O SISTEMA DE TUTORIA NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA



Documentos relacionados
A GESTÃO NO SISTEMA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A INTERATIVIDADE EM AMBIENTES WEB Dando um toque humano a cursos pela Internet. Os avanços tecnológicos de nosso mundo globalizado estão mudando a

em partilhar sentido. [Gutierrez e Prieto, 1994] A EAD pode envolver estudos presenciais, mas para atingir seus objetivos necessita

TRABALHO DOCENTE VIRTUAL NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO SISTEMA INTEGRADO DE FORMAÇÃO DA MAGISTRATURA DO TRABALHO - SIFMT

Estratégias de e-learning no Ensino Superior


Educação a distância: sobre discursos e práticas

Curso de Especialização em Saúde da Família

INTEGRAÇÃO DE MÍDIAS E A RECONSTRUÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

As produções e interações ficarão registradas no Moodle.

A IMPORTÂNCIA DOS FUNCIONÁRIOS NO PROCESSO EDUCATIVO NAS ESCOLAS

a) As características sob a forma de Ensino à Distância:

Sistema de Educação a Distância Publica no Brasil UAB- Universidade Aberta do Brasil. Fernando Jose Spanhol, Dr

TUTORIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Maria Teresa Marques Amaral. Introdução

MANUAL DE CADASTRO DE PROJETOS DO ESCOLA DE FÁBRICA

TEC - EAD PRESSUPOSTOS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: CONCEPÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS

2.5 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A TUTORIA A DISTÂNCIA NA EaD DA UFGD

Prática Docente em EAD

OS LIMITES DO ENSINO A DISTÂNCIA. Claudson Santana Almeida

Fundação Presidente Antônio Carlos- FUPAC 1

MBA Executivo. Coordenação Acadêmica: Prof. Marcos Avila Apoio em EaD: Prof a. Mônica Ferreira da Silva Coordenação Executiva: Silvia Martins Mendonça

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA


A EFICÁCIA DE CURSOS A DISTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO DE AGENTES DE METROLOGIA LEGAL E FISCAIS DA QUALIDADE

Colégio La Salle São João. Professora Kelen Costa Educação Infantil. Educação Infantil- Brincar também é Educar

Curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio Subseqüente ao Ensino Médio, na modalidade a distância, para:

1ª Oficina Curso 4

V Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência INSERINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO COPA DO MUNDO.

TELEMEDICINA:NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO SUPERIOR

FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM LOGO: APRENDIZAGEM DE PROGRAMAÇÃO E GEOMETRIA * 1. COSTA, Igor de Oliveira 1, TEIXEIRA JÚNIOR, Waine 2

APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

Trabalho de conclusão do curso (TCC) Grupo de Elmara

CONSIDERAÇÕES SOBRE USO DO SOFTWARE EDUCACIONAL FALANDO SOBRE... HISTÓRIA DO BRASIL EM AULA MINISTRADA EM LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

Introdução a EaD: Um guia de estudos

Educação a distância: desafios e descobertas

Curso de Especialização em EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

PVANET: PRINCIPAIS FERRAMENTAS E UTILIZAÇÃO DIDÁTICA

ANÁLISE DOS ASPECTOS TEÓRICO METODOLÓGICOS DO CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO

AS SALAS DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E A PRATICA DOCENTE.

Módulo 1. Introdução. 1.1 O que é EAD?

CADERNO DE ORIENTAÇÃO DIDÁTICA PARA INFORMÁTICA EDUCATIVA: PRODUÇÃO COLABORATIVA VIA INTERNET

* As disciplinas por ocasião do curso, serão ofertadas aos alunos em uma sequência didática.

GESTÃO EM EAD VIA INTERNET

MÓDULO EaD 2013 PROCAED Programa de Capacitação e Aperfeiçoamento Educacional do IFSC

Lição 4 Avaliação na EAD

Curso de Especialização em ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E PRÁTICAS DE SUPERVISÃO

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

A Inovação Aprendizagem e crescimento dos funcionários treinando-os para melhoria individual, numa modalidade de aprendizagem contínua.

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Matemática RICARDO MARINHO DOS SANTOS

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

O ENSINO DE ESPANHOL COMO LE COM OS RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS NA PLATAFORMA MOODLE*

Curso de ESPECIALIZAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E GESTÃO DE PROJETOS

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

Pedagogia Estácio FAMAP

AVALIAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO-CURRICULAR, ORGANIZAÇÃO ESCOLAR E DOS PLANOS DE ENSINO 1

Profa. Ma. Adriana Rosa

Uma análise sobre a produção de conteúdo e a interatividade na TV digital interativa

PROJETO DE LEITURA E ESCRITA LEITURA NA PONTA DA LÍNGUA E ESCRITA NA PONTA DO LÁPIS

Proposta de Curso de Especialização em Gestão e Avaliação da Educação Profissional

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

9. Os ciclos de aprendizagem e a organização da prática pedagógica

Panorama da educação a distância na formação dos magistrados brasileiros

01 UNINORTE ENADE. Faça também por você.

MANUAL DO CURSO SUPERIOR TECNOLOGIA EM GESTÃO COMERCIAL QP EM CONTACT CENTER

TUTOR EM EAD. Quem é? - Tutor/Educador. Educação à Distância - Profissional que acompanha o aluno nas aulas virtuais.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Universidade Anhanguera Uniderp Centro de Educação a Distância

A AVALIAÇÃO NA EAD: CONTEXTUALIZANDO UMA EXPERIÊNCIA NA GRADUAÇÃO. Rio de Janeiro- RJ- maio 2012

Curso de Especialização em MATEMÁTICA FINANCEIRA E ESTATÍSTICA

MÉTODOS E TÉCNICAS DE AUTOAPRENDIZAGEM

O PERCURSO FORMATIVO DOS DOCENTES QUE ATUAM NO 1º. CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA

O QUE APORTAM E O QUE OCULTAM AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO A DISTÂNCIA DA FURG: UM OLHAR SOBRE O CURSO DE PEDAGOGIA

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

SOFTWARE HAGÁQUÊ: FERRAMENTA PEDAGÓGICA DE AUXÍLIO AO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM COMO PRÁTICA INOVADORA

CONHECENDO O AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM

FEDERAÇÃO NACIONAL DAS AUTO E MOTOESCOLAS E CFCs DIRETORIA EXECUTIVA DE EDUCAÇÃO EDITAL DE CONCURSO II PRÊMIO FENEAUTO DE EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO

RELATO DE EXPERIÊNCIA: PROJETO DE EXTENSÃO PRÁTICA DE ENSINO E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

CURSO DE TECN OLOGI A DO VÁCUO

Será a Internet/Intranet uma plataforma viável em sala de aula? Luís Manuel Borges Gouveia. lmbg@ufp.pt

O USO DE SOFTWARE EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE CRIANÇA COM SEQUELAS DECORRENTES DE PARALISIA CEREBRAL

O que fazer para transformar uma sala de aula numa comunidade de aprendizagem?

COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO DA FACULDADE ARAGUAIA

Educação a Distância: quando se justificam os encontros presenciais?

Mestrado em Educação Superior Menção Docência Universitária

Curso de especialização EM GESTÃO EDUCACIONAL E EDUCAÇÃO INFANTIL

MBA MARKETING DE SERVIÇOS. Turma 19. Curso em Ambiente Virtual

PROGRAMA ESCOLA DA INTELIGÊNCIA - Grupo III ao 5º Ano

Campanha Nacional de Escolas da Comunidade Mantenedora da Faculdade Cenecista de Campo Largo

Objetos de aprendizagem como ambientes interativos de aprendizagem

Apontamentos sobre mediação e aprendizagem colaborativa no curso de especialização em EaD na UNEB

GUIA DO ALUNO EAD EAD DO GUIA ALUNO

REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA

A ESCOLA DO FUTURO RUMOS PARA OS PRÓXIMOS ANOS

Pós graduação em Psicologia Educacional DESCRITIVO DE CURSO

Transcrição:

O SISTEMA DE TUTORIA NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Gleyva Maria Simões de Oliveira Falar em sistema de tutoria em Educação a Distância (EaD) significa revelar as variadas acepções de Educação a Distância concebidas por pesquisadores nesse campo educacional e do conhecimento. Assim, podemos ao invés de falar em "sistema" de tutoria, falarmos em "sistemas" de tutoria, ou seja, concepção e estruturação de sistemas de apoio aos estudantes que revelam na prática a concepção de EaD da instituição que o organizou. Além disso, o tratamento desse assunto requer o esclarecimento de que estaremos situando nossa fala num campo cuja modalidade de ensino é diversa da modalidade de ensino presencial, portanto, capaz de revelar figuras até então desconhecidas, mas de fundamental importância no processo de ensino e aprendizagem, como é o caso do tutor. Considerando que a EaD é uma relação educativa mediada e mediatizada entre o professor (autor/ tutor/ especialista) e estudantes, em momentos e espaços diferentes do ensino presencial, apoiado por meios diversos e diferenciados (PRETI, 1996); concebemos que, no cenário da EaD, as figuras de sala de aula, professor e estudante não se materializam no tempo e no espaço, conforme ocorre no ensino presencial. Essas figuras não deixam de existir, mas assumem características e funções específicas para essa modalidade de ensino. Por conta disso, uma das mais importantes características da EaD é a organização de um sistema de apoio ao estudante, que deve ser amparado pela instituição formadora/ead, no sentido de que esta forneça os mais variados tipos de suporte, do cognitivo ao afetivo, do social ao administrativo, do motivacional ao avaliativo, do comunicacional ao pedagógico, entre outros e, recursos didáticos que permitam a interação entre os partícipes do processo de ensino e aprendizagem, de maneira que seja possível a construção do conhecimento, principal objetivo do processo educacional. Nesse sentido, vale a consideração de Keegan (apud BELLONI, 1999) que diz: "na EaD quem ensina é a instituição".

2 E quem melhor representa a instituição para o estudante? Melhor dizendo, qual elemento do sistema de EaD personifica a instituição para o estudante? O tutor. Pois, é esta figura quem lida diretamente com o estudante, seja para prestar esclarecimentos administrativos, seja no processo de ensino e aprendizagem, na avaliação do processo formativo do estudante ou simplesmente na monitoria das atividades dos estudantes e, por isso, é considerado o fator humanizador do sistema de ensino na modalidade a distância. Mas, como historicamente vem sendo construído o perfil de tutor nas variadas experiências em EaD espalhadas pelo mundo? Qual a relação entre o perfil de tutor e as concepções acerca da EaD? Entendendo a EaD como uma prática social (NEDER, 2000), consideramos que sua construção ao longo da história tem sido reveladora dos contextos sócio-econômico-culturais de cada época. 1. A tutoria numa concepção fordista de ensino A EaD pode ser concebida, por exemplo, conforme Otto Peters (1983 apud ARETIO GARCÍA, 1994) como "forma industrial de ensinar e aprender". Conforme o próprio Aretio Garcia (1994), a EaD pode ser considerada como sistema de tecnologia bidirecional, capaz de atender a grandes massas de estudantes, substituindo a interação professor-aluno, o que propiciaria uma aprendizagem independente e mais flexível. Uma concepção que não diverge da concepção de Otto Peters de que a EaD é uma forma industrial de ensinar e aprender. A partir de qual contexto sócio-econômico-cultural Otto Peters elabora sua concepção acerca da EaD? No contexto cujo modo de produção industrial baseia-se no modelo fordista. O que significa isso? Segundo Belloni (1999), o modo de produção fordista baseia-se na baixa inovação de produtos, baixa variabilidade de processo e baixa

3 responsabilidade no trabalho. Ou seja, é um processo de produção em massa, para o consumo em massa. Transportando esse modelo para a EaD, Otto Peters escreve, em 1971, o artigo "Aspectos teóricos do ensino por correspondência" e, em 1973, "A estrutura didática do ensino a distância: para uma forma industrial de ensinar e aprender", que deram origem a uma das teorias que tentam dar suporte às pesquisas e práticas no campo da EaD, a Teoria da Industrialização. Foi também nesse contexto que surgiram as mega-universidades a distância, a Open University da Inglaterra, em 1969 e a Universidad Nacional a Distância da Espanha (UNED, em 1971), cujo processo de ensino se baseava no paradigma de industrialização e, nos pacotes de ensino: planejamento centralizado, otimização de recursos, utilização de tecnologias de comunicação, produção de materiais didáticos em larga escala. Esse modelo de ensino, baseado na concepção de Otto Peters de que a EaD é uma forma industrial de ensinar e aprender, materializado na prática das mega-universidades a distância, foram e têm sido motivo de muitas críticas, pois a "estandartização", impede que no processo de ensino e aprendizagem sejam considerados a individualidade, a diversidade contextual e cultural do estudante. É importante observar que, esse modelo de EaD coloca ênfase no processo de ensino. Portanto, cabe à instituição garantir a aprendizagem do estudante. Nesse sentido, o material didático (impresso, DC-Rom, hipertexto, entre outros) é o principal meio para que o estudante aprenda, cabendo ao tutor, a "menor responsabilidade possível" no seu trabalho, limitando-se a, por exemplo, verificar se os estudantes estão fazendo as atividades, as leituras solicitadas, se estão com dúvidas sobre o material, se estão compreendendo os objetivos da unidade estudada, e coisas afins. 2. A tuoria baseada no auto-didatismo No contra-ponto desse modelo, está a concepção de Michael Moore (1973), autor da Teoria da Autonomia e Independência Intelectual, sustentada por Charles A. Wedemeyer (1981).

4 Essa teoria considera que a EaD por lidar com um público de estudantes que é em sua maioria adulto e trabalhador, deve incentivar o auto-didatismo, pois sendo o adulto capaz de decidir sobre o querer estudar, será capaz também de decidir sobre como estudar. Assim a proposta de ensino fica centrada no estudante. Ou seja, se na teoria da industrialização o ensino estava centrado na instituição, aqui, na Teoria da Autonomia e Independência Intelectual o ensino está centrado no estudante, cabe ao estudante decidir sobre como estudar, quais caminhos percorrerem para aprender. Essa é uma teoria que necessita explorar o campo de conhecimento acerca da aprendizagem de adulto. Esse modelo tem no tutor um "facilitador" do processo de aprendizagem do aluno. Aqui também reside a "baixa responsabilidade" do trabalho, pois cabe ao tutor, sempre que procurado pelo estudante, apontar os meios que podem facilitar a aprendizagem, ou seja: indicar uma leitura, um site de busca para realização de pesquisas, um manual sobre como lidar com um meio (didático ou tecnológico), disponibilizar os materiais necessários para a realização de uma atividade, enviar materiais solicitados e coisas afins. 3. Tutoria como conversação dialógica Talvez a teoria que aponte para um equilíbrio, no sentido da equalização da responsabilidade no processo de ensino, entre instituição e estudante, seja a Teoria da Interação e Comunicação. Essa teoria abarca em seu bojo, a teoria da educação a distância como "conversação dialógica guiada", orientada para a aprendizagem, de Börje Holmberg (1970-80), a teoria da distância transacional de Michael Moore (2002) e a teoria da presença transacional de Shin (2002). A teoria de Börje Holmberg concebe a comunicação como ação educativa. Nesse sentido, os materiais didáticos seriam meios de motivação para o estudante, uma vez que, estruturados em forma de diálogos, permitiriam o relacionamento pessoal. Essa teoria aponta para a possibilidade de repensarmos o modelo comunicacional em EaD. Assim, seria interessante buscar também os construtos teóricos de Habermas na Teoria da Ação Comunicativa e, de

5 Backhtin acerca do conceito de dialogismo, haja vista as contribuições das teorias construtivistas e sócio-construtivistas se apresentarem limitadas nesse aspecto (PRETI; OLIVEIRA, 2003). No sentido da estrutura da EaD, Michael Moore (2002) resgatou o conceito de "transação" de Dewey e Benthey (1949 apud PRETI; OLIVEIRA, 2003), para considerar que a dinâmica dessa estrutura deve se basear no diálogo (professor/tutor-estudante), nas mídias e na autonomia do estudante acerca do seu processo de ensino e aprendizagem. Por considerar complexo o conceito de "distância transacional", Shin (2002) elaborou a teoria da presença transacional, que considera a percepção de um sujeito acerca da disponibilidade dos demais envolvidos no processo formativo e do sentimento de estar em relação com eles. Como colaboração, essa teoria permite: - sondar o vínculo invisível entre estudantes e demais atores implicados no contexto formativo; - completar o conceito de interação, por meio da percepção dos sujeitos e seus respectivos estados de espírito; - compreender fenômenos como: isolamento, distância psicológica, falta de relacionamento e sentimento de estar em relação. As teorias da Interação e Comunicação permitem um olhar para o sistema de EaD totalmente humanizado, uma vez que ao considerar as possibilidades de um processo formativo pautado na dialogicidade, indica para a construção de um sistema de tutoria em que o tutor pode exercer a função de mediador. 4. tutoria como mediação O conceito de mediação permite vislumbrar um processo de ensino e aprendizagem em que o conhecimento pode ser construído por meio não somente da interação entre o sujeito e o objeto do conhecimento, mas, principalmente, por meio da interação sujeito-objeto, sujeito-sujeito.

6 Somente exerce a mediação o sujeito que construiu o conhecimento. Assim, num modelo de ensino baseado na mediação, aumenta e muito a responsabilidade do tutor, pois para fazer a mediação entre o conteúdo a ser conhecido e o estudante, o tutor terá que já ter construído o conhecimento. Quando falamos de construção do conhecimento, o fazemos não somente no sentido do conteúdo a ser conhecido, mas também das bases epistemológicas e metodológicas acerca do conceito de mediação. Caso contrário poderíamos cair no equívoco de pensar, por exemplo, que alguém que tira uma dúvida acerca de uma atividade contida num material didático estaria fazendo "mediação pedagógica". Se considerarmos que por meio de um treinamento acerca do material didático, o tutor tivesse sido alertado e treinado a responder a dúvida do estudante, e o seu relacionamento com o estudante começaria e terminaria após a retirada da dúvida, não poderíamos conceber isso como mediação. A mediação necessita da interação e, de acordo com Shin, a percepção completa o conceito de interação. A questão da percepção da disponibilidade do outro, independentemente da presença física é uma forma de linguagem. Essa percepção fala. O sentimento de estar em relação fala. O silêncio na rede fala. O tutor, preparado para exercer a mediação no processo de ensino e aprendizagem, tem condições para fazer a leitura dessas falas e, a partir delas, organizar, planejar ações que permitam a sua interação com os sujeitos da aprendizagem, no sentido de lhes fornecer referenciais de apoio para que os mesmos possam construir o conhecimento. Então, a equalização da responsabilidade entre instituição formadora e estudante no processo de ensino e aprendizagem é possível por meio de uma concepção de sistema de tutoria em que o tutor não é apenas o facilitador, o animador, o motivador, mas o sujeito que, segundo Neder (2000), participa dos momentos de preparação e desenvolvimento de um curso, pois colabora na discussão do currículo do curso, dos materiais didáticos, recebe formação institucional para trabalhar no curso, participa da construção dos instrumentos de avaliação do estudante, avalia o estudante e o curso. Ou seja, está integrado no curso e é co-responsável pelo processo de formação do estudante.

7 Referências Bibliográficas ARETIO GARCIA, Lorenzo. Educación a Distancia Hoy. Madrid: UNED, 1994. BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. Campinas, SP.: Autores Associados, 1999. NEDER, Maria Lúcia C. A Orientação Acadêmica na Educação a Distância: a perspectiva de (re)significação do processo educacional. In: PRETI, O. (Org.). Educação a Distância: construindo significados. Brasília: Plano, 2000. p. 105-124. MALGLAIVE, Gerard. Ensinar Adultos. Porto: Porto, 1995. MOORE, Michael. Teoria da Distância Transacional. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância. 30/8/2002. Disponível em: http://www.abed.org.br/publique. Caputrado em: 14/8/2003. PRETI, Oreste. Educação a Distância: uma prática educativa mediadora e mediatizada. In: (Org.). Educação a Distância: inícios e indícios de um percurso. Cuiabá: EdUFMT, 1996. p. 15-56. ; OLIVEIRA, Gleyva M. Simões de. Sistema de Orientação Acadêmica no curso de Pedagogia a Distância da Universidade Federal de Mato Grosso: concepções e práticas. Cuiabá: NEAD/UFMT; Saint-Foye (Canadá): Téluq, 2003. Relatório de Pesquisa. SHIN, Namin. Beyond Interaction: relational construction of Transational Presence. Open Learning, vol. 17, n. 2, p. 121-137, 2002. Cuiabá, NEAD/UFMT - 2006

This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only. This page will not be added after purchasing Win2PDF.