plano xy), bastarão parâmetros para definir completamente a sua posição no espaço. Caso a partícula se desloque ao longo de uma linha conhecida, a sua posição ficará especificada a partir de uma única variável. m m Movimento sobre uma superfície Movimento ao longo de uma curva

As posições no espaço de todas as partículas de um corpo rígido ficam completamente definidas pela posição de um ponto do corpo (por exemplo, o seu centro de massa) e pela orientação do corpo, isto é, por apenas variáveis. x' z' z y' x y Posição de um sólido no espaço Para definir completamente a posição de um sistema com s graus de liberdade são necessárias s variáveis independentes. Essas variáveis são designadas coordenadas generalizadas. A escolha das coordenadas generalizadas de um dado sistema não é única, o que permite seleccioná-las de modo a simplificar o tratamento matemático do problema. A selecção das coordenadas generalizadas é conhecida como parametrização do problema. Exemplo A mola da figura, colocada no interior de uma calha, está suspensa pela sua extremidade superior. Na outra extremidade encontra-se uma barra homogénea muito fina que pode oscilar em torno desse ponto, no plano da figura. h k, l o g G A,M 3

Parametrização Da observação da figura pode concluir-se que o ponto A apenas se movimenta na vertical, e que a localização da barra fica definida pela sua orientação no plano e pela posição do ponto A. Assim, será natural escolher a distância do ponto A à plataforma (h) e o ângulo da barra com a vertical () para coordenadas generalizadas deste sistema. No que se segue, as coordenadas generalizadas de um sistema com s graus de liberdade serão representadas por q, q,..., q, ou de forma compacta por q. s É importante referir que deve ser usado um referencial inercial para a definição das coordenadas generalizadas. agrangeana de um sistema de partículas Na formulação da mecânica lagrangeana, cada sistema mecânico é caracterizado por uma determinada função. No caso geral, esta função depende das coordenadas generalizadas (q), das suas derivadas temporais (q ) e também do tempo (t). Esta função designa-se lagrangeana do sistema, sendo representada habitualmente por (,q ) q,t. A langrangeana pode ser escrita na forma = T U onde T é a soma das energias cinéticas das partículas do sistema e U é a sua energia potencial, onde se incluem os efeitos de todas as forças conservativas.

agrangeana A energia cinética do sistema, T, está apenas associada ao movimento da barra. Tratando-se de um corpo rígido, esta pode ser decomposta em energia cinética de translação e de rotação. A energia cinética de translação é dada por T TRA, = M v, onde v é a velocidade do centro de massa da barra. Esta velocidade pode ser facilmente determinada a partir da posição do centro de massa. Em termos das coordenadas generalizadas (h e ), esta posição é G r = h + cos iˆ + sin ˆj, onde î e ĵ são os versores dos eixos x e y representados na figura. y h A Então, G v x rg h = = sin iˆ + cos ˆj, obtendo-se facilmente v = h hsin + e =, T M h hsin + A energia cinética de rotação é igual a TRA. T = I, onde ROT, = I =, para uma barra homogénea de comprimento e massa M. Das expressões anteriores obtém-se T = Mh h sin +. A energia potencial U é a soma da energia potencial gravítica U g da barra e da energia potencial elástica U e da mola. A energia potencial gravítica depende da altura do centro de massa em relação a um plano de referência. Fazendo passar 5

esse plano pela extremidade fixa da mola, tem-se U e U g = k h l0. energia potencial elástica da mola é ( ) Finalmente, a lagrangeana é = Mh hsin + + Mg h + cos = Mg h + cos. A k ( h l ) 0 Princípio da acção mínima De acordo com o princípio da acção mínima, também conhecido como princípio de Hamilton, a evolução do sistema, ou seja q ( t), entre dois instantes t e t, desde uma posição q ( t ) até q ( t ), é tal que S = t t ( q, q, t) dt toma o mínimo valor possível. Este integral é designado acção. Equações de agrange É possível mostrar que a minimização da acção conduz a um conjunto de equações diferenciais conhecidas por equações de agrange. Para um sistema com s graus de liberdade e coordenadas generalizadas d dt q i qi q, q,..., q, estas equações são s = 0, i =,,..., s Este é um sistema de s equações diferenciais de segunda ordem, habitualmente por equações diferenciais de movimento. A resolução destas equações permite determinar q ( t), ou seja, as equações da trajectória do sistema, sendo para tal necessário indicar s condições fronteira.

Estas equações são aplicáveis quando no sistema apenas actuam forças conservativas. Contudo, elas podem ser generalizadas para incluir o efeito de forças não conservativas. O tratamento desta última situação sai fora do âmbito deste curso. Equações de movimento Neste caso existem duas equações de movimento, uma associada ao parâmetro h e outra a. Calculando = Mg k h ( h ) l 0 = Mh sin h d dt = Mh sin cos h d e substituindo em = 0, obtém-se a equação de movimento dt h h associada a h, Por outro lado, tem-se Mh = sin + cos + Mg k( h l0 ). Mg = hcos sin = h sin 3 d = h sin h cos dt h 3 d De = 0 dt resulta a equação de movimento associada a 3 Mg = h sin sin. Nas figuras seguintes apresenta-se a evolução das coordenadas generalizadas do sistema para diferentes valores do comprimento da barra e da constante da mola k. Em todas as situações considerou-se que M = kg, l 0 = m e g = 0 m/s. 7

Caso I: = m, k = 9 kg/s 5 h (m) 3 0 - (rad) - 0 8 0 8 0 t (s) Caso II: = 0. m, k = 9 kg/s 0 (rad) 8 0 - h (m) - - 0 8 0 8 0 t (s) 8

Caso III: = m, k = 0 kg/s 8 h (m) 0 - - - (rad) -8-0 0 8 0 8 0 t (s) Bibliografia. D. andau e E. M. ifshitz, Mechanics, Butterworth-Heinemann, 97. G. R. Fowles, Analytical Mechanics, CBS International Edition, 98. C. Espain Oliveira, Introdução à Mecânica Clássica - apontamentos da disciplina, FEUP, 00. 9