MINISTERIO DA DEFESA EXERCITO BRASILEIRO HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE NATAL (H Mil Natal/1941) PROCESSO ADMINISTRATIVO (NUP) Nº 64592.000304/2011-06 PREGÃO ELETRÔNICO N 016/2011 Senhor Ordenador de Despesas, Trata-se de decisão própria decorrente da fase recursal em processo licitatório. O objeto desta licitação é a contratação do serviço continuado de limpeza técnica hospitalar, com execução mediante o regime de empreitada por preço global, visando atender às necessidades do HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE NATAL, com fornecimento de todo material de limpeza e todos os equipamentos necessários à perfeita realização do serviço, conforme especificações estabelecidas no Termo de Referência e no Edital e seus Anexos. O procedimento licitatório obedeceu à Lei nº 10.520, de 2002, ao Decreto nº 5.450, de 2005, à Lei nº 8.078, de 1990 - Código de Defesa do Consumidor, ao Decreto nº 3.722, de 2001, ao Decreto n 2.271, de 1997, à Instrução Normativa SLTI/MPOG n 2, de 30 de abril de 2008, à Lei Complementar nº 123, de 2006, ao Decreto nº 6.204, de 2007, que regulamenta a Lei Complementar nº 123, de 2006, e subsidiariamente à Lei nº 8.666, de 1993, bem como à legislação correlata, e demais exigências previstas no Edital e seus Anexos. O HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE NATAL realizou a referida licitação na modalidade PREGÃO, na forma ELETRÔNICA, tipo menor preço, mediante o regime de empreitada por preço global, com abertura da sessão pública em 17 de fevereiro de 2012, às 10h00. Após encerramento da Sessão Pública, a licitante THOTHAL SERVIÇOS TERCEIRIZADOS LTDA EPP, inscrita no CNPJ sob o nº 13.418.726/0001-90, melhor classificada, foi declarada vencedora do certame. Notificados os demais licitantes a manifestar, por ocasião do findar da fase de habilitação, intenção de recorrer contra decisão deste Pregoeiro, foi aberto prazo para tal. Foi divulgado o resultado da Sessão Pública e foi concedido o prazo recursal conforme preconiza o artigo 26, do Decreto 5450/2005. Definiu-se a data limite para
registro de recurso em 14 de março 2012, e a data limite para registro de contra-razão em 19 de março de 2012. De quatro licitantes que manifestaram intenção de recurso em campo próprio do Sistema Eletrônico do portal Comprasnet, apenas a licitante PETROGAS-SERVICOS TECNICOS LTDA-ME, inscrita no CNPJ sob o nº 03.138.148/0001-85, apresentou posterior recurso. Alegou esta que a vencedora do certame não teria logrado êxito na qualificação econômico-financeira de acordo com o disposto no item 9.2.3, alínea b, e na qualificação técnica conforme previsto no item 9.2.4, alínea b, tudo do Edital, bem como afirmou incorreção do detalhamento de vale-transporte na planilha de custos e formação de preços para os profissionais que trabalhariam em escala de 12 por 36 horas ao confronto da Convenção Coletiva de Trabalho de 2012 das respectivas categorias. De forma contrária e rebatendo argumentos apresentados pela recorrente, a licitante THOTHAL SERVIÇOS TERCEIRIZADOS LTDA EPP registrou contra-razões recursais e defendeu que a intenção de recurso manifestada pela recorrente restou imotivada e ensejou a decadência do direito de apresentar posterior recurso. Declarou ter cumprido todas as exigências citadas nos itens 9.2.4, alínea b, e 9.2.3, alínea b, todos do Edital, e também explicou a formação de custo de vale-transporte diverso do previsto em Convenção Coletiva de Trabalho vigente para profissionais a serem contratados de acordo com o regime de trabalho definido no Termo de Referência. É o relatório. Passo a opinar. De antemão, pondero que o princípio da celeridade não poderia ser sopesado conjuntamente com o princípio da ampla defesa. Entendo que o Decreto nº 5.450/05, amparado pela Lei nº 10.520/02, permite que não se cumpra o prazo geral de recurso administrativo elencado no art. 109 da Lei 8.666/93. A celeridade processual da modalidade licitatória Pregão decorre da incidente decadência do direito de apresentar recurso caso o licitante não manifeste sua intenção no encerramento da sessão pública. No entanto, não se justificaria o afastamento dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório por mera ausência explícita de motivos em intenções de recorrer contra a decisão de um ato administrativo. Na hipótese aqui tratada, a própria manifestação de recurso apresentada pelo licitante recorrente já trouxe tacitamente consigo motivo suficiente para abertura de prazo recursal. Diante disso, dou por regularmente interposto o recurso apesar da ausência de motivação explícita, para, entretanto, julgá-lo improcedente pelas razões seguintes.
Da qualificação econômico-financeira. De acordo com o disposto no item 9.2.3, alínea b, o Edital exige que a licitante vencedora apresente Balanço Patrimonial do último exercício social como condição indispensável de habilitação. Tal dispositivo encontra amparo na Lei nº 8.666/93, no seu art. 31. Consonante com tal requisito, o registro cadastral previsto no art. 34 da citada Lei permite que unidades administrativas diversas da unidade cadastrante possam utilizar os registros da licitante para efeito de habilitação em certames licitatórios próprios. De forma complementar, o Decreto nº 3.722/01 obriga os editais de licitação a conter cláusulas permitindo a comprovação da regularidade fiscal, da qualificação econômico-financeira e da habilitação jurídica por meio de cadastro no SICAF (Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores). O Edital do presente Pregão Eletrônico diz no item 9.4 que a dispensa da apresentação dos documentos abrangidos pelo referido cadastro ocorre por meio da mera verificação de prazo de validade registrado. Logo, a conduta de dispensar a apresentação do Balanço Patrimonial da licitante vencedora seguiu estritamente os comandos operacionais elencados no Edital. Ressalto que possíveis irregularidades no registro cadastral devem ser relatadas ao próprio órgão de registro do SICAF da licitante. Não pode este Pregoeiro ignorar a presunção de legitimidade da Administração Pública como um todo. De todo modo, cumpre salientar que erros formais e que não alterem a substância dos documentos não são motivos válidos para a não aceitação de propostas ou até mesmo para a inabilitação de proponentes em licitações públicas. Da qualificação técnica. Conforme previsto no item 9.2.4, alínea b, a apresentação de atestados técnicos visa a comprovar a capacidade de execução do objeto contratual por parte da licitante vencedora. O referido item do Edital foi redigido intencionalmente de forma imprecisa de modo a não restringir o caráter competitivo do certame. Assim, compatíveis não significa iguais. A jurisprudência do Tribunal de Contas da União acerca do assunto é clara, conforme apontado no Informativo de Jurisprudência sobre Licitações e Contratos nº 48, a saber: A exigência de comprovação de experiência anterior na prestação de serviços em volume igual ou superior ao licitado restringe o caráter competitivo do certame Representação trouxe ao TCU notícias acerca de possíveis irregularidades no edital do pregão eletrônico 194/2010, realizado pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), cujo objeto consistiu na contratação de empresa para prestação de serviços de apoio operacional (entrega de documentos, auxílio à locomoção de pacientes, recepção, atendimento, reprografia, imobilização ortopédica, secretariado e outros). Dentre tais
irregularidades, apontou-se a restrição à competitividade do certame, em razão da redação dada ao item 10.4 do edital que dispunha ser necessário comprovar a aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto desta licitação, através da apresentação de um Atestado de Capacidade Técnica, fornecido por pessoa de direito público ou privado devidamente registrado no Conselho Regional de Administração (CRA RJ) em nome do licitante que comprove a prestação de serviços em unidades hospitalares públicas ou privadas com contingente mínimo igual ou superior ao deste certame. Será admitido o somatório de atestados, devido a complexidade dos serviços ora licitado. Para a unidade técnica, a exigência seria excessiva, uma vez que exigia experiência igual ou superior ao objeto da licitação examinada. O relator, ao concordar com a unidade instrutiva, destacou que a exigência de comprovação de prestação de serviços em volume igual ou superior ao licitado extrapola os requisitos definidos nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993, bem como contraria a jurisprudência do tribunal acerca do assunto. Assim, o relator, ao considerar a representação procedente, votou por que fosse expedida, dentre outras, determinação ao INTO para que suprimisse do item 10.4 do edital do pregão 194/2010 as expressões com contingente mínimo igual ou superior ao deste certame e apresentação de um Atestado de Capacidade Técnica, em razão de as mesmas estabelecerem restrições indevidas à competitividade. O Plenário, acolhendo o voto do relator, determinou ao INTO que só desse prosseguimento ao pregão 194/2010 caso adotasse a providência alvitrada. Acórdão n.º 112/2011-Plenário, TC-034.017/2010-0, rel. Min. Aroldo Cedraz, 26.01.2011. No caso concreto, coube somente a análise, por parte deste Pregoeiro, da pertinência do objeto atestado e do devido registro dos atestados de capacidade técnica apresentados no Conselho Regional de Administração como condição de validade de tais documentos, o que de fato ocorreu. Da suposta incorreção do detalhamento de vale-transporte na planilha de custos e formação de preços. O benefício do vale-transporte não integra a remuneração do trabalhador, sendo um benefício mensal destinado a custear o transporte deste no percurso residência-trabalho e viceversa. A concessão do referido vale-transporte obedece à regra de proporcionalidade entre quantidade de vales concedida e a parcela a ser suportada pelo beneficiário em relação ao seu vencimento. Tal entendimento é interpretado do Decreto nº 95.247/1987, conforme o seu art. 10: Art. 10. O valor da parcela a ser suportada pelo beneficiário será descontada proporcionalmente à quantidade de Vale-Transporte concedida para o período a que se refere o salário ou vencimento e por ocasião de seu pagamento, salvo estipulação em contrário, em convenção ou acordo coletivo de trabalho, que favoreça o beneficiário. (grifo nosso)
Tal regra de proporcionalidade encontra precedentes na jurisprudência do Tribunal de Contas da União, conforme concordado voto do Ministro Relator Walton Alencar Rodrigues no Acórdão nº 282/2009 TCU 1ª Câmara, verbis: VOTO A empresa Capital Empresa de Serviços Gerais Ltda. foi desclassificada no pregão eletrônico 12/2008, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente, porque sua proposta de preços não estava de acordo com as condições estabelecidas no respectivo edital. Feita a oitiva a que se refere o art. 276, caput, do Regimento Interno, as justificativas da pregoeira foram consideradas consistentes e regular o processamento da licitação. A pretensão da representante é que o valor do vale transporte a ser descontado do beneficiário seja de 6% do valor do salário mensal, independentemente da quantidade de dias trabalhados. A concessão do vale transporte, instituído pela Lei 7.418/1985, alterada pela Lei 7.619/1987, foi regulamentada pelo Decreto 95.247/1987 que, no art. 10, estabelece o desconto proporcional à quantidade de vales concedida para o período a que se refere o salário, in verbis: Art. 10. O valor da parcela a ser suportada pelo beneficiário será descontada proporcionalmente à quantidade de Vale-Transporte concedida para o período a que se refere o salário ou vencimento e por ocasião de seu pagamento, salvo estipulação em contrário, em convenção ou acordo coletivo de trabalho, que favoreça o beneficiário. O próprio dispositivo regulamentar autoriza alternativa ao desconto proporcional, desde que estipulada em convenção ou acordo coletivo de trabalho e que favoreça o beneficiário. A representante não demonstrou a existência de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou outra condição mais favorável ao trabalhador do que a fixada no decreto regulamentar, aplicado na planilha de cálculos do pregão eletrônico 12/2008, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente. Mesmo já terminada a instrução do processo, nos termos do art. 160 e seus parágrafos do Regimento Interno, autorizei a juntada dos elementos fls. 221/ 42, do volume 1. Parte desses elementos já havia sido apresentada e consta do volume principal, às fls. 183/99, tendo sido analisada pela unidade técnica. Consta, também, resposta à consulta da representante ao MPOG. O ministério informa não ser órgão competente para orientar sobre questões trabalhistas e que não vê necessidade de ratificar parecer do Ministério do Trabalho, que respaldaria a pretensão da representante. A esse respeito, retorno ao decreto regulamentador da concessão do vale transporte, que autoriza o desconto proporcional à quantidade de vales concedida ou, então, sendo de outra forma, deve favorecer o beneficiário. A convenção coletiva de trabalho (fls. 121/2, v.p.) estabelece que a base de cálculo para desconto do vale-transporte compreenderá o salário-base do empregado. Não há, nessa cláusula, inovação que afaste a aplicação do desconto proporcional previsto art. 10 do Decreto 95.247/1987. Assim, a atuação da pregoeira está de acordo com o edital e com as normas legais e regulamentares que regem a concessão do vale transporte. Ante o exposto, demonstrada a improcedência dos argumentos da representante, acolho a proposição da unidade técnica e Voto por que o Tribunal de Contas da União aprove o Acórdão que ora submeto à apreciação da Primeira Câmara. WALTON ALENCAR RODRIGUES Relator
Compreende-se que, em regimes de trabalho diferenciados, é justo que o benefício seja pago de maneira proporcional aos dias trabalhados e que seja descontado o percentual previsto no Decreto nº 95.247/87. No presente caso, a Convenção Coletiva de Trabalho vigente para a categoria é silente a respeito de concessão de vale-transporte para os profissionais que trabalhariam em escala de 12 por 36 horas, tampouco fala em base de cálculo diferenciada para a incidência do desconto a ser suportado pelo beneficiário. Logo, a aplicação da regra da proporcionalidade na estimativa de custos e formação de preços por parte da licitante vencedora, custos a serem suportados pela Administração de maneira indireta, foi considerada correta. Nessas razões, mantenho a conformidade da decisão de aceitar a respectiva proposta e habilitar a licitante vencedora THOTHAL SERVIÇOS TERCEIRIZADOS LTDA EPP e promover conseqüente classificação para a posterior adjudicação em fase subseqüente. À consideração superior. Natal, 20 de março de 2012. GUILHERME FRIEDRICH BOIKO 1º Tenente Pregoeiro